quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


AZIA pela Blogosfera

Daniel Oliveira contraiu a doença de mestre-escola. Numa posta, que não é mais que um suplemento vigilante de exortação à pregação de um coio de jornalistas acofiados ao poder, pretende refutar os ditos de circunstância de José Pacheco Pereira sobre o jornalismo de clientela e o estado parodista da blogosfera. Sobre o exame desses pregadores caluniosos que pululam na imprensa e pela Blogosfera, onde apresentam esplêndidos compêndios reaccionários "pret-à-porter" e (decerto) com aprovação do senhor Sócrates & Cia, o vigilante Daniel Oliveira escreve um papel em branco.

O brevíssimo tratado de raiva anti-JPP é, desta maneira, um catecismo que em vez de dissecar as meditações pachecais dessa escolástica figura – desde a sua patologia (neo)liberal sobre o Estado à miséria da produção de exóticas teorias sobre a administração Bush, até ao imoral apoio ao business espectáculo do governo de Israel -, acompanha o labor da infâmia e a manipulação insidiosa de alguns jornaleiros e comentadores contra JPP, mas do mesmo modo contra os cidadãos (da esquerda ou da direita) que fazem da resistência e desobediência civil contra o autoritarismo, o insulto e a mentira um orgulho de cidadania e um trânsito democrático contra a alienação, e que histericamente tais espíritos jornaleiros combatem. De facto, o bloqueio ideológico que os Bettencourt Resende, Hermínio Monteiro, Fernando Madrinha, João Marcelino, Fernanda Câncio, José Leite Pereira, Sousa Tavares, Rui Ramos, Peres Mettelo, António Costa (D.E.), Santos Silva (e tantos mais corifeus sem ética, nem vergonha) exalam nos seus boletins paroquiais é para Daniel Oliveira totalmente indiferente, ou quanto muito rimadas e piedosas intenções apenas a suspirar.

Daniel Oliveira, como outros, não conseguindo dissimular a rusticidade de um activismo institucional comprometido (na blogosfera) e a obediência cega (quando não, submissão) às regras e à aporia da amizade, neste seu texto, desresponsabiliza os novos "democratas" (arrependidos!) que arribaram à blogosfera e cujo revisionismo militante é provocatório, senão mesmo fascizante. Compreende-se, assim, como o crítico Daniel Oliveira, intervenha bizarramente contra JPP, demonizando-o, deixando de lado alguns hóspedes que a blogosfera acolheu, absorvido que estava na defesa de causas fracturantes, e que, ingenuamente, lhe sussurravam serem de esquerda. A beata Câncio & seu grupelho, e alguns jovens maviosos que deram então serventia ao Blogue de Esquerda ou ao antigo Cinco Dias, estão por aí como exemplo. Tem, portanto, Daniel Oliveira muita análise política para se ocupar. Cocheiros do sr. Sócrates e rosas todo o ano são inestimáveis repastos que abundam por todo o lado. Assim queira o meu caro amigo Daniel surpreender os seus leitores e não sussurrar, apenas, a arqueologia do disparate.

ESTADO DO PAÍS em 2009

a noite cerrou as janelas
alastrou um império de improviso para os
cães sem nome sem dono e atirou o seu queixo de toneladas até
à mancha espalmada do rio

é a sua maneira de nos insultar
a tristonha envergadura da sua queixa
...
Cada um de nós, deve ser, não a lei, mas
o galho inopinado e ímpar
o plano imediato da evasão
alucinado e lúcido

Cada um de nós deve ser o momento
de recusar férias à ferida.

[José Sebag, "O Planeta Precário"]

Os papa-educação

Duas figuras da educação indígena são curiosas de seguir: a sra. Margarida Moreira (DREN) e o piedoso Jorge Pedreira. A primeira, infamantemente ofendida por José Sócrates (fez parte da equipa de Santos Silva, ministro da educação dos "30 anos perdidos") tem o vício do disparate, mas não virá daí mal ao mundo. Os funcionários partidários são imortais, passe a indigestão da sua utilidade. Existem para a falange e milagrosamente, depois de arruinarem tudo e todos, lá estarão prontos outra vez para novos atropelos à cidadania, em nome da nebulosa eleitoral dos interesses. O caso do sr. Pedreira é de outra índole. Governante sem boa fé, sem qualidade moral, enérgico de venalidades, agoniza entre a voz do dono e o emprego que precisa. A expiação do antigo e "perigoso" ex-sindicalista não explica (como também em Margarida Moreira) tudo. Mas não deixa de ser curioso o raminho de ex-sindicalistas (quase todos nunca trabalharam) que é incansável nas ameaças e no ataque a quem, livremente e com dedicação, trabalha. O sr. Pedreira ameaça, porque tem poder. Se estivesse no tempo do Estado Novo, tudo se esperaria de tão proeminente sujeito. Mas, felizmente, não está. Um dia (e que seja breve) sairá do lugar onde nunca devia ter estado. E depois, talvez, seja fulminado pela mesma "mortalha" com que brindou os docentes, os alunos e os cidadãos impolutos. Só que, nessa ocasião, ninguém se levantará em sua defesa. O epitáfio será cruel. Porque os deuses não dormem.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009


Um homem transtornado

O primeiro-ministro abriu o ano de 2009 indiciando um movimento de apoio caritativo a diversas instituições privadas e públicas, a bem da recessão e das próximas eleições. O que se viu foi que não basta o discurso recitado ad nauseam sobre um inenarrável O.E. e a ruidosa intervenção proposta no lado da procura. Tal raminho de medidas, a par do tricotar keynesiano (por ora, descoberto), não é relevante.

Sobre a primeira missiva a ideia feita é que nada sabe do que se passa no mundo, não autorizando o benemérito presidente do conselho a apelar histrionicamente para os calamitosos tempos d’hoje e para o porvir da luz dos amanhãs. A situação financeira ainda não foi totalmente desvelada, sendo que as receitas contra ela nos E.U.A. (e no mundo em geral) parecem improcedentes. Assunto que, como habitualmente, o grupo de representantes do economês indígena ignora, por parcimónia. Tenha-se em conta a crescente opinião sobre o nível expressivo que vai ter a recessão na Alemanha e na China (e portanto os efeitos na procura que daí resulta), as medidas aventureiras (como a suspeitosa e calamitosa medida na G.M., via GMAC, entre muitas outras) contra a crise (ainda) da colheita de George Bush, o regresso do obscuro romance da Lehman Brothers, o impacto da deflação que vem a caminho e as medidas irreais da política monetária que do lado de lá se tomam, para que se obtenha um "buraco negro" de difícil prognóstico.

Quanto à sua segunda missiva – as eleições – é possível que Sócrates tenha enternecido muita gente. A paróquia é o que é. Mas não deixa de se notar que a sua presença televisiva foi de um homem transtornado. Muito transtornado. E, como tal, perigoso. Que Portugal tenha, numa situação difícil como a de hoje, um sujeito destes à frente do país, é um fado enorme. Um problema maior.

ARQUIVO DE ERNEST HEMINGWAY

O Museu Ernest Hemingway (Finca Vigia, a 12,5 km de Havana) abriu o Arquivo do romancista (brevemente on line), onde se pode ter acesso a "fotografias, cartas e manuscritos, além do epílogo, nunca publicado, do romance "For Whom the Bell Tolls" [aqui]. Ao fim de de 47 anos o espólio, que estava "armazenado no sótão da casa onde viveu Hemingway" (durante 20 anos) pode ser consultado.

