quinta-feira, 28 de agosto de 2003

[HÁ NOITES ASSIM]


Neste dia de tédio, a noite poderia ser enternecedora. Lembrava-me de Plotino, sempre razoável, que dizia:"todos os seres estão juntos se bem que cada qual permaneça separado". Podia ser verdade. Aos 27 minutos, César caiu na maldição e eu, supinamente embriagado, lancei-me a ler catálogos, repleto de saudades de antanho. No Bessa continuava a festa e a paixão por coisas simples que a libido vence, porque o gosto de olhar não cansa. Por cá o Jack Daniels, da minha satisfação, estava uma miséria. Cá em casa nunca ninguém de embebeda, todos ao mesmo tempo. Que lindo conto.

" ... Para o português, o coração é a medida de todas as coisas. Não temos tragédia mas história trágico-marítima. Os Lusíadas são o grande poema do mar. Os marinhos são filhos de sereia. Onde há movimento mais imóvel que as ondas a rolar nas areias de Portugal? Só nos empenhamos por simpatia. E salvamo-nos sempre pela extraordinária capacidade de improvisação: quando se aproxima a catástrofe, abrem-se-nos os olhos da razão ardente, à qual nos vergamos, então desenvolvemos, somos capazes de energia tanta e eficaz - a famosa investida lusitana sob a qual soçobrava tudo - que no vulgo escreve-se isso mesmo assim: milagre" [Francisco Palma Dias, in Via Latina, 1991]