sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

O JUDEU NO POLÍPTICO DE SÃO VICENTE


A Rua da Judiaria faz alusão aos Painéis do Museu das Janelas Verdes ou Políptico de São Vicente, identificando o homem gordo com um livro aberto, no Painel dito da Relíquia, como um judeu, e logo o famoso Isaac Abravanel.

Pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo.

Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. E a paixão que o debate suscita, com alguma violência diga-se e tragédia mesmo (exemplo disso foi o suicídio de Henrique Loureiro), sugere que se seja prudente nalgumas das "certezas" proferidas. Quer no que toca a execução dos Painéis para a Sé de Lisboa, às diferentes interpretações e significados esgrimidos (Tese Vicentina, Fernandina, esotérica, etc), quer ao reconhecimento das diferentes figuras aí representadas, o que conduz a dizer que se está ainda longe da sua inteira compreensão. Paradoxalmente, ou talvez não, os historiadores remetem-se a um prudente silêncio interpretativo.

De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V, astrólogo ["A Era Messiânica manifestar-se-á quando Saturno e Júpiter estiverem conjuntos no signo Peixes (particularmente influente no que respeita a Israel por ser signo água ...)", in Dicionário do Milénio Lusíada, de Manuel Gandra, referindo-se a Isaac Abravanel]. Curiosamente D. Afonso V era um interessado por alquimia, tendo ao que alguns dizem escrito um livro (julgo que só circula policopiado), denominado "Tratado Alquímico". Para uma consulta bibliográfica sobre a questão dos Painéis, aqui se deixa algumas referências:

Obras a consultar: Joaquim de Vasconcelos, Tábuas da Pintura Portuguesa do Século XV, in Comercio do Porto, 27/28 Junho de 1895 / José de Figueiredo, O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910 / Alfredo Leal, Os Painéis do Infante e a Obra do Sr. José de Figueiredo, Lisboa, 1917 / José Saraiva, Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925 / Affonso Dornelas, Os Painéis do Mosteiro de S. Vicente, Elementos para a sua Identificação, II vols, 1931 / Albino Lapa, História dos Painéis de Nuno Gonçalves, 1935 / Artur da Motta Alves, Os Painéis de S. Vicente num Códice da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936 / Georges Kaftal, Essai Iconographique sur Les Paneaux Atribués à Nuno Gonçalves, in Boletim dos Museus Nacionais, vol II, fas. 6, 1942 / Garcez Teixeira, O Significado dos Painéis de S. Vicente, Museu, vol. IV, 1945 / João Couto, Nuno Gonçalves, O Políptico de S. Vicente, Col. Museu, 1954 / Reynaldo dos Santos, Nuno Gonçalves, London, 1955 / Adriano de Gusmão, O Nuno Gonçalves da Phaidon – Erros, Omissões e Plágios, Eur. Amer., 1956 / Adriano de Gusmão, Nuno Gonçalves, Colecção saber, 1957 / António Belard da Fonseca, O Judeu, o seu Livro e a Crítica, 1958 / Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História, nº 37, São Paulo, 1959 / Armando Vieira Santos, Os Painéis de São Vicente de Fora, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis as Personagens e a Armaria, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis, IV vols, 1959-1967 / António Belard da Fonseca, Dom Henrique? Dom Duarte? Dom Pedro?, Lisboa, 1960 / António Manuel Gonçalves, Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, Museu, 1960 / Jorge de Sena, Os Painéis ditos de 'Nuno Gonçalves', in Revista Ocidente, nº 305/306, 1963 / José dos Santos Carvalho, Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, 1965 / Charles Sterling, Les panneaux de Saint Vicent e leurs Enigmes, in Revue d’Art, nº 159, 1968 / Jaime Cortesão, "A Historia dos Painéis de S. Vicente", in Historia dos Descobrimentos Portugueses, Circulo de Leitores, 1979 / José Luís Conceição Silva, Os Painéis do Museu das Janelas Verdes, Guimarães, 1981 / Jorge Segurado, Painéis de S. Vicente e Infante Santo, Ed. Noticias, 1984 / Paula Freitas & M. Jesus Gonçalves, Painéis de S. Vicente de Fora uma questão inútil?, 1987 / Dagoberto L. Mark, O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, Caminho, 1988 / Theresa Schedel de Castello Branco, Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, 1994

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

AUGUST STRINDBERG [1849-1912]



n. em Estocolmo, a 22 de Janeiro de 1849

"Sinto-me melhor porque li Strindberg. E não o li por ler, antes porque desejava aninhar-me contra o seu peito. Agarra em mim com o braço esquerdo, como se eu fosse uma criança, e ali fico feito homem sentado numa estátua. Dez vezes senti o perigo de cair mas à décima primeira instalei-me solidamente. À minha frente segurança e uma vasta perspectiva ... Enorme Strindberg, essa raiva, essas paginas conquistadas a murro ..." [F. Kafka, in August Strindberg, Inferno, Edições &etc, 1978]

"... Só completamente só, janto no quarto e como tão pouco que o empregado solícito fica penalizado. Há uma semana que não dou palavra e, por falta de exercício, o som da minha voz começa a sumir-se. Não tenho tostão. Preciso de cigarros e selos. Num esforço supremo concentro a minha vontade. Quero fazer ouro pela via seca e pelo fogo. Dinheiro há-de arranjar-se, as muflas, os cadinhos, as brasas, o fole, as pinças (...)

O inferno? Fui educado no mais profundo desprezo pelo inferno. Ensinaram-me que não passava de fantasia a rejeitar para a lista dos preconceitos. A verdade, porém, é que não posso negar a novidade que agora encontro na interpretação das penas ditas eternas. Já nos encontramos no inferno. A terra é o inferno, prisão construída por uma inteligência superior, de forma tal que não podemos dar um passo sem ferir a felicidade alheia e os outros não podem ser felizes sem nos fazer sofrer..." [August Strindberg, ibidem]

Locais: August Strindberg / August Strindberg (1849 - 1912) / August Strindberg (Life and work) / (Johan) August Strindberg (1849-1912) / Strindbergs unofficial Homepage / August Strindberg Interviews Himself / Strindberg the Fertile (1963) / O Catecismo Radical de Strindberg / A Ciência Política e o teatro Intimista de A. Strindberg

À VOLTA DOS BLOGS & CIA



* João Oliveira dá missiva no seu blog sobre a produção da comunidade bloguística da zona de Aveiro * Sous les pavés, la plage - o regresso em versão blog de alguns dos fazedores do saudoso projecto Zona Non. De novo Coimbra e os seus encantamentos. Bem-vindos Rui Bebiano, Tiago Barbosa Ribeiro, Tó Lopes e Carlos Osório * Fernando Pinto Amaral, Nuno Júdice, Mário de Carvalho, Hélia Correia, Francisco José Viegas, Mia Couto, os rostos da escrita postados pela Silvana da Costa no Cometas * Regresso do Outro Eu, cada vez mais prendado e de merecida estimação. Transmissível ... sempre! * O Princípio da Atracção de Teresa Direitinho, ou o amor à luz da Ciência como nos foi indicado por um amigo. A ler, evidentemente. * Para leedores caprichosos, eis que saiu o número de Janeiro 2004 da Revista de Cultura Agulha: Ciência e surrealismo de Estela Guedes; Heidegger e Artaud: o percurso da angústia, por Wilson Coelho; Picasso versus Duchamp e a crise da arte atual, por Alberto Beutenmuller; Poesia Completa, de Cecília Meireles: a edição do centenário, por Antonio Carlos Secchin; Saramago e Drummond: o verdadeiro senhor dos arquivos, por Maurício Matos; Surrealismo e marxismo? por Claudio Willer; desenhos de Júlio Resende.

