quarta-feira, 21 de janeiro de 2004
VÍTOR CONSTÂNCIO: UM FUNCIONÁRIO ZELOSO
A entrevista dada pelo Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, à RR e abundantemente divulgada pelos media é exemplar. As suas previsões optimistas sobre a economia portuguesa, atiradas do alto do Banco de Portugal sobre as nossas cabeças malabrutas, fazem a delícia dos analistas económicos, sobretudo daqueles que frequentam a gamela do aparelho de estado ou correm às sua migalhas, mas não são perceptíveis a partir das magras bolsas das famílias portuguesas e da miséria da sua situação económica e financeira, nem sequer do ponto de vista da ciência económica pode tal ser entendido.
Afinal, desconhece-se os fundamentos macroeconómicos com que se baseia o insigne economista, agora impulsionado como altar iluminante pela governação, para tais inauditas previsões e demais bênções à política orçamental.
Compreende-se o esmero de Vítor Constâncio. Funcionário zeloso e irrepreensível do Banco Central Europeu, a politica fundamentalista dos seus patrões não pode ser posta em causa. O controle da inflação como única variável explicativa dessa abencerragem do pacto de estabilidade não o incomoda nada. Nem os efeitos que tal máxima de estabilidade comporta na frágil economia portuguesa, sequer o atrapalham. Fica, sim, extasiado em discursos à volta da teoria dos ciclos económicos, esquecendo o que sobre eles foi dito por Robert Lucas, numa vaidade irritada e irritante à boa maneira de Mr. Jekyll & Mr. Hide. Dizem que é socialista. É possível que sim, não sabemos. Porém, pode crer que o seu nome ficará, independentemente do lugar que ocupa e da sua função, irremediavelmente ligado a um dos ciclos mais nefastos da economia portuguesa. Para bem ou para o mal.