domingo, 30 de novembro de 2008


MONEY

"Nada de nosso temos senão o tempo, de que gozam justamente aqueles que não têm paradeiro" [Baltasar Gracián]

Aos herdeiros do tempo-mercadoria, lamúria justamente marxiana, sem o poeta Groucho comungando, suave de poesis em língua saburrosa, pelo lado errado e conformista das coisas, que o antigo pregador das barbas registou. Ao dr. Cavaco Silva, jaculatório de êxtase económico, descerrando o urbi et orbi da crise indígena, pois famosos eram os tempos do oásis passa-montanhas. Ao dr. José Lelo, habilidoso naturalista, disfarçado de economista que a RTPN nos envia em doses regulamentares, pela calada da noute, que o serão está frio. Ao sugestivo Correia de Campos, acarinhando um qualquer Outubro em frémitos anedóticos e com zelo de empregado do regime, com sede no Largo do Rato e presépio no ISCTE. Ao dr. Dias Loureiro – evidentemente – pela muita impressionante mágica da teoria financeira permanente, que Trotsky está ali (fatigadamente) à espreita, evidenciada pelo referencial de competência respectiva, apesar da cor do dinheiro enganar a ortografia, o rosto e o génio.

A moi-même, que vamos tão longe quanto o Domingo engana.

Bom dia!

Ensino, mentiras e videotape

"O jornalismo é uma operação a prazo em que o trigo também não existe em ideia, mas em que, realmente, há grande debulha de farelo" [Karl Kraus]

1. O aparecimento em carrossel de membros do Ministério da Educação & os seus habituais apparatchiks nos media, gotejando incentivos à desvairada "reforma" de ensino com que nos brindaram estes quase 4 anos, transformaram a semana finda num espectáculo de informação, desinformação e ocultação, invejável. De tal modo as articuladas benzeduras postas a correr por essa curiosa gente foram ridículas – tão assombrosa foi a fantasia, a confusão e o desnorte – que a náusea tomou definitivamente lugar, mesmo entre os que, anteriormente, estampavam singulares "panfletos" em louvor e oração à obra de N. Sra. De Lurdes Rodrigues. Numa única semana, o reportório de gaffes, insolências & demais desvarios permitiram desvelar o carácter da gente que está à frente do ministério, dito de Educação. E justifica o tom trauliteiro dos seus apaniguados, alguns muito chorosos e saudosos do velho Botas de Santa Comba. É a vida!

2. Depois da semana anterior, Maria de Lurdes Rodrigues (perigosa anarquista, em dormência) nos ter entrada pela casa dentro, via TV, em oráculos didácticos e cantos épicos sobre assuntos que não conhece nem sabe (trata-se de educação e ensino, evidentemente), esta semana os jornais (D.N. e Público) auxiliaram a "festa" com um animado perfil da senhora, simples e pleno de fogo "revolucionário". Para os profanos da revolução, colher a pregação & a epopeia de Lurdes Rodrigues é, certamente, uma curiosa aventura jornalística para assombrar e dar a conhecer aos meninos dos Magalhães, mas para iniciados um simples arcaísmo de juventude, sem mais.

De entre os escribas que conduziram o perfil da extinta ministra da educação, pelo esplendor romântico e vigor varonil, está a prestante Fernanda Câncio [DN, 22/11/2008]. A bela e curiosa trovadora do regime – uma descoberta que a tipografia indígena espalhou e a blogosfera anichou – viu em Lurdes Rodrigues uma "estóica mas sensível, dura mas suave, distante mas sedutora" senhora. Talvez por isso mesmo resolveu enriquecer a croniqueta, grifando-a com um sólido e urbano título: "Os bons vencem sempre". A linguagem pitoresca e formosa da doce Câncio não merecia tão generoso letreiro.

Seja como for, a lista de mazelas e rimas forçadas, deram a conhecer uma caridosa quanto divertida anarquista, que o seu compadre João Freire um dia desenganou na militância, mas que se pode consultar (para quem for jornalista e cultive escritos prosaicos) na expiada revista A Ideia, procurando uma sua qualquer reflexão ou contributo sobre as ideias libertárias ou o anarquismo em geral. Não vale – já se sabe – o esforço crepitante de receber e enviar cartas ou o hercúleo trabalho de cintar o periódico. Isso, não!

Fica, porém, por ensaiar a um jornalista sério – talvez quando a Lurdes Rodrigues sair definitivamente do palco do ministério – a vexata question de se saber, o seguinte: quanto custou aos contribuintes a atabalhoada reforma educativa, com o ECD à cabeça? se os seus encantadores e sábios autores fazem parte do pessoal do Ministério da Educação ou se foi uma encomenda em outsourcing? e se foi comissionado, quem assinou? Agradecia-se a presença de um jornalista, s.f.f.!

sábado, 22 de novembro de 2008


O Livreiro Coleccionador

"O coleccionador, o livreiro e o leiloeiro disputam e povoam o alfarrabista José Vicente. O aficcionado colecciona obras sobre o concelho de Oeiras, o livreiro possui quatro estantes de dicionários bibliográficos e o leiloeiro esmera-se com os catálogos. Negociou por três anos uma gravura de Paço d'Arcos, pela qual pagou uma "fortuna". Debruça-se sobre obras de referência antes de comprar o que vende na Olisipo. Realizou-se por ter em mãos a segunda edição dos Lusíadas, que leiloou. "Não se faz livreiro quem não gosta de livros", sentencia aos 61 anos, 48 dedicados à profissão.

Os dicionários bibliográficos são auxiliares fiéis de José Vicente. O Inocêncio Francisco da Silva para a literatura portuguesa, o Palau para a ibérica e o Brunet para a francesa. "A maioria dos livros chegam através das famílias dos coleccionares, que desejam desfazer-se das bibliotecas depois da sua morte. É preciso investigar as obras para avaliá-las. Há livros antigos que não têm valor. Quando os compro, introduzo no sistema informático não só as características da obra, mas também um verbete criado por mim".

Livros de viagem, astronomia, genealogia e descobrimentos moram nas prateleiras da livraria Olisipo – homenagem à editora de Fernando Pessoa e António Botto. Os coleccionadores que a frequentam são leais, alguns diários. "Há coleccionadores em bruto e por temática. Todos valorizam o cheiro a velho, que sabe melhor, a textura do papel, o tipo da encadernação e o que é difícil de encontrar". Fechados numa cristaleira, como prata da casa, exemplares únicos como Viagem pela Arábia, obra holandesa de 1774, a venda por 2.500 euros, e um Comentário ao Direito Espanhol de 1585 por 800 euros. Neste ano já editou três catálogos com as obras da Olisipo, com tiragem média de mil exemplares.

