quinta-feira, 27 de abril de 2006


Alexander Scriabin [1872 - m. 27 Abril 1915]

«A descoberta, em 1905, da teosofia, uma doutrina espiritualista fundada por Helena Blavatsky (1831-1891), também conhecida por Madame Blavatsky, marcá-lo-ia muito, e influenciaria as suas composições. Começa a sua 'ascensão em direcção ao sol', e o trabalho naquela que ambicionava que viesse a ser a sua obra máxima, Mysterium, uma 'grandiosa síntese de todas as artes', uma 'concepção multimedia apocalíptica', que deveria ser tocada nos Himalaias» [in Desnorte]

Para ouvir: The Music of Alexander Scriabin

Locais: Alexander Nikolayevich Scriabin / The Music of Alexander Scriabin / Alexander Scriabin / Scriabin Society / Alexander N. Scriabin / Theosophical Music / Helena Blavatsky

"Bem-aventurado o homem privado"

[Sebo Baratos da Ribeiro - Copacabana, Rio de Janeiro]

«Dizemos como Benjamin [Walter ..., Desempacontando a minha biblioteca; um discurso sobre o coleccionador", in Rua da Mão Única, São Paulo, 1987] 'a existência do coleccionador é uma tensão dialéctica entre os pólos da ordem e da desordem. Naturalmente, sua existência está sujeita a muitas outras coisas: a uma relação muito misteriosa com a propriedade (...), a uma relação com as coisas que não põe em destaque o seu valor funcional ou utilitário, a sua serventia, mas que as estuda e as ama como o palco, como o cenário do seu destino'. E assim continuamos: 'Renovar o mundo velho - eis o impulso mais enraizado no coleccionador ao adquirir algo novo'. 'Bem-aventurado o coleccionador!' Bem-aventurado o homem privado»

[Aníbal de Bragança et al, in O Consumidor de Livros se segunda mão. Perfil do cliente de sebos]

Gramsci [1891 - m. 27 Abril 1937]

"... in this imbalance between theory and practice there was an inherent danger" [Antonio Gramsci]

"... Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que 'viver significa tomar partido'. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade (...) Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes (...)

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram (...) Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a actividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento" [aqui]

Locais: International Gramsci Society / Selections from the Prison Notebooks / On Education / Praxis and the Danger: The Insurgent Ontology of Antonio Gramsci [Bruno Gulli] / O Futurismo Italiano (carta a Trotski)

segunda-feira, 24 de abril de 2006


Vc. pediu um 25 de Abril!?

"Que maneira a nossa
de usar as coisas!

Fica-nos sempre a maçaneta
na mão! ..."

[Alexandre O'Neill]

PREC - "Põe, Rapa, Empurra, Cai", nº zero

"A liberdade é como uma 'corrente de ar', dizia André Breton, e, para cumprir o seu papel, essa corrente de ar deve começar por varrer todos os miasmas do passado ..." [B. Péret, in PREC, 2005]

Saiu o número zero do "jornal para ler e não para olhar", com a bênção do colectivo do P[õe] R[apa] E[mpurra] C[ai] e textos de Vítor Silva Tavares, João Bernardo, Jorge Silva Melo, Miguel Serras Pereira, João Mesquita, Sanguenail, Eduarda Dionísio, Benjamin Péret, entre muitos. Datado de Novembro de 2005, o PREC depois de ter debutado nas Caldas da Rainha (e bem), Lisboa e Porto, apresenta-se em papel suave, como deve. Como Saint Just, "cada um combate por aquilo que ama: eis aquilo a que se chama falar de boa fé". Para continuar, dizem. Assim se espera.

À venda na livraria Artes & Letras.

Bibliomanias: actualização - Sebos do Rio de Janeiro

"No Rio de Janeiro, destacavam-se a Livraria Kosmos e a Livraria São José, de Carlos Ribeiro, onde a gente permanentemente tinha bons encontros intelectuais e se defrontava com fortes tentações. Como a melhor forma de se livrar de uma tentação é ceder, não é difícil imaginar quantos livros vieram de lá aqui para casa.
Havia livrarias menores, mas de bons livreiros, como a de Tancredo de Barros Paiva, autor do Dicionário de Pseudonymos [1929], até hoje uma referência obrigatória e do qual tenho um exemplar autografado, e a Livraria Santana, na rua do Carmo, onde comprei uma colecção completa da revista O Novo Mundo, publicada em Nova York, na década de 1870, por José Carlos Rodrigues. Havia outros sebos que publicavam, aos domingos, anúncios de página inteira no Jornal do Comércio, que me punham a postos ao telefone logo cedo na segunda-feira ... Muitas vezes o esforço valeu a pena.