Como aqui se refere, "o material inclui mais de 2.000 documentos, que vão desde manuscritos de algumas de suas obras até cartas, passando por recibos de lojas, além de 3.500 fotos e 9.000 livros. Desses livros, 2.000 foram lidos por Hemingway porque ele fez anotações em suas margens".

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


EFEMÉRIDES ALMANAQUE REPUBLICANO: PROPOSTAS PARA 2009

No ano em que avizinha o Centenário da República, o Almanaque Republicano propõe-se recordar e vasculhar nos baús da memória colectiva deste povo e avivar alguns momentos que têm progressivamente vindo a cair no esquecimento.

Quando há um século surgia a publicação do Manifesto Futurista de Marinetti, em Itália, e em Espanha se assistia ao fuzilamento de Francisco Ferrer, no nosso país, os republicanos, reunidos em Congresso em Setúbal, decidiram abandonar a luta pelo poder pela via eleitoral e enveredar pela via revolucionária. Entramos no ano da conspiração. A criação da comissão militar, essencialmente constituída por marinheiros, para preparar a revolta; a propaganda anticlerical, com grandes manifestações realizadas em Agosto e Dezembro; a intensificação da agitação operária e anarquista com greves, bombas e prisões; a realização do Congresso Nacional Operário; surgem novos escândalos na vida política portuguesa como o caso problema do açúcar na Madeira e a questão do Banco Predial; a instabilidade governativa era uma constante e o Partido Republicano assistia à morte de algumas figuras importantes como João Pais Pinto. Ainda nesse ano morre, António Augusto da Rocha Peixoto, antigo director da Biblioteca Publica do Porto e director da revista Portugália. Neste mesmo ano, nasceu também o ilustre escritor e activo membro do Partido Comunista, Joaquim Soeiro Pereira Gomes. Realiza-se também o Congresso Municipalista em Lisboa (...) [continua, ler AQUI]

Vídeo: Fotos do Blog (2006-08); Música: Mozart - Die Maurerfreude (Alegria dos Maçons) K471; Officina Almanaque Republicano, Janeiro 2009.

ler tudo no Almanaque Republicano.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009


The Worst Predictions About 2008

A Business Week apresentou as 10 piores previsões feitas para 2008 pelos sábios analistas em economês & outros teóricos do santo mercado. De fazer empalidecer o dr. Daniel Bessa, pestanejar a indulgente Teodora Cardoso e amuar o eng. Sócrates.

Algumas bem curiosas:

- AIG (AIG) “could have huge gains in the second quarter.” —Bijan Moazami, analyst, Friedman, Billings, Ramsey, May 9, 2008

- "I think this is a case where Freddie Mac (FRE) and Fannie Mae (FNM) are fundamentally sound. They’re not in danger of going under…I think they are in good shape going forward.” — Barney Frank (D-Mass.), House Financial Services Committee chairman, July 14, 2008

- "I'm not an economist but I do believe that we're growing." — President George W. Bush, in a July 15, 2008 press conference

- "Existing-Home Sales to Trend Up in 2008" —Headline of a National Association of Realtors press release, Dec. 9, 2007

- "I expect there will be some failures ... I don't anticipate any serious problems of that sort among the large internationally active banks that make up a very substantial part of our banking system." — Ben Bernanke, Federal Reserve chairman, Feb. 28, 2008

- "In today's regulatory environment, it's virtually impossible to violate rules." — Bernard Madoff, money manager, Oct. 20, 2007

Entretanto a Business Week já apresenta, em triunfo, a antevisão para 2009. Valentes!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

New Old School


2008: não há annus axim!

Feliz Ano Novo

ALMANAQUE REPUBLICANO: Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2008 - 10 Livros

"Não é republicano quem quer mas quem o pode ser" [Sampaio Bruno]

O Almanaque Republicano, dado à luz por cavalleiros de alma republicana e em reparo público, é (como dissemos) um espaço espiritual ou temporal de "encantos e desencantos vários" em torno desse "espírito lusitano" ou diáspora de liberdade perseguida, onde sopra a revolução subterrânea dos "cavaleiros do amor" e a soidade prudente da "história do futuro" (António Vieira). E cuja validade estará sempre nessa muito nossa aventura da demanda ou "moral de grau" e para V., caros ledores, na arte de leitura.

Por isso, os eventos percorridos, os factos e personagens aqui resgatadas são uma desobediência nossa que não trocamos pelo elogio da polémica ou vaidades rendilhadas. Nós, a esses, cuja idiossincrasia "é o couce" (Camilo), não tomamos posição. Este nosso compêndio de letras, na sua mundividência assumida, sendo uma história de iniciados ou preceito de liberdade, não deixa por isso de ser uma república do mundo que a "renovação da inteligência portuguesa" aspira, como diria Basílio Teles. O ano que passa tem neste álbum de memórias esse exacto sentido do termo. E o caminho que se entreabre até ao marco simbólico do Centenário da República o evidenciará. Adiante!

Como anteriormente - AQUI e AQUI -, corremos de novo o risco de assinalar as melhores obras que a historiografia contemporânea portuguesa publicou e conhecemos em 2008. [J.M.M. - ler todo o texto AQUI]

Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2008 - 10 Livros

1. O Pensamento Político e Social de Basílio TelesMaria do Rosário Machado (INCM)
2. "O Nosso Século é Fascista!" - O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945)Manuel Loff (Campo das Letras)
3. Das Trincheiras com SaudadeIsabel Pestana Marques (Esfera dos Livros)
4. A Esquerda Democrática e o Final da Primeira RepúblicaAntónio José Queirós (Livros Horizonte)
5. Dossier RegicídioMendo Castro Henriques et. al. (Tribuna da História)
6. A Tradição da ContestaçãoMiguel Cardina (Angelus Novus)
7. O Estranho Caso do Nacionalismo Português - Luís Trindade (Imprensa de Ciências Sociais)
8. Humberto Delgado. Biografia do General sem MedoFrederico Delgado Rosa (Esfera dos Livros)
9. Comunismo e Nacionalismo em Portugal. Política, Cultura e História no século XXJosé Neves (Tinta da China)
10. O “Um dividiu-se em Dois”José Pacheco Pereira (Alêtheia)

in ALMANAQUE REPUBLICANO - vidé, ainda, A.A.B.M.:"AS NOSSAS TRÊS PRIMEIRAS ESCOLHAS DE 2008"

terça-feira, 30 de dezembro de 2008


O embaraço do Dr. Cavaco

Anda por aí uma algazarra sobre a constitucionalização do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, que ninguém entendeu até o dr. Cavaco clamar pelos (seus) poderes próprios ou institucionais. A partir daqui todos debatem, não os princípios consignados no catálogo do direito indígena que levam à presuntiva ruptura constitucional ou a singularidade das decisões interpretativas e processo de fiscalização do Tribunal Constitucional, mas a via incidental criada entre o eng. Sócrates e o dr. Cavaco. Isto é, a dimensão político-constitucional que o dr. Cavaco verbera, optimizou nalgumas criaturas uma "esperançosa" tensão e conflito entre o governo e a Presidência da República, que sendo curiosa se verdadeira não tem por ora qualquer valimento.

