segunda-feira, 13 de dezembro de 2004


[Pechinchas]

"... Perguntar a um bibliófilo quanto ele pagou por um livro é uma indiscrição, mas perguntar quanto vale é pedir uma informação. Não se chame novo-rico àquele que lhe disse logo quanto pagou por um belo exemplar. Geralmente, é porque pagou barato e tem vaidade de ter feito uma pechincha. Os pechincheiros muito vaidosos chegam até a diminuir o preço que pagaram. Há, também, os que pensam valorizar seus livros, aumentando o custo. São os vaidosos espertos que só enganam os leigos.

É curioso notar como, ente os bibliófilos, há muita gente sovina. São, geralmente, os mais ricos. Talvez haja no coleccionador um instinto de posse mais agudo que no comum dos mortais. Talvez, até a bibliofilia seja uma forma de avareza. Mas, é uma forma especial: o coleccionador apaixonado não dá valor ao dinheiro, mas ao objecto. É, talvez, por isso que todo o bibliófilo goza duplamente um livro, quando o compra barato. A ambição de muito bibliófilo é fazer pechincha. É unir o prazer de possuir, de entesourar, com o instinto recalcado de gastar o menos possível. Esse prazer é tanto maior quanto mais difícil está se tornando essa realidade. É muito difícil fazer reais pechinchas hoje em dia. Os livreiros estão ficando muito sabidos ..."

[Rubens Borba de Moraes, in O Bibliófilo Aprendiz, 1975 (2ª ed.)]