sábado, 30 de dezembro de 2006


O melhor e o pior de 2006

"No princípio era a imprensa e depois apareceu o Mundo" [Karl Kraus]

Somos, como diria Eugénio de Andrade, "folhas enormes onde dormem/aves de silêncio e solidão". Por vezes pregamos de nós para nós, outras para todos. Quebrar o silêncio do ano, eis o nosso ruído. Acostumamo-nos, bem demais diga-se, quer ao teatro do mal quer ao outro que nos vai ocupando a torrente da alma. Pura maledicência de espírito. Podem crer!

O testemunho que em cada final de ano (annus horribilis, por sinal o de 2006), o Almocreve das Petas regista em oratória profana, vem por aí. Embaraçando algum orvalho mais nocturno, avistamos o que soubemos contemplar. E foi tanto que nos enrubesceu de zelo e gratidão. Mas (oh! horror!) o ancien régime está de volta. Dá para ver a lama que traz. Temos foto, a comprovar.

Neste espantoso annnus horribilis não existe, por isso, indulgência para ninguém. Listamos os melhores colunistas, bloggers, blogs nacionais e internacionais. Chamamos à pedra os que na literatura & na música foram brilhantes e virtuosos. Mas também, a bem dos atavios da não-lisonja (a que alguns, com piada, chamam intolerância) arrolamos os piores colunistas, atascados agora no Socratismo melífluo, os vendilhões de papel, os novos censores. É a hora! Cansados que estamos de tanto gorjeio aos indígenas, não caímos no tédio ou na agonia. Ripostamos e tocamos os sinos. Para que conste.

Boa noute

Almanaque Republicano - Actualização

No Almanaque Republicano, cada vez mais farto & prendado, temos em sortido de final de ano e para ledores estimados, curiosos e pouco suspeitosos:

a revista Alma Nova (Publicação mensal ilustrada de Moral, Critica e Literatura); retrato de João Chagas; biobibliografia de Elias Garcia; uma (terna) recordação de D. Manuel II; noticias, novas & lugares de publicações periódicas digitais on line; a capa da Constituição Política da República Portuguesa votada em 21 de Agosto de 1911 pela Assembleia Nacional Constituinte; continuação do registo de bibliotecas digitais on line; foto da Árvore de Costado d'El Rei D. Manuel II - linha paterna (Braganças); post sobre a Imprensa Periódica Portuguesa - notas bibliográficas I e II; gravura do Projecto de Bandeira de Portugal, por Guerra Junqueiro; um curioso Diploma de Sócio da Associação de Socorros Mutuos dos Artistas de Coimbra, de 1930; post sobre a escolha a fazer (segundo a tradição blogosférica) dos melhores Livros sobre História Contemporânea de Portugal saídos neste ano; fotografia da Livraria Sá da Costa, em 1913; a escolha do Almanaque Republicano dos 10 Livros da Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2006; a justificação das escolhas feitas.

A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!

Saúde e fraternidade

"There was never a good war, or a bad peace" [Benjamin Franklin]

Discípulos do horror

"Não se pode estar e ter estado. Mas é possível ter sido um imbecil e continuar a sê-lo" [Léon Bloy]

O esforço de meia dúzia de pulhas internacionais louvando publicamente o assassinato de um homem execrável, é o sinal dos tempos que aí vêm. E que nos condena a todos, espectadores obrigados. O insulto desses sádicos animais de duas patas - que coabitam entre nós tricotando o dernier cri civilizacional & a última moda de abraço democrático (como as nauseabundas figuras ali em cima) - enlameia a (ainda) existente humanidade e é de uma gravidade sem precedentes.

Higienicamente deviam, dado a pungentíssima dor que exibem com as vítimas do criminoso Saddam Hussein, entregarem-se todos à justiça (dos homens e não só divina) porque o ditador não esteve sozinho nessa monstruosidade.

Faça um esforço, caro leitor: quem estava na administração americana, que em 1963 apoiou e fomentou o partido Baas no golpe de estado feito no Iraque, no que resultou o assassinato de milhares de cidadãos? Que fez correr Carter e os acólitos europeus ao terem dado "luz verde" para a carnificina de um milhão de pessoas, na guerra Irão-Iraque? E depois quem vetou (pst! ó amigos do adorado Ronald Reagan) o bloqueio e a condenação do criminoso Saddam, quando da chacina dos curdos em 1988, afirmando, de modo infame, que tinham sido os iranianos? E que disse o governo francês na altura? Afinal, quem queria proteger o inefável sr. Rocard, quando a opinião pública tecia horrores sobre esse acontecimento? Onde estavam vocês todos, ó engenhosos democratas? E vós também, ó pudicos cidadãos que trazem Bush na lapela, onde estavam? Ainda sabem!?