Na verdade o dr. Cavaco Silva assumiu, desde o início do seu mandato, navegar no discurso e na estratégia política como se de um jogo de tratasse. O paradigma desse jogo presidencial (ou a "linguagem da coisa") seria criar um espaço único onde o eng. Sócrates em dificuldades económico-financeiras – a braços com a sua incompetência providencial e sob o servil apoio da nova garotada da União Nacional (que sabiamente juntou à sua volta) – ficasse em incómodos mas sem que a acção do Presidente da República se fizesse de todo sentir. Por isso mesmo o dr. Cavaco deu a Sócrates toda a "corda" necessária, para que não pudesse escapar. Daí que a doxa de Sócrates em torno da lenda das "reformas" caseiras, sempre muito bem desocultada via agências de comunicação, jornaleiros & outros tantos fundibulários nativos, obtivessem a eficácia observada, quer entre a elite das corporações e dos interesses quer na atemorizada quanto ignorante canalha.

Sócrates, o chefe do Partido Popular moderado (ex-PS), pode assim concretizar o maior volume de restrições de direitos fundamentais que temos memória (de comum, só ultrapassável pelo Botas de Santa Comba), principalmente nos direitos económicos e sociais consagrados em sede da Constituição, lesando grupos profissionais estruturantes da sociedade portuguesa e sem que a ordem constitucional assim abalada fosse objecto de controlo de constitucionalidade via Presidência da República. E mesmo alguns dos princípios não expressamente consagrados na Constituição, mas importante no domínio normativo constitucional – caso da original profanação do princípio da proporcionalidade (uso do poder), do curioso abandono do principio da não retroactividade ou da afrontosa violação do principio do não-retrocesso social -, o actual presidente da República, como representante da "res publica", esquiva-se nunca ousando nem querendo exercer controlo prévio. Pelo contrário, o dr. Cavaco torna-se um meticuloso "notário" do governo, num estranho jogo de interesses económicos, sociais e políticos, jamais interpretados mas que as mezinhas tomadas contra crise financeira actual pode um dia explicar e a demagogia democrática do sr. Sócrates exemplifica.

Por tudo isto não se compreende o choro desvalido das sinecuras, dos comentadores & trovadores do regime. Nem se aceita a hipocrisia e o cinismo presentes na comunicação última de Cavaco Silva. O dr. Cavaco entrou no jogo, livremente, foi cúmplice em galanteios e em melodias febris sobre a governação, estatelando-se depois na sua própria frouxidão. Se está arrependido, só o futuro o dirá. Aguardemos!

Caro Francis, de Nelson Hoineff

Ao que parece, foi apresentado no passado dia 9 de Dezembro, no decorrer do Prémio Esso de Jornalismo no Rio de Janeiro, um documentário sobre Paulo Francis, realizado por Nelson Hoineff, intitulado "Caro Francis". O filme sobre o jornalista Paulo Francis, sua "trajectória intelectual e sua personalidade", decorre no Rio, Nova Iorque e São Paulo. Dizem, ainda, que haverá depois uma versão para cinema, para sair já em 2009.

via crónica de Ruy de Castro, AQUI.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008


Que a paz seja contigo!

Vens, Neophito, de onde não sabes para onde nada conheces. Teus olhos estão fechados à mesma luz que vêem; teus ouvidos não ouvem os mesmos sons que lhe são dados. És como o universo inteiro, que não sabe donde vem nem a que vem.

Por isso te ponho na boca o sal da sciencia, e te unjo na fronte com o óleo da misericórdia, e te molho a cabeça com a água da absolvição. É para que saibas que a palavra é para dizer a verdade, e que o pensamento é para pensar a caridade, e que toda a alma é para ser limpa ante o Senhor.

Segue o teu caminho entre os homens, não esquecendo nunca que não deverás mentir aos outros, porque o sal está em tua boca; nem mentir a ti mesmo, porque o óleo está em tua fronte; nem mentir contra Deus, porque a água passou por sobre ti.

Que a paz seja contigo!

(Pax tibi, Frater!)

[texto de Fernando Pessoa "composto para a Ordem do Templo ou de Cristo em Portugal, neste caso o da entrada do neófito na Ordem”, manuscrito inédito citado por Pedro Teixeira da Mota in “Encontro Internacional do Centenário de Fernando Pessoa", Lisboa, 1990]

FELIZ NATAL!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008



ANDAMOS ... ASSIM! HÁCIO CALOR!

"Callaremos ahora para llorar depois? [R.D.]

Mis ojos hablarían si mis labios
enmudecieran. Ciego quedaría,
y mi mano derecha seguiría
hablando, hablando, hablando.

Debo decir 'He visto'. Y me lo callo
apretando los ojos. Juraría
que no, que no lo he visto. Y mentiría
hablando, hablando, hablando.


[Blas de Otero]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


CATÁLOGO NATAL 2008 – LIVRARIA ARTES & LETRAS

A Livraria Artes & Letras (Largo Trindade Coelho, 3-4, Lisboa), apresenta um estimado Catálogo de Livros para este Natal.

Algumas referências: In Memoriam Antero de Quental, 1896 / Las Cartas de Amor de Mariana Alcoforado dirigidas al Conde de Chamilly. Version y esquema biografico por E.M.S. Danero. Edicion ilustrada, Buenos Aires, Editorial Ibérica, 1945 / Alma Nacional. Revista Republicana, XXXIV numrs / Lisboa destruida. Poema de Teodoro de Almeida, 1803 / Adolescente. Poemas de Eugénio de Andrade, 1942 / Grades de Sophia Mello Breyner, 1970 / Universo pittoresco. Jornal de instrucção e recreio (Inácio de Vilhena Barbosa), III vols, 1841-44 / 107 aguarelas do comandante [António Ferreira] Pinto Basto [1862-1942] / Lisboa artística e industrial. Luxuoso album de photographias com um resumo historico da cidade, Lisboa, Emílio Canet [fotos de Benoliel e Juan Barrera], 1908 / Mundo Literário. Semanário de crítica e informação literária, científica e artística. Dirc. Jaime Cortesão, Editorial Confluência, 1946-48, LIII numrs / Filula folha de sangue. Objecto poemático de E. M. de Melo e Castro [folheto], 1962 / Pena Capital de Mário Cesariny, Contraponto, 1957 / Tribunal da razão onde he arguido o dinheiro pelos queixosos da sua falta: obra critica, alegre e moral, obra de José Daniel Rodrigues da Costa, 1814 / Cruzada Nova. Revista nacionalista de arte & doutrina, Direc. Dutra Faria, Angra do Heroísmo, 1928 / Longe. Sonetilhos, de José Gomes Ferreira [2º livro do autor], 1921 / Planície de Manuel da Fonseca, Novo Cancioneiro, Coimbra, 1941 / O Diabo. Semanário de crítica literaria e artística, Direc. Artur Inês [importante, valioso e raro periódico publicado entre 1934-1940] / A Razão Ardente. (Do Romantismo ao Sur-realismo), de Nora Mitrani-Alexandre O’Neill, Cadernos Surrealistas, 1950 / Actuação Escrita, de Pedro Oom, 1980 / 4 Autores da novela portuguesa contemporânea [Almada Negreiros, Mário Sá-Carneiro, Manuel de Lima e Luiz Pacheco], Edições Afrodite [obra apreendida na época], 1968 / Proto-Poema da Serra d'Arga, por António Pedro, Cadernos Surrealistas, 1948 / Raios de extinta luz. Poesias inéditas de Antero de Quental, Lisboa, 1892 / [José Régio] Primeiro volume de teatro. Jacob e o Anjo, mistério em três actos, um prólogo e um epílogo. Três máscaras, fantasia dramática em um acto, Porto, 1940 / Para uma Cultura Fascinante (e ainda Luz Central), ambos de Ernesto Sampaio, 1959 (e 1958) / Pela Grei. Revista para o ressurgimento nacional pela formação e intervenção de uma opinião pública consciente, direc. António Sérgio, Lisboa, Liga de Acção Nacional, 1918-19, VII numrs+ suplm / O spiritismo, ilha encoberta e sebastianismo, por José António da Conceição Vieira [Raro livro sobre temas esotéricos, espiritismo, Atlântida e Sebastianismo], Lisboa, 1884

Consultar AQUI

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


Para o INDEX de Lurdes Rodrigues

"Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (...). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (...).

Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo. 'Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque 'a honra eleva as artes.' (...)

Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade (...)"

texto com várias citações da "Ratio Studiorum da Companhia de Jesus" (1586 e de 1599) - retirados d'AQUI

video: via EDUCAR

Enfim, um curioso desejo de Feliz Ano Novo da Lisboa Editora e que (decerto) cairá no longo Index da sra. Lurdes Rodrigues. Esperem para ver!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008


Ainda a Educação ...

De simplificação em simplificação, de simplex em simplex (nada a ver com a minha cara amiga Leitão Marques, que para aqui não é chamada) o Ministério da Educação parece-se cada vez mais com uma oficina de corte e costura. O chapéu de três bicos tricotado pelos três sábios da (des)governação educativa e usado na confecção do modelo de avaliação do desempenho dos docentes recorre a um curioso método de entrelaçamento de texturas regulamentares de patética criatividade e de invejável incompetência.

O que por aqui vai em alfinetes e agulhas para corrigir o ponto cruz da avaliação é a maior comédia desta legislatura. Afinal todo o modelo avaliativo inicial, passe a publicidade desta gentinha reaccionária e pouco estudiosa, estava decididamente errado, necessitando as pontas de serem cerzidas e crochetando-se novos remendos. O despudor disto tudo, neste curioso vaudeville político, tem a marca José Sócrates. A senhora Lurdes Rodrigues há muito que abandonou a cadeira do ministério, não mandando absolutamente nada. O arremate do ponto cruz, cujo trabalho bordado teve a assinatura do inefável João Freire, está agora nas mãos caprichosas de José Sócrates. Que, como se sabe, não dá ponto sem nó. Mas talvez seja já tarde para diminuir o número de laçadas. A não ser que a comédia continue.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


LEILÃO - BIBLIOTECA DO DR. AMÉRICO CORTEZ PINTO

O livreiro e leiloeiro Pedro de Azevedo vai levar a efeito, a partir de 15 de Dezembro de 2008 (amanhã), pelas 21 horas, no Amazónia Lisboa Hotel, um leilão de livros e gravuras da biblioteca do médico Américo Cortez Pinto.

vidé Almanaque Republicano

sábado, 13 de dezembro de 2008


António Barahona da Fonseca

A última LER traz uma entrevista preciosa feita por Carlos Vaz Marques (p.30-37), "A Última Entrevista a António Barahona da Fonseca", aliás Muhammad Rashid.

António Barahona:"marginal na medida em que nunca pactuei com as coisas com as quais não concordava e que eventualmente me pudessem favorecer" (sic). Nestes dias de cobrimento autoritário, a lembrar o antes de 74 de má memória, tal indiscrição é prestigiante. Graças!

"Meu amor minha caneta de tinta permanente
minha alga no fundo do poema
aqui estou debruado num sonho
onde as palavras são de chocolate ...


[Metamorfose, in Impressões Digitais]

Locais: António Barahona / António Barahona da Fonseca

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


Pssst!! NÃO ESQUEÇA ...

"Há poucos dias fomos durante a noute atacados no nosso acampamento por tão grande numero, que se achava tudo cuberto, sendo necessário acender fogueiras por toda a parte. Capello estava n’um estado miserável. Fora atacado por ellas na cama"

Não, não, não se trata de uma posta alusiva a um qualquer ataque ou bloga por obra e graça dessa febril rapaziada modern-left em apoio educativo ou movida obreirista ligada à propaganda de Lurdes Rodrigues, muito menos é coisa kitsch da conselheira em estatística F., apenas uma admirável recolha manuscrita do grande Ivens (Roberto) - que ali em cima imprimimos - para que não se esqueçam que amanhã há LEILÃO pelas 15 horas, conforme no post anterior referimos. Ok!?

LEILÃO de MANUSCRITOS, AUTÓGRAFOS e FOTOGRAFIAS - 13 Dezembro

No próximo dia 13 de Dezembro, pelas 15 horas, na Rua de Sacramento à Lapa, nº24, realiza-se um invulgar Leilão de Manuscritos, Autógrafos e Fotografias, sob realização conjunta de Luis Burnay e Silva’s Leiloeiros. As peças a vender são curiosas e pela sua qualidade, estimação e raridade de grande interesse. Sugere-se a sempre agradável consulta e leitura do seu Catálogo (magnifico), ele próprio de interesse bibliográfico.

Algumas referências: cartas de Manuel de Arriaga, (115), do prof. José Vicente Barbosa du Bocage, várias de Sampaio Bruno, Hermenegildo Capelo, outras curiosas do Rei D. Carlos, um lote de 8 cartas do insigne jornalista Joaquim Martins de Carvalho (Conimbricense), outro de grande valia acerca do Casamento do Príncipe D. Carlos de Bragança, fotografias e cartas de Camilo Castelo Branco, um raro catálogo dos livros pertencentes a Jeronymo José d’Athayde (sec. XIX, 45 f), um estimado Álbum de Fotografias originais da Campanhia Portuguesa de Trefilaria, estimadas cartas e fotografias de Serpa Pinto, documentos vários de Natália Correia, Vasco Lima Couto, João de Deus, uma rara (inédita?) colectânea de "historias chistosas com alguma linguagem obscena ocorrida supostamente com frades Bernardos" (sec. XVIII, 316 p.), documentos de D. Fernando II, D. Manuel II, João Franco, Sebastião Magalhães Lima, Hintze Ribeiro, Conde de Sabugosa, poesias de João Paulo (Mário) Freire, Delfim Guimarães, Pedro Homem de Melo (com uma correspondência curiosa), documentos de Almeida Garrett, Eça de Queiroz, Gomes Leal, José Régio, 1 curiosa carta de Augusto Ferreira Gomes, Vitorino Nemésio, Alexandre Herculano, cartas de Augusto Carvalho Monteiro (o primitivo dono da Quinta da Regaleira), Ramalho Ortigão, Teixeira de Pascoaes, Alberto Pimentel (várias cartas), documentos sobre a Inquisição, o Livro das Eleições da Irmandade "Senhor da Cruz e dos Passos”" do Mosteiro de Belém (sec. XVIII), Livros de Horas, receitas manuscritas de Cozinha (pertencentes a D. Cristina Emília Banha de Montemor-o-Novo), copias manuscritas do P. José Agostinho de Macedo, uma valiosa correspondência dirigida ao camiliano Henrique Marques (importante jornalista e livreiro), uma curiosa fotografia de um grupo de presos políticos monárquicos em Coimbra [27/10/1913], um "Primeiro Esboço para o Catalogo Methodico dos Livros, que possue Innocencio Francisco da Silva" [o insigne bibliográfo do Diccionario].