As bibliotecas são um contínuo, garante José Vicente."Se algumas estão a rarear outras estão a formar-se por novos coleccionadores, mas estão escondidas", ressalva. O último leilão que organizou, como consultor de livros e manuscritos, tinha entre suas pérolas Os Lusíadas, edição de 1584. e uma Bíblia de 1539, com encadernação de época em carneira com fechos. Em 2005 publicou O Valor do Livro Antigo em Portugal, onde constam os livros aqui leiloados nos séculos XV e XVI. Para o ano está prevista a publicação do segundo volume, a abordar o século XVII. "Sentir-me-ei completo se conseguir publicar esta obra até os dias de hoje, é um contributo para a informação sobre livros antigos", orgulha-se José Vicente"

In REPORTAGEM: "O Amor de Papel dos Alfarrabistas", DN Gente, DN, 22/11/2008, p. 5. Inclui, ainda, a reportagem (com alguns erros tipográficos) do DN, textos de Isadora Ataíde e fotos de Orlando Ribeiro, sobre o oficio dos estimados livreiros-alfarrabistas, João Lopes Holtreman, Nuno Gonçalves e José Manuel Rodrigues.

NOTA: dispusemos online no BIBLIOMANIAS, 3 (três) textos produzidos em memória de JOSÉ MARIA ALMARJÃO [1920-2008], para consulta futura e em gratidão ao Homem e ao Alfarrabista. Consultar, AQUI.

E depois da maré vazar?

texto de São José Almeida, Público, 22 de Novembro de 2008, p. 46

PATÉTICO

Duas almas penadas – Dias Loureiro e Judite de Sousa - mostraram, ontem na RTP1, o talento dos "bons" tempos do governo do dr. Cavaco Silva. Tivemos a sorte de ouvir a voz poderosa de Dias Loureiro sobraçando a pele de um administrador de importantes empresas, e em especial da SLN, mas que mais sugeria estarmos perante a doutrina curiosa do meu merceeiro (que o amigo Joaquim de facto tem, e muita) sobre as suas mercadorias do que face a uma autoridade (e génio) no métier empresarial.

Dias Loureiro, trémulo e escandalosamente assustadiço, brindou os ouvintes com uma máscara (já muito conhecida) de ignorância em todos os assuntos que lhe diziam respeito, perante a deferência piegas da sua colega Judite de Sousa. Foi patético seguir a excelência do método loureiriano de administração de empresas, onde ninguém entendeu o que ele por lá fazia senão que tinha encontros espapaçados (e a sós) com o inefável Oliveira e Costa - "brilhante, muito inteligente, um trabalhador incansável", ainda segundo a propaganda do amigo e conselheiro de Cavaco Silva – e que num qualquer tempo assinava as contas da mercearia (o singular BPN), muito à boa maneira do que o meu distinto amigo Joaquim faz. E assim vai a Banca indígena!

O deprimente esclarecimento público de Dias Loureiro, ao que parece, estimulou a memória desses (também) curiosos António Marta e Miguel Beleza. Os amigos do sr. Cavaco Silva são bem estranhos e decerto não ficará por aqui a converseta. Resta saber como é que o politicamente "aprisionado" Presidente da República responde a este "oportuno" episódio que lhe caiu no regaço. Responderá na mesma moeda ao sr. Sócrates!? Ou passa!

ESTA NOUTE ... ESTAMOS ASSIM!

"se alguém respirasse e cantasse uma palavra,
e súbito fosse respirado por ela, fosse
cantado assim
de puro júbilo ou, quem sabe? de medo puro,
poria no termo o selo de si mesmo?
quem é que sabe onde fica o mundo?
"

Herberto Helder

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


O NOBRE DEPUTADO

"O Sr. Fernando de Sousa (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Lei de Bases do Sistema Educativo, que, em 1986, estabeleceu o quadro de referência da Reforma do Sistema Educativo, foi objecto de um consenso social e político graças a um processo de elaboração e formulação que o Partido Socialista assume e do qual se orgulha. Ao longo dos anos que se seguiram, apesar dos avisos e chamadas de atenção feitos pelos diversos partidos, sindicatos e outros órgãos representativos, aquele consenso inicial foi-se progressivamente perdendo até se atingir a situação actual de desconfiança, descrédito e conflito generalizados (…)

... em vez de planificação global e faseada, de concertação política e envolvimento dos parceiros educativos, assistiu-se durante os últimos anos à produção de um edifício legislativo e normativo abundante, mas incaracterístico, contraditório e sem um mínimo de coerência temporal (...) Por outro lado, a ausência de diálogo, amplo e sistemático, que seria exigível para o sucesso da execução da reforma, mas que se instalou como estratégia de actuação, conduziu-a a ziguezagues ditados por razões de conjuntura, de oportunidade política, de conveniência técnica e, não raras vezes, de mero interesse partidário.

O Sr. Laurentino Dias (PS): - Muito bem!

O Orador: - O cumprimento mínimo do dever de consulta às instituições representativas do tecido social ou dos parceiros educativos, a recolha de opiniões e a realização de algumas reuniões de debate após a publicação de normativos legais serviu apenas para tentar legitimar uma visão e um estilo de actuação tecnocráticos, que mais não pretendeu senão afastar a sociedade do debate e das decisões sobre as questões de fundo (...)

O PS já manifestou, por mais de uma vez, sérias dúvidas e reservas sobre a implementação da reforma. A sua filosofia subjacente implicava que o Ministério da Educação interviesse de forma coerente, concertada e programada em três áreas fundamentais: nos currículo, definindo em simultâneo os planos de estudo e os objectivos necessários para cada nível de ensino; na formação de professores, que, sendo determinante para o êxito global da reforma, deveria responder prioritariamente às necessidades de natureza pedagógica e didáctica impostas pelos novos curricula e pelos novos programas e docentes na sua relação com os pais e com a comunidade; na gestão e organização das escolas, propondo modelos administrativos menos ambiciosos mas mais adaptados à realidade das nossas escolas (...)

No sector das condições subjectivas, culturais e sociológicas da reforma, a estratégia oficial, neste domínio, tem consistido em institucionalizar a ambiguidade, a incoerência e o sentido do oportunismo.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Institucionaliza a ambiguidade quando impõe, por via gravosa, administrativa e autoritária soluções para os parceiros educativos com os quais proclama ser depois indispensável trabalhar (...)

O Sr. António Braga (PS): - É bem verdade!

O Orador: - No entanto, exigiu a excepcionalidade da retenção, gerando um sem número de equívocos junto das escolas, dos professores, dos encarregados de educação e dos próprios alunos.

Na formação contínua de professores, o sistema de "créditos" para a progressão na carreira subverteu os seus principais objectivos. O Ministério da Educação, ao não dar prioridade à formação nas escolas e às necessidades pedagógicas e didácticas criadas por uma relação de ensino/aprendizagem de tipo novo, abriu a possibilidade de uso indiscriminado de fórmulas ultrapassadas de transmissão passiva de "conhecimentos". Pretendendo contribuir para o desenvolvimento de uma nova cultura de escola, necessária para o desempenho de novos papéis do professor, e para um associativismo de projectos e de recursos acabou por asfixiar as iniciativas autónomas das escolas através de processos burocráticos, que lhes exigiu.

Institucionaliza a incoerência e o oportunismo quando faz dos professores, individualmente e como classe, o bode expiatório da sua própria falta de rigor e de capacidade política no cumprimento das finalidades da reforma.

(...) Se existem problemas, é porque "os professores não respeitam a identidade", "boicotam as claras orientações superiores em matéria de avaliação ou de assiduidade dos alunos".