Um livreiro importante da rua São José, na primeira metade do século XX, foi J. Leite, conhecedor de bibliofilia como nenhum outro do Rio, que tinha a livraria creio na rua São José nos anos 60 e aos poucos cessou a sua actividade. As livraras da rua São José, aliás, não resistiram à especulação imobiliária. Todas funcionavam em prédios antigos, que forma vendidos a Walter Cunha, também livreiro mas que fez fortuna com os imóveis, não com os livros, embora fosse um livreiro de porte. Ele mantém uma livraria na rua da Assembléia e, segundo a lenda, tem na Tijuca um depósito com cerca de um milhão de livros" [José Mindlin, in Memórias Esparsas de uma Biblioteca, Escritório do Livro, 2004]

Fotos: Cláudio Coimbra e Ernani Duarte que pertencem à Livraria "Mar de Histórias", situada em plena Copacabana. A última é de José Alberto Tomaz Vieira, da Biblio & Arte, especializada em livros e fotos de Portugal.

sábado, 22 de abril de 2006


Parabéns sr. Jorge Nuno Pinto da Costa

O F.c.P. é o novíssimo campeão nacional de futebol. Estes tempos viciosos são, de facto, calamitosos. O edifico inteligente do futebol indígena pariu um extraordinário campeon e com todo o merecidamente, diga-se!

O F.c.P. é bem ministrado de jogadores: contámos para aí 2 ou 3 de reputada validade futebolística. Entre eles o melhor guarda-redes do Mundo e, cientificamente provado, da cidade do Porto: o jovem Vítor Baía. Curvemo-nos ... mas à cautela. Depois está composto dos mais genuínos e distintos árbitros da paróquia lusa. Parabéns sr. António Garrido. Longa vida! Com assombro piedoso, tem o campeon luso, um enternecido treinador que, caindo no regaço dos associados da Ribeira d'Invicta, confessa ... ter estimado os mimos & outras futilidades tripeiras com que foi, confessamente, agraciado. Assim não há equipas multidisciplinares que resistam. Impressionante, este Adriaanse.

Literariamente (futebolisticamente falando) tem o F.c.P. um rol de devotos intelectuais, dos mais invulgares intelectos nativos, que deslumbram e maravilham nos exemplos de hooliganismo que exalam. Manuel Serrão impressiona. Francisco José Viegas faz inveja. Maria José Rita alenta. Pinto da Costa, esse grande campeon da poesis, está, por seu lado, em toda a parte. E ofusca o poetismo do futebol nacional. Hoje, decerto, nos balneários, leu uma ode elegíaca à Maria Elisa e releu aos incréus a parábola costumeira do apito dourado. Está de parabéns. E nós por ele. Deo Gracias.

O Valor do Livro Antigo em Portugal

Prestes a sair do prelo, direccionada para os amantes dos livros (e com cabedal para isso), está a extraordinária obra, "O Valor do Livro Antigo em Portugal", de autoria de João Figueiredo Pereira e de José Ferreira Vicente.

Nesta publicação, em edição bilingue, curiosa e muito importante, pretende-se apresentar a "valorização do livro antigo de autores portugueses e estrangeiros com publicações de interesse para Portugal. Contém também a mais completa bibliografia dos mesmos autores, alguma vez publicada".

A obra, absolutamente notável, "será publicado em vários volumes, cada um dos quais abordará primeiramente um século". O primeiro volume "trata dos livros e manuscritos de autores nascidos até ao século XVI. Sendo bilingue (português e inglês), destina-se a ser distribuído por todo o mundo". Obra importante para os bibliófilos e especialistas do livro antigo. Consultar on line.
Leilão de Biblioteca - 2ª noite, 27 Abril