Leilão, portanto, a não perder. Catálogo on line.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


BOM DIA!

"retira-se alguém um pouco atrás da noite
para fazer uma escola da leveza ...
"

[Herberto Helder]

Bom dia!

EDUCAÇÃO: dias amargos, gente inútil (II Parte)

Eis, a partir daqui, como poderia ser seriamente discutida a profissão docente, a sua problemática, o enquadramento regulamentar e a sua avaliação institucional. Mas sem qualquer seriedade, o ministério e o governo com o apoio de um grupo, quase sempre apoiado na ourivesaria do regime (o ISCTE, curiosamente agora fundação, com o justificado lente Rui Pena Pires à cabeça), com muita prosápia e pouca modéstia prefere instalar o caos na Escola que pensar ou ponderar tudo. A saturação é, actualmente, de rara revolta e a licenciosidade das medidas tomadas e a tomar, é um study case para a teoria política e o sistema das organizações.

O governo, com a meritíssima graça da Presidência da República, ou não tivesse por lá o senhor David Justino e não fosse ouvidor escolar do dr. Cavaco esse inefável Marçal Grilo (o póstumo Moreira Baptista da Gulbenkian), com igual alistamento de ex-Presidentes (Sampaio e Soares), com a hipócrita cavalaria universitária (novos lentes) que ao longo de anos formatou o ensino e a educação indígena (caso sinistro é da Maria do Céu Roldão & outras luminárias do eduquês doméstico), não consente qualquer tipo de reformulação.

A digestão opinativa de alguns levianos indígenas nesse mister renderá decerto muito emprego (próprio & alheio), mas para além da arruaça e calúnia que todos os dias proferem, nada consente que se esteja presente uma autónoma e séria reflexão sobre o sistema educativo e os docentes, assunto que nunca publicitaram. No invés, a chateza é sim estudar, reflectir, avaliar, argumentar. Cansa muito ser cidadão íntegro, nesta paróquia enternecedora do eng. Sócrates & amigos. Não legitima ninguém e apenas vergasta os seus preclaros obreiros. Ao que parece, a receita para obter a licença de uso e porte de opinião é estar a sebenta política validada (avaliada) pelo sarapatel da actual União Nacional, a coberto dos amestrados & afectuosos do eng. Sócrates. Coisa de fazer inveja ao clássico prof. Marcelo Caetano.

E se assim não for, ninguém está a salvo das ameaças do regente do reyno e do seu pontificado. Siga-se, para demonstração, a ladainha e apure-se o vício desses ridículos vassalos: reparem no rigor dogmático do indigente José Lello, durante os seus estapafúrdios televisivos; pondere-se na paródia que é seguir o pensamento e saber educativo do ex-sindicalista João Pedreira, nessa sua tournée diária nas TV’s; leia-se as empasteladas croniquetas da inconsolável beata socrática Fernanda Câncio sobre a infalibilidade do Papa Sócrates (matéria de fé) e da doutrina ensinada quase sempre de uma religiosidade analítica irresponsável e provocadora; tenha-se em atenção esse farejador de tragédias históricas, mas sempre remansoso no seu emprego doméstico, o limpo e delicado Rui Ramos, oriundo da plumitiva e militante universidade onde, presumidamente, além de "cursos de apontamentos e fotocópias" nada se passa de substantivo, interessante ou reformador; complete-se a comédia com os triviais escritos de António Ribeiro Ferreira (em tempos com vindimadas "estórias" no jornalismo de Coimbra), onde na vexata question da educação segue (em regular ignorância) o reboliço épico & ternurento da obra (nunca por si exposta) da sra. Lurdes Rodrigues.

Para esse curioso grupo farcista, bem como para os neófitos professos da "nova esquerda" (velha direita, entenda-se), a "defesa" de Lurdes Rodrigues é uma questão de emprego, de orfandade, de requinte fradesco, de azedume romântico, de ociosidade, de copiosa ignorância. Não há nada de ingénuo e íntegro, por ali. Apenas gente inútil e de vida amarga.

EDUCAÇÃO: dias amargos, gente inútil (I Parte)

É fácil a oratória & o palanfrório contra as "corporações", o funcionalismo público ou a canalha. Está – sempre esteve – na moda. Nos dias d’hoje, a sabatina calha aos professores e educadores, aliás conforme a tradição em tempos de crise (económica, social e de valores). O professorado regularmente foi perseguido, injuriado e humilhado, sempre a despeito do seu único "crime": o ter investido no estudo, nas suas qualificações e no trabalho socialmente honesto. Foi assim na Monarquia, continuou covardemente na I República e a investida definitiva e repressiva dá-se já durante o Salazarismo. Hoje regressa concludentemente com o governo do eng. Sócrates.

Sejamos simpáticos: um grupo de curiosos "educadores" ligados à União Nacional dos interesses & corporações instalados na paróquia implodiu – de vez – com o ensino, a educação e a Escola Pública e, no acto, desembestou publicamente contra a classe docente, essa putativa "massa igualitária e anónima". Já – AQUI, AQUI, AQUI ou AQUI – apresentámos a redacção contra tal afadistada investida, portanto não voltaremos a tal moléstia.

Com a sra. Lurdes Rodrigues e os seus dois gnomos à cabeça, presumivelmente sustentados numa "imaculada" teoria de pronto-a-vestir educativo nunca enunciada (ex-ante) eleitoralmente ou conhecida na razão superior da sua operacionalidade entre os países civilizados, surgiu uma brigada trauliteira de gente inútil, habilidosa na encenação e provocação política, generosos na ignorância, moralmente irresponsáveis. Que entre o apoio a tal gente se encontrem sinceros "reformadores" do sistema de ensino e educação, insatisfeitos com o modelo existente na Escola, não é inédito nem impossível. Porém é cansativa a esfarrapada argumentação sobre a avaliação e o seu dogma, deixando de fora todos os aspectos críticos sobre a Escola (como p.ex., os objectivos educacionais, a administração e gestão escolar, a matriz curricular, o trabalho pedagógico, a formação de professores, etc.), dogma esse onde tudo e todos têm de ser avaliados, crença irracional presente na tirania do ter que ser aprovado sempre pelo outro a cada momento (A. Ellis, 1971). Até porque o modelo que sustém a doutrina é insustentável, quer do ponto de vista de uma escola de qualidade quer como organização institucional.

A literatura sobre o tema "avaliação de desempenho dos professores" não permite argumentar positivamente o construído actual do modelo de Lurdes Rodrigues & João Freire. Muito pelo contrário, conforme os vários conflitos organizacionais patentes e que dia-a-dia ocorrem e teimam em desocultar. Mesmo o arrazoado conceito teórico de "profissão e profissionalidade docente" aplicado (uma justificação constante para a miséria do modelo) não permite inferir qual o perfil do professor (até pelo processo de fragmentação em curso) a avaliar e a sua regulação, apenas justifica os motivos da desqualificação e proletarização da profissão, por ora encetada. De facto, tal ideologia do profissionalismo (conforme, e bem, Lurdes Rodrigues critica no seu livro Sociologia das Profissões, Celta, 2002), que curiosamente mais parece ter saído de uma velha e desadequada "sociologia das ocupações", pelo modelo a implementar pretende apenas legitimar e efectuar a desprofissionalização docente, em tempos de emagrecimento do Estado (assunto que o pouco escrupuloso Mário Soares não relaciona com o actual ataque feito aos docentes, passe a sua intenção e graça política de combate ao insidioso neoliberalismo) e onde, via ECD, a avaliação tem lugar central.