Sr. Presidente, Srs. Deputados: o PS entende que chegou o momento de dizer "basta" a este estado de coisas. Entende que é urgente proceder-se a um balanço da reforma educativa, no quadro de uma análise independente das medidas e acções que têm vindo a ser implementadas. Entende também que é necessário reconhecer a dimensão política da insatisfação geral dos professores e das escolas façe à reforma.

Assim, o PS irá apresentar em breve, um conjunto de propostas necessárias para mudar a política educativa e salvar a ideia de reforma.

Aplausos do PS."

in Reunião Plenária de 22 de Junho de 1994, 3ª Sessão Legislativa (1993-1994), VI Legislatura.


BIBLIOTECAS

Joana Morais Varela

A directora da iluminada revista Cóloquio-Letras, edição da Gulbenkian, fertilizando a bela arte & a literatura indígena tantos anos a fio, numa sublime quanto apaixonada lealdade poética, foi dispensada do culto da obra e da qualidade do luxo, coisa que francamente o provincianismo da paróquia detesta. O portentoso duo Vilar & Grilo consentiu a ignomínia. E não satisfeitos com o tumulto instalado, nada incomodados com o desalento que resta entre os leitores da (singular) revista, avançaram para o "despedimento com justa causa" da Joana Morais Varela, a pretexto de susceptibilidades, presumidamente, mais ou menos prosaicas. O respeito e gratidão que se devem à directora da Colóquio – e que constituem a nobreza dos homens - não foram, decerto, contemplados. Mas não deixam de ser o genuíno sentimento dos seus leitores e admiradores. Obrigado, Joana!

"Cresce uma voz do nada para logo se calar. Suponho que o lugar de verdade para que somos remetidos é o ponto de silêncio, como se fala do ponto de fusão, como se fala do zero. Donde só é possível gritar: penso que gritas uma espécie de palavras ou de urros ou de silêncio, do silêncio mais escuro de que as vozes são capazes. Só pelo poço mais fundo da noite, na brecha última da última garganta a tua. Por isso essa história incrível.

(As histórias de amor são impossíveis: nunca se parte para nada e estamos sempre de volta à nossa perdição)"

[Joana Morais Varela, 19/11/1978, in revista Abril, nº 9, Novembro 1978, p.44]

O ESTADO DA NAÇÃO!

O amigo do dr. Cavaco: "A operação de aquisição de duas sociedades com sede em Porto Rico pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN), em 2001 e 2002, numa transacção ocultada das autoridades e não reflectida nas contas do grupo, foi liderada por José Oliveira e Costa, antigo líder do Grupo SLN/Banco Português de Negócios (BPN), e por Manuel Dias Loureiro – na altura administrador executivo do mesmo grupo. A operação envolveu duas empresas tecnológicas, contas em offshore e um investimento de mais de 56 milhões de euros por parte da SLN" [Público online, 18/11/08]

Ex-ministra da Educação ou um discurso muito familiar: "E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia" [M.L.R, perdão, M.F.L, in Público]

Golpes de vista: "O ministro português Fernando Teixeira dos Santos, é considerado pelo jornal britânico "Financial Times" (FT) como o pior ministro das Finanças entre os 19 países da União Europeia (UE) analisados" [in Jornal de Negócios]

Provavelmente ... Nª. Sra de Lurdes Rodrigues: "Acabamos com o anterior conceito de falta justificada ou injustificadas. Há faltas. E a escola tem de ter a possibilidade de decidir se aceita a justificação. Este estatuto não fomenta as baldas, pelo contrário. As escolas passam a poder interpelar os alunos e os seus pais e a intervir (...) Sabe quantos alunos reprovaram por faltas no ano passado? Provavelmente nenhum. Estamos a falar de margens. O que acontecia era que os pais justificavam todas as faltas aos meninos. Só os pais que queriam que eles chumbassem é que não justificavam. Portanto, provavelmente nenhum. Quem é que está em condições de avaliar as justificações e a medida coerciva a ser aplicada? As escolas e os professores ..." [M.L.R., 30/10/07, in D.N.via Educar]

Independentemente ou a qualidade do despachante: "Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas correspondente a três semanas no 1.º ciclo ou ao triplo dos anos lectivos, deve realizar, prova de recuperação na disciplina ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite (...) deve realizar (...) uma prova de recuperação …" [artº 22.º, n.º 2 do Estatuto do Aluno]

As regras da dicção jurídica do dr. Vital: "... deve tornar-se claro, sem equívocos, que não podem ser consentidos actos de desobediência à lei por parte de direcções das escolas ou de avaliadores ..." [V.M., in Público, 18/11/08]

Didáctica da régua: "Colocávamos a régua no bolso do casaco, deixando-a um bocadinho de fora, porque tinha algum efeito no sexo feminino (...) Bem, tenho de me ir embora, porque alguém tem de trabalhar" [Mário Lino em visitação a uma escola, travestido de Valentim Loureiro em glória tecnológica ao Magalhães - in Publico, 13/11/08]

terça-feira, 18 de novembro de 2008


Gente medíocre

Um grupo de gente medíocre, incompetente, arrogante e com peculiaridades totalitárias, tomou de assalto (como se fosse coisa sua) o já debilitado e degenerado edifício do ensino e educação em Portugal. Nunca desde Abril arribou a uma pasta governativa gente tão idiotamente reacionária, porque tecnicamente incompetente e politicamente emproada.

O ensino e a educação levadas a cabo por esse grupo não tem – nunca teve – nada a ver com a instrução pública, a inovação e mudança necessária (organizacional, pedagógica e discursiva), que forçosamente configura uma Escola aberta e moderna, de exigência e de sucesso. E onde as suas estruturas e as suas práticas sejam (sem ambiguidades) democráticas.

O grupo em causa, sem qualquer experiência da governação, afastado do acto de ensinar e do território escolar, sem sistema de valores – o habitus de grupo que transmite é a mera reprodução de uma ordem hierárquica social totalitária, sob a capa de uma sociologia das profissões e da organização, ambas centradas na coisificação do pedagógico pela tecnociência e na dissimulação da "ideologia dos dons" (leia-se Bourdieu) aqui legitimada pela alienação do enunciador (o docente) com os destinatários da relação pedagógica. A gramática escolar dessa gente é apenas a overdose do seu trabalho de luto político e que resulta numa esquizofrenia, de um despotismo e conflitualidade nunca vista no campus escolar -, sem referências e instrumentos conceptuais de esforço e trabalho no campo da sociologia da educação, mas vigorosamente apoiado no corpo escolar mais reacionário do ISCTE (o novo pronto-a-pensar do regime) e na Presidência da República, destruiu completamente o sistema educativo indígena. E arrastou, na sua irrisória querela, o PS para a lama desta comédia nada ingénua de se arvorar em grande educador e reformador do povo.

Desta forma, já não é a "cabeça" dessa gente alucinada que se pede, em toda esta tragédia. Mas a do próprio partido. A obstinação doentia tem limites. Seguramente, a infausta derrocada chegará. Estamos cá para ver e contar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


THE FERNANDO PESSOA AUCTION

É já no dia 13 de Novembro, curiosamente na data da morte do Infante D. Henrique, que há lugar ao LEILÃO DO ANO: o Leilão Fernando Pessoa – Manuscritos, Documentos Dactilografados, Livros, Revistas de Arte e Literárias, Fotografia e outros objectos do seu espólio, pertença dos seus herdeiros. A realizar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, pelas 21horas, por Luís Trindade e Bernardo Trindade.