Saddam Hussein [sem comentários]

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

CONVERTA-SE!



Converta-se!

"Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direcção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem"

[Oswaldo de Andrade]

LETREIRO À MANA DO RIO



"Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo" [Barão de Itararé]

Não temos esclarecimentos maiores a confiar, mana. Esta que aqui vai, ao jeito de Sô [Machado] Assis, só quer "fazer apetite para o chá". Agora que a noute por aqui se esvai, de tão assoprada foi de malandragem, ficamos sem ordem, sem pranto e, acontece mesmo, sem "chopes". Bem sabes mana que sobrenascemos aqui, desconsolados, a ver-o-mar morrer. Este ano a alma perdeu-nos o corpo, não fizemos travessia. Este ano, não!

Por isso, em martírio por privação de encantamento, te mandamos saudades e esta foto da feira do livro do Carioca, desse Rio sensual, secreto de vida e de amores curtos, devasso de boémia, ditado que nos foi desdoidar na velha Lapa (ainda sussurra o Édipo-Rei? me manda um livro da Lapa ... mana! com chorinho e tudo). Me dá notícias, que a vida aqui é pouco mestra. E como te marquei no Ouvidor, em tarde de fundura e diabo no corpo ... a

"vida é sorte perigosa
passada na obrigação:
toda a noite é rio-abaixo,
todo dia é escuridão ...
" [M. Assis]

Licença, mana! Me conta tudo para quebrar estes ferros de fim de tudo, eu que esbarrei no Leblon (eu ia) e fiquei logo sério a ouvir aquela fala misturada: "nasci devagar / sou é muito cauteloso" [G. Rosa]. Me dá alegria, mana. Me dá alegria!

Felicidades

FELIZ ...


Feliz ...

"... é o meu amigo: comprou uma cadeira de balanço e está na fase de namoro com ela (...) Deve ser cômodo ler um jornal em cadeira de balanço. E além do mais, já estou na idade de descansar"

[Carlos Drummond de Andrade, Cadeira de balanço]

sábado, 23 de dezembro de 2006

FELIZ NATAL


Feliz Natal

"Porque os caminhos são longos
E os carreiros que a eles vão dar são misteriosos
A razão atraiçoou-nos.
Pensámos que Deus dera o dever de desprezarmos:
A noite sem estelas cobriu-nos
Enquanto o Senhor se mostrava a cada esquina.
Misterioso como príncipe encantado"

[Ruy Cinatti, Nós não somos deste mundo, Ática, 1960 - desenho da Missa do Galo, Açores, in Alma Nova]

HOJE ... ANDAMOS ASSIM!


"Deixem-nos trabalhar" [Cavaco Silva]

"Do peru, está tudo dito. Elefante de aviário, o peru não aguenta mais apodos. Podemos, no entanto, garantir que o peru rupe, que não é mau com puré e que, embora prue, morre muito com urpe.

O melhor peru é o do vale do Epru. Mas não paga a pena mandá-lo vir de lá. Chegaria a vossas casas sem aquele 'repu' que o caracteriza. Podeis, perum, supermercá-lo: vitaminado, vacinado, pesado, congelado, embalado, carimbado, comprovado.

Aproveitai, no presente de Natal, este superperu, que, para o ano, vendê-lo-ão já mastigado, em bisnagas cheias de préu."

[Alexandre O'Neill, Peru, 1981]

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quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

PRENDAS DE NATAL


V. Excia deseja um presente evocativo, que trespasse de pavor e frémito o seu amigo(a) ou familiar, sem pieguices e absolutamente expressivo de virtudes humanas? Pois, V. Excia, tem à sua disposição uma oferta única e desenganada: uma TV admirável de modernidade. Na compra leva inteiramente grátis o génio (e as faces) do ilustre bando dos quatro. Numa loja perto de si. Stock limitado.

PS: não dispensa o prazer da leitura do prospecto, com assinatura Luís Amado.