[ver a propósito da questão da profissionalização docente, entre outros: A. Nóvoa, C. De Lella, C. Dubar, C. Gauthier & M. Mellouki, C. Maroy, Contreras, E. O. Shiroma, K. Densmore, L. Kreutz, Lortie, M. F. Enguita, M. Ludke, M. T. Estrela, M. Tardif, P. Bourdieu, P. Perrenoud, Pochmann, R. Bourdoncle, R. Canário, V. Isambert-Jamati]

[continua]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


ESTA NOUTE ... ESTAMOS ASSIM!

"sou eu que te abro pela boca,
boca com boca,
metido em ti o sôpro até raiar-te a cara
"

Herberto Helder

LIVRARIA POESIA INCOMPLETA

"O ar confunde os hálitos das mais apetitosas bocas" [A. Breton]

No mister de não ter pressa, nesta quintarola do eng. Sócrates, convém "arranhar" muitas "peles delicadas" e tactear por aí. O verbo, a boca e a semente, dispõem sempre sentimentos d’alma. Na rua Cecílio de Sousa, curiosamente ele mesmo livre-pensador, o triângulo luminoso do canto da "Livraria Poesia Incompleta" amassa a métrica, a sonoridade e a obra dos primeiros e únicos versos. Com golpes docemente furtivos, que "a poesia é a distância mais curta entre duas pessoas". Uma livraria portuguesa de poesia e só poesia, com Mestre Changuito à V. mercê.

E, para nos desafogarmos em cantos e amores “doudos”:

"é sempre o mesmo dia, é sempre a mesma noite,
o tempo, não o inventaram ainda,
o sol não envelheceu,
é idêntica a esta e outra neve,
sempre e nunca é o mesmo,
aqui nunca choveu ou chove sempre,
tudo está sendo sem ter sido nunca …
" [Octávio Paz]

Livraria Poesia IncompletaRua Cecílio de Sousa, nº11 [entre o Príncipe Real e a Praça das Flores] à V. espera.

domingo, 7 de dezembro de 2008


António Alçada Baptista (1927-2008)

"Viajante, ensaísta, memorialista (Peregrinação Interior), editor (na Moraes), ficcionista (O Riso de Deus) – o António Alçada era sobretudo um conversador e um sedutor. Ele seduzia as pessoas com quem se cruzava ao longo da vida, e seduzia os seus leitores com aquele tom suave, como é a inocência da sua obra. Estabeleceu uma ponte entre os dois regimes, em 1974 (as suas Conversas com Marcelo Caetano foram uma última tentativa de ler o regime e O Tempo e o Modo uma forma de o mudar). Tinha uma inteligência muito intuitiva, o que o levava a pensar com leveza sobre coisas profundas. E chegava antes dos outros a conclusões que poucos hoje lhe atribuem. Isso fazia dele um homem generoso de quem era difícil não gostar. Muita gente lhe deve muita coisa".

F.J.V., in A Origem das Espécies

sábado, 6 de dezembro de 2008


In-Libris – Montra de Natal

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de bons livros antigos e estimados de poesia, literatura, culinária, botânica, etnografia, artes, monografias, etc.

Referências: Actas do Colóquio de Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos, 1958 / Equitação e Hippologia, pelo Conde de Fornos d’Algodres, 1903 / o Jardim. Manual do Jardineiro-Amador, de Joaquim Casimiro Barbosa, 1892-3, III vols / O Novo Tratamento Naturalista, de F. E. Bilz, s.d., II vols / Curiosidades Estéticas, de António Botto, 1924 / Authentic Memoirs Concerning the Portuguese Inquisition, por Archibald Bower, 1761 / Da Vida e Morte dos Bichos, s.d., V vols / Os Lusíadas de Luiz de Camões, Ed. III Centenário, Porto, 1880 / Os Ciganos de Portugal, por F. Adolfo Coelho, 1892 / Historia da Prostituição em todos os Povos do Mundo, de Pedro Dufour, 1885-7, V vols / Historia das Inquisições de Itália, Hespanha e Portugal, 1822 (2ª ed.) / História da Cidade do Porto, 1962-5, III vols / História da Tauromaquia, Lisboa, 1951-3, II vols / A Formosa Lusitania, versos de Lady Jackson (Catarina Carlota) [camiliano e raro], 1877 / Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa, IV vols / Historia Natural Ilustrada, por Júlio de Matos, 1880, VI vols / Caravela ao Mar, de Pedro Homem de Melo, 1933 / O Rapaz da Camisola Verde, de Pedro Homem de Melo, 1954 / Despedidas, de António Nobre, 1902 / As Paróquias Rurais Portuguesas. Sua Origem e Formação, pelo P. Miguel de Oliveira, 1950 / Cancioneiro de Lisboa (sec. XIII-XX), por João de Castro Osório (intr. e notas), 1956 / À Memória do Presidente-Rei Sidónio Paes, por Fernando Pessoa e outros letrados, Porto, Ed. Petrus, s.d. / Últimos Echos de um Violino Partido, de Alfredo Pimenta, 1941 / Portucale. Revista Ilustrada de Cultura Literária, Porto, 1928-66, XIII vols / Operas. Dir. de Mário de Sampaio Rieiro, IX vols (80 fasc.)

A consultar on line.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


COM OS PROFESSORES – DIA DE GREVE NACIONAL

Em apoio & mantimento à luta dos Professores; em defesa da Escola Pública e contra o despotismo iluminado dos que têm sempre razão e nunca se enganam; em defesa do Ensino sério, de qualidade e rigor, contra a proletarização da docência; em defesa da Educação, pelo exercício da cidadania plena (sem medo) e contra a calúnia dos rebanhos muito ajeitadinhos ao poder; em defesa da honra e dignidade contra as ameaças dos eternos vendilhões com assento nas corporações de interesses. Pela santa liberdade.

Nós moralmente limpos ...!

 Lopes Graça - Clamor

LIVRARIA ARTES & LETRAS – livros de temática Açoriana

A sempre única livraria Artes & Letras, sitiada no Largo Trindade Coelho, nº3-4 (Lisboa) e quasi pegadiça da Olisipo, frequentada por gente amante dos livros & curiosos bibliófilos, tem neste momento à venda uma AÇORIANA muito estimada. Ocasião para, num restinho de passeio, lá passarem, descansar e cobiçarem as peças raras e esgotadas sobre os Açores.