Já muito se disse (nos jornais) sobre este invulgar leilão, sob direcção da Leiloeira e Galeria de Arte P4Ltd (Potássio Quatro Limitada). Desde poemas, apontamentos, planos de estudos e manuscritos do poeta (publicados ou não), várias cartas enviadas pelo poeta a amigos e aos jornais, até ao cobiçado lote do "dossier" Aleister Crowley

[teremos em leilão cartas originais de Fernando Pessoa, Aleister Crowley, Augusto Ferreira Gomes, Israel Regardir, Karl Germer, Marcelle Noel, Hanni Larissa Jaeger; textos manuscritos e dactilografados sobre o "suicídio" forjado do "mágico" Crowley e publicado no DN e Noticias Ilustrado, de 5 de Outubro de 1930; várias anotações, traduções e o original dessa notável novela policiária, “"Mistério da Boca do Inferno"; um conjunto de cartas astrológicas de Fernando Pessoa, notas manuscritas do mago Crowley em papel do Hotel l’Europe (Lisboa), telegramas, etc.]

um conjunto valioso de revistas literárias (Orpheu, Presença, Contemporânea, Athena, A Águia, Sudoeste, Centauro, Ressurreição, A Renascença), livros raros do próprio Pessoa, mas também de António Botto e o invular e raro "De Secretis Libri…" (Basileia, 1598, VI vols), de Wecker Johann Jacob (trata de magia, astrologia, anjos e demónios), fotos, etc.

Falaremos do leilão ao longo da semana. A não perder.

Ensino: agravos, calúnias & blogs

1. Maria de Lurdes Rodrigues, ainda ministra da educação, deu ontem uma série de entrevistas às televisões a propósito da manifestação de repúdio dos professores contra a sua pessoa. Esteve em todas elas, pastoreando os incautos espectadores e celebrando a sua incompetência política. Em todas elas, a arrogância e "teimosia" assumidas apontam para a sua insipiência em "matéria de gestão de organizações". Que é total.

Tratando quer um "quartel”" quer uma escola, como sendo uma única e a mesma organização, logo iguais conceptualmente, o seu exercício intelectual e académico põem em evidência as suas fracativas competências científicas-pedagógias na matéria. E revelam o estado do ensino académico indígena. E logo ela que, não por acaso, aparece como sendo uma putativa expert nesse folheto curioso que é a sociologia das organizações. Se não se soubesse que tal panegírico é assunto recopilado via o imaginário providente de João Freire (anarquista aposentado), com o apoio dos inefáveis empregados do regime que vegetam no ISCTE ou desconhecendo-se como a douta socióloga aplica na prática política e governativa os ensinamentos teóricos que lecciona, seríamos julgados a acreditar na bondade das suas medidas. Infelizmente não é assim! Qualquer um que queira saber as razões que estão por detrás do conflito entre (todos) os professores e a ministra tem à sua disposição na internet todos os materiais para uso do contraditório nessa matéria. Que o faça, livremente. Se for ainda capaz.

2. Calúnias. Não falamos das afirmações do caluniador e provocador Emídio Rangel, porque o caso é de foro psicanalítico e não argumentativo. As palavras insulsas ficam sempre bem a quem as profere.

Mas os editoriais do DN e do JN, pelo fraseado gasto e a manifesta inverdade no que escrevem, para além de ridículo são de lamentar. O editorial do DN é, de facto, de uma leviana ignorância e maledicência ao considerar puras deturpações como "casos concretos". O jornalista (?), presume-se o próprio Marcelino, não estudou a matéria em causa, limitando-se a repetir os rumores lançados pela ministra da educação. É ignorante porque afirma que "professores avaliados tem apenas de preencher uma ficha de definição de objectivos com duas páginas" – o que não é verdade totalmente – repetindo ad nauseam o que é lançado via governo. O porquê deste extraordinário e típico rumor era curioso de descobrir. O João Marcelino tinha (e tem) ocasião de saber se é ou não assim: basta ir a uma qualquer escola ou consultar documentação na internet.

Mais: o João Marcelino repete "que há muitos professores que já foram avaliados". O Marcelino, dando préstimos a iguais afirmações da ministra, não sabe que tipo de professores foram avaliados, em que contexto e como. Esquece-se de dizer que a tais docentes (os contratados e os que subiam de escalão até final do ano lectivo) não se utilizou a mesma metodologia (só tiveram de fazer a sua autoavaliação) com que agora se brinda os docentes do quadro e que, curiosamente, se encontram actualmente a trabalhar, na sua maioria, em caixas de supermercado ou estão no desemprego. Mas podia saber quem foi "avaliado" (e como?) se fosse autónomo, tivesse interesse, fosse atento e soubesse fazer uma simples pesquisa. Isto é, se fosse jornalista.

Por fim, é inútil referir o study case desse típico gerente dos jornais dos regimes, o senhor José Leite Pereira, director do JN. Num editorial abjecto, repetindo a pataco as enormidades do seu camarada João Marcelino (porque será?) pincela uma sensaborona croniqueta, onde o que avulta é apenas a pífia repetição desse espantalho das corporações e da defesa de direitos adquiridos. Para isso estamos conversados. Não é o jornalista Leite Pereira que pode vir dar lições sobre essa matéria. Ou a vergonha caiu de vez?

3. Por sua vez a Blogosfera, quase sempre escrava de factos e da retórica política posta a correr por criaturas sem nome, dorme "como um cevado". Bem comportadinha e sem liberdade de acção, como qualquer liceal, faltou à chamada. O ensino ou a educação irritam-lhe ou parcos neurónios, sonega-lhe a inspiração e a verve. A Blogosfera embirra com o ensino e os educadores. Fosse outro o escarcéu, já tinha publicado excelentes gatafunhos de gramática política & parido tão artificiosos como retrincados textos. Muitos dos blogs, ditos de referência, estão mais para a agulha e o dedal partidário. Ou sindical. Ou corporativo. Afinal porque razão haveriam de prosar e debater o ensino ou a educação? Acaso alguns desses extraordinários "cães de guarda" do regime, na sua boémia internauta, poderiam gastar as teclas, contestar ou opinar sobre a questão, talvez, absolutamente vital do país que é o ensino e a educação? Não podiam! Isto porque, tais fervorosos bloguers frequentam, como almas gémeas ou como comensais, o repasto do regime. Ora nunca se viu alguém morder a mão que lhe dá de comer. Evidentemente que não.

José Maria da Costa e Silva (Almarjão) 1920-2008

Estão de luto os amantes dos livros, todos aqueles que cultivam a sua paixão única e intemporal. No passado dia 4 de Novembro faleceu (com 88 anos; nasceu a 3 de Janeiro de 1920) um dos mais notáveis livreiros-alfarrabistas portugueses: José Maria da Costa e Silva (Almarjão). Fundou a estimada Livraria Histórica e Ultramarina (1956), outrora situada na Travessa da Queimada (Bairro Alto), tendo mudado há pouco tempo para a Rua José Lins do Rego. José Maria da Costa e Silva, conhecedor da sua arte e ele mesmo um coleccionador curioso, era um invulgar cultor de tertúlias sobre o livro ou documento antigo e sempre disponível para ajudar investigadores e estudiosos.

