sexta-feira, 10 de dezembro de 2004
Futebol & democratas-a-dias
É necessário muito desvelo e gratidão para encontrar um democrata em todas as horas. Nós incluídos. O desprazer que inunda as almas dos fanáticos do futebol indígena, lá para as bandas das Antas, torna-se afinal num incómodo civilizacional.
O modelo de virtudes que o patriarca Jorge Nuno Pinto da Costa provoca nos democratas-a-dias é um ornamento beato que anima as hostes azuis e brancas, principalmente nos intelectuais enérgicos e na populaça doméstica, uma idolatria obscena, uma golpada na cidadania. Que imaginação rica. É bom seguir as delicadas tiradas e atestados, ou os opiniosos protestatórios dos sempre assombrosos intelectuais lusos, sempre lestos a autopsiar os males da Nação e a compor hossanas ao bom governo, em defesa bem humorada, sem amargos de boca, da situação decorrente do caso Apito Dourado.
Sousa Tavares exibe o crachá de padroeiro das Antas, enquanto Lobo Xavier despeitado do seu tirocínio de fiscal da SAD faz figas ao mau-olhado. Os amotinados socialistas da cidade do Porto, com o avantajado Nuno Cardoso com vestes de honestidade à la mode, estão em todas. A rapaziada da direita, dita liberal, não aceita os regulamentos jurídicos, muito menos o intervencionismo do Magistério Público, que o Papa será sempre o delegado imaculado na Naçon.
As malfeitorias, evidentemente, estão sempre mais abaixo ou mais acima do território das Antas. A nossa cruz, é bom de ver, estará confinada aos casos de pedofilia, um ou outro aeroporto de Macau, dois ou três presidentes de Câmara com proficiência de empreiteiro, ao acompanhar da mão fatídica que desassossegou os financiamentos dos partidos, à comiseração dos que se esqueceram dos impostos, aos encantamentos reflexivos de Pires de Lima Filho, ao verbo de Nuno Thomaz, ao fato do Paulinho das Feiras, à inteligência cerrada de Guilherme Silva, à prosa de César das Neves e ao espírito em pessoa do boxeur Morais Sarmento. O resto, o resto ... são almas arrependidas.