sábado, 6 de setembro de 2003

ATENTADO POÉTICO

[Via Collectanea] – "Libere um LIVRO! Na manhã de 11 Setembro 2003 não se esqueça de sair munido de um livro que seja importante para você. Um livro que tenha mudado sua maneira de ver o mundo. Escreva uma dedicatória... e o libere!
Libere-o na via publica, sobre um banco, no metro, no ônibus, em um café ... a mercê de um leitor desconhecido. E você? Adotará um livro que esteja em seu caminho? O dia 11 Setembro não será mais um aniversário fúnebre pois iremos transformar essa data. Juntos, transformaremos esta data em um ato de criatividade e generosidade. A mobilização será geral em Bruxelas, Paris, Florença e São Francisco. Vamos fazer isso também em nossas cidades aqui no Brasil. Nessas cidades, um grupo de escritores, de toda confissão literária, liberará seus livros, em lugar público.
Engaje-se nessa ideia também!
E faça circular essa informação"

Na TSF pode ler-se (e ouvir): "Um grupo internacional de poetas, editores e artistas propõe-se executar um atentado poético cuja arma é a literatura. O objectivo é assinalar o segundo aniversário do 11 de Setembro. Uma das iniciativas para marcar o 11 de Setembro organizado por um grupo internacional de poetas é espalhar milhares de livros por zonas públicas, livros marcantes que contribuíram para mudar formas de pensar, que honrem a liberdade do homem e celebrem a memória das vítimas de todos os atentados.

O poeta Pedro Tamen, em declarações à TSF, disse aguardar com expectativa este «atentado» : «Espalhar livros é sempre uma coisa boa, seja lá como for ou com que intenções, só merece aplausos, mas o que mais me impressiona é o lado provocatório do acto, de provocar o cinzentismo da vida quotidiana com algo de inesperado que ainda por cima se faz com um objecto que cada vez menos é procurado», afirmou, Tamen.

O poeta Albano Martins acolhe com surpresa esta iniciativa: «A poesia em principio não é um atentado, não se apresenta como uma agressão, pelo contrário á algo que suaviza, por isso a ideia merece alguma reflexão», disse. No entanto, Albano Martins considera importante honrar a liberdade, «a poesia é sempre um acto de liberdade, nesse aspecto é uma ideia bonita», acrescentou.

Um atentado poético a acontecer de Bruxelas a Florença, de Paris a São Francisco às 13:46, dia 11 de Setembro, na hora do embate do primeiro avião contra uma das torres do World Trade Center, em 2001."

sexta-feira, 5 de setembro de 2003

FIDELIDADE


Fidelidade

Creio no homem. Já vi
Dorsos despedaçados a chicote,
Almas cegas avançando aos saltos
(espanhas a cavalo
de fome e sofrimento). E acreditei.
.............

[Blas de Otero]

DUELOS IMPREVISTOS


Recordo-me sempre daquele dito de Pessoa, "basta a quem baste o que lhe basta /o bastante de lhe bastar", quando apanho o João César das Neves em alegre e desembaraçado debate. Hoje, por mero escapismo, apanhei-o num duelo (Sic noticias) frente ao perigoso gauchiste Louçã. Apesar do belíssimo gesticular do nosso professor, até agora não entendo como é que tão luminoso intelecto atingiu tão esforçada cadeira (económica, diga-se). Bem sei que o seu Manual de Introdução a Economia se lê obrigatoriamente em todas as cátedras, vende-se como pãezinhos quentes, pelo que deve ser de muito estimação. Mas sei, do mesmo modo, que há que fazer restrições a idiots savants, principalmente quando se preocupam (mesmo em ciência económica) somente com o seu próprio interesse sem que alguma vez questionem também o prazer que se tem com a felicidade dos outros (Smith, sempre). Ora, é o caso de JCN. Supondo, na sua inocência, que está frente a uma plateia de leitores do CM, da Maria ou do Record, teima em dar explicações populistas em torno do deficit e do PEC, sem qualquer capacidade de análise e de predição. Enquanto o seu colega de debate (Louçã) remetia para a análise económica (boa ou má, é indiferente), imediatamente o divino professor calçava as chinelas para discursatas no mercado do povo. O alegre autor de "O Estranho Caso do Livro de Economia", fechou-se economicamente por dentro e esqueceu-se da chave.

Sobre o assunto da comunicação económica (afinal, uma metacognição) e da necessidade das "mentiras ou falsidades" sustentadas por governos (como JCN defende a bem da Nação) em períodos (não)eleitorais, ver:

Algumas observações sobre a metodologia em economia (Sousa Andrade) – GEMF

As teorias de Ciclos Políticos e o Caso Português (Rodrigo A. Martins) – GEMF

[NOTA] Espera-se, e nada nos move do contrário, que dia 11 de Setembro, o programa Duelos Imprevistos seja excelente. Dois óptimos comunicadores: Mário Soares e José Pacheco Pereira. A seguir.

quinta-feira, 4 de setembro de 2003

ITE, MISSA EST



A Reynaldo de Rafael.

Yo adoro á una sonámbula con alma de Eloísa,
Virgen como la nieve y honda como la mar;
Su espíritu es la hostia de mi amorosa misa
Y alzo al són de una dulce lira crepuscular.

Ojos de evocadora, gesto de profetisa,
En ella hay la sagrada frecuencia del altar;
Su risa es la sonrisa suave de Monna Lisa,
Sus labios son los únicos labios para besar.

Y he de besarla un día con rojo beso ardiente;
Apoyada en mi brazo como convaleciente
Me mirará asombrada con íntimo pavor;

La enamorada esfinge quedará estupefacta,
Apagaré la llama de la vestal intacta
Y la faunesa antigua me rugirá de amor!