Lastimavelmente, tempo antes, faleceu um outro estimado livreiro, o José Rebelo do Manuscrito Histórico (Calçada do Sacramento, ao Chiado).

Uma grande e irreparável perda para todos nós

sexta-feira, 7 de novembro de 2008


COM OS PROFESSORES!

Num momento de aviltamento do ensino público - onde a arrogância, o cinismo e o desacerto técnico-pedagógico do Ministério da Educação são de uma insensatez perigosa e com evidente apoio e responsabilidade deste governo estéril e amargoso - ninguém pode ficar indiferente ao que se passa na escola pública e na educação em Portugal.

Os professores, expostos em praça pública aos mais sórdidos dos interesses pela tutela merecem, pelo manifesto equilíbrio das suas revindicações – que são, afinal, de interesse geral da nação, logo de todos nós–, pela evidência dos factos e pela exposição séria, clara e objectiva da sua disputa (consultar abundante material, p. ex, aqui), que se reponha a dignidade profissional e pessoal dos seus profissionais, tolhidos que estão na sua capacidade de esperança e renovação da Escola.

Que a dita "avaliação de desempenho" dos docentes seja avulsa, confusa, burocrática, subjectiva, abusiva, desconexa, arbitrária, contraditória, inaceitável, penalizadora de competências científicas e pedagógicas dos docentes e desrespeitadora do trabalho com os educandos e a comunidade – logo não se tratando, nem sendo uma verdadeira avaliação - e que, ironicamente, tais postulados não preocupem o Ministério da Educação, os pedagogos instalados no comércio do eduquês ou os "sábios" das escolas superiores da educação, é de momento e nesta atmosfera de medo e assombro em que se vive, indiferente. O tempo chegará para esse ajuste de contas! Por ora os professores resistem, com inquebrantável energia. Com convicção, sem servilismos! A todos, o nosso apoio.

Manifestação: Terreiro do Paço, 14,30h – Dia 8 de Novembro

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


A Coisa da Madeira

As tolices, palavrórios e mútuas injúrias, admiravelmente continuadas dos deputados da Assembleia Legislativa da Madeira, sempre pitorescamente acoitadas por Alberto João – esse trágico César da modernidade –, fazem a chacota, o riso e desprezo do gentio, imortalizando para sempre aquelas curiosas personagens.

Aponta-se quase sempre o estilo e o disparate desses inefáveis farsistas da coisa pública como resultado de um provincianismo ignorante, de um intrincado uso da palavra e do verbo ou, mesmo, do estigma da inexistência & uso de tradições democráticas, que obstinadamente e curiosamente imperam já depois da ditadura. O cadastro da coisa é enorme. Bem como os prevaricadores e o bate palmas de alguns dos incondicionais do PSD e seus acólitos. A valentia dessa gente toda diz muito sobre o país que temos.

O caso dos constantes "mimos" entre esses peritos do vitupério, sendo cómico ou trágico segundo os seus ledores, tomou hoje, porém, uma intolerância inaceitável. O grupo de deputados do PSD/Madeira decidiu "adiar as próximas sessões plenárias do Parlamento madeirense", em resposta às aleivosias de um deputado da oposição, como se o Parlamento fosse coisa sua. O grotesco desta decisão toma as raias de absurdo quando se assistiu ao impedimento físico de entrada no Parlamento do deputado prevaricador por um "comando" privado de seguranças (sem poder jurídico para tal), como se de uma casa privativa se tratasse.

Não se trata, já, de nos rirmos da bagunça constante no parlamento madeirense ou da sua repugnante agitação, mas sim de observar a existência de um vergonhoso abuso do poder, que confirma a mais completa inexistência de um estado de direito democrático. Que isso não incomode a sra. Ferreira Leite ou que possa merecer o silêncio do sr. Cavaco Silva, não se estranha nem surpreende. A coisa não é mais que a observância do enorme charco onde estamos atolados. Da prática política do sr. Sócrates à teoria política do dr. Cavaco, a diferença é nenhuma. As almas são, justificadamente, iguais. Santa miséria!


Barack Obama - Chicago Victory Speech

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


YES HE DID!


AMERICA 2008

"estamos prontos
e de barrete na mão
estamos prontos
prá desfiguração

Por um pedaço de pão
para o pai e para o filho
para toda a geração
estamos prontos
estamos tontos
somos pontos
d’interrogação
prontos
prá desfiguração ..." [?]

domingo, 2 de novembro de 2008


LEILÃO – BIBLIOTECA DO DR. JOSÉ JOAQUIM DE OLIVEIRA BASTOS

De 4 a 14 de Novembro, sempre pelas 21 horas – na Junta de Freguesia do Bonfim, Campo 24 de Agosto, Porto – vai decorrer um valioso leilão organizado pela Livraria Manuel Ferreira. Trata-se da venda da estimada e muito valiosa Biblioteca do ilustre advogado e bibliófilo Dr. José Joaquim de Oliveira Bastos, que apresenta 2851 peças de grande valia e excepção.

Com um acervo raro de manuscritos (como o acervo epistolar de Flávio Gonçalves, cadernos manuscritos do pintor João Glama Stroeberlle, poesias manuscritas de Camillo), um núcleo de estimados e raros Periódicos e Almanaques, livros de Arte, Pintura e Escultura, ex-Librismo, livros de História com alguns peças raras do fim do séc. XIX e já do período republicano, uma Camiliana absolutamente notável, uma excelente Queirosiana, muitas obras de Literatura Clássica e Moderna, a ex-Biblioteca deste conhecido bibliófilo percorre quase tudo o que é de interesse dos finais do séc. XIX e XX. Com copiosas anotações de Manuel Ferreira – conforme AQUI pode consultar – os 2 (dois) Catálogos produzidos para esse Leilão pela sua Livraria Alfarrabista são, como sempre, de grande esmero e erudição.

Leilão, portanto, a não perder, mesmo que os tempos sejam de crise.

Catálogo on line.

A crise financeira e os "boys" do regime

O estouro do sistema de crédito internacional, sejam quais os motivos que o geraram, tornou os bancos insolventes. A acção do establishment político-financeiro nesta bancarrota mundial, mesmo que tais "génios" mostrem abundantes "lágrimas de crocodilo", configura a maior burla no sistema financeiro que há memória.

Conhece-se há muitos anos a total promiscuidade entre auditores, consultores e revisores de contas nas mais diversas empresas e instituições, e que tiveram o aplauso e o apoio exemplar de sinistras figuras indígenas – quase todos, não por acaso, angariadores de fundos partidários - que se alaparam nos conselhos de administração e nos conselhos fiscais dessas mesmas empresa. Não espanta o que a crise financeira agora revela, nessa nauseabunda fraude sem limites, mais a mais quando o regulador – com interesses próprios no jogo partidário – nunca actuou, nem estava "autorizado" a fazê-lo, por motivos óbvios.