Nota: O Rio já corre. O venerável escriba do blog sem mancha e patriarca do Correio da Manhã, jornal para intelectuais debutantes ou espaço lúdico fogoso e subtil para seguir o bem e afugentar o mal, esta de volta. Com ditos sentenciosos, espirituais & morais, deu à estampa uma prudentíssima posta, bem esgalhada por sinal, que perdura entre um relato de futebol a João Marcelino e uma vigorosa discursata Bushiana, varrendo sem empacho as postumeiras dissertações do terrível Sousa Tavares. Na verdade "pretium laborum non vile". Evidentemente.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

GEORGE ORWELL [1903-1950]



Morre a 21 de Janeiro de 1950

"A essência da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas do produto do trabalho humano. A guerra prefigura a forma ideal de despedaçar, de lançar na estratosfera ou de afundar nos abismos marítimos produtos que, de outro modo, poderiam servir para dar às massas um conforto excessivo, e por conseguinte, a longo prazo, torná-las extremamente lúcidas. Mesmo que o armamento não chegue a ser de facto destruído, o seu fabrico, ainda assim, ocupa, na prática, forças de trabalho sem nada produzir que possa ser consumido.Se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela".

[George Orwell, 1984]

VÍTOR CONSTÂNCIO: UM FUNCIONÁRIO ZELOSO


A entrevista dada pelo Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, à RR e abundantemente divulgada pelos media é exemplar. As suas previsões optimistas sobre a economia portuguesa, atiradas do alto do Banco de Portugal sobre as nossas cabeças malabrutas, fazem a delícia dos analistas económicos, sobretudo daqueles que frequentam a gamela do aparelho de estado ou correm às sua migalhas, mas não são perceptíveis a partir das magras bolsas das famílias portuguesas e da miséria da sua situação económica e financeira, nem sequer do ponto de vista da ciência económica pode tal ser entendido.

Afinal, desconhece-se os fundamentos macroeconómicos com que se baseia o insigne economista, agora impulsionado como altar iluminante pela governação, para tais inauditas previsões e demais bênções à política orçamental.

Compreende-se o esmero de Vítor Constâncio. Funcionário zeloso e irrepreensível do Banco Central Europeu, a politica fundamentalista dos seus patrões não pode ser posta em causa. O controle da inflação como única variável explicativa dessa abencerragem do pacto de estabilidade não o incomoda nada. Nem os efeitos que tal máxima de estabilidade comporta na frágil economia portuguesa, sequer o atrapalham. Fica, sim, extasiado em discursos à volta da teoria dos ciclos económicos, esquecendo o que sobre eles foi dito por Robert Lucas, numa vaidade irritada e irritante à boa maneira de Mr. Jekyll & Mr. Hide. Dizem que é socialista. É possível que sim, não sabemos. Porém, pode crer que o seu nome ficará, independentemente do lugar que ocupa e da sua função, irremediavelmente ligado a um dos ciclos mais nefastos da economia portuguesa. Para bem ou para o mal.

CATÁLOGO Nº 80 DO LIVREIRO ALFARRABISTA MARTINHO


Saiu o Catálogo 80 do Livreiro Alfarrabista Martinho [Outeirinho do Mirante, 5, Lisboa] com livros esgotados, alguns raros e a preços convidativos.

Algumas referências: Álbum de Pensamentos, Máximas, etc, por Francisco Pimentel Carvalho, 1901 / Auxiliar do Ferroviário, por Jorge F. Teixeira, Lisboa, 1929 / Coimbra e António Nobre Homenagem ao Poeta, Coimbra, 1940 / Documentos para a História da Universidade de Coimbra (1750-1772), Coimbra, 1959 / Fel, de José Duro, 1898 / Elogio Histórico de Anselmo José Braamcamp, Porto, 1887 / A Memoria das Palavras ou o Gosto de Falar de Mim, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1966 / O Mundo dos Outros-Histórias e Vagabundagens, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1969 / Aldeia Nova, por Manuel da Fonseca, Ed. Forja, 1975 / Inventario da Criação dos Expostos do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia, Lisboa, 1998 / Memorias Extraordinárias do major Calafaia, Páginas Desconhecidas, por Reinaldo Ferreira (Repórter X), Lisboa, 1945 / Os Lusíadas de Luís de Camões, Edição Comemorativa do IV Centenário da Publicação, 1972 / A Confissão de Lúcio, por Mário Sá-Carneiro, Edição do Autor, 1914 (raro) / As Portas que Abril Abriu, de José Carlos Ary dos Santos / Tarrafal Testemunhos – Trabalho Colectivo de Sobreviventes do Tarrafal, Editorial Caminho, 1978 / O Senhor Ventura, de Miguel Torga, Coimbra, 1943 / Traços de União - Temas Portugueses e Brasileiros, por Miguel Torga, 1955 / Relance da Alma Japonesa, de Wenceslau de Moraes, 1925

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

EDGAR ALLAN POE [1809-1849]



n. em Boston a 19 de Janeiro de 1809

"'Rancores literários, vertigens do infinito, cuidados familiares, insultos da miséria - diz Baudelaire - tudo Poe sepultava na negrura da embriaguez; bebia não como quem é guloso, mas como quem é bárbaro'

Em Nova Iorque, exactamente na mesma manhã que a revista «Whig» publicava O Corvo, ao mesmo tempo que o nome de Poe passava a andar nas bocas de toda a gente, sendo o poema mais que disputado, ele deambulava pela Broadway a bater às portas e a estrebuchar. Uma tal quantidade de contradições bastaria para não ser preciso ir mais à frente falando de humor: umas vezes ele nasce do choque entre as suas faculdades lógicas fora do normal, a alta estatura intelectual e o brumoso espírito do vinho (O Anjo Bizarro); outras vezes vê-se tenebrosamente nascer nas inconsequências e contradições da condição humana pressentidas em alguns estados mórbidos (O Demónio da Perversidade)" [Edgar Allan Poe, in Antologia do Humor Negro, de André Breton, Fernando Ribeiro de Mello/ Afrodite, 1973]

Locais: Edgar Allan Poe / Index to the Edgar A. Poe Biography / The Edgar Allan Poe Society of Baltimore / E. A. Poe / Allan Poe (Biografia) / Allan Poe Website / The Works of Edgar Allan Poe / Os Espectros de Edgar Allan Poe / O Corvo (trad. Fernando Pessoa) / Edgar Allan Poe (Obras)

IN MEMORIAM DE ARY DOS SANTOS [1937-1984]





"Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
O cerne do silêncio
"