[Rubén Dario]

ARRUMOS & PAPÉIS

Tomamos o pouso nas arrumações. Decidimos levar à prática o que Eluard nos disse: sem ordem nem desordem. E assim será. Estamos cada dia mais caprichosos. Pegou-se em papelada, docemente depositada em caixotes (... não os que o Cesariny falava, entenda-se), e com um brilho nos olhos tomou-se as notas devidas, com arte. Entretanto abalroámos uma Cartuxa de 90, ali mesmo à mão. Tarde de glória. Soubemos logo que o bridge nocturno era nosso. Errámos ... mas foi por mau uso do carteio e excessiva verbosidade. Temos noutes!

Uma folheca manuscrita, que alguém com amor desvelado copiou (?) do original (supondo-se que seja verídico), parte de um curioso Acórdão, foi entretanto descoberta. Porque a folha começa a ficar pouco limpa, bastante cansada pelo manuseio e com picos de humidade preocupante, háverá que salvá-la.

[Acordam da relação do Porto de 11 de Novembro de 1793 sobre a contenta do cano das Freiras d'Amarante com os Frades da mesma Vila]

"Acordam em Relação, vistos estes autos, etc.
As autoras, D. Abadessa, Discretas e mais religiosas do Real Convento de Santa Clara de Amarante, mostram ter um cano seu próprio por onde despejam as suas imundices e enxurradas, o qual atravessa de meio a meio a Fazenda dos Frades dominicos da mesma vila.
Provam elas autoras a posse em que estão de o limpar quando precisam. Os réus prior e mais religiosos do Convento de S. Gonçalo, assim o confessam e se defendem dizendo: que lhes parece muito mal que lhes bulam e mecham na sua Fazenda sem ser à sus disposição; que conhecendo a sus necessidade da limpeza do cano das Madres tinham feito unir o seu cano ao delas para mais facilmente se providenciarem as cousas, por cujo modo vinham a receber proveito.
Portanto e mais dos autos; vendo-se claramente que aquela posse só podia nascer do abuso; vendo-se mais a boa vontade com que os réus se prestam e obrigam a limpar o cano das Madres autoras e que outrossim da união resulta conhecido beneficio, conclue-se visivelmente que tais duvidas e questões da parte das autoras só podem nascer de capricho sublime e temperamento ardente que precisa mitigar-se para bem d'ambas as partes.
Pelo que mandam que o cano das Freiras autoras seja sempre conservado corrente e desembaraçado, unido ou não unido ao cano dos réus, segundo o gosto destes e inteiramente à sua disposição, sem que as Freiras, autoras, possam intrometer-se no dia e hora nem nos modos ou maneiras da limpeza, a qual desde já fica entregue à vontade dos réus, que a hão-de fazer com prudência e bem por terem bons instrumentos seus próprios o que é bem conhecido das autoras que o não negam nem contestam.
E quando aconteça, o que não é presumível, que os réus, de propósito ou por omissão, deixem entupir o cano das autoras, em tal caso lhes deixam o direito salvo contra os réus, podendo desde logo governar na limpeza do dito seu cano, mesmo por meios indirectos e usando de suspiros, ainda usando do cano dos réus, precedendo primeiro a uma visturia feita pelo Juiz de Fora com assistência de peritos louvados sobre o cano das autoras ...
" [não se entende a parte final]

quarta-feira, 3 de setembro de 2003

ANTÓNIO SÉRGIO (1883-1969)

n. 3 de Setembro de 1883

Nasce em Damão (Índia), pertenceu à Renascença Portuguesa (de Teixeira de Pascoaes), colaborou na Revista Águia (fundada por Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Álvaro Pinto e posterior colaboração de Fernando Pessoa, Mário Sá Carneiro) que abandonou em 1913 e na Seara Nova (1923), revista doutrinaria e de critica.

Foi pensador, ensaísta e polemista notável. São conhecidas as suas controvérsias em torno do saudosismo e sebastianismo, bem como um conjunto de reflexões sobre temas económicos, históricos, políticos e culturais. Adepto do cooperativismo, de uma educação para um cidadania consciente (como se diria hoje), publicou uma extensa obra em livros, revistas e jornais, sendo de salientar:

- Considerações Histórico-filosoficas (1916); Ensaios (1920); O Desejado (1924); Antero de Quental e António Vieira (1948), Cartas ao Terceiro Homem (1953-57); Um Problema Anteriano, ...

QUESTÕES SOBRE NOTAS A UM COMENTÁRIO

JPP em resposta ao que é lhe é sugerido a partir do Terras do Nunca, revela-nos o que pensa sobre um conjunto de questões pertinentes, algumas das quais já explicitadas noutros locais, concluindo em breve nota existir uma equivalência entre "posições neo - nazis às de partidos parlamentares como o BE". O que consistirá essa equivalência não nos foi avançado, quer pelo TN quer por JPP. Portanto, somos tentados (dado a falta de conceptualização) a pensar que se trata de certezas adquiridas, verdades de propaganda sem qualquer nihil obstat. Ora, nada mais complicado que esse receituário político, assim tomado. Não sendo nosso mister a análise dessa overdose de referencial ideológico-politico, gostaríamos de participar no thread com duas sugestões e comentários:

- ao considerar que pós colapso dos sistemas socialistas de leste se mantêm os mesmos conceitos matriciais rígidos esquerda-direita, relativamente a um centro ele mesmo suposto fixo, não se poderá compreender as profundas mudanças operadas, a questão do poder global/local, a alteridade do jogo politico, e, como tal, cai-se numa escolástica tradicionalista em que não se quer ver o mundo tal como ele é. Onde se situa a 3ª via de Blair ou Clinton? E Guterres, ou Cavaco, onde se colocam? E que dizer dos conservadores alemães e dos que se dizem portugueses? Onde mora a social-democracia portuguesa? Os socialistas? Os liberais? E a esquerda estatista? Ou a esquerda revolucionária?