Algumas referências da 2ª e última noite: Dedalus, Portrait de l'artiste jeune par lui-même, de James Joyce, Paris, 1924 [1ª ed. francesa] / Portugal Illustrated, do Revd. W. M. Kinsey, 1829 / Historia Politica e Militar em Portugal, por Latino Coelho, II vols / A Barba em Portugal, de J. Leite de Vasconcelos, 1925 / Etnografia Portugueza, Leite Vasconcelos, 1933-88, X vols / Erro Próprio, de António Maria Lisboa, s.d. / Lusitânia. Revista Estudos Portugueses, dir. Carolina Michaellis de Vasconcelos, 1924-27, X numrs / Descripção Histórica e Economia da Villa e Termo de Torres-Vedras, de M. A. Madeira Torres, 1861 / Vários Lotes de Manuscritos (Espólio da Casa dos Condes de Sabugal e Óbidos/ Espólio Tavares Proença / Vila de Serpa / Miguelismo / Rui de Pina: Crónicas de Don Duarte, Afonso V) / Chronica do Muito Alto, e Muito Esclarecido príncipe D. Sebastião ..., por D. Manoel de Menezes, 1730 / Crónica de Palmeirim de Inglaterra ..., de Francisco de Moraes, 1786, III vols / Obras de Alexandre O'Neill (As andorinhas não tem restaurante, 1970 / Persiana para janela de Maluda, 1984, etc.) / Revista Oceanos, nº1 ao nº 49 / Ordenações e Leis do Reino de Portugal publ. 1603, Coimbra, 1774 / Porto Poema da Serra d'Arga, de António Pedro, 1948 / Contos vermelhos, de Soeiro Pereira Gomes, s.d. / Esteiros, idem, 1941 / Praça de Jorna (des. Álvaro Cunhal), 1976 / A Maçonaria, por Fernando Pessoa, s.d (1ª ed. do celebre opúsculo) / Quaderni Portoguesi, vol 1 a 3 (imp. revista para a historia do Surrealismo português) / Desaparecido, de Carlos Queiroz / Jornal do Caso República (recolha de jornais), nº 1 (29 Maio 1975) ao nº 10 / Diálogo entre um padre e um moribundo, do Marquês de Sade, 1959 (ed. Contraponto de Luiz Pacheco) / Historia da Fundação do Real Convento e Seminário de Varatojo, por Manoel Maria Santíssima, 1779-80, II vols

sexta-feira, 21 de abril de 2006


Leilão de Biblioteca - Dias 26 e 27 Abril

Organizado pela Livraria Antiquária do Calhariz, sob direcção de José Manuel Rodrigues, realiza-se nos dias 26/27 Abril, pelas 21 horas, na Casa da Imprensa (rua da Horta Seca, 20, Lisboa) um Leilão de uma Distinta e Valiosa Biblioteca de Obras de Grande Interesse Histórico e Literário, dos Séculos XVI ao XX.

Algumas referências da 1º Noite: Álbum de Cintas de Charutos (princ. sec. XX) / A Scena do Odio, de Almada Negreiros, 1915 / Nome de Guerra, de A. Negreiros, s/d (1º ed.) / Historia da Igreja em Portugal, por Fortunato de Almeida, 1967-71 / Cancioneiro do Ribatejo, de Alves Redol, 1950 / Espólio. [Conto a favor dos Bombeiros de Vila Franca de Xira], de Alves Redol, s/d (raro) / Anais da Academia Portuguesa de História, 1940-59, XIV vol / Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavalaria, de Manuel Carlos de Andrade, 1971 / Mercúrio Philosophico Dirigido aos Philosophicos de Portugal, de Francisco António, 1752 / Arquivo de Bibliografia Portuguesa, dir. Lopes de Almeida, 1955-70, 70 numrs / Asas, de J. Carlos Ary dos Santos, 1952 (1º ed. do 1º livro autor) / Aventura. Revista dir. e ed. por Ruy Cinatti, Lisboa, 1942, II numrs / Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa Machado, 1954-67, IV vols / O Bibliófilo Aprendiz, por Ruben Borba de Moraes, São Paulo, 1965 (1ª ed.) / Cadernos de Poesia (vários numrs e lotes desta import. publ. lit.) / Caliban, revista literária publicada em Lourenço Marques, dir. de João P. Grabato Dias e Rui Knopli, 1971, III numrs / Obras de M. Cesariny Vasconcelos raras e valiosas (Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito, 1961 / As Mãos na Àgua a Cabeça no Mar, s.d. / Burlescas, Teóricas e Sentimentais, 1972 / Jornal do Gato, 1974 / Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, Impr. Libanio da Silva, s.d. / etc...) / Cidade Nova. Revista Cultura Coimbra, 1949-61, 33 numrs / Borda D'Alma Narrando Alusivamente ..., de Ruy Cinatti, 1973 / Obras de Natália Correia (A Madona, 1968 / Aconteceu no Bairro, 1946 / Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, s.d. / Grandes Aventuras de um Pequeno Herói, 1946 / O Encoberto, 1969) / Critério. Revista mensal de cultura, Lisboa, 1975-76, VIII numrs / Tratado de Direito Civil, por Luiz da Cunha Gonçalves, 1929-39 / Ainda, de Saul Dias, 1938 / As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Diniz, Ed. luxo, c. ilustr- Roque Gameiro, s.d. / Centenary 1859-1959 de Sir Arthur Conan Doyle, 1959 / Obras de Eça Queiroz (Contos, 1902 /15 vols da Edição do Centenário das Obras Completas, 1946-48) / Jornal de Critica Literária, por Franco Nogueira, 1954 (ensaios de crit. lit.) (raro) / Graal (revistas). Dir. de António Manuel Couto Viana, 1956-57, 13 numrs / Grifo (imp. antologia org. pelo grupo surrealista de Lisboa), 1970 (raro) / Obras raras de Herberto Helder (Apresentação do Rosto, 1968 / Electronicolirica, 1964 / Flash, 1987 / O Corpo o Luxo a Obra, 1978 / Oficio Cantante, 1967 / Photomaton & Vox, 1979 / Vocação Animal, 1971)