Contra esta evidente certeza, bem conhecida por todos - mesmo entre os jornaleiros dos media de referência -, neste charco actual onde se vive, surge agora esse paradigmático "boy" do regime, de nome Victor Constâncio, impunemente e com o maior dos atrevimentos, a lavar as mãos enquanto autoridade de supervisão bancária da situação de bancarrota a que chegou o BPN. Este galhardo funcionário do Banco de Portugal, adornado de títulos académicos mas com um péssimo desempenho profissional no seu trabalho de supervisor, deveria tirar as ilações do seu (mau) trabalho, que é pago à custa dos contribuintes, e demitir-se. A sua avaliação de desempenho é manifestamente negativa.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO 20 ANOS DEPOIS - FIGUEIRA DA FOZ

TERTÚLIAJoaquim de Carvalho e a ideia de Pátria

Com Carlos Pinto Coelho (moderador), Fernando Catroga e Miguel Real.

Presença de: Alexandre Franco de Sá, António Pedro Pita, Carlos André, Fernando Rosas, José Júlio Lopes, Pacheco Pereira, Paulo Archer, Reis Torgal.

30 DE OUTUBRO: 22 horas – Casino da Figueira da Foz

Ver no Almanaque Republicano ou no In Memoriam Joaquim de Carvalho: NOTAS POLÍTICAS SOBRE JOAQUIM DE CARVALHO - Parte I e Parte II

domingo, 26 de outubro de 2008


JOSÉ CARDOSO PIRES: 10 ANOS DEPOIS

... Cardoso Pires morreu na madrugada de 26 de Outubro de 1998 (...)

'O Zé era um homem eternamente solitário apesar de estar sempre rodeado de gente'. Lobo Antunes [António]conta que em casa dele havia muito poucos livros e que não havia um único livro seu à vista. 'Tinha muito pudor'. Recebia imensos livros, rasgava a página da dedicatória e deitava fora o resto, revela. Tal como não tinh fotografias suas ou da família na sala mas tinha três do Hemingway (...)

in Cláudia Moura, "Um Escritor não chora", Notícias Magazine (D.N./J.N.), 26/10/2008

... Antes do seu primeiro exílio, em 1959, fundou e coordenou a revista Almanaque, com uma redacção composta por Augusto Abelaira, José Cutileiro, Luís de Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill e Vasco Pulido Valente. 'O programa era simples: ridicularizar os cosmopolitismos como sinónimos de provincianismo, sacudir os bonzos e demonstrar que a austeridade é uma capa do medo e da ausência de imaginação', disse a Portela [Artur]. Mais tarde, com Vítor Silva Tavares, fundou o suplemento & etc. do Jornal do Fundão, para depois dirigir o Suplemento Literário e A Mosca, ambos do Diário de Lisboa (...)

no auto-retrato Fumar ao Espelho [Cardoso Pires] questionava 'E agora, José?'. 'A cada interrogação aspira, fundo e lento, até o morrão do cigarro abrir brasa no vidro do espelho, e há altura em que pensa de alto 'Acta est fabula', se assim me posso exprimir em sinal de despedida (...) E com esta me despeço, adeus até outro dia, e que a terra nos seja leve por muitos anos e bons neste lugar e nesta companhia'.

in César Avó, "E agora, José?", revista Tabu, nº111, 25/10/2008

sábado, 25 de outubro de 2008


Wassup 2008

Charlie Stone, de regresso. A nova Wassup entra na escolha presidencial. Eis a Bud, i.é., a Budweiser para os neófitos do desporto líquido, em versão geracional. Produção da Believe Media. A Pub no seu melhor.

Os rendilhados do mercado & seu doce cantar

"Há doenças que, quando curadas, deixam o homem sem mais nada" [Henri Michaux]

A miséria enturvada desta crise e o espectáculo da levada (falada e escrita) sobre a actual recessão global, habilmente postos a correr pela "pátria" que pensa, é uma pantominice ex-ironia doentia e infamante. A suspirosa pirueta de curiosos académicos & outros tantos comentadores – agora todos com um cu muito ajeitadinho à coisa pública –, após abandonarem o vernáculo da ortodoxia do mercado e receberem a guia de marcha a "caminho da servidão" de mais e melhor estado, prova a ignorância, a desfaçatez e impostura de tão singulares "sábios".

Tais sujeitos desprezíveis, sempre muito adornados por ridículos políticos formatados no eduquês governamental (que os bajulam, por sobrevivência) e escarranchados no dorso dos media (por ora desnorteados pela avalanche da crise económica e o terror financeiro, que lhes fedeu a alma de escriturários de jornais), tais boémios de verbo difícil (numa sem vergonha definitiva) e rendimento fácil – ou não andassem todos estes anos a comer na sopa do Estado e dos contribuintes –, tais transviados do estudo (sério, sem dogmas, nem sectarismos ideológicos) passaram – bem a passo de corrida - da flatulenta banalidade das suas teorias (via canhenho Hayek ou moleskine Von Mises) para o pesadelo da insuportável suspeita de serem "bolchevistas disfarçados", agarrados que estão por ora à crina do Estado e às putativas & beneméritas "migalhas" dos contribuintes. José Manuel Fernandes – um feroz patrono do nosso economês e metediço da coisa liberal – confessa que tropeçou ideologicamente nalguns. Acreditamos na gritaria, por muito tormentosa que sejam os fundamentos do comissário de mercado.

O extraordinário destes dias, e que só se verifica neste rincão à beira-mar plantado, é o cínico desplante de se assistir – passe as lamúrias incessantes da tribo – à originalidade do regresso dum raminho de enfadonhos economistas à lide dos jornais & Tv's. Dum só golpe surgiram as primícias teoréticas do sr. Silva Lopes - figura outrora lendária, antes de ter tombado no venerado colo do capital financeiro (o deus ex-machina) – em converseta com o inenarrável Expresso, do jovem insipiente Nicolau Santos; o reaparecimento da criatura Daniel Bessa (ver Expresso), ainda ofegante da fraseologia económica do "oásis" que nos andou a vender estes anos; também vimos (algures) a testada desse génio económico que dá ao nome Daniel Amaral, bem como foi grato assistir à cambalhota envergonhada da sra. Teodora Cardoso, que parece ter sepultado – em forma de responso – o infamante mercado.

Deixando a varejar na chacota pública essa prenda da Goldman Sachs e público neoliberal, António Borges, a contas com o espargir do demónio do Estado & as sandices da sra. Ferreira Leite; rindo-nos – assim mesmo – do impagável João César das Neves, típico amanuense do economês livresco ou de meia-dúzia de outros tantos ordinários economistas; não restam dúvidas que todas estas arrogantes figuras deviam não só serem avaliadas cientificamente em sede das Universidades (onde quase todos leccionam, não se sabe bem o quê!), mas também serem interditas de frequentarem espaços de conversação pública nos jornais e TV’s. Um período de "nojo", seria uma medida autorizada, para bem da nossa sanidade intelectual. O rendilhado do mercado pode derramar embevecidas teorias, mas de facto não comove, nestes tempos, quem ... simplesmente trabalha. O tédio ... esse, ficaria para uma outra vez. Ok!?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008


Leilão - Ex-Colecção Ernesto Vilhena Biblioteca Jorge de Brito II Parte

Nos dias 21 e 22 de Outubro, pelas 21.30 horas – na Rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), Lisboa – vai decorrer mais um leilão organizado pela Renascimento. Trata-se do leilão de parte dos livros provenientes da Ex-Colecção Ernesto Vilhena (Biblioteca Jorge de Brito) - aqui na sua II parte - e que apresenta um estimado e raro núcleo de obras de Arte, Pintura e Escultura, História, Literatura Clássica, alguns curiosos Almanaques, estimados Periódicos (c/o Illustração Goana, Índia, 1864 ou o Jornal das Bellas-Artes) e Revistas, uma colecção de Estampas (intitulada Ruas de Lisboa), manuscritos, literatura e monografia Colonial.