- o fenómeno da globalização económica ou do espaço globalizado (que só consta como reflexão na cartilha da direita portuguesa a não ser como não-evento) transporta-nos ao sujeito global e assim redefine-se o campus discursivo da esquerda e da direita. Dum lado os "tradicionalistas", do outro os "modernizadores". Questões como a distribuição de recursos, ecologia, o papel dos mecanismos de mercado e do Estado, o ordenamento mundial e o Estado-Nação, a dimensão do espaço privado e público, o papel da comunicação e das novas tecnologias de informação, são linguagens presentes em todo o espectro politico. Como e de que modo se traduzem em politicas? Ora, julgamos que não é possível fazer essa reflexão sempre à maneira antiga, mesmo que o "espectro do marxismo" ande por aí. Para alguns, à maneira tradicional, ainda bem incómodo.

terça-feira, 2 de setembro de 2003

AMICUS FICARIA

Blog Figueirense - Eis mais um blog directamente da Figueira da Foz, o Amicus Ficaria. Com algum tempo no activo, esse mar de gente figueirense, diz-nos que é "o primeiro Blog Figueirense criado para discutir sobre o concelho da Figueira da Foz, o Distrito, a Regiao e Portugal". Coisa extraordinária, assim de repente. Mas, tasse bem. Boa malhação é o que se espera. Cá estaremos para contar.

INCOMODIDADE



"Inferno ...
Inferno é isto tudo!
- com um acto de variedades
e intervalos
para fumar nos corredores"

[Inferno - Joaquim Namorado, in "Incomodidade", Coimbra, 1945]

- o processo Casa Pia é incómodo, altamente perturbador, mas revela ao mesmo tempo uma característica do português, o de ter uma "imaginação excessiva" (F.P.). Entusiasmados pela miséria alheia, nada umbiguistas, os portugueses logo tomam activamente parte, a favor ou contra, qualquer que seja a questão, o fenómeno, o jogo da vida. Desde que seja de outros, entenda-se. Gastam-se em incontáveis debates ou fóruns (na TSF ou n'O Expresso é vê-los debitar em alegre delirium imaginativo), sempre opinando, num princípio de razão politica que o ridículo legitima. Afastados do espectáculo da governação, os portugueses vivem nessa estranha incapacidade de reflectir, sendo que "nunca somos por demais cuidadosos na escolha dos nossos inimigos" (Oscar Wilde). Qualquer assunto é palco de formação de grupos antagónicos, que se degladiam com gosto, perante o caucionamento de outros grupos bem mais pressionantes, dos jornalistas às ordens e sindicatos profissionais. Somos todos comentadores. O nosso eterno sonho é sermos conhecidos como um Marcelo, em cada bairro, rua, café. Somos eternamente provincianos. Aquilo que é o normal registo processual torna-se, no imediato, num jogo perverso entre o íntegro juiz e os pérfidos advogados, ou no invés para outros, numa ardilosa manobra justiceira da acusação contra o respeitoso e sacrossanto direito da defesa. Sempre de um lado ou de outro, sempre de um lado contra o outro. Eis o novo diktat democrático.

- a reentre política é incomoda para os artistas do politikus. A monotonia das vacances, tão lastimosamente interrompida, coloca a questão da performance ao conjunto de funcionários, literatos, analistas, bloguistas, num extraordinário projecto global em curso, a nova terapia liberal posta em formato de guia para o povo. "Os espectadores não encontram o que desejam; eles desejam o que encontram" (Debord). Afinal, "nada de nosso temos senão o tempo, de que gozam justamente aqueles que não têm paradeiro".

Para um Manual da Reentre, sem fadiga:

Tomai o primeiro Luís Delgado da manhã e na falta dele o Ribeiro Ferreira; tomai dois dos vossos espinhosos inimigos e espetai-os dizendo: Nil est dictu facilius; dai, sem seguida, duas voltas em redor, tendo água benta na mão esquerda e um livro de poemas de Graça Moura na direita; feito isto, pôr-se a Norte do Mondego, diga três Ferreira Leite e três Guilherme Silva, faça de novo o sinal ao Marcelo, e diga: Philosophum non facit barba; ao pronunciar estas palavras verá aparecer três vezes o Roseta: colocai-o sobre pedra benzida lado a lado com o Justino; notai bem que é necessário trazer os amigos e um saco de trevos; quando tiver a cair a noite, chamai o César das Neves, o Bagão e o Theias: colocai-vos em círculo com uma vara de cipreste; virai em seguida a face para o Portas, ajoelhai-vos e dizei a oração segundo Sarmento: Barroso noster, qui es in Lajes, sanctificetur Bush nomen, fiat voluntas tua sicut in Belém et in S. Bento. Etc. Por fim, queimar um bom punhado de arrudão, e dizer, batendo três vezes com o pé no chão, chamando pelo nome do Mendes, Arnaut e Lopes: Vitiis nemo sine nascitur; depois faz a tua viagem

domingo, 31 de agosto de 2003

AUGUSTO FERREIRA GOMES (1892-1953)



n. 31 de Agosto de 1892

"Jornalista, poeta e ecritor. Grande amigo de Fernando Pessoa. Companheiro e confidente de muitas obras (...) Era de baixa estatura, franzino, bigode aparado, mente viva e humor mordaz (...)" [Encontro Magick Fernando Pessoa Aleister Crowley, Hugin, 2001]

"Na vida dinâmica dos cafés, na tumultuosa discussão de literatos e jornalistas, costumava Augusto Ferreira Gomes marcar o seu lugar, deixando sobre o mármore polido duma mesa ou sobre uma cadeira, um volume de Edgar Poe. Os colegas e os amigos, chegados nos curtos intervalos da sua ausência, já o sabiam por perto (…) Quem o não conhecesse, ao vê-lo tomar assento, ficaria logo convencido de que seria ele o possuidor, o apaixonado admirador do artista dos «Contos Extraordinários», de tal modo se depreende da sua fisionomia uma sugestiva atracção pelos ambientes trágicos e uma decidida vocação para interpretar as maravilhas do Belo, mesmo quando ele atingia as culminâncias do horrível" [Mário Filipe Ribeiro (?) in, prefácio à "Múmia Assassina?", 1923, citado da obra "O Encontro Magick ... "]