[José Carlos Ary dos Santos, in A Luxúria, 1968]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XIX)



* Loja Pátria e Caridade (1852) - O Conimbricense refere que "depois de estabelecida a Sociedade de Instrução dos Operários, lutava esta por falta de meios para sustentar as aulas nocturnas". Assim, entenderam alguns dos fundadores da Sociedade, criar uma Loja Maçónica com o fim de conseguir meios para tal fim. Nos primeiros dias de Outubro de 1852, chega a Coimbra o académico Francisco das Neves Castanheira (Ir. Fuas Roupinho) com a necessária autorização para a fundação da Loja. Após uma reunião inicial numa casa da Rua do Poço, reuniram-se numa casa da Rua dos Grilos, pegada com o Jardim do Colégio de Santa Rita, e onde habitava o académico José Affonso Coelho, a Loja Pátria e Caridade. Dado a adesão verificada teve-se que mudar as instalações para o Colégio da Trindade. Pertenciam à Loja, na qual era Ven. Fillpipe de Quental, Francisco das Neves Castanheira, Manoel José da Fonseca (Ir. Robespierre), José Affonso Botelho, Henrique de Castro, Carlos Pacheco Bettencourt (Ir. Lafayette), José Bernardes Galinha, Augusto Pinto Tavares, Manoel Ignacio do Canto Ramos, António José da Silva Poiares, Joaquim Rodrigues de Andrade (Ir. Annibal), José Joaquim Ferreira, João de Brito Furtado de Mendonça, Amaro Affonso de Moura, Padre João Manoel Cardoso e Nápoles (Ir. Bailly), Joaquim Martins de Carvalho (Ir. Lamartine), Padre Luiz Caetano Lobo, etc. Deixou de se reunir depois de Junho de 1853. [in, Conimbricense, 1905]

* Associação Agrícola dos Campos de Coimbra (1853) [ibidem]

* Sociedade dos Operários do Theatro da Graça (1853) [ibidem]

* Choça Kossut (1853) - O Conimbricense refere que, de novo sob os auspícios do Padre António de Jesus da Costa, foi de novo organizado a Carbonária na cidade de Coimbra. Assim, em 1853 funcionava uma Choça com o título Kossut, de que foi eleito presidente Abílio Roque de Sá Barreto. Mas foi breve a sua existência e não teve seguimento. [ibidem]

domingo, 18 de janeiro de 2004

RUBÉN DARÍO [1867-1916]



n. a 18 de Janeiro de 1867 [Nicarágua]

"Todo lo renovó Darío: la materia, el vocabulario, la métrica, la magia peculiar de ciertas palabras, la sensibilidad del poeta y de sus lectores. Su labor no ha cesado ni cesará. Quienes alguna vez lo combatimos comprendemos hoy que lo continuamos. Lo podemos llamar libertador." [Jorge Luis Borges]

"El lugar de Darío es central, inclusive si se cree, como yo creo, que es el menos actual de los grandes modernistas. No es una influencia viva sino un término de referencia: un punto de partida o de llegada, un límite que hay que alcanzar o traspasar. Ser o no ser como él: de ambas maneras Darío está presente en el espíritu de los poetas contemporáneos. Es el fundador". [Octavio Paz]

Locais: Biografia / Rubén Darío (1867-1916) / Bibliografía / Dariana / Poemas / Museu Archivo Ruben Dário / Rubén Darío en la Biblioteca Nacional de Chile

"Dichoso el árbol, que es apenas sensitivo,
y más la piedra dura porque esa ya no siente,
pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,
ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

Ser y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
y el temor de haber sido y un futuro terror...
Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
y sufrir por la vida y por la sombra y por

lo que no conocemos y apenas sospechamos,
y la carne que tienta con sus frescos racimos,
y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,
y no saber adónde vamos,
ni de dónde venimos!..."

(Rubén Darío, Lo Fatal]

LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN [1743-1803]



n. a 18 de Janeiro de 1743

"Não temos deveres senão um - respeitar a integridade da personalidade humana, a nossa como a alheia. Isto quer dizer trez coisas: (1) para os fins fundamentaes da nossa vida, dispensar todo o auxilio alheio; (2) para os fins quotidianos da nossa vida, estabelecer uma exacta reciprocidade com os outros; (3) para as circunstancias da vida que são extranhas a uma cousa e outra, subordinar-nos à regra do ambiente, visto que ella nos não attinge (...) Estas trez grandes regras da vida superior, resumiu-as Saint Martin, servindo-se de um aspecto da formula dos Rosa Cruz, na phrase Liberdade, Egualdade, Fraternidade - independência dos outros (Liberdade) na vida superior e intima; reciprocidade com os outros (Egualdade) na vida normal que serve de base material a essa vida superior; conformação com os outros (F) nos phenomenos exteriores e insignificantes da vida [Fernando Pessoa 54-76 (dt), in Fernando Pessoa, Rosea Cruz, dir. Pedro Teixeira da Mota, Edições Manuel Lencastre, 1989]

Locais: Biografia / Louis Claude de Saint-Martin / Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) / Saint-Martin / Ecce Homo / O Filósofo Desconhecido / Louis-Claude de Saint-Martin and the Supérieurs Inconnus / Le Livre Rouge

CATÁLOGO Nº 205 DA LIVRARIA ACADÉMICA


Saiu esta semana o Catálogo 205 da Livraria Académica, de Nuno Canavez (Porto), podendo ser consultado na sua homepage. De consulta obrigatória, enquanto outros catálogos em breve estarão disponíveis, entre os quais o correspondente ao leilão da segunda parte da Livraria de Luiz Forjaz Trigueiros, a cargo de José Manuel Rodrigues.

Algumas referências: Dia do Mar, de Sophia M. Breyner Andresen, 1947 / O Castelo de Monsanto, por Guilhermino Augusto de Barros, 1879 (II vols) / MANUSCRITO alusivo ao teatro, escrito num álbum e datado de Lisboa (24/01/1950) de 28x20 cm, de Raul de Carvalho / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, no Tempo da Invasão dos Denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1771 / Aquela Voz, de Alexandre da Conceição (Poema manuscrito, datado de Coimbra, 23 de Nov. 1881, 35x27 cm. O autor, natural de Ílhavo, foi fundador da Revista A Revolução (1877) e polemizou com Camilo tomando partido pela escola realista) / Os Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, Arcádia, II vols / Carta Manuscrita de Liberto Cruz (c/ 2 pags A4, datada de Rennes 1969 e dirigida ao escritor Serafim Ferreira) / Estatutos da Universidade de Coimbra, Lisboa, 1772, III vols / Longe, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1921 (2º livro do autor) / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et all, Ed. Primeiro de Janeiro, 1943 (II vols) / Gazeta Literária, Editor e Director Mário do Amaral (nº 1 Set. 1952 a nº 76 Dez. 1961) / Portugal Antigo e Moderno, por Pinho Leal, 1873, 12 vols / Mappa Genealogico, Histórico, Chronologico, Diplomático e Litterario do Reino de Portugal e Seus Domínios Antigos e Actuaes (s/d, sec. XIX, 1,10x75 cm) / Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1792-1856, 8 vols / Carta Manuscrita de António Luís Moita a Serafim Ferreira, de 11 de Nov. 1970 (s/ a homenagem a Irene Lisboa) / Mundo Ilustrado, Revista semanal, dir. Eduardo Pimenta e Marques Abreu (nº 1, 7 Abril 1912 a nº 26, 29 de Set. 1912) / Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel,Coimbra, 1797, 5 vols / In Memoriam de José Régio, 1970 / Anno Histórico Diário Portuguez, Noticia Abreviada de Pessoas Grandes e Cousas Notáveis de Portugal ..., por Francisco de S. Maria, 1744, 3 vols / Dispersão de Mário de Sá-Carneiro, Coimbra, 1939 / Evolução do Culto de Dona Isabel de Aragão ..., por A. G. Ribeiro de Vasconcelos, 1915