O CORAJOSO ENG. SÓCRATES


Hoje foi dia de exposição política. No cadeiral de S. Bento não houve tumulto nem sedição alguma. Não vimos isso, nem haveria arrojo para tanto. O anfiteatro dispensa tais delírios, aliás respeitáveis, quando se está de governo e se tem convivas defuntos. Naquela casa de fadas, o eng. Sócrates, semeado de rosas pela bancada da União Nacional, celebrou, ex-ante, a missa natalícia.

Ao seu lado direito, a cópia estava sorridente, grato de assunto, mesurando o dever de escrivão. Impecável, Silva Pereira revela nos olhares a entusiástica admiração pelo governador da paróquia. A inclinação, astutamente para a esquerda, era encomendada pelo dr. Santos Silva. Do lado direito do engenhoso leader, disfarçado de ministro, estava a cabeça das corporações académicas, o senhor Mariano Gago. Reputado e saudável. Enquanto isso, a ala esquerda do partido rosa no governo, sem forças e sem verve, passeava cabisbaixa pelos Passos Perdidos. Entretanto, Marques Mendes não atinava com a prosápia do abominável Sócrates. O homem não se levanta, mesmo quando a agremiação do governo se deleita com inenarráveis salazarices. E lá correu a soirée, entre aclamações, vivas e olés.

Esta posta não ficaria sugestiva se, para nossa glória e bem à maneira do espiritualíssimo Bettencourt Resendes, não registássemos o memorial do eng. Sócrates. Este, em resposta a uma malvadez qualquer da canalha da oposição, e mal tomando a cadeira do discurso, logo avisou, com autoridade, ambição e insolência, que era corajoso. Muito corajoso. Retorcidamente corajoso. Bravo como um soldado. Era a primeira vez que um primeiro-ministro adulava e tomava por suas as palavras dos Bettencourts Resendes. Tal empréstimo será doravante a bula Socrática. Não há nenhuma ERC ou ERSE, qualquer ministro Manuel ou Pinho, ou até mesmo um simples secretário de estado, que faça cair a soberba lúcida & grotesca do eng. Sócrates. Coisa de pasmar!

BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!


O Almocreve das Petas

Cumprimenta e saúda os Seus Fornecedores e Amigos e anuncia-lhes que tem à sua mercê um estimado sortido de livralhadas para brindes de Natal e Ano Novo.

Aproveita a ocasião para desejar aos estimados Fornecedores votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo.

Saúde e fraternidade

PS: foto da Livraria Barateira (Lisboa), graças à qual temos vindo a construir uma vida farta, copiosa e saudável. Graças!

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

ANÚNICOS GRATUITOS


O rato de automóveis não se reforma como o rato de hotel

Ao volante do Supercarro, o rato Super-Homem espatifou-se. Antes de morrer, chamou pela mãe.

«Tira a pata!» disse um rato que encontrou outro rato a roubar o seu automóvel. Brigaram. A cem metros, um guarda-nocturno tilintava as suas chaves.


[Alexandre O'Neill, Dos ratos e dos Carros]

CONSELHOS AO MORDOMO


"Se servir as bebidas, tenha maior cuidado em poupar trabalho, assim como a garrafeira e os copos de seu amo. Por isso, como se pressupõe serem amigos todos quanto jantam à mesma mesa, faça com que bebam pelo mesmo copo, sem o lavar, o que lhe evitará muita canseira, assim como a possibilidade de os partir (...)

Limpe as pratas, esfregue as facas e sacuda o que estiver na mesa com os guardanapos e as toalhas que tiverem servido, na altura, porque nem sempre é dia de lavagem, além disso poupará os esfregões e, como recompensa de tanta economia, acho que o mordomo pode, com toda a legitimidade, usar os mais lindos guardanapos como gorro de noite (...)

Mandam-lhe decantar uma garrafa suspeita? Quando estiver aí a meio, dê-lhe uma sacudidela a preceito e mostre, num copo, que o conteúdo começa já a aparecer turvo (...) [meta o dedo em todas os gargalos, para ver, se as garrafas estão cheias; é o método mais seguro, porque nada há como o tacto]

Quando, meu caro mordomo, um convidado se retira, tenha a preocupação de se pôr bem à vista e de o acompanhar até à porta, e, assim que tiver oportunidade para isso, fite-o bem na cara, com o que poderá ganhar um xelim (...)

Feche, todos os dias, um gato, no compartimento onde se guardam as porcelanas, não se dê o caso de os ratos se meterem lá dentro e escaqueirarem a louça toda (...)

