quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

AS MENSAGENS DO PRESIDENTE



"O futuro é a única coisa que podemos mudar" [Robert Heinlein]

Nestes dias em que se assiste a uma incapacidade governativa total, embrenhados que estão, profundamente, na crise da crise que tanto procriaram, numa cultura politica a cair de sono onde a sucessão de fenómenos é o elixir para a sempre eterna sociedade de espectáculo, face à magnitude do caos económico que os fundamentalistas neo-liberais detonaram, as mensagens do Presidente da República são de uma perplexidade inquietante.

Os vários discursos de Jorge Sampaio desabam sistematicamente em arruaças político-partidárias por parte daqueles que administram o tédio, e longe de mobilizarem pedagogicamente a classe politica e os cidadãos para o exercício de combate à apatia e à indiferença da gestão política, social e cultural a que estamos condenados, remetem, numa ingenuidade encantadora, para um adormecimento angustiante, num quotidiano sem futuro nem desejo. Isto porque, as mensagens do Presidente são, invariavelmente, deixadas ao abandono entre os inenarráveis discursos parlamentares, que em simulacros vários debatem tudo menos os enunciados e as propostas presidenciais, perante a maior crise económico-social jamais vista.

A desarmonia é evidente. Hoje, nem se dignaram comentar as preocupações e as propostas feitas pelo Chefe de Estado. Foram execráveis. Eis, pois, a mais perfeita alucinação do poder. E, portanto, a questão começa a ser uma outra, a saber: até quando será possível a Jorge Sampaio manter esta estratégia de excessiva brandura face à governação caótica e irresponsável que tudo contamina? De outro modo, seria interessante que a maioria governamental e os seus acólitos fundamentalistas entendessem o dizer de Adorno: "ninguém tem direito, por orgulho elitista, de se opor à massa de que é apenas um momento". Que a aventura do poder não dura sempre. Podem crer!