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

SER O QUE NÃO É



Na sequência do que Luís Carmelo refere em "Tragédia de um Esquecimento", a propósito da alusão da Rua da Judiaria sobre os "350 anos "sobre a chegada dos primeiros emigrantes judeus à colónia holandesa de Nova Amsterdão", é possível a partir do pensamento de Miguel Real (que cita), na sua obra "Portugal Ser e Representação" (Difel, 1998), ter em apreço aquilo que Miguel Real denomina como "tentativa de encontrar uma forma corporis do povo português", afinal uma demanda da característica dominante do português, e que configuraria um "ser o que não é" ou "estar onde não está", e que pode, de algum modo, levemente contribuir para as interrogações sugeridas no belíssimo texto de Luís Carmelo.

Assim, a partir de diferentes contributos - de Teixeira de Pascoaes a Eduardo Lourenço; de Agostinho da Silva a A. José Saraiva, ou com referências a autores como Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, Antero, Dalila Pereira da Costa, António Vieira, Marcello Duarte Mathias, António Telmo, Pinharanda Gomes, etc - o autor de Portugal Ser e Representação refere os seguintes "traços":

- "habita-nos ... uma funda religiosidade, expressão actual de setecentos anos de domínio quase absoluto de códigos religiosos de comportamento, âncora histórica de uma cosmovisão bíblica que inundou a mentalidade cultural portuguesa até ao século XVIII. (...) O excesso desta visão religiosa portuguesa, ou talvez, a sua condensação numa ideologia, originou o messianismo providencialista português, a que nenhum grande autor nacional foi imune, pela positiva ou negativa ..." (pag. 181- 183)

- existência de uma "característica profundamente emotiva, apaixonada, sentimental, do comportamento dos portugueses em detrimento de uma visão racionalista, calculista, programada, técnica e cientifica da vida". Como consequência daí resultante: "ausência de um corpo coeso de obras cientificas e filosóficas; ausência de um espírito técnico e tecnológico de envergadura; predominância de uma mentalidade lírico-emocional que tem atravessado toda a nossa literatura" (pag. 184)

- "estar onde não se está" (...) Esta característica tem permitido ao português uma errância mental e física, ou, talvez melhor, uma plurivalência entre o que de facto é as mascaras ou as imagens por que se disfarça ora um jubilo se si, ora numa humilhação rendida, isto é, tem permitido ao português ser o que não é: religioso, mas herético; ortodoxo, mas heterodoxo (toda a filosofia portuguesa religiosa desde o sec. XIX); emigrante, mas não colonizador (miscegenização); aventureiro, mas radicado (...); pobre, mas generoso (comunitarismo); culturalmente atrasado, mas crente que possui um destino vanguardista (messianismo)" (pag. 185-186)

Concorde-se ou não com o autor, a obra é demasiado estimulante para passar despercebida, por isso aqui fica a sugestão da sua leitura.

VITTORIO ALFIERI [1749-1803]



n. a 16 de Janeiro de 1749

"... [Vittorio Alfieri] andou vagueando pela Europa, irrequieto, insatisfeito, dedicado à paixão do jogo e dos cavalos, e às mulheres, adquirindo ao mesmo tempo a experiência dos homens de das coisas: conheceu o continente desde a Rússia a Portugal, até que a leitura ouvida, em Lisboa, duma canção eloquente (a Alfa fortuna) do seiscentista Guidi, pelo amigo Tomaso di Caluso, lhe deu a consciência do seu destino de poeta" [Giuseppe Carlo Rossi, Breve História da Literatura Italiana, Cosmos, 115-116, dir. de Bento Jesus Caraça, 1946]

"[A Merope de Maffei teve como tradutor português Cândido Lusitano, que antepôs à versão (de 1751; conserva-se inédita em Évora) um longo prefácio, em que chama "talvez a melhor tragédia que tenha aparecido em teatro", e "fonte do verdadeiro bom gosto da poesia dramática". Há notícia de duas traduções brasileiras que também ficaram inéditas. Na tragédia de Maffei inspirou-se Garrett para a sua Mérope, como está narrado no prefácio desta útima; e tem relações com ela a Sofonisba espanhola de Zorrilla ..." [ibidem, pag. 193]

"... Foi português o primeiro amigo de Alfieri, confidente das suas ânsias amorosas e seu incitador ao estudo: D. José da Cunha, ministro em Haia. A obra alfieriana foi muito lida e traduzida em português. Familiarizou-se muito com ela, e dela se valeu para incitar os seus compatriotas às ideias da liberdade, o revalizador do teatro nacional, e editor de Gil Vicente, o então homiziado político J. V. Barreto Feio, que traduziu Orestes e os dois tratados literário-políticos fundamentais Del principe e delle lettere e Della tirannide... [ibidem]

Locais: Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri (1749-1803) / Vittorio Alfieri / Biografia / Vittorio Alfieri (biografia) / Vittorio Alfieri (Biblioteca) / La Polémica Antidogmatica dell'Alfieri / Progetto Vittorio Alfieri / Vittorio Alfieri da Asti-Conte di Cortemilia

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

AS MENSAGENS DO PRESIDENTE



"O futuro é a única coisa que podemos mudar" [Robert Heinlein]

Nestes dias em que se assiste a uma incapacidade governativa total, embrenhados que estão, profundamente, na crise da crise que tanto procriaram, numa cultura politica a cair de sono onde a sucessão de fenómenos é o elixir para a sempre eterna sociedade de espectáculo, face à magnitude do caos económico que os fundamentalistas neo-liberais detonaram, as mensagens do Presidente da República são de uma perplexidade inquietante.

Os vários discursos de Jorge Sampaio desabam sistematicamente em arruaças político-partidárias por parte daqueles que administram o tédio, e longe de mobilizarem pedagogicamente a classe politica e os cidadãos para o exercício de combate à apatia e à indiferença da gestão política, social e cultural a que estamos condenados, remetem, numa ingenuidade encantadora, para um adormecimento angustiante, num quotidiano sem futuro nem desejo. Isto porque, as mensagens do Presidente são, invariavelmente, deixadas ao abandono entre os inenarráveis discursos parlamentares, que em simulacros vários debatem tudo menos os enunciados e as propostas presidenciais, perante a maior crise económico-social jamais vista.