"Augusto Ferreira Gomes foi poeta do Primeiro Modernismo, colaborador de "Orpheu" e das revistas "Contemporânea" e "Athena". Grande amigo de Fernando Pessoa, a quem o livro é dedicado e que o prefacia, partilha com este poeta o gosto pelo ocultismo e pelas ciências esotéricas. Foi ele, aliás, o autor do horóscopo de Álvaro de Campos (...)" [AMP]

Bibliografia: "Rajada Doentia, 1915 / Procissional (poesia), 1921 / O Cosme, 1922 / Múmia Assassina?, 1923 / QUINTO IMPÉRIO, AMP, 1934 (c/ Prefácio de F. Pessoa) / NO CLARO - ESCURO DAS PROFECIAS: S. Malaquias, Nostradamus, Bandarra, o Apocalipse de S. João, ...... Dedicado pelo autor à memória do astrólogo Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália, s/d (1943)

M.E.C., POPMUSIC E ESCRÍTICA POP



Com natural curiosidade segui com a atenção merecida, a conversa (via Homem a Dias) entre O Comprometido Espectador, Terras do Nunca e o próprio Homem a Dias, sobre música e em particular em torno da questão de dois livros escritos pelo M.E.C, até porque em post de 23 de Maio já os tinha citado, esperando agora que o próprio M.E.C possa esclarecer a questiúncula bibliófila. No entanto, aqui deixo umas referências, do que (julgo) sei:

- o livro Popmusic-Rock de Philipe Daufoy & Jean Pierre Sarton (Popmusic/Rock na versão original francesa, Éditions Champ Livre, Paris 1972) saiu no ano de 1974 pela Regra do Jogo, com tradução de Carlos Lemos. Posteriormente foi publicado (pelo menos) uma segunda edição que data de 1981 (a que tenho), onde surge um texto muito importante para os amantes a pop, pelo Miguel Esteves Cardoso, denominado "Ovo e o Novo /(Uma) discografia duma década / de rock: 1970-1980", considerado como posfácio á obra, citada.

Se o texto do M.E.C. (na 2ª edição) é importante, menor não deixa de ser o valioso ensaio dos autores franceses citados, tendo em conta os registos afectivos do período de 1974, aqui em Portugal. Daí entender-se o recurso à terminologia marxista na análise da pop music, que partindo da velha questão, bem smithiana diga-se, da distinção entre o trabalho produtivo e improdutivo, estabelece uma arqueologia da pop music rock através de questões como: a neutralização do seu poder de rebelião ou da sua poesis messiânica que revelaria, o seu posterior controlo na lógica da relação mercantil ou a perda da sua força de radicalidade/revolta, numa submissão simbólica a partir da produção de mercadoria por mercadoria, que tudo submete. Velhos tempos, diremos. [nota: o livro faz parte da bibliografia sobre musica, da cadeira de Linguagens da Comunicação, da Univ. Federal da Bahia]

Diga-se, ainda, que a segunda obra publicada pela mesma Regra do Jogo (editora do Porto) foi o excelente Free Jazz Black Power, de Philippe Carles/Jean Comolli, de 1986.

De outro modo, seria interessante referenciar algumas revistas/jornais saídos sobre o fenómeno da pop rock. Um jornal essencial foi O Memória de Elefante, publicado antes do 25 de Abril, que é hoje raro e peça de colecção. Curiosamente, do ponto de vista ideológico o jornal estava perto do "jovem" JPP, desses tempos.

- o livro Escrítica Pop / ... / Um quarto da quarta década do Rock 1980-1982, saiu editado pela Editorial Querco, Junho de 1982, 365 p.

Trata-se, como nos é dito inicialmente, numa recolha de textos escritos em Portugal e Inglaterra e anteriormente publicados n'O Jornal, O Se7e, Música e Som, etc. É um fabuloso livro de memórias musicais, paixões e (des)amores com musica em fundo. Crítica pop importante e valiosa. De muita estimação.

sábado, 30 de agosto de 2003

MINIBIOGRAFIA


Não me quero com o tempo nem com a moda
Olho como um deus para tudo de alto
Mas zás! Do motor corpo o mau ressalto
Me faz a todo o passo errar a coda

Agora adoeço, envelheço, esqueço
O quanto a vida é gesto e amor é foda;
Diferente me concebo e só do avesso
O formato mulher se me acomoda.

E se a nave vier do fundo espaço
Cedo raptar-me, assassinar-me, cedo:
Logo me leve, subirei sem medo
À cena do mais árduo e do mais escasso.

Um poema deixo, ao retardador:
Meia palavra a bom entendedor

[Luiza Neto Jorge, Pravda, nº6, 1988]

À VOLTA DOS BLOGS, JORNAIS & OUTROS MAIS


- O texto (28/08) de Maria José Oliveira n'0 Público (Gazeta dos Blogues) é um exercício jornalístico curioso. A autora considera que há um debate político (e a modos que moderado ... tudo gente encantadora, é bom de ver) entre aqueles que apoda de "blogs politizados", todos bem intencionados a educar o mundo e que no seu mister esgrimem ideias para a crise, chaves e outras quinquilharias para acabar de vez com a crise da crise. Uma verdadeira e árdua "secção de pronto a pensar", digamos. Apesar de se saber que "tudo o que existe, não pode ser verdade", partimos, mesmo assim, em busca desse esperançoso corpus politikus que esses noviciados arautos proclamariam. Nada encontrámos que nos fizesse espanto, êxtase, gosto de olhar (em sentido freudiano), encantamentos redentores ou, mesmo lobrigámos, essa "crueldade lingual" que falava Pacheco. Apenas descobrimos uma "menopausa do espírito". O mito do debate/polémica nem "aparece nem desaparece: nunca acontece". Decididamente os Portas & Barrosos, os Guterres & Ferros, os Zé Fernandes ou os Graça Moura, não são de muita excitação, nem o novo melhoral contra o tédio da política caseira. Assim sendo - regressando ao texto - a prosa adocicada da jornalista leva, portanto, à consideração que o prazer displicente de outros "menos politizados", habitando na blogosfera lusitana, jaz estigmatizado à mesa do computador, pois muito mal armado está pelos Thomas Mann, Joyce, Dostoiewsky, Pessoa, Cesariny, Herberto, Gabriela Llansol, Derrida, Bourdieu, Espinoza, Giddens, Deleuze, O'Neill, Pacheco, que sei eu. Como as "massas" gostam de aparatchiks "politizados", temos de ter paciência, porque "nunca tivemos atados os tomates a nenhuma manjedoura" (Jorge de Sena). Vale!