Algumas referências: Almanaque Açores para 1955 [coord. Manuel Joaquim de Andrade com colaboração obsequiosa de distintos escritores e poetas açorianos e continentais], 40º ano, Angra do Heroísmo, 1955 / Silhuetas biográficas e históricas, de A. Virgínio Baptista, Angra do Heroísmo, 1931 / Carta Constitucional da Monarchia Portugueza, decretada e dada pelo Rei de Portugal e Algarves D. Pedro, Imperador do Brasil, aos 29 de Abril de 1826, Angra, Imprensa do Governo, 1830 [um dos primeiros impressos dos Açores, provavelmente o primeiro. A primeira tipografia dos Açores foi iniciada em 1830, durante o Governo da Regência na ilha Terceira, com a designação de "Imprensa da Prefeitura" ou "Imprensa do Governo"] / Colecção Camoniana de José do Canto [pref. Hernâni Cidade], Imprensa Nacional, 1972 / Annaes da Ilha Terceira, de Francisco Ferreira Drummond, Angra do Heroísmo, Imprensa do Governo, 1850, IV vols / O dia 11 d'Agosto de 1829 ou a victoria da Villa da Praia. Poema heroico offerecido ao illustrissimo e excellentissimo senhor Duque da Terceira por António Luiz Gentil, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844 / A Fenix das Tempestades, renascida na de 15 de Outubro de 1732. Com hum discurso sobre a origem dos ventos, composta, e ordenada por hum anonymo [António Correia de Lemos, 1680-1747]. Lisboa Occidental, Officina de Joseph Antonio da Sylva, Impressor da Academia Real, 1732 (raro) / Cruzada Nova. Revista nacionalista de arte & doutrina [revista integralista, com dir. de Correia de Melo e Dutra Faria], Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade, 1928. 8 Fascículos / Marienses (Trovas açoreanas), por Mendo Bem [pseud. Francisco Joaquim Moniz de Bettencourt], Lisboa, 1899 / A casa fechada. Novelas, por Vitorino Nemésio, Coimbra, 1937 / O pão e a culpa. Poemas seguidos de uma versão do Dies Irae, de Vitorino Nemésio, Lisboa, Bertrand, 1955 / La voyelle promise. Poëmes, de Vitorino Nemésio, Lisboa-Paris, Edições Presença-Éditions R.-A. Corrêa, 1935 / Folhinha da Terceira para o anno de 1832, de Luz Soriano, Angra, Imprensa do Governo, 1832

A consultar [se o site estiver conforme], AQUI

COLECÇÃO ESCARAVELHO DE OURO

... A sua [Joaquim Figueiredo Magalhães] juventude impressionou-se com os intelectuais, esses seres 'flamejantes'. Queixavam-se todos de que tinham obra mas não quem os editasse. Ele ouviu-os e aventurou-se. Começou por edições soltas, entre elas O Barão de Branquinho da Fonseca. Com dinheiro de família, funda em 1950 a primeira editora, a Édipo, lançando a colecção Escaravelho d'Ouro. "Os nossos intelectuais, na altura, entendiam que a literatura policial era secundária, de fancaria. Mas há livros notáveis: o Chandler, o Dashiel Hammet, a Agatha Christie, o Simenon, o Maurice Leblanc, fui eu que os editei ...

in jornal Público (01/12/08): "Joaquim Figueiredo Magalhães. O último livro da Ulisseia s.f.f.", por Catarina Portas.

Joaquim Figueiredo Magalhães (1916-2008)

Nasceu no Porto a 5 de Agosto de 1916 o fundador da incontornável editora Ulisseia (1948). E são (ainda) dias preciosos aqueles que os seus livros (e o tempo através deles) nos recordam.

Estamos todos gratos por ter tido Steinbeck, Céline, Beckett, Durrell, Vailland, Hemingway, Yourcenar, Greene, Henry Miller, Kerouac, Mircea Eliade, Evelyn Waugh, Ezra Pound, Apollinaire, Pasolini, Boris Vian, Morávia, Mailer, Dashiel Hammett e, evidentemente, os portugueses Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Herberto Hélder, Fiama Hasse Pais Brandäo, Manuel de Lima, José Blanc de Portugal, Cardoso Pires, Alexandre O’Neill, Vergílio Correia, Raul de Carvalho, António Ramos Rosa, Sttau Monteiro, Melo e Castro, Carlos de Oliveira, José Marmelo e Silva, Manuel da Fonseca, Faure da Rosa, Eduardo Lourenço, na boa e saudosa colheita de livros da Ulisseia. E que nós, em pecado bibliófilo, possuímos e não libertamos. Bem como a revista Almanaque, de muita memória, como AQUI nos referimos.

Um bonito texto de Catarina Portas sobre essa admirável figura que foi Joaquim Figueiredo Magalhães, foi publicado pelo jornal Público (1/12/2008) e pode AQUI ser lido.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008


JOSÉ MANUEL SILVA e o Conflito na Educação

"O Governo está completamente equivocado na forma como está a gerir o conflito com os docentes. Na verdade, o entendimento necessário não é com os sindicatos, mas com os professores. Bem pode o presidente da FENPROF acentuar que são os sindicatos que representam os professores, é verdade, mas só representam alguns e já há muito tempo que a dinâmica de rejeição das políticas e da atitude do ME para com toda a classe ultrapassa largamente a acção dos sindicatos.

Se o Governo quer pacificar o campo educativo, e só admito que o faça pelo diálogo, tem de perceber que o obstáculo não são os sindicatos nem os professores, mas a própria equipa do ME. Se o Primeiro Ministro quiser ser parte da solução e não do problema tem de demitir rapidamente a equipa que dirige o ME, por uma razão simples e que é do domínio das teorias da liderança e se fundamenta nos princípios da inteligência emocional.

Quebrou-se totalmente o vínculo emocional que liga os professores ao Ministério e o que devia ser ressonância (Goleman et al, 2003) tornou-se dissonância, o que impede qualquer entendimento ou colaboração. As emoções tóxicas tornaram-se dominantes e inviabilizam o restabelecimento da confiança e do diálogo.

Tal como na Saúde Correia de Campos percebeu isso e o Primeiro Ministro também, é forçoso que no conflito da Educação se entenda que não há saída para o problema sem mudança de caras e de procedimentos. Os professores perderam, há muito, a confiança em quem supostamente os devia liderar, e quando os líderes perdem a confiança dos liderados, deixam de o ser.

Espero, sinceramente, que não se caia na tentação de fazer da anunciada greve do dia 3 uma forma de tentar partir a espinha ao movimento de contestação docente, e que haja a iniciativa política suficiente para encontrar uma solução que resolva o problema de fundo e não qualquer cosmética de ocasião ..."

[José Manuel Silva, in Campo Lavrado]

Nota: o Dr. José Manuel Silva é militante do PS, foi presidente da Comissão Concelhia do PS em Leiria e candidato à sua Câmara Municipal. Ex- Director Regional de Educação do Centro (DREC), é professor e director da Escola Superior de Educação de Leiria [onde está a ultimar o seu projecto de investigação em liderança escolar, sendo um estudioso de questões sobre a gestão e administração privada e pública].

domingo, 30 de novembro de 2008


MONEY

"Nada de nosso temos senão o tempo, de que gozam justamente aqueles que não têm paradeiro" [Baltasar Gracián]

Aos herdeiros do tempo-mercadoria, lamúria justamente marxiana, sem o poeta Groucho comungando, suave de poesis em língua saburrosa, pelo lado errado e conformista das coisas, que o antigo pregador das barbas registou. Ao dr. Cavaco Silva, jaculatório de êxtase económico, descerrando o urbi et orbi da crise indígena, pois famosos eram os tempos do oásis passa-montanhas. Ao dr. José Lelo, habilidoso naturalista, disfarçado de economista que a RTPN nos envia em doses regulamentares, pela calada da noute, que o serão está frio. Ao sugestivo Correia de Campos, acarinhando um qualquer Outubro em frémitos anedóticos e com zelo de empregado do regime, com sede no Largo do Rato e presépio no ISCTE. Ao dr. Dias Loureiro – evidentemente – pela muita impressionante mágica da teoria financeira permanente, que Trotsky está ali (fatigadamente) à espreita, evidenciada pelo referencial de competência respectiva, apesar da cor do dinheiro enganar a ortografia, o rosto e o génio.