A desarmonia é evidente. Hoje, nem se dignaram comentar as preocupações e as propostas feitas pelo Chefe de Estado. Foram execráveis. Eis, pois, a mais perfeita alucinação do poder. E, portanto, a questão começa a ser uma outra, a saber: até quando será possível a Jorge Sampaio manter esta estratégia de excessiva brandura face à governação caótica e irresponsável que tudo contamina? De outro modo, seria interessante que a maioria governamental e os seus acólitos fundamentalistas entendessem o dizer de Adorno: "ninguém tem direito, por orgulho elitista, de se opor à massa de que é apenas um momento". Que a aventura do poder não dura sempre. Podem crer!

LIVROS USADOS



"... Para onde foram os livros usados, os que tinham na capa esse visgo publicitário, as brochuras encardidas, as encadernações de pobre, os folhetos, as revistas do tempo de Rodrigues Alves? Tudo isso também é gente, na cidade das letras, e, como gente, ninho de surpresas: no mar de obras condenadas ao esquecimento, pesca-se às vezes o livrinho raro, não digo raro de todo, pois o farol do mercador arguto o escondeu atrás do balcão, e destina-o a Plínio Doyle, ao Mindlin paulista ou à Library of Congress, que não dorme no ponto ... mas, pelo menos, o relativamente raro, sobretudo aquele volumeco imprevisto, que não andávamos catando, e que nos pede para tirá-lo dali, pois está ligado a circunstâncias de nossa vida: operações de resgate, a que procedemos com alguma ternura. Vem para a minha estante, Marcelo Gama, amigo velho, ou antes, volta para ela, de onde não devias ter saído; sumiste porque naqueles tempos me faltou dinheiro para levar a namorada ao cinema, e tive de sacrificar-te, ou foi um pilantra que te pediu emprestado e não te devolveu? Perdão, Marcelo, mas por 5 cruzeiros terei de novo tua companhia ..."

[Drummond de Andrade, Sebo, in O Poder Ultrajovem]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVIII)


* Conselho dos 5 (1851) - O Conimbricense refere que foi formado por cinco estudantes, que tinham uma "espécie de governo de Coimbra", tendo a seu cargo a concessão de "diversas mercês civis e eclesiásticas". A sede era no Largo de Sansão (Praça 8 de Maio), em casa do sr. Francisco Martins da Rocha [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade de Instrucção dos Operários (1851) – Realizou-se a 4 de Outubro de 1851 a primeira reunião, sendo “nomeada uma mesa provisória assim composta: Presidente, Joaquim Martins de Carvalho; secretários, Carlos Ramiro Coutinho e Filippe de Quental; tesoureiro, Domingos Sebastião Sanches". [ibidem]

* Sociedade Gymnastica (1852) [ibidem]

* Sociedade para o Melhoramento dos Banhos do Luso (1852) [ibidem]

quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

LEWIS CARROLL [1832-1898]






















Morre a 14 de Janeiro de 1898


Locais: Lewis Carroll / Lewis Carroll / The Lewis Carroll E-text Collection / Works by Lewis Carroll / Alice's Adventures in Wonderland


"... Ao passar por um jardim vi um Mocho e uma Pantera
A repartirem uma empada.
À Pantera coube a carne, a massa e a geleia
E ao Mocho o prato e a colher.
Quando a empada acabou
A Pantera rosnou
E ainda ficou
Com o garfo e a faca
E o festim acabou ..."

[In Aventuras de Alice no País das Maravilhas, trad. Ernesto Sampaio]

THE CURE



The Cure - Join The Dots (1978-2001)

4 CD's espaçados no tempo, de 1978 a 2001, novas versões, remixes vários, homenagem aos The Doors, Jimi Hendrix, 76 paginas sobre a banda e, claro, Robert Smith, em raros trechos musicais, revisitações excelentes, a não perder, passe os sinais dos tempos ... enquanto lá para o Verão se espera o novissimo albúm com nova colheita. Somos sentimentais, evidentemente. Pois!

Locais: Seventy-one track rarities collection / The Cure: Join The Dots: B-Sides and Rarities, 1978-2001 (The Fiction Years)

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

VOX POPULI



[Dos Jornais] Causou impacto nos meios intelectuais do Correio da Manhã, novíssima Maria para taxistas e mulheres-a-dias, a antevisão do processo Casa Pia (Casa Pia, Últimos Episódios) pelo articulista Alberto Gonçalves. Consta que: um conhecido homem de leis aliviou-se em plena rua, com um sorriso nos lábios; um grupo de políticos, reunidos em local oculto, fulminou o autor com impropérios vários e ditos grosseiros; um liberal Eborense lembrou à edilidade que seja dado o nome de Avenida do Alberto-a-Dias, a uma artéria da cidade, substituindo a Rua Berlin; um popular activista Bolsista confessa que realizou avultados investimentos em acções CM; em reunião de comentaristas & Cia, foi debatido a excessiva verbosidade e a vulgaridade do texto, enquanto se ouvia um Audaces Fortuna Juvat proveniente da plateia popular, considerando-se que é caso para dizer, "não apalpes em casa de ferreiro, nem peças em botica bom mercado". Ó tempora, ó mores ... oh tempo das amoras!

[Novo Guia das Ruas de Portugal] Acaba de sair um precioso Guia (Edições Papelaria Laranja), onde se regista o local de todas as artérias das cidades portuguesas, com inclusão das alterações ultimamente feitas em vários arcos, arruamentos, azinhagas, bairros, calçadas, casais, estradas, jardins, largos, miradouros, paróquias, parques, praças, pracetas, ruas, residenciais, rotundas, sítios, travessas e vilas. Os autores agradecem penhorados ao major Valentim Loureiro as sugestões e contribuições apresentadas. Como curiosidade, registe-se as seguintes novidades: Travessa do Luís Delgado; Praça Bush; Azinhaga José Manuel Fernandes; Quinta Celeste Cardona; Residencial Tavares Moreira; Arco Ferreira Leite; Chalé Portas; Miradouro Marques Mendes; Circunvalação José Luís Arnaut; Escadinhas Bagão Félix; Mercado Dias Loureiro; Posto Morais Sarmento; Paróquia Telmo Correia; Rotunda Miguel Beleza; Vila Durão Barroso; Pátio Rebelo de Sousa; Cais Santana Lopes;... Bem Hajam!

JAMES JOYCE [1882-1941]



Morre a 13 de Janeiro de 1941

"Ele quis encontrar no mundo real a fraca imagem que sua alma, indefinidamente, contemplava. Ele não sabia onde ou como procurá-la. Mas uma premonição lhe disse que esta imagem iria encontrá-lo, independente do que fizesse. Os dois iriam se encontrar tranquilamente, como já se conhecessem, como já tivessem se encontrado antes, talvez em um dos portões ou em algum lugar secreto. Os dois estariam sozinhos, cercados pela escuridão e pelo silêncio. E em um momento de suprema ternura, ele mudaria. Se desbotaria em algo impalpável diante de seus olhos e, num breve momento, ele se transformaria. Fraqueza, timidez e inexperiência tombariam diante dele naquele momento trágico."