Amole as costas das facas de modo que cortem tanto como o gume; isto terá a vantagem de os convidados poderem experimentar o outro lado se lhes parecerem embotadas; e para mostrar que se não poupa a afiar facas, passe-as tanto que gaste boa parte da lâmina e até mesmo o punho de prata. Isto aumentará o bom nome de seu amo, como indício de casa bem governada, e o ourives poderá, algum dia, ter consigo uma lembrança

[Jonathan Swift, in Preceitos para uso do pessoal doméstico, Estampa, 1979. Nota: sublinhados nossos]

REVISTA PRELO



"pensar no presente, na certeza de que nenhum passado chegará para redimir a sua eventual omissão ou incapacidade, mas convictos também de que aquilo que foi antes interroga e de algum modo responsabiliza o que é hoje"

[Prelo nº1, Outubro, 1983]

Estimada revista (trimestral) da INCM, publicada a partir de 1983 (agora na sua III série), sob direcção inicial de Diogo Pires Aurélio.

domingo, 17 de dezembro de 2006

ANÚNCIO



Aviso totalmente gratutito:

Informam-se os nossos estimados Leitores e as nossas Ledoras (de paixão) que o ab(uso) do Governo faz mal à saúde e provoca impotência. Havendo o propósito de andanças mui alevantadas ou de entretimentos mui destemperados, é mister que tudo o que seja "sotto coperte" o seja pouco suspeitoso. Eis a boa doutrina.

Boa noute!

sábado, 16 de dezembro de 2006

EX-LIBRIS



Ex-Libris

CATÁLOGO DE LIVROS


Catálogo LVI da Livraria Moreira da Costa

Saiu o Catálogo LVI da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30 - Porto). Peças esgotadas, algumas raras. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Os Intelectuais Galegos e Teixeira de Pascoaes. Epistolário, por Eloisa Alvarez, 1999 / Annaes da Sociedade Promotora da Industria Nacional (contém listagem dos seus membros, em 16 de Maio de 1823), Impr. Nacional, 1822 / A Arte Popular em Portugal (dir. de Fernando de Castro Pires e Lima), Verbo, VI vols / Estudo de Clínica Therapeutica das Aguas d'Entre-Os-Rios, de A. M. Sousa Baptista, Porto, 1915 / O Rancho de Carqueja, de António Francisco Barata, Coimbra, 1864 / Diccionario Chorographico de Portugal ..., por E. A. de Bettencourt, Lisboa, 1874 / Boletim do Instituto de Angola, 1953 (nº1, Jul-Ag-Set. 1953) a 1960 (nº 14, Jul-Dez) / Bulletim des Campagnes Scientifiques, de D. Carlos de Bragança, 1902 / Os Lusíadas (com pref. Hernâni Cidade), Artis, 1956 / Leitura para letrados, pelo Visconde de Carnaxide ("compreende a presente colectania determinadas teses juridicas"), Coimbra, 1925 / Tratado da Propriedade Literária e Artística, pelo Visconde de Carnaxide, Porto, 1918 / O Dólmen da Barroza, pelo General Mesquita Carvalho, Porto, 1898 / Dispersos de Camillo, por C.C.Branco, 1848-1852, V vols / A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre, de Leonardo Coimbra, 1935 /Problemas da Economia Nacional, de Constâncio Roque da Costa, 1909 / Questões Económicas, Financeiras, Sociaes e Coloniaes, por C. Roque da Costa, 1916 / O Anno Politico (1896), de Fernandes Costa, 1897 / In Memoriam de Ferreira de Castro, Braga, 1976 / L'Hypnotisme, por Gilles de La Tourette, 1887 / "Livro das Communas" [trilogia: o parocho (com pref. Camilo), o mestre-escola e o administrador], por Roselly de Lorgues, 1868 / Diccionario Geographico Abreviado de Portugal e suas Possessões Ultramarinas, por Fr. Francisco Dos Prazeres Maranhão, 1852 / Promptuarium Juridicum, P. Bento Pereira, 1664 / Código Pharmaceutico Lusitano, de Agostinho Albano da Silveira Pinto, 1858 / Carta Directiva, por Affonso dos Prazeres, Coimbra, 1765 / A Velha Casa, por José Régio, 1945-1966, V vols+1 vol (Vidas são Vidas, rascunho do 6º romance)