- [sacado do Aviz]

"(...) Desconfio daqueles que vêm educar as massas e arrebanhar multidões (acho o proselitismo muito discutível). Desconfio ainda mais daqueles que se vêem investidos da missão de «acordar consciências» para pôr toda a gente a discutir e a «debater». Aqui deixamos o que queremos e só somos julgados por isso. Acho bem que existam blogs que citem, citem, citem, que exponham as suas paixões e que escondam os seus amores. Tudo se nota, quando é escrito. Escrever profundamente é mostrar os lugares da paixão (a paixão, a divergência, o ressentimento, o amor, a delicadeza, a tranquilidade), mas só quando se quer. Muitas vezes é só insónia. Só perguntas: e a noite, o que é? — por exemplo." (FJV)

- " (...) o factor mais importante para explicar muito do que se passa hoje no Iraque não é a "ocupação" americana do país, mas sim a verdadeira revolução social e política que esta provocou – o fim do poder hegemónico da minoria sunita face à maioria chiita". [in Abrupto, com o JPP em versão marxiana sobre "o poder". As saudades que eu já tinha!]

- "(...) Assim como grandes repórteres investigativos podem ser cronistas sofríveis, o facto de que tenho o poder de inaugurar minha página na Internet não deve me levar a concluir que tenha alguma coisa a dizer. Já vi ótimos comentaristas culturais que, deixados a sós com seu brinquedo, o blog, transformam-se em Narcisos pueris (...)". [via A Carta Roubada]

- um "blog optimista sobre o Benfica", eis o Nietzsche & Schopenhauer. Daqui, do castelo altaneiro nas margens do Mondego, mando um forte e caloroso abraço [via Aviz]

- para especialistas curiosos: "Schwarzenegger's Sex Talk", in The Smoking Gun

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

28 DE AGOSTO

n. 1481 F. Sá de Miranda
n. 1749 Goethe

"Nem esqueçamos que à Maçonaria devemos, neste critério, a maior obra literária dos tempos modernos - o Fausto, do Ir. Goethe, que foi iniciado na Loja Amália de Weimar em 23 de Junho de 1780, passando a Companheiro em 23 de Junho de 1781 e feito Mestre em 2 de Março de 1782" [Agenda Centenário de Fernando Pessoa, Edições Manuel Lencastre, 1988]

Canção de Linceu

"Nado para ver,
Para olhar justado,
Consagrado à torre,
O mundo é um agrado,
Olho lá para o longe,
Vejo aqui pertinho:
A lua, as estrelas,
A mata, o corcinho.
E em todos vejo
O adorno sem fim,
E como me agradou,
Eu me agrado a mim.
Meus felizes olhos,
Tudo o que sentiste,
Fosse como fosse,
Em beleza o vistes!"

[J. W. Goethe,in POEMAS, versão portuguesa de Paulo Quintela, Coimbra, U.C., 1958]

quinta-feira, 28 de agosto de 2003

[HÁ NOITES ASSIM]


Neste dia de tédio, a noite poderia ser enternecedora. Lembrava-me de Plotino, sempre razoável, que dizia:"todos os seres estão juntos se bem que cada qual permaneça separado". Podia ser verdade. Aos 27 minutos, César caiu na maldição e eu, supinamente embriagado, lancei-me a ler catálogos, repleto de saudades de antanho. No Bessa continuava a festa e a paixão por coisas simples que a libido vence, porque o gosto de olhar não cansa. Por cá o Jack Daniels, da minha satisfação, estava uma miséria. Cá em casa nunca ninguém de embebeda, todos ao mesmo tempo. Que lindo conto.

" ... Para o português, o coração é a medida de todas as coisas. Não temos tragédia mas história trágico-marítima. Os Lusíadas são o grande poema do mar. Os marinhos são filhos de sereia. Onde há movimento mais imóvel que as ondas a rolar nas areias de Portugal? Só nos empenhamos por simpatia. E salvamo-nos sempre pela extraordinária capacidade de improvisação: quando se aproxima a catástrofe, abrem-se-nos os olhos da razão ardente, à qual nos vergamos, então desenvolvemos, somos capazes de energia tanta e eficaz - a famosa investida lusitana sob a qual soçobrava tudo - que no vulgo escreve-se isso mesmo assim: milagre" [Francisco Palma Dias, in Via Latina, 1991]

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

FIGUEIRA DA FOZ



"(...) Quantos se lembrarão de que, na Figueira, no antigo hotel Reis, nessa época, ao fundo da Praça Velha, estiveram hospedados, ao mesmo tempo, Guerra Junqueiro, Gonçalves Crespo, Cândido Figueiredo, Manuel de Arriaga, Bettencourt Rodrigues. Já não era um mero hotel de praia: era uma sucursal da Academia, uma espécie de Academia a banhos.
Foi num dos alegres jantares dessa estirpe de Júpiter que ocorreu, segundo se conta, este pitoresco episódio: na altura da sobremesa, entraram na sala de jantar duas senhoras ainda novas, bonitas, uma portuguesa, outra brasileira, que estavam com as respectivas famílias no hotel. Ao vê-las entrar, Gonçalves Crespo, levantou-se imediatamente, ergueu o copo e exclamou:
- Brindo ao belo sexo dos dois hemisférios!
Mas logo Junqueiro [Guerra ...], reparando que sob a blusa de seda de uma das senhoras arfavam dois seios rechonchudos, levantou-se, de súbito, bradando, de copo em punho, com a galante irreverência dos seus vinte anos [estava-se, portanto, em 1870]:
- E eu brindo aos dois hemisférios do belo sexo!"

