sexta-feira, 18 de julho de 2003

ARRUMAÇÕES E JORNAIS - GAZETA DO MÊS

Começamos a limpeza e resguardo dos periódicos. Por mero acaso, a coluna de hoje de JPP no Público é um registo elucidativo de alguma apetência que alguns têm por guardar jornais e revistas. Dantes era usual recortar as noticias que se queria e cola-las em folhas de papel, que depois de encadernava modestamente. Tenho alguns volumes curiosos, desde as eleições de Norton de Matos, Arlindo Vicente, Humberto Delgado, vários Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa e um sem fim de jornais, que comprámos em bom tempo.

No cimo do monte, salta-nos a Gazeta do Mês, de Lisboa. Só possuímos 3 números. O primeiro data de Maio de 1980 e o 3º e suponho último, de Julho do mesmo ano. O director era o João Martins Pereira, chefe da redacção Jorge Almeida Fernandes. Alguns colaboradores do 1º número: Adelino Gomes, António Lima (gráfico), António Sena, Augusto Abelaira, Eduarda Dionísio, Fátima Bonifácio, Fernando Belo, Helder Moura Pereira, João Miguel Fernandes Jorge, João Santos, Joaquim Manuel Magalhães, José António Salvador, Leonor Pinhão, Mário Botas, Pedro Saraiva, Rodrigues da Silva, Rui Oliveira, Teresa Ferrand, Teresa Joaquim, Vasco. A propriedade era de José Manuel Cortês. Custava 60$00.

Nº1 : Capa: SOS Estarreja. Primeiro Caderno e Revista.

No 1º Caderno, na critica de Livros, temos: "Ligeiras coisas:objectos principais" de A. Franco Alexandre, por Helder Moura Pereira; Joaquim Manuel Magalhães escreve sobre Augustina Bessa Luís e o livro Conversações com Dmitri e outras Fantasias; Jorge Roza de Oliveira sobre Ruy Belo (Despeço-me da terra da alegria) e, curiosamente, João Miguel Fernandes Jorge, num bonito texto, fala-nos sobre Ruy Cinatti, Lembranças de S. Tomé e Príncipe, 1972.

" ... Ruy Cinatti neste seu goso pelas terras do português não nos dá um movimento, dá-nos uma direcção: S. Tomé e Príncipe é uma direcção que não pertence a ninguém, mas é de todos; é um pouco como nos contasse o ritmo próprio do português no mundo ...

«É preciso viver entre os vivos». A frase do começo deste pequeno guia a um livro de Ruy Cinatti destrói-se com esta pratica de Montaigne. Contradizer a aventura seria contradizer a vida. Vida e aventura são estes falares das ilhas atlânticas ...

Inauguro a ilha. Vivo-a inteiro
sem receio de me estar sonhando
navegador heróico de outras eras.
Os frutos que me oferecem desalteram.
Sinto-me capaz de endoidecer
Mas de alegria só, mas deslumbrado
............... "

[continua]

BARROSO E A ECONOMIA POLÍTICA


A prestação do PM na TV foi um enorme bocejo. Já se esperava ouvir tão melodiosa discursata, alias inserida numa «petição de princípios» (que corresponde a falta de argumentação, no dizer de Perelman) por um Portugal a recuperar da tanga em que foi metido, a caminho de novo oásis paradigmático. Para época de veraneio até não foi mal pensado. Ainda olhámos de soslaio para o faccis do nosso PM quando chamado a dar explicação para a aparente contradição entre a vacina da empresarialização contra o monstro insano referido por Cavaco Silva e a desbunda da gestão da Amadora-Sintra. Ou mesmo quando foi chamado à pedra para analisar a consolidação orçamental, ou o celebre PEC e a evasão fiscal. Atento, o nosso PM não foi na cantilena Juditiana. Afinal não estávamos na fase de open mindedness. Não havia riscos a correr. Barroso não é definitivamente uma open-minded person (H. W. Johnstone, Jr.). Eis o estilhaçar da teoria da argumentação, em todo o seu esplendor. Talvez José Bragança de Miranda nos possa elucidar sobre esta costumeira pragmática do discurso televisivo do poder. Por mim, essa personagem conceptual do governante em conversas ao país é mera ficção retórica.

