Passa por mim em Bruxelas
"
Tenho uma ligeira oscilação quando ando, até uso uma bengala" [
A. O'Neill]
Os altíssimos dias deste final d'
annus horribilis deu para assistir à récita pública do
Eurostat, sempre fidelíssimo nos 3% e em demanda de défices excessivos, e ao espalhar da fúria, flagelo e dedicação sublime de
três admiráveis personagens da lide política doméstica. Fala-se, evidentemente, de
Santana Lopes,
Bagão Félix e
Vítor Constâncio. Dir-se-ia que não nos deixam dar graças às festividades sem qualquer martírio confesso. Estranha forma de vida em que os dotes políticos são completados pela sacrossanta oratória.
A
governação está em padecimento de corpo. O que, hoje, foi dado assistir em conferência de imprensa é verdadeiramente espantoso. Fora ninguém ter entendido o porquê da prece mediática, dado não se ter apresentado nada de substantivo, fica-se a saber que em vez da literatura económica e financeira os
governantes preferem os jornais, mesmo que estrangeiros. Qualquer dia ainda os apanhamos a ler a
Maria, o
Record ou as crónicas do
Delgado. Por fim, a dupla
Lopes & Félix, em alegre coligada apresentam-se como arrependidos, prestam perjuro ao saudoso
PEC. Como os desamparados do
Barrosismo andam com amargos de boca, descontentes pelo seu sacrifício!
O mistério do défice, a perfeição orçamental, a tabuada contabilística, comove qualquer indígena.
Santana Lopes, um crónico incompetente consciente, generoso na sua sabedoria, imolou-se na miséria da mercearia
Ferreira Leite. Como desconhece o que quer que seja, acreditou em tudo, seguiu «
o Cherne». Pois se todos os extraordinários economistas e olheiros orçamentistas laranjas abraçavam a bondade das medidas do seu amigo
Barroso, porque razão se haveria de verter lágrimas?
Bagão Félix, o pudibundo cristão do orçamento cheio de graça, faz testemunho de ideias mal arranjadas e, num admirável discurso, dá uma valente sova no talento alemão. Inolvidável. Ligeiro, o despachante do
Banco de Portugal, de nome
Vítor Constâncio, revela o espírito do provado funcionário público: na
falta de patrão, não há receitas extraordinárias para ninguém. No tempo da senhora
Ferreira Leite é que era, suspira o piedoso economista. Mas afinal, o que seria uma Nação sem estes talentos bizarros? Pode-se saber?