Em Extra Catálogo vai à praça (no II dia) um valioso lote de obras (em magnificas e luxuosas encadernações). Em especial refira-se o procurado Sketches of the Country, Character, and Costume, in Portugal and Spain ... de William Bradford (ilustrada com bonitas gravuras), os Lusíadas sob publicação de Emílio Biel (1880), a valiosa 1ª edição da "Ecole de Cavalarie ..." de François Robichon de La Guerinieri (1733) que tem a curiosidade de ter nas pastas o brasão de armas da Casa de Lafões, vários manuscritos (ver carta de D. Manuel I ou uma carta régia de Filipe II), a admirável obra sobre Equitação "Methode et Invention Nouvelle de Dresser les Chevaux …" do Marquês de Newcastle, ou o valiosíssimo incunábulo "Pedro Hispano, Papa João XXI ..." (1500), conforme aqui pode ser lido e consultado.

Catálogo on line.

sábado, 18 de outubro de 2008



BIBLIOTECA DA AJUDA

[via blog Biblioteca da Ajuda]

EVOCAÇÃO DOS 10 ANOS DA MORTE DE CARDOSO PIRES

"A Câmara Municipal de Lisboa, através do Pelouro da Cultura, evoca o 10.º aniversário da morte de José Augusto Neves Cardoso Pires. O romancista, contista, ensaísta, dramaturgo, jornalista, crítico e copy-writer de publicidade, nasceu a 2 de Outubro de 1925, na aldeia de São João do Peso, e viria a falecer a 26 de Outubro de 1998, em Lisboa, cidade que inspirou inúmeras crónicas, mas, principalmente, habitou toda a sua obra literária.

Conheça o programa cultural que a Direcção Municipal de Cultura organizou e que inclui, entre outras actividades, mostras bibliográficas e uma exposição de cartazes de divulgação das inúmeras obras do autor." [via Hemeroteca Municipal de Lisboa]

Locais: Biografia de J. Cardoso Pires / Obras de (sobre) J. Cardoso Pires / Recursos na Internet sobre Cardoso Pires

terça-feira, 14 de outubro de 2008


Blog - In Memoriam Joaquim de Carvalho (1892-1958)

50 anos depois da sua morte, o doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958) – professor, erudito, filósofo, escritor, bibliófilo, homem de cultura de mérito excepcional – tem a homenagem, a lembrança e a presença de todos aqueles que, em testemunho de gratidão pelo cidadão, pelo mestre universitário e pela copiosa e insigne obra que nos legou, sempre se curvaram perante a sua saudosa memória.

A Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho e a Associação Dr. Joaquim de Carvalho, da Figueira da Foz, nesta ocasião da passagem do cinquentenário da morte do doutor Joaquim de Carvalho – seu patrono – pretende assinalar a data com um conjunto de iniciativas de valor afectivo e cultural, que incluem várias tertúlias sobre a figura e o pensamento do homenageado, realizando-se a primeira já no próximo dia 30 do corrente mês, com a presença de conhecidas figuras da cultura portuguesa.

Entretanto, foi criado um oportuno blog de divulgação do seu patrono - ver, aqui – onde se afirma:

"Servirá este blog de útil caderno de apontamentos, resenha de factos e ideias que os interpretem, interpelem, questionem, de modo a que, se for caso disso, tenham a força de os transformar. Servirá também de anotação, de memória translúcida que resista ao impacto do tempo e ao absurdo da espuma dos dias.

Servirá, no berço intemporal do pensamento do seu patrono, de reflexão ao transtorno do presente, de interpretação dos inquietantes fantasmas que nos povoam, dos distúrbios do medo que nos ameaçam, mas também de posto de vigia e coragem à reafirmação constante de que existimos, tal como Joaquim de Carvalho, aqui e agora
".

[in 50 Anos Depois - In Memoriam de Joaquim de Carvalho]

Boletim Bibliográfico 38 de Livraria Luis Burnay

Está online o Boletim 38 da Livraria de Luis Burnay [Calçada do Combro, 43-47, Lisboa], que apresenta 704 peças estimadas, procuradas e raras, de

Consultar o Catálogoaqui.

terça-feira, 7 de outubro de 2008


Pino & Lino

Até sempre! Dinis Machado

"... Ouve bem, Maynard, minha louca sentinela da noite (...) Bem, Maynard, essa tripa velha que trazes dentro de ti é que te há-de levar-te ao cemitério. És capaz de marchar numa manhã de Outono, como marcham os tísicos e os solitários (...) Meu bom Bradbury, companheiro das estrelas, filho de Deus esquecido na Terra, a que bolsos sem fundo vais buscar os teus tostões de poesia? (...) Maynard, meu desajustado do inferno, mosca tonta no deserto da vida, agora enterrada numa tumba onde se bebe uísque até os olhos ficarem vidrados, Maynard do diabo, ainda há gente que olha para ti e pisca o olho com ar descuidado, como se tudo entre as pessoas pudesse ser simples e reduzido a uma piscadela de olho (...) Está certo, Maynard. As coisas são como são. É impossível comprar as pirâmides do Egipto. Ora bem, meus senhores e minhas senhoras, há que encontrar Lilly Lilliput, há que escrever mais este parágrafo e fazer silvar o silenciador que calará para sempre Joe Filippo. Há que fazer sempre mais coisas, beber leite por causa das dores de estômago, limpar a arma, ouvir Mozart, ler Dos Passos e Céline, fazer amor. Olga. Não tenhas pressa Maynard, não tenhas pressa de coisíssima nenhuma. Os aviões a jacto ..."

[Dennis McShade, in A Mão Direita do Diabo, Ibis, Janeiro de 1967]

"... Dinis Machado inventou um personagem admirável, o assassino Peter Maynard (devedor de Pierre Ménard, a quem Jorge Luis Borges atribui a proeza de reescrever o Quijote palavra a palavra), e um pseudónimo adequado para figurar como autor: Dennis McShade ..." [in A Origem das Espécies]

sexta-feira, 3 de outubro de 2008


In-Libris – livros de Outubro

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de 100 livros antigos e estimados de poesia, literatura, botânica, etnografia, artes, monografias, etc.