Mas o que é preocupante são as afirmações sobre a performance económica do governo. Compreendemos que governar, hoje em Portugal, seja "alta competição", como refere o PM, mas que sobre a economia e os economistas nos atire com lapalissadas, é constrangedor. Se o PM se refugia numa exercício escolástico baseado em que "a economia não é uma ciência exacta" ou que "não há nenhum economista que possa prever" o que pode acontecer, então não se pode entender a sua convicção na prestação da politica económica e orçamental, nem se pode defender o cunho fundamentalista da senhora ministra das Finanças em torno da problemática do deficit. E muito menos se pode falar no putativo modelo económico escolhido, porque não se sabe muito bem o que isso representa. Não era esperado que o PM esgrimisse ideias em torno da controvérsia neoclássica versus pós-keynesianos. Nem que explicasse as diferenças substantivas entre o grupo constituído por Miguel Cadilhe, Silva Lopes ou Cavaco Silva, e o outro onde fazem parte Miguel Beleza, o inefável Tavares Moreira e Ferreira Leite. Não era obrigado a tal. Mas apenas que tivesse em conta que em "alta competição governativa" não ter em conta os dados estatísticos, manipulando-os conforme as estratégias, se pode pagar caro a ousadia. É que, quem se mete com a economia ... leva!

quinta-feira, 17 de julho de 2003

AY! HAVANA ME MATA!



Uma delícia o daiquiri com Compay Segundo sugerido pelo O Cozinheiro. Eu acredito que só pode ter sido um barman (Ribalagua) do El Floridita e não um engenhocas americano, a inventar o daiquiri. No Floridita ou na Bodeguita del Medio, a mesma perdição.

Lá dizia Hemingway: "My daiquiri in the Floridita and my mojito in the Bodeguita".

quarta-feira, 16 de julho de 2003

RAUL LINO (1879-1974)



Exposição "Raul Lino, Cem anos Depois" no Museu Machado de Castro em Coimbra. Até 14 de Setembro.

O CEDRO DE GUERNICA [sobre a Guerra Civil Espanhola]



No fragor da batalha
- que era como um troar de tempestade -
a árvore da metralhadora.
..............................
Todo o Euzcádi chorou
no cedro assassinado a morta liberdade.
..............................
Mas que importa perder o cedro de Guernica,
por momentos não ter ao sol o seu lugar,
Se a luta que travais, gentes de Euzcadi, implica
Que cada «pueblo» tenha um cedro de Guernica
Para não mais tombar?!


Novembro de 1938

[Álvaro Feijó - in, A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa. Antologia por Joaquim Namorado, Centelha, Coimbra, 1987, pag. 41]

BREVES


*O Governo acaba de mudar, pela quarta vez em menos de dois anos, a sua orientação quanto à construção de um novo aeroporto internacional na Ota. Convenhamos que já é demais para não ser demasiado rude e acrescentar que já passámos da fase da trapalhada à da palhaçada (Nicolau Santos, EXPRESSO)

* [Nicolau Santos e o melhor Governo desde 1986 - Expresso]

PRIMEIRO-MINISTRO: Aníbal Cavaco Silva.
MINISTRO DAS FINANÇAS: Miguel Cadilhe
MINISTRO DA JUSTIÇA: António Costa
MINISTRO DA INDÚSTRIA - Mira Amaral
MINISTRO DA SAÚDE - Correia de Campos
MINISTRO DA EDUCAÇÃO - David Justino
MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS - Jaime Gama
MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS - João Cravinho
MINISTRO DA AGRICULTURA – Nenhum
MINISTRO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA - Dias Loureiro
MINISTRO DA DEFESA - Fernando Nogueira
MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA - Mariano Gago
MINISTRO DA CULTURA - Manuel Maria Carrilho

* Artigo de Vital Moreira no Publico, com exigência de uma simples explicação, a saber: porque razão os bestiais belicistas portugueses, travestidos de jornalistas e/ou pensadores liberais, estão calados nesta patranha que foi a Guerra do Iraque? Um bloguista que por mero escapismo é jornalista avança com a sugestão de o mesmo Vital Moreira pedir desculpas sobre as suas (do Vital) mentiras. Extraordinário, este putativo jornalista. Aprendeu depressa as metodologias da administração neoconservadora americana. Temos homem!

terça-feira, 15 de julho de 2003

HASTA SIEMPRE!



HASTA SIEMPRE!

MEMÓRIAS DE UM EX-MORFINÓMANO


[Lá se catalogou o Reporter X, o X, o Espião. Ficou-se com uma extraordinária impressão de Reinaldo Ferreira, o Repórter X. Fomos buscar à livralhada o seu famoso (