[continua]

terça-feira, 18 de abril de 2006


Uma vela dia 19 de Abril: para que a memória não nos atraiçoe

Lembra-nos Nuno Guerreiro como é frágil a memória dos homens. Como a remissão, muito para além das tremendas paixões de cada qual, dificulta a nossa sempre presumida liberdade. A nossa ilustrada cidadania. O nosso manual de sobrevivência é sempre uma curiosa dissimulação, um temerário retiro argumentativo, sem inteligência, decência, nem memória. Somos todos uns eruditos domésticos, entre os nossos pares.

Tudo isto a propósito da convocação (pois, é disso que se trata) para nos associarmos, sem sacrifício de espécie alguma a não ser o que dita a consciência, à evocação desse ignominioso massacre de judeus, que há 500 anos enlutou a nossa memória. O miserável espectáculo de antanho tolhe a mão, não apenas dos antigos fanáticos mas também dos novos "humanistas". A deserção de alguns revela quão longe ainda está a dignidade do homem. Existem objecções muito menos virulentas.

Acender "uma vela simbólica por cada uma das vítima" dos tempos idos de 1506 é afirmar que ainda não estamos "gastos", entre o desvario da vida e o desespero dos homens. Porque a memória "pejada de memória" assim evocada, sendo trágica e chorada até, não nos vai deixar submersos por novos senhores ou novas causas. Que aí estão à bater-nos porta. Mais cedo que tarde.

[De outro modo, o infame acontecimento assinala, pelo menos para alguns, o começo da decadência do reino de Portugal. A ideia presente, em alguns historiadores, que a razão primeira que originou a posterior expulsão dos judeus (com novas cenas aterradoras, como relata Pinheiro Chagas, na História de Portugal) se deveu à paixão doentia de D. Manuel por D. Isabel (filha dos Reis Católicos, noiva do "malogrado" príncipe D. Afonso), dado ter cedido ao pedido da princesa como consentimento para o casamento, é curioso mas não pode explicar tudo. Mesmo entre a corrente dita tradicionalista ou esotérica (vide António Telmo) persiste a questão. Mas isso é outro assunto, que fica para um dia qualquer, mas que convém, talvez, recordar]

Justificativo contra o aborrecimento ou ditos sobre a ausência

"Depois destas noites frias o sol acalenta.
Faz fumegar alguns ângulos ...
" [Fiame H. P. Brandão]

Estes trabalhos passados que nos confiaram, enfim, cegaram-nos. A liberdade em pecado, ou desejo de bem servir, tem virtudes antigas que nem a caridade do Cardeal Stafford faz tremular. Estamos, decididamente, embriagados de prazer. Olhem, Vossas Mercês, como a água, terna de cuidado, rega o areal. Os festejos, do alvorecer da aurora ao pôr-do-sol descoberto, são purificadores. Semear primaveras não é caminhada poética. Nem repouso estimado. Mas pode ser o jardim da terra, quando a água acode assim ... a modos que cavalgar uma égua. Evidentemente, só para sabedores encartados.

Posto isto, interrompido o veraneio caprichoso da vida boa e que os nobres deputados indígenas há muito promoveram, chegou a vez de socorrer outras missões. Com o desespero de não termos acompanhado (em pormenor & pormaior) os serviços pátrios do inefável Alberto Costa, nem o beneficio escolástico perseverante do prof. Marcelo; forçados, por motivos ínvios, a não acompanhar o alto trajecto futebolístico da equipa do apito dourado (salve, Pinto da Costa!) e não prescrevendo a generosidade do Glorioso no seu abraço continuado à lagartagem d'Alvalade; eis que estamos de volta à paróquia lusitana. E continuamos "senhores do nosso domínio". Bem entendido!