Referências: poesias de Afonso Duarte, Alberto de Serpa, Alfredo Pimenta, Américo Durão, Antero de Quental, António Aragão, António Botto, Azinhal Abelho, Cândido Guerreiro, Egito Gonçalves, Eugénio de Castro, Francisco e Sousa Almada, Gastão Cruz, Hélder de Macedo, João José Cochofel, Jorge de Sena, Manuel António Pina, Matilde Rosa Araújo, Melo e Castro, Miguel Torga, Natália Correia, José Blanc Portugal, Ruben A., Rui Namorado, Ruy Cinatti, Teixeira de Pascoaes, o estimado livro Guia Histórico do Viajante do Bussaco e as Memorias do Bussaco (de Forjaz de Sampaio), livros de Ferreira de Castro, a invulgar obra em VI vols de Alexandre Carvalho Costa (Gente de Portugal), o esgotado livro de Emílio Costa (Ascensão, Poderio e Decadência da Burguesia, Cadernos Seara Nova), a valiosa obra Os Espigueiros Portugueses, obras de Tomás da Fonseca, a rara peça Poética dos Cinco Sentidos La dame à la Licorne, o estimado livro de Luís Palmeirim "Os Excêntricos do meu tempo", a copiosa obra Operas de Mário de Sampaio Ribeiro.

A consultar on line.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008


Vedi Lisboa e poi muori



"... de beleza és diva,
e em qualquer modo sempre me és querida,
ou anelante, ou esquiva;
e quer fujas, quer sigas,
suavemente me destróis e obrigas "

[Torquato Tasso, in Vita de la mia vita]

quarta-feira, 1 de outubro de 2008


ANACRONISMOS (NOTAS BREVES PARA UMA POLÉMICA)

"Nos últimos tempos, a propósito do Centenário da Proclamação da República, alguns monárquicos tentam recuperar a imagem do regime monárquico.

Quem nos conhece pessoalmente ou que nos acompanha em visitas mais ou menos regulares ao blog, certamente nota que temos evitado as apreciações ou depreciações mais ou menos conhecidas. Historicamente, tentamos basearmo-nos em factos e apoiarmo-nos na bibliografia existente que temos disponível. No entanto, não podemos deixar de notar que esses monárquicos para procurarem uma legitimação que actualmente já não possuem, omitem, interpretam e tentam recriar os acontecimentos da forma que os favorece mais.

Muitos dos problemas que o nosso País atravessa são, de facto, de qualidade dos seus dirigentes, mas essa qualidade não é um problema recente. Certamente que alguns dos políticos que nos têm governado, seja na Monarquia, na 1ª República, na 2ª República (Ditadura), ou mesmo na 3ª República cometeram erros que todos os cidadãos acabam por ter que assumir, porque vivemos num país em que muito facilmente se atiram as culpas para os outros e raramente se assume a responsabilidade pelos actos (...)

Na Monarquia já existiam eleições, mas também se sabe que elas de livres tinham só o nome. Mais, os monarcas tiveram o cuidado de votar leis que podiam impedir o progresso eleitoral dos republicanos criando círculos eleitorais mais amplos nas regiões urbanas de Lisboa e do Porto, onde tradicionalmente havia maior votação no Partido Republicano, para conseguirem realizar mais facilmente as famosas chapeladas (colocação de votos nas urnas). Também sabemos que era possível mudar de governo entre os dois grandes partidos monárquicos (Progressista e Regenerador) e, pelo menos a partir da década de 70 do século XIX, houve alguma alternancia de poder, mas os líderes pouco mudavam, a classe política era quase sempre a mesma (...)

Por outro lado, apontam-se também criticas à República que são verdadeiras, mas que fazem parte de todos os momentos revolucionários. Sempre houve e sempre haverá exageros e também os houve durante a República, não temos qualquer dúvida em relação a isso, no entanto também sabemos que quando se vivem momentos revolucionários, de conturbação política e social os acontecimentos ultrapassam as ideias daqueles que os imaginaram e realizaram. Isso aconteceu sempre ao longo da História, seja em Portugal ou no mundo (...)

Alude-se também à questão da liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa era ainda uma conquista a fazer nos finais do século XIX. Note-se que com a crise do Ultimatum e do 31 de Janeiro de 1891 foram encerrados variadíssimos jornais de forma compulsiva, simplesmente porque o poder político monárquico assim o entendeu fazer. Os jornalistas eram presos e julgados por emitirem opiniões contrárias ao poder estabelecido, não só os nomes mais conhecidos da propaganda republicana como João Chagas, Francisco Manuel Homem Cristo, António José de Almeida ou Heliodoro Salgado, outros pelo país sofreram estas perseguições e foram exilados ou obrigados a emigrar (...)

... o problema da adesivagem ao novo regime, que é um fenómeno muito típico em Portugal, mas não só. Muitos dos Monárquicos de renome antes do 5 de Outubro, transformaram-se do dia para a noite nos grandes paladinos do novo regime. Tornaram-se os mais ferverosos dos republicanos, capazes de perseguir os antigos companheiros de política que não mudaram de posto só porque mudou a circunstância. Isso também aconteceu em 25 de Abri de 1974 e muitos ainda estão na política activa, no entanto, o povo tudo esquece e quase tudo perdoa. Daí que muitas vezes sejamos considerados um País de brandos costumes"

[A.A.B.M., in Almanaque Republicano - ler tudo aqui]

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Yes "They" Can!



"Centre of equal daughters, equal sons,
All, all alike endear'd, grown, ungrown, young or old,
Strong, ample, fair, enduring, capable, rich,
Perennial with the Earth, with Freedom, Law and Love,
A grand, sane, towering, seated Mother,
Chair'd in the adamant of Time"

[Walt Whitman, America]

Do milagre ao delírio

"Em tempos de inovações é perigoso tudo o que não for novo" [Saint-Just]

A mega crise do mercado financeiro americano e a implacável recessão (definitivamente, global) que por aí vem, nas suas origens e pelas mudanças estruturais que vai provocar, aponta para o movimento do fim da hegemonia do "santo" modelo neoliberal (global) e o "regresso do Estado" socialmente responsável. Não é uma questão de economia, é uma questão política. Então, convém não esquecer, que os efeitos da quântica comportamental da crise não têm soma nula: uns ganham, outros perdem. Saber e entender quem perde e ganha implica que não se faça novas (velhas) desconstruções históricas, que a burlesca argumentação defensiva dos adeptos da superstição liberal actualmente sugere. E que pelo menos, já que o miserabilismo conceptual dos seus discípulos no campo financeiro e económico é constrangedor, saibam entender e honrar a sábia observação de Popper naquilo que se denomina "assimetria dos enunciados universais". O dr. Espada explicará, se lhe pedirem!

De outro modo, o "remédio" estratégico que vai ser formatado contra a crise da crise exige a sustentação de um novo saber e saber-agir político-económico e, possivelmente, ético-social, que estes longos anos de barbárie "terrorista", generalizada sob a inflamada e dogmática narrativa neoliberal e o seu enfadonho receituário, bloqueou e impediu.

Os fundamentos do modelo neoliberal – que curiosamente alguns virtuosos (e viciosos) liberais dizem desconhecerem na sua doutrina e prática económica e financeira (entre os nossos nativos, veja-se sobre o assunto, com a devida vénia, o piedoso escrito de José Pacheco Pereira, no Público, o desastroso texto do sr. Rui Ramos, ou o inenarrável editorial do pouco estudioso José Manuel Fernandes) –, a "contra-revolução intelectual" (para citar Friedman) globalizante e a ideia de um pensamento único que se lhe seguiu (e que tiveram, outrora, os seus putativos heróis entre a sociedade "maçónica" de Mont Pèlerin), definitivamente empalideceram e se desfazem como modo de vida. A política económica está de regresso.