quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
Geração Rasca
Os episódios políticos, a crise laudatória e a cacofonia destes dias não têm nada de empolgante, nem de virtuoso. A estratégia política foi há muito exumada e nem a língua de trapos, destas semanas, pode servir de paródia a quem quer que seja. Os disparates em série de um conjunto de homenzinhos da classe política, et pour cause seguido de chacota bem humorada, evidencia o que muitos referem sem mistério: estamos perante uma classe política rasca, que sem se saber porquê veste a farda da governação e usurpa o poder. Não há memória de tamanha obscenidade. Custa acreditar em tão desabridos acontecimentos.
A singular arribação destes novíssimos gestores governamentais tem de ter alguma explicação sob pena de estarmos decisivamente condenados. Sabia-se que a invasão do aparelho político era prometedor para quem tem da administração a vaidade de subir de vida, sem aborrecimento pelo trabalho, com um perfil e preparação técnica tacanha e grotesca, sem esforço intelectual ou ético visível. Sabia-se que quase todos lá chegam, unicamente, via benesses político-partidárias. Mas ninguém pensou, decerto, que estávamos a assistir à sua massificação, no meio de uma algazarra extravagante e perturbadora.
O desaire do exercício presidencial do dr. Sampaio; a declaração conjunta de Lopes & Portas em bom estilo pimba, embuçados em juras d'amor até ao espinote final daqui a dias; as atabalhoadas e vergonhosas afirmações do santanista Paulo Pereira Coelho, em excelente prosápia do que foi a atmosfera destes anos de jogos florais em terras figueirenses; as fantasias desafinadas de Bagão Feliz quanto ao deficit, aos agentes financeiros e ao pessoal indígena; as maquinações condimentadas de Morais Sarmento; as lamúrias improvisadas de Dias Loureiro; as tiradas vazias e torpes do afadistado Pires de Lima Filho ou as cogitações de Nuno Thomaz; são apenas a ponta do iceberg. Porque o aparecimento deste rebanho de novos políticos na pista governamental é o mais singular testemunho do desastre nacional. E que irá perdurar por tempos intermináveis. Como alguém já disse, "a ignorância é muito atrevida". O abismo aí está.