sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Do milagre ao delírio

"Em tempos de inovações é perigoso tudo o que não for novo" [Saint-Just]

A mega crise do mercado financeiro americano e a implacável recessão (definitivamente, global) que por aí vem, nas suas origens e pelas mudanças estruturais que vai provocar, aponta para o movimento do fim da hegemonia do "santo" modelo neoliberal (global) e o "regresso do Estado" socialmente responsável. Não é uma questão de economia, é uma questão política. Então, convém não esquecer, que os efeitos da quântica comportamental da crise não têm soma nula: uns ganham, outros perdem. Saber e entender quem perde e ganha implica que não se faça novas (velhas) desconstruções históricas, que a burlesca argumentação defensiva dos adeptos da superstição liberal actualmente sugere. E que pelo menos, já que o miserabilismo conceptual dos seus discípulos no campo financeiro e económico é constrangedor, saibam entender e honrar a sábia observação de Popper naquilo que se denomina "assimetria dos enunciados universais". O dr. Espada explicará, se lhe pedirem!

De outro modo, o "remédio" estratégico que vai ser formatado contra a crise da crise exige a sustentação de um novo saber e saber-agir político-económico e, possivelmente, ético-social, que estes longos anos de barbárie "terrorista", generalizada sob a inflamada e dogmática narrativa neoliberal e o seu enfadonho receituário, bloqueou e impediu.

Os fundamentos do modelo neoliberal – que curiosamente alguns virtuosos (e viciosos) liberais dizem desconhecerem na sua doutrina e prática económica e financeira (entre os nossos nativos, veja-se sobre o assunto, com a devida vénia, o piedoso escrito de José Pacheco Pereira, no Público, o desastroso texto do sr. Rui Ramos, ou o inenarrável editorial do pouco estudioso José Manuel Fernandes) –, a "contra-revolução intelectual" (para citar Friedman) globalizante e a ideia de um pensamento único que se lhe seguiu (e que tiveram, outrora, os seus putativos heróis entre a sociedade "maçónica" de Mont Pèlerin), definitivamente empalideceram e se desfazem como modo de vida. A política económica está de regresso.