A moi-même, que vamos tão longe quanto o Domingo engana.

Bom dia!

Ensino, mentiras e videotape

"O jornalismo é uma operação a prazo em que o trigo também não existe em ideia, mas em que, realmente, há grande debulha de farelo" [Karl Kraus]

1. O aparecimento em carrossel de membros do Ministério da Educação & os seus habituais apparatchiks nos media, gotejando incentivos à desvairada "reforma" de ensino com que nos brindaram estes quase 4 anos, transformaram a semana finda num espectáculo de informação, desinformação e ocultação, invejável. De tal modo as articuladas benzeduras postas a correr por essa curiosa gente foram ridículas – tão assombrosa foi a fantasia, a confusão e o desnorte – que a náusea tomou definitivamente lugar, mesmo entre os que, anteriormente, estampavam singulares "panfletos" em louvor e oração à obra de N. Sra. De Lurdes Rodrigues. Numa única semana, o reportório de gaffes, insolências & demais desvarios permitiram desvelar o carácter da gente que está à frente do ministério, dito de Educação. E justifica o tom trauliteiro dos seus apaniguados, alguns muito chorosos e saudosos do velho Botas de Santa Comba. É a vida!

2. Depois da semana anterior, Maria de Lurdes Rodrigues (perigosa anarquista, em dormência) nos ter entrada pela casa dentro, via TV, em oráculos didácticos e cantos épicos sobre assuntos que não conhece nem sabe (trata-se de educação e ensino, evidentemente), esta semana os jornais (D.N. e Público) auxiliaram a "festa" com um animado perfil da senhora, simples e pleno de fogo "revolucionário". Para os profanos da revolução, colher a pregação & a epopeia de Lurdes Rodrigues é, certamente, uma curiosa aventura jornalística para assombrar e dar a conhecer aos meninos dos Magalhães, mas para iniciados um simples arcaísmo de juventude, sem mais.

De entre os escribas que conduziram o perfil da extinta ministra da educação, pelo esplendor romântico e vigor varonil, está a prestante Fernanda Câncio [DN, 22/11/2008]. A bela e curiosa trovadora do regime – uma descoberta que a tipografia indígena espalhou e a blogosfera anichou – viu em Lurdes Rodrigues uma "estóica mas sensível, dura mas suave, distante mas sedutora" senhora. Talvez por isso mesmo resolveu enriquecer a croniqueta, grifando-a com um sólido e urbano título: "Os bons vencem sempre". A linguagem pitoresca e formosa da doce Câncio não merecia tão generoso letreiro.

Seja como for, a lista de mazelas e rimas forçadas, deram a conhecer uma caridosa quanto divertida anarquista, que o seu compadre João Freire um dia desenganou na militância, mas que se pode consultar (para quem for jornalista e cultive escritos prosaicos) na expiada revista A Ideia, procurando uma sua qualquer reflexão ou contributo sobre as ideias libertárias ou o anarquismo em geral. Não vale – já se sabe – o esforço crepitante de receber e enviar cartas ou o hercúleo trabalho de cintar o periódico. Isso, não!

Fica, porém, por ensaiar a um jornalista sério – talvez quando a Lurdes Rodrigues sair definitivamente do palco do ministério – a vexata question de se saber, o seguinte: quanto custou aos contribuintes a atabalhoada reforma educativa, com o ECD à cabeça? se os seus encantadores e sábios autores fazem parte do pessoal do Ministério da Educação ou se foi uma encomenda em outsourcing? e se foi comissionado, quem assinou? Agradecia-se a presença de um jornalista, s.f.f.!

sábado, 22 de novembro de 2008


O Livreiro Coleccionador

"O coleccionador, o livreiro e o leiloeiro disputam e povoam o alfarrabista José Vicente. O aficcionado colecciona obras sobre o concelho de Oeiras, o livreiro possui quatro estantes de dicionários bibliográficos e o leiloeiro esmera-se com os catálogos. Negociou por três anos uma gravura de Paço d'Arcos, pela qual pagou uma "fortuna". Debruça-se sobre obras de referência antes de comprar o que vende na Olisipo. Realizou-se por ter em mãos a segunda edição dos Lusíadas, que leiloou. "Não se faz livreiro quem não gosta de livros", sentencia aos 61 anos, 48 dedicados à profissão.

Os dicionários bibliográficos são auxiliares fiéis de José Vicente. O Inocêncio Francisco da Silva para a literatura portuguesa, o Palau para a ibérica e o Brunet para a francesa. "A maioria dos livros chegam através das famílias dos coleccionares, que desejam desfazer-se das bibliotecas depois da sua morte. É preciso investigar as obras para avaliá-las. Há livros antigos que não têm valor. Quando os compro, introduzo no sistema informático não só as características da obra, mas também um verbete criado por mim".

Livros de viagem, astronomia, genealogia e descobrimentos moram nas prateleiras da livraria Olisipo – homenagem à editora de Fernando Pessoa e António Botto. Os coleccionadores que a frequentam são leais, alguns diários. "Há coleccionadores em bruto e por temática. Todos valorizam o cheiro a velho, que sabe melhor, a textura do papel, o tipo da encadernação e o que é difícil de encontrar". Fechados numa cristaleira, como prata da casa, exemplares únicos como Viagem pela Arábia, obra holandesa de 1774, a venda por 2.500 euros, e um Comentário ao Direito Espanhol de 1585 por 800 euros. Neste ano já editou três catálogos com as obras da Olisipo, com tiragem média de mil exemplares.

As bibliotecas são um contínuo, garante José Vicente."Se algumas estão a rarear outras estão a formar-se por novos coleccionadores, mas estão escondidas", ressalva. O último leilão que organizou, como consultor de livros e manuscritos, tinha entre suas pérolas Os Lusíadas, edição de 1584. e uma Bíblia de 1539, com encadernação de época em carneira com fechos. Em 2005 publicou O Valor do Livro Antigo em Portugal, onde constam os livros aqui leiloados nos séculos XV e XVI. Para o ano está prevista a publicação do segundo volume, a abordar o século XVII. "Sentir-me-ei completo se conseguir publicar esta obra até os dias de hoje, é um contributo para a informação sobre livros antigos", orgulha-se José Vicente"

In REPORTAGEM: "O Amor de Papel dos Alfarrabistas", DN Gente, DN, 22/11/2008, p. 5. Inclui, ainda, a reportagem (com alguns erros tipográficos) do DN, textos de Isadora Ataíde e fotos de Orlando Ribeiro, sobre o oficio dos estimados livreiros-alfarrabistas, João Lopes Holtreman, Nuno Gonçalves e José Manuel Rodrigues.

NOTA: dispusemos online no BIBLIOMANIAS, 3 (três) textos produzidos em memória de JOSÉ MARIA ALMARJÃO [1920-2008], para consulta futura e em gratidão ao Homem e ao Alfarrabista. Consultar, AQUI.

E depois da maré vazar?

texto de São José Almeida, Público, 22 de Novembro de 2008, p. 46