[J. J., in Retrato de um Artista Quando Jovem]

"(In) Gibraltar as a girl where I was a Flower of the mountain
yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used
or shall I wear a red yes
and how he kissed me under the Moorish wall
and I thought, well as well, him as another
and then I asked him with my eyes to ask again yes
and then he asked me, would I yes to say yes, my mountain flower
and first I put my arms around him, yes
and drew him down to me so he could feel my breasts all perfumed, yes
and his heart was going like mad and yes I said, yes I will, Yes." [J. J., in Ulysses]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

RUBEM BRAGA [1913-1990]



n. Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), a 12 de Janeiro de 1913

"Braga é sempre bom, e quando não tem assunto então é ótimo. Disseram um dia do português Latino Coelho que era um estilo à procura de um assunto. Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto. Aí começa ele com o puxa-puxa, em que espreme na crônica as gotas de certa inefável poesia que é só dele. Será este o segredo de Braga: pôr nas suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu? Os outros cronistas põem também poesia nas suas crônicas, mas é o refugo, poesia barata, vulgarmente sentimental, que tanto pode estar ali como nos versos de... Bem, cala-te, boca! A boa poesia eles guardam para os seus poemas. Braga, poeta sem oficina montada e que faz poema uma vez na vida e outra na morte, descarrega os seus bálsamos e os seus venenos na crônica diária ..." [Manuel Bandeira]

Locais: Biobibliografia / Rubem Braga / Rubem Braga (1913-1990) / Textos na Folha de S. Paulo / Crónicas de Rubem Braga / Escritos Vários / Poesia / Ai de ti, Copacabana / Diário de um subversivo

sábado, 10 de janeiro de 2004

THE UNNATURAL AND THE STRANGE











"The unnatural and the strange
Have a perfume of their own –
That of human flesh, of change
Made corruption without moan;
The unnatural and the strange
Have a perfume of their own ..."

[Alexander Search (aliás F. P.), The Unnatural and The Strange, 1906]

ROMANCES POLICIAIS



"Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais. Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a vida deixa que eu passe, conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo.
Um volume de um destes autores, um cigarro de 45 ao pacote, a ideia de uma chávena de café - trindade cujo ser-uma é o conjugar a felicidade para mim - resume-se nisto a minha felicidade. Seria pouco para muitos, a verdade é que não pode aspirar a muito mais uma criatura com sentimentos intelectuais e estéticos no meio europeu actual"

[Fernando Pessoa, in Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação]

sexta-feira, 9 de janeiro de 2004

PROCESSO CASA PIA: A NOVA CABALA


"Uma gaiola ia à procura de um pássaro" [Kafka]

Stau Monteiro escreveu uma vez que "o espectador é por definição o homem que não sabe jogar". Nada mais exacto. Porém, hoje, no processo da Casa Pia, parece subsistir excessivos jogadores à volta da "mesa", e muito poucos espectadores.

A novíssima jogada conhecida, de admirável retórica diga-se, é de José Pacheco Pereira. O seu artigo publicado n'O Publico, curiosamente intitulado, "Anatomia de uma fuga do processo Casa Pia" mais não é que uma argumentação puramente de retórica politica ... contra a politização do processo, que configuraria motivações diversionistas e de ocultação dos crimes praticados. Em nenhum momento da análise desta nova cabala é questionado as razões técnico-jurídicas que evidenciam um constante mal estar nos registos processuais do caso, nem o papel desempenhado pelo Procurador Geral, Souto de Moura, na sua condução, defesa e praticabilidade. Apenas se faz a anatomia da cabala politica em curso, nova urdidura desviacionista, utilizando o discurso meramente político-partidário.

Afinal, o que nos confessa Pacheco Pereira é a impossibilidade de poder debater um caso concreto - Processo Casa Pia - a partir de enunciados técnico-jurídicos, da sua critica interna conceptual, a qual dado a sua especificidade, o cidadão não dominaria. Daí que o branqueamento das (não)orientações tomadas por Souto de Moura, em todo este, caso seja total. E que os jornalistas, por efeito boomerang, se arrisquem a serem tidos por perigosos delinquentes, no que resulta a sua necessária domesticação, nem que seja via reformulação da lei sobre liberdade de imprensa, como um deputado do CDS/PP no Parlamento assumiu. Ora, não é possível, aliás como muito bem Vital Moreira considera, que o papel desempenhado neste caso, e desde o seu início, por Souto de Moura seja menosprezado. Quem tal pensar está a aprontar o funeral da própria Justiça e a médio prazo a cooperar no descrédito das instituições democráticas. E sabe-se onde isso conduz. Ou não?

JOÃO CABRAL DE MELO NETO [1920-1999]















n. no Recife a 9 de Janeiro de 1920

"O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final."

[Homenagem a Picasso, in Pedra do Sono]

Locais: João Cabral Melo Neto / Biografia Especial / Bio-bibliografia / idem / Obras / Ambiente Cultural e Primeiras Poesias / Morte Vida Severina / Poemas / Poesia / 6 Poemas

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

FERNANDO PESSOA



" ... Ao homem vulgar, que queira entrar as portas do Occulto, diremos só uma cousa: não tentes! O occulto é que nos procura, não nos a elle: pois, desde a Queda, não há livre-arbitrio. Não somos nós que olhamos para a Materia: ella é que olha para nós. Collocando-se na passividade chamada mediunica podes julgar que atinges outros mundos; não fazes senão aprofundar a Illusão, que, como é contínua com o mundo, é para nós verdadeira ..."

[F.Pessoa, 53B-72 (m), in Rósea Cruz, por Teixeira da Mota, Ed. Manuel Lancastre, 1989]

PAUL VERLAINE [1844-1896]


















Morre em Paris, a 8 de Janeiro de 1896

"Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers ;
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête,
Et que je dorme un peu puisque vous reposez
"

Locais: Paul Verlaine / Notas Biográficas / Biographie / Paul Verlaine / Biografia / Biobibliografia / Paul Verlaine (1844 - 1896) / Obras / Poemas / Carta a Pierre Dauze / Les poèmes Saturniens / Les Fêtes Galantes / Song texts / Poèmes de Paul Verlaine

"Sono escuro, enorme,
A cobrir-me a vida:
Dorme, esperança, dorme.
Tão apetecida!

Não vejo ninguém,
Já perco a memoria
Do mal e do bem ...
Ai que triste historia!

No fundo da vala,
O berço que sou
Alguém mo embala:
Caluda, calou!"

[Paul Verlaine, "Un Grand Sommeil Noir", trad. Jorge de Sena]

quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

O PAINEL D'O PÚBLICO E A ELITE À LA ROSADO DE CARVALHO



O jornal O Público brinda-nos, cada segunda-feira, com um suplemento absolutamente extraordinário sobre economia. Esta semana, sob direcção desse inefável Rosado de Carvalho, estabeleceu um ranking das luminárias da governação com base num espantoso painel de inquiridos, aliás bem costumeiro.