Assim, para não prejudicar, de todo, o efeito visual do cliché acima revelado, para que a noute seja singular & a nossa estremecida ufania musical não desespere e nos não estorva de vez, para cavaleiros ilustrados & conquistadores fulminados, eis, em jeito mui respeitável, a nossa exaltação profana

Stephen Merritt - What a Fucking Lovely DayCastpost

segunda-feira, 10 de abril de 2006


Fundação Calouste Gulbenkian - Hoje, 17,30 m

"Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poema e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem ...
" [S.M.B.]

"Correspondência" entre Sophia Mello Breyner e Jorge de Sena, é apresentada hoje, pelas 17,30 m, na Fundação Gulbenkian, com publicação da nova editora "Guerra e Paz". Um livro purificador, convidativo, único.

Viver é preciso!

"o que me salva a vida, é que cada dia faço pior" [Picasso]

A turba doméstica, sempre mais corpo que espírito e falha de ideias novas, tem em Correia de Campos a sua mais sólida e virtuosa revelação. Este espantoso devoto da pureza da vida & mandatário para o apuramento da raça indígena, anunciou há dias, em espírito de filantropia para afastar o tédio governamental, a viril proposta de "proibir o fumo nos recintos públicos fechados". E para todo o sempre.

Temendo o charivari da canalha, acrescentou Correia de Campos qualquer coisa assombrosa, sobre a necessidade da "defesa dos trabalhadores" (um mimo ministerial, assaz enternecedor) contra a relaxação moral dos fumadores & outros lascivos cidadãos. Com a infabilidade costumeira e os conspícuos zeladores da saúde à ilharga, o prior de Sócrates para a vida eterna, além da reprimenda dada aos vassalos, avançou com o plano espirituoso de abrir excepções, neste seu vigoroso exercício contra os pecadilhos do tabaco, dizendo que em áreas com mais de 100 m2 "poderá haver áreas de fumadores desde que separadas fisicamente das restantes". Excelente o humor da personagem.

O ministro instruído do bem, deliberadamente esquece que não lhe compete controlar a vida pessoal do gentio, já que para isso existem os Costa (António & Alberto). E, se em inteligência graciosa & inebriante anda saudoso dos bons tempos do cantado "mercado" mui liberal, só tem de reconhecer que o empresário privado terá todo o direito a escolher se pretende que o seu estabelecimento seja frequentado por fumadores ou por não-fumadores. E os consumidores farão o resto. Mande, pois, com toda a ambição na esfera pública do Estado e deixe a ruína para os íntimos. Para que a sua presumida legislação tenha algum sentido pedagógico.

terça-feira, 4 de abril de 2006

segunda-feira, 3 de abril de 2006


Parabéns à Bomba Inteligente!

"porque o teu aniversário é muito mais que vinho
é um copo já cheio da colheita do meu linho
vou beber ...
" [Dórdio Guimarães]

Somos habitués, aqui onde a casa dorme. Em mansidão. Por isso, corre-nos o teclado no fulgor dos dedos. Que as mãos não se enganam. E navega-se no incêndio destes céus agora perdidos, ao encontro do rumor de espaços sonhados, nunca esquecidos. Dias tranquilos, perfumados & antigos. Um lugar simples porque transparente.

Nós não trocamos a fúria dos tempos, lume incerto ou amargor clandestino, por toda essa bondade da vida, generosidade do olhar, esse descanso de corpo. Por isso, nestes 3 (três) anos da Bomba Inteligente, de muito merecimento, se envia um ror de felicitações. Parabéns!

No Dia do Falecimento de Agostinho da Silva [m. a 3 Abril 1994]

"Não sei já, Caterina, se és chinesa
ou se Índia te tomou e és indiana
ou de ébano te vejo se africana
ou se és eternamente portuguesa
e sendo portuguesa a todas tens
porque em ti, Caterina, eu amo o mundo
e para assim te amar nele me fundo,
sabendo que o meu bem é não ter bens,
que a minha maior posse é não ter nada
e com tudo eu estar já sem saber
se morto vivo ou vivo de morrer
"

[Agostinho da Silva, De Camões a Natércia, in jornal Quinto Império, nº6, 1991]