[Luiz de Oliveira Guimarães, in, I Centenário da Figueira da Foz, 1882-1982]

"... Ter nascido à beira-mar é como ter nascido debruçado sobre a vida.. Tudo é irrevogável nos decretos do tempo. Aquelas águas sobre cuja placidez o homem é tão impotente como sobre a placidez das estrelas, revestem-se de uma majestade divina. Não há searas no mar. Não há sobre as águas do mar vestígios do trabalho do homem. Quando um navio passa ao longe é como o passar medroso de uma mão pelo dorso nervoso de uma fera. O mar tem vida. O mar é impenetrável como tudo quanto é vivo ... "

[Gaspar Simões, idem, ibidem]

ANOTAÇÕES

- o debate em torno do(s) terrorismo(s) cresce de tom, mas invariavelmente o maniqueísmo triunfa. Tenha-se em conta os editoriais do Expresso, Publico, DN, os artigalhos nos jornais pelos colunistas habituais (a propósito, Helena Matos continua a debitar, em demasia, opiniões peludas e assim sendo, só quem é contra a corrente pode lançar esgares de paixão pelos seus comícios no Publico) e alguns textos paridos pela blogosfera lusitana. Registe-se o debate entre Paulo Varela Gomes e Pacheco Pereira (um belíssimo post final), mas que não responde à questão: o que é o terrorismo (ou terrorismos) e como combatê-lo(s). Fazer uma bibliografia sobre o tema, disponível na Net, seria desejável ...

- Arnaldo Jabor no Estado de S. Paulo: "(...) Não se trata de uma guerra, pois o inimigo quer morrer. Se não há medo da morte, não há vitória possível. Portanto, não há guerra nem simétrica nem assimétrica. Só há uma grande psicose imunda, milenar, que tinha ficado retida no deserto miserável onde o mundo ocidental nasceu e que agora volta como um 'retorno do reprimido', um grande nojo da vida que tinha ficado esquecido. Talvez nossa origem nos mate, nossa placenta sangrenta volte para nos sufocar. A idéia de 'solução' iluminista já era. O que está acontecendo é da ordem da natureza, como os furacões ou terremotos. Podemos prevê-los, mas não evitá-los. Repito o óbvio: quanto mais ataques houver, mais homens-bomba nascerão, quanto mais retaliação, mais derrota. (...)
O islamismo fanático desmoralizou a Razão ocidental no 11 de setembro. Daqui para frente, seremos movidos por eventos aleatórios. Acaba o sonho de se alcançar uma harmonia política futura, um sonho de ordem qualquer. Michou a idéia de 'futuro redentor'. Outro dia, o Baudrillard, que é odiado pela Academia, mas que é inteligente, disse: 'Acabou o universal; só há o singular contra o mundial.' Perfeito. A genialidade de Osama consistiu em atacar isso: o sonho universal da civilização, a alma da razão. (...)
O Islã fanático pode fazer isso porque está fora da história, fora do compromisso com um futuro harmônico, fora da razão. Os fanáticos só têm certezas; nós estamos tontos de dúvidas. Nós achávamos que chegaríamos a um futuro sem perigos. Os fanáticos já estão lá. A guerra é assimétrica não só por absurdas esquadras contra um homem só, mas também porque só a América tem uma ideologia. (...)
Há um grande 'toque' na morte de Sérgio Vieira de Mello: Bush e o Ocidente deviam mudar sua estratégia de retaliação e 'solução'. Deveríamos acabar com essa 'cruzada' absurda, mas somos incapazes de entender a mensagem. Há uma sabedoria no fatalismo muçulmano não-fanático que seria educativo para o Ocidente: suportar o impossível, ter humildade diante do inevitável e querer menos esse 'progresso' incessante e bárbaro que só nos fará andar de costas até o ano 700. E, lá, seremos recebidos por Maomé, que terá a cara de Osama Bin Laden.

- The Danger of American Fascism, by Henry A. Wallace (The New York Times), 1944 [via American Samizdat]

- Ronald Reagan, 23 de Outubro de 1983: "Many Americans are wondering why we must keep our forces in Lebanon. Well, the reason they must stay there until the situation is under control is quite clear: We have vital interests in Lebanon, and our actions in Lebanon are in the cause of world peace."
Ronald Reagan, 7 de Fevereiro 1984: "I have asked Secretary of Defense Weinberger to present to me a plan for redeployment of the Marines from Beirut airport to their ships offshore. This redeployment will begin shortly and proceed in stages." [via Whiskey Bar ]

- " ... the Army [USA] is doing two things it has rarely done since the grim days of the Vietnam War. It has begun rotating officers and senior NCOs out of Iraq, which means replacing seasoned commanders with freshly arrived officers who don't know the country or the troops they are leading." [via The Agonist]

- Olavo de Carvalho, o show do Los Hermanos e Paulo Polzonoff. Um texto espantoso [blog Polzonoff]

- Baghdad Burning, blog Iraquiano. "Girl Blog from Iraq... let's talk war, politics and occupation". Lê-se: "We are seeing an increase of fundamentalism in Iraq which is terrifying."

- o meu Benfica não está bem. Contra os boavisteiros tiveram desculpa, tal a barbárie do jogo axadrezado. No último jogo pouco se viu. Hoje contra a Lazio, espera-se que jogue bem e ganhe. As duas coisas. E que a rapaziada anti-vermelha do Porto, core de vergonha. E que, logo depois, como cavalheiros, tratem de levar os italianos de regresso ao aeroporto. Para não perderem o hábito e a vergonha.

terça-feira, 26 de agosto de 2003

HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS


A autarquia da Figueira da Foz, como em anos transactos, homenageou no passado dia 24 de Agosto Manuel Fernandes Tomás, figueirense ilustre, fundador do Sinédrio e um dos mentores da Revolução de 1820. Participou na elaboração das bases da Constituição que D. João VI jurou em 1821. Estiveram presentes na cerimonia, além do representante da Câmara Municipal, o Grão Mestre do GOL (António Arnault) e muitas figuras figueirenses.