Tais exegetas da coisa económica classificaram, com a proverbial certeza que guia sempre os que frequentam a quintarola do poder, positivamente (sem necessidade de ida à oral, é bom de ver) Ferreira Leite, Sevinate Pinto, Luís Filipe Pereira, Carmona Rodrigues e Bagão Félix, reprovando Celeste Cardona e Carlos Tavares. Registe-se que um inquirido do painel, em comovido esforço de amestração, atribuiu a nota máxima à senhora Ministra do défice, um brilhante 20 valores.

Outro, com menos segurança, pouco social, mas decerto com mais trabalho intelectual, classificou Bagão Félix com 19 valores. E até o desaparecido Carlos Tavares, obteve de um intelectual do painel um luminoso 17. Encantador. Curiosamente, só depois de percorrermos a listagem dos examinadores do douto painel, entendemos bem a sua capacidade avaliativa. Enfim, como diria o saudoso brasileiro Joãozinho 30, aqui se testemunha que "pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual".

INÊS DE CASTRO






















Morre em Coimbra, a 7 de Janeiro de 1355

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
..........
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos Amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água , e o nome Amores!"

[Camões, Os Lusíadas]

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

UM ÁRBITRO À ESPERA



"Não compreendo as leis; não tenho sentido moral, sou um bruto ..." [Rimbaud]

Aos 7 minutos de jogo tudo estava decidido no Estádio da Luz.

Pedro Proença, o árbitro dito de sensibilidade encarnada, determinou não atormentar o senhor Dias da Cunha e, num gesto avisado e pouco servil, contrariou as afirmações pífias do jornal Record, ao marcar um penalty inexistente a pedido de várias famílias do Horto de Alvalade. Nem interessa debater as assombrosas peripécias do jogo da Luz, que isso fica para os paroquianos dos jornais, mas tão só registar que o Record, mão dada com esse pródigo Dias da Cunha, venceu copiosamente o sempre glorioso Benfica. Isso é que ficará para a história. Parabéns Record. Avé Proença cheio de graça.

A RODA DOS ECONOMISTAS



"Quando se está metido até à garganta com crocodilos, é difícil reter na memória que o objectivo, no princípio, era secar o pântano" [anónimo]

Numa carta a sua mulher, Lydia Lopokova, Lord Keynes dizia: "o economista não é rei; é verdade. Mas devia de ser! É um governante melhor e mais avisado do que o general ou o diplomata ou o advogado notarial".

Dito deste modo, ficamos até com pena dos economistas de antanho, assim tão susceptíveis à paixão do jogo do poder. O mesmo não ocorre com os extraordinários economistas portugueses, a quem cedemos à força da sua infalível argumentação. Estes saltimbancos da economia politica dão invariavelmente no início de cada ano, fabulosas lições de gramática económica, sempre atestadas de adocicadas estatísticas, sempre deliciosos nas piedosas intenções de explicar os cenários macroeconómicos. A sensibilidade económica dos nossos putativos comentaristas é um padre-nosso que todos os anos se renova. E nem ofende que nunca acertem nas previsões, tão solenemente reveladas. Ou sequer lhes incomoda, que o que possam dizer hoje, poder ser negado amanhã. Afinal a ciência económica é um simples metanarrativa, um sermão gratulatório aos crentes indígenas. E estes bem sabem que "temos de trabalhar, senão por gosto, ao menos por desespero, pois, no fim de contas, trabalhar é ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].

Seja como for, o que os dignos eruditos da coisa económica desvelam é uma provinciana maneira de comunicar que a douta classe não tem autonomia científica, politica e ética no seu ofício. Senão que dizer da entrevista dada por Eduardo Catroga ou os artigos de Sérgio Rebelo, Miguel Frasquilho ou do inestimável João César das Neves? Ou será que os economistas são sempre mais belos que os nossos annus horribilis?

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVII)


* Sociedade Secreta S. Miguel da Ala (1851) - O Conimbricense refere que foi Joaquim Martins de Carvalho que "deu notícia desta sociedade, de que era Grão-Mestre El-Rei o Sr. D. Miguel, publicando os Estatutos, muitas noticias e vários documentos, o que na altura causou extraordinária sensação, quer na opinião pública quer no seio dos iniciados no segredo, ao serem assim publicamente denunciados".

A Sociedade S. Miguel da Ala propunha "promover por todos os modos a restauração do governo de El-rei o Senhor D. Miguel I". Rodrigo de Sousa Tudella (G.C. Fagilde), foi o encarregado de organizar os elementos revolucionários nos distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda e Castelo Branco, e "fazer a divisão territorial, para o Governo oculto da sociedade, composta de Governos Civis, Capítulos, nos quais posteriormente se organizaram Colégios". Do Governo Civil de Coimbra faziam parte os Capítulos 1º (comarcas da Figueira e Cantanhede), Capítulo 2º (comarcas de Soure e Lousã) e Capítulo 3º (comarca de Coimbra). Diga-se que em Coimbra havia dois Colégios sendo um exclusivamente académico. Quando acabavam a sua formatura, os seus elementos passavam para outro colégio que não aceitava estudantes.

Rezava assim os seus estatutos: art 1º - A ordem é essencialmente secreta, militante e politica; art. 2º - Tem por fim defender a religião católica apostólica romana; restaurar a legitimidade portuguesa; manter ilesa a integridade do território da nação; promover a união de todos os portugueses numa só família; ... O Colégio académico citado, era o do Bairro Alto, instalado no dia 22 de Fevereiro de 1851, assistindo à reunião Luís de Vasconcelos Azevedo e Silva Carvajal (Mem Rodrigues), António Tavares da Cunha Soares de Abreu (Afonso de Albuquerque), António Bernardino de Menezes (Massillon), João de Albuquerque Amaral Cardoso (Martim de Freitas), Luís Ribeiro de Souto Maior e Vasconcelos (Egas Moniz), Luiz Cândido de Figueiredo Oudinot e Gouveia (D. Nuno Alvares Pereira), José d'Araújo Cabral Montez de Champalimaud (D. Diniz), entre os mais. Além desse Colégio, existia outro, o Colégio do Bairro Baixo de Coimbra, organizado só em 1852, onde foram iniciados Dr. Francisco Raymundo da Silva Pereira (advogado e Chefe do Colégio, em casa do qual se fazia as reuniões), João Marques Perdigão, Francisco de Sousa Pinto, etc. [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Philantropica de Coimbra (1851) [ibidem]

* Sociedade Philarmonica de João Alves (1851) [ibidem]

domingo, 4 de janeiro de 2004

MARIA ARCHER [1899-1982]



Nasce a 4 de Janeiro de 1899

Maria Archer, hoje injustamente esquecida, fez crónicas para jornais e revistas (Seara Nova) foi romancista e ensaísta, escreveu contos e peças de teatro, mas foi principalmente uma escritora que desvela a situação da mulher, pela interrogação da condição feminina do seu tempo, quer através da problemática social quer registando a irrupção do desejo sexual feminino. Adolfo Casais Monteiro (1944) diz-nos:«pode afirmar-se que escritora portuguesa alguma conseguiu, como ela, exprimir certas das mais fundas determinantes da psicologia feminina e da relação homem-mulher». Maria Archer teve, por isso, problemas vários com a censura e com a sociedade de antanho, sendo conhecido o episódio em torno do seu livro "Ida e Volta Duma Caixa de Cigarros" (Editorial Século, 1938) que foi retirado da circulação por ser considerado amoral e, mesmo, "pornográfico", o que era evidentemente falso. Saiu em sua defesa Mário Dionísio, n'O Diabo. Maria Archer viveu parte da sua vida em Africa, tendo escrito contos e ensaios de características antropológicas, e participou nos populares Cadernos Coloniais, de forte conteúdo documental e etnográfico.

"Duas novelas deste livro foram escritas sob deliberado propósito de contribuir para a revelação da mulher.
- Vão-te acusar de autobiografia, disse-me quem as leu no original.
- Que bom! Pensei eu, lembrando-me da razão porque Arnold Bennet fora acusado de fazer autobiografia quando descreveu a execução duma pena de morte (…)
A todos aqueles que, ao lerem as minhas novelas, se sentirem pris aux entrailles e me acusarem de ter feito autobiografia, eu confesso o meu lisongeado reconhecimento"

[Maria Archer, Introdução à "Ida e Volta duma Caixa de Cigarros", 1938]

Algumas Obras: Africa Selvagem / Sertanejos (Cadernos Coloniais) / Singularidades de um País Distante (idem) / Ninho de Bárbaros (idem) / Angola Filme (idem) / Colónias Piscatórias em Angola (idem) / Caleidoscópio Africano, 1938 / Três Mulheres (novelas) / Ida e Volta duma Caixa de Cigarros (idem) / Há Dois Ladrões sem Cadastro (idem) / Fauno Sovina (idem) / Ela é Apenas Uma Mulher (romance) / Aristocratas (idem) / Casa Sem Pão (idem) / Viagem à Roda de Africa (lit. infantil) / Roteiro do Mundo Português, 1940 / Memórias da Linha de Cascais (col. De Branca Colaço), 1943 / Filosofia duma Mulher Moderna (1939) / Eu e Elas (1945) / Herança Lusíada / Brasil, Fronteira de África (1963)

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XVI)


* Sociedade do Teatro da Graça (1849) [in, Conimbricense, 1905]

* Sociedade Agrícola (1849) [ibidem]

* Companhia Agrícola e Comercial (1849) [ibidem]

* Sociedade de Beneficência da Typographia da Universidade (1849) - O Conimbricense refere que "só podiam fazer parte os operários e empregados da Imprensa da Universidade, sendo o iniciador o sr. José Pereira Júnior, antigo typographo" [ibidem]

* Sociedade Consoladora dos Aflitos (1849) [ibidem]

* Sociedade Philantropica Académica (1850) [ibidem]

* Monte-Pio Conimbricense (1851) - A 1 de Janeiro de 1851, por diligência de Joaquim Martins de Carvalho [ibidem]

sábado, 3 de janeiro de 2004

IN MEMORIAM EDUARDO GUERRA CARNEIRO [1942-2003]




[Via Aviz] "ADEUS. Morreu Eduardo Guerra Carneiro. Era um bom poeta, esquecido por todos nós, e um jornalista esquecido pelos jornais. Morava no mesmo prédio onde viveu Agostinho da Silva, ao Bairro Alto. Escrevia em caderninhos lisos e tinha canetas de tinta permanente. Gostou muito. Foi muito amado. Tinha um brilho nos olhos que se foi perdendo à medida que ia envelhecendo, mas nunca foi um ressentido. Bebeu muito. Leu bastante. Escreveu o suficiente. Alguns livros: Isto Anda Tudo Ligado, Como Quem Não Quer a Coisa, É Assim que se Faz a História, Contra a Corrente, Lixo ou Dama de Copas. Era boémio, mas não era da boémia. Sentava-se ao fundo dos bares caboverdianos. Gostava de mornas, da sua terra do Norte (Chaves), dos salgueiros ao longo da estrada nacional n.º 2, dos choupos do Douro e de poetas que sabiam calar-se. Uma pessoa escreve «era um bom poeta» e sente que alguém desconfia, como se fossem bons todos os poetas que desaparecem. Não. Ele era um bom poeta que raramente ficava contente com os seus livros. Não se dava muita importância. Brigou muito. Tinha bom feitio. Tinha mau feitio. Tennyson repetiria: «O selfless man and stainless gentleman.» Bebia cerveja. Acho que bebia tudo. Tinha uma bela voz. Eduardo." [Francisco José Viegas, in Aviz]

"O Eduardo nasceu em Chaves, em 42. Depois foi à vida: perdeu-se um vossa excelência (4º ano incompletíssimo de história), ganhou-se um poeta (...) Livros, amores, deambulações, vagabundagens, cervejolas, empregos vários, carolices (o & etc agradece, no que lhe toca): uma generosidade (arrebatada, lírica, desmedida) que lhe alimenta a poesia (dor mais funda, alegria em sol maior) e lhe dá cabo da gravata. Assim o Eduardo é um poeta visceral. Talvez que já não saiba (nem possa) ser outra coisa) ..." [in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"O desafio, afinal tão simples!, de prosseguir um texto, vendo bem perseguir, conseguir mesmo despir-me das pequenas e grandes vaidades, como já foi dito. Dizias: o texto. Eu pensava na intriga a construir, nos antigos manuscritos onde se falava de música, sinfonia, órgão, retábulos de igreja, o que se liga à então recente leitura de qualquer clássico. Órgãos do prazer: funções vitais em totalidade. Procuro a linha enredada na complicada teia de aranha que em volta de mim próprio enlacei: aqui está a razão do desafio; os nós a desfazer; a pontuação a assinalar um modo de avançar «todo» sem receio mais que o discurso baço, vago, maricas afinal (...)

Daí, daqui: os textos que perseguem e rasgam o próprio ventre para nascerem pelas suas próprias mãozinhas: impressão digital marcada a sangue. Direi. Um corpo em movimento; a infância da invenção; o salto mortal da literatura; a destruição (corrosão) dos vocábulos ..." [E.G.C., Uma Teoria (da) Prática, in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"Algumas palavras são mais que o som.
Soltam-se delas lâmpadas, por vezes gritos.
Palavras que demoram na boca
com o sabor da manhã de Outubro, o claro gosto
da terra húmida, castanha até doer
...
" [E.G.C., Zero, O Perfil da Estatua, 1961]

"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare. Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo: a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vítimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!.
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..." [E.G.C., À Luz de Novembro, in Como Quem Não Quer a Coisa, & etc, 1978]

Algumas Obras: O Perfil da Estátua, Silex, 1961 / Corpo Terra, Ed. Autor, 1965 / Alguma Palavras, Nova Realidade, 1969 / Isto Anda Tudo Ligado, Cadernos Pensinsulares, 1970 / É Assim Que se Faz a História, Assírio & Alvim, 1973 / Como Não Quer a Coisa, & Etc, 1978 / Dama de Copas, & Etc, 1981 / Profissão de Fé, Quetzal, 1990 / Lixo, & Etc, 1993 / O Revólver do Repórter, Teorema, 1994 / Outras Fitas, Teorema, 1999 / A Noiva das Astúrias, & Etc, 2001