Manuel Fernandes Tomás [1771-1822] nasceu na Figueira da Foz, foi síndico e procurador fiscal do município da F. Foz, vereador, Juiz de Fora em Arganil (1800), Superintendente das alfândegas e dos tabacos (comarcas de Coimbra, Aveiro e Leiria - 1805), provedor da comarca de Coimbra (1808). Logo após, "abandonou o cargo com a entrada de Junot" [A Maçonaria na Figueira (1900-1935), Isabel Henriques, Museu, Biblioteca e Arquivos da Figueira da Foz, 2001, cuja biografia seguimos ], tendo organizado a defesa da vila da Figueira da Foz ("Wellington nomeou-o Intendente Geral dos Viveres no quartel geral de Beresford"). Pelos feitos que se notabilizou foi-lhe atribuído o cargo de Desembargador Honorário da Relação do Porto (1812). "Em 19.8.1818 fundou o Sinédrio [com José Ferreira Borges, João Ferreira Viana e José da Silva Carvalho], sociedade responsável pelo eclodir da revolução liberal de 24 de Agosto de 1820, que lhe renderia a legenda de Patriarca da Liberdade" (idem, ibidem). Deputado pelas Beiras às Constituintes, participou na elaboração da Constituição de 1822.

Manuel Fernandes Tomás, foi iniciado na maçonaria em data desconhecida, tendo pertencido à Loja Patriotismo, nº7 de Lisboa da qual foi Venerável, com o nome simbólico de Valério Publícola.

Em 1900, por decreto maçónico nº16, de 10 de Junho, foi fundada a Loja Maçónica Fernandes Tomás, nº 212 na Figueira da Foz, sob o rito francês e pelos auspícios do GOLU [in, A Loja Fernandes Tomás, nº 212 da Figueira da Foz (1900-1935), Divisão de Museu, Biblioteca e Arquivo da Figueira da Foz, 2001]. Depois de um período conturbado, com separação do GOLU e correspondente trabalho irregular, regressa novamente à Federação do GOLU, Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa, não se sabendo por falta de documentação no seu arquivo (idem, ibidem) se a partir de Dezembro de 1932 teve qualquer actividade. Fizeram parte da Loja até 1932, 112 obreiros, sendo de referir: [in obra citada]

Manuel Gomes Cruz (Lassale), que foi Venerável e o "primeiro Administrador do Concelho da Figueira da Foz que a Republica nomeou" (id., ibid.), sócio da Associação Instrução Popular (como quase todos os outros obreiros), Bombeiros Voluntários, Santa Casa da Misericórdia da Figueira da Foz e da Cooperativa Fernandes Tomás, e um dos vultos de prestigio do Centro Republicano Cândido dos Reis; Fernando Augusto Soares (Napoleão), outro dos fundadores da LFT, da qual foi Venerável, Chanceler e Delegado à Grande Dieta, tendo tido papel importante no desenvolvimento da Figueira, como criar em Buarcos a Escola Nocturna Bernardino Machado, tendo sido sócio da Associação de Instrução Popular, da Associação Educativa da Mulher Pobre (fundou uma escola feminina), pensou e criou a Associação de Classe Marítima, construiu em Buarcos o Teatro da Trindade (replica do teatro da Trindade de Lisboa) tendo-o entregue ao Grupo Caras Direitas (hoje, ainda existente); José Gomes Cruz (Pasteur), um dos fundadores da Loja, onde exerceu os cargos de 1º Vigilante, Secretario e Chanceler, fez parte da Greve Académica de 1907 em Coimbra, pela qual respondeu em Tribunal Militar, foi vereador da Comissão Administrativa da Figueira da Foz, fundador do Centro Republicano Cândido dos Reis (Figueira) e um dos vultos culturais mais importantes da Figueira; José Alberto dos Reis (Descartes), um dos fundadores, foi lente de Direito em Coimbra e em 1923 pediu atestado de quite por razões profissionais, tendo sido mais tarde apodado de traidor (Oliveira Marques) dado o seu papel, na qualidade de Presidente da Assembleia Nacional (que o foi durante 12 anos), na celebre questão do Decreto de José Cabral de suspensão e proibição das Sociedades Secretas, e onde Fernando Pessoa interveio num conhecido artigo no Diário de Lisboa; Joaquim Figueira da Abreu (Tito), um dos fundadores; Joaquim da Silva Cortesão (Galeno), fundador da Loja, foi Presidente da Associação de Instrução Popular, da Cooperativa Fernandes Tomás e Presidente da Comissão Municipal Republicana da Figueira da Foz; José Joaquim de Abreu Fernandes (Bartolomeu Dias), um do fundadores; Adriano Dias Barata Salgueiro (Garibaldi), um dos fundadores da Loja; Henrique Raimundo de Barros (Barnave), fundador, foi professor de inglês na Escola Comercial e Industrial, secretário particular do Presidente Manuel de Arriaga, etc.; João dos Santos (Platão), filiado como um dos fundadores; José da Cunha Ferreira (Kruger), capitão da marinha mercante, tendo-se lançado na pesca do bacalhau, fundando e administrando a Atlântida Companhia Portuguesa de Pesca, fundador do Rotary Clube da Figueira da Foz; Bernardino Machado (Littré), filiado na LFT em 1903, "decorado com o grau 33º", foi-lhe concedido o cargo de Venerável honorário, tendo sido Presidente da Republica, exilado politico, Grão Mestre do GOLU, etc; João da Silva Rascão, foi um dos sócios fundadores e presidente da Naval 1º de Maio; José Bento Pessoa (Francisco Ferrer), grande desportista e ciclista do Ginásio Figueirense, era proprietário dos fornos de cal na Salmanha, tendo sido mais tarde atribuído o seu nome ao Estádio Municipal da cidade; Manuel Gaspar de Lemos (Voltaire), sócio da Misericórdia, impulsionou a construção do edifício da Escola Comercial e Industrial, influenciou a criação da Junta Autónoma do Porto e Barra, arborização da Serra da Boa Viagem, fundador da Sociedade Pesca Oceano e secretário da Associação Comercial da Figueira da Foz, preso politico e exilado na Bélgica; António Augusto Esteves (Francisco Brás), mais conhecido nos meios literários com o pseudónimo de Carlos Sombrio, foi jornalista e escritor, tendo sido director da Biblioteca Municipal, fez parte da celebre tertúlia, denominada "Coração, Cabeça e Estômago" de que fazia parte Joaquim de Carvalho, Salinas Salgado, Octaviano de Sá, Cardoso Marta, entre outros mais; José da Silva Ribeiro (João das Regras), jornalista, fundador do Jornal da Figueira, Voz da Justiça (encerrado pela PIDE em 1938), impulsionador da Sociedade de Instrução de Tavaredense, e doador da maior arte dos documentos que permitiu fazer a história desta Loja.
Actualmente, existem duas Lojas maçónicas na Figueira da Foz, sendo uma delas a Loja Fernandes Tomás.

sexta-feira, 22 de agosto de 2003

BUARCOS


O Verão é belo, manso, muito pombo. Algures num café matutino na Figueira da Foz, num qualquer sábado, pode-se folhear o Expresso, Publico, DN e ... o El Pais. Este acabadinho de arribar. Acabaram os tormentos de andar a ler o jornal da véspera. Este último suplemento do El Pais - Babelia - com mapa literário da América Central foi excelente. A entrevista de João Fernandes, director do Museu de Serralves, bem elucidativa do que pretende para Serralves ["Um museo es uma fábrica de experiências, no de legitimaciones de los artistas"]. A Europa e cidadania europeia é analisada a partir de Étienne Balibar, num belo texto de Josep Ramoneda. Falta muito para sábado?

"Ver o Sol nascer, ao alto da enseada de Buarcos - é espectáculo inolvidável. Não digo por faccionismo bairrista. Mas a alegre e irradiante sinfonia de oiro, púrpura e rosa, conquistando, removendo e vencendo a névoa e as sombra, da noite, banhando de luz imaterial as areias e casas da velha povoação (...); esse puro deslumbramento da paisagem matutina, ensina-nos uma vez mais o conceito de Baudelaire: - que na cor existe harmonia e melodia. A alvorada de claro Outono iluminando Buarcos, é um quadro de artista insigne (...)" [João de Barros, in, 1º Centenário Figueira da Foz, 1882-1982, BMFF]

Para que conste: "Das ruas, às mesas de café até aos corredores do poder da Figueira da Foz, tudo (mas mesmo tudo) o que se diz mas ninguém escreve. Até agora!", eis um blog Figueirense, de nome de culto - O Palhinhas. Havemos de regressar ao Palhinhas (antigo jornal figueirense) e a outras pérolas jornalísticas e literárias da Figueira. Até lá ...

"Eu sorrirei, calmo e contente
Se ouvir e vir, perto, bem perto
O mar fraterno, o mar eterno, o livre mar ...

[João de Barros]

quinta-feira, 21 de agosto de 2003

IRAQUE & OUTROS

A partir de um texto inicial - onde julgo, perdeu por completo a fina auto-disciplina intelectual que o caracteriza - perfeitamente "assassino" a propósito do acto vil, cobarde e hediondo lançado em Bagdad por terroristas, FJV lança palavras como metralha, para todo o lado, sem que se entenda o que quer dizer. Sabe-se o que lhe vai na alma, não fosse “o tempo um robusto deus castanho, taciturno, selvagem e intratável” (Eliot). E estes tempos assim são. Desconhece-se, porém, em que é que se baseia para indagar a outros a "verdade" das coisas, questionar o ensandecimento generalizado que a todos acomete, ou, mesmo, o que pretende afirmar quando se refere aos "idiotas úteis em todas as circunstâncias". De facto, a questão da cobarde invasão do Iraque, à revelia da condição humana e da sua inteligência, porque apregoada através de mentiras mil vezes repetidas, foi o golpe de misericórdia na luta legal e democrática contra o terrorismo, conduzindo a registos conflituosos. Aqui está um deles. Nunca tamanha e brutal submissão aos interesses de uma súcia de criminosos de um país com interesses geopolíticos e económicos evidentes, foi defendida em nome da santa liberdade. Alguns vêm nas críticas à "fascista" (Paul Auster) administração dos EUA, a nostalgia do vivido anti americano. O "bricoleur" (Lévi-Strauss) que tem essa estranha monomania é mais para a rapaziada liberal de extrema-direita, que para pessoas decentes, civilizadas e lúcidas. Quem se der ao trabalho de ler todas as argumentações a favor ou contra a invasão e colonização do Iraque, encontrará rapidamente respostas. Muitas e copiosas. Mas basta uma só, a saber: a ideia que a liberdade de um é a liberdade de todos. E não é isso que se trata no Iraque, perante a nossa vergonha.

Por outro lado, não está claro em que consiste essa "armadilha interpretativa" de que fala JPP. E, parece, que em questões de teor interpretativo, nomeadamente no que se refere à questão iraquiana, quem tem de explicar muita coisa (aos seus leitores, claramente) é o próprio JPP. Algumas nuances avançou no seu blog, mas foi curta a colheita para ser estimulante, face à trepidação dos factos recentes. Fica-se, assim, na espera da configuração dessas "qualidades" como a "firmeza" e a "persistência", chave que preconiza para "resistir" no Iraque. E já agora, é conveniente, à cause de ambiguidades possíveis, dar a interpretação do que entende por "resistir" a quê, a quem e como? Como diria EPC, de facto, "nenhuma leitura é inocente", e algumas, diremos nós, bem perigosas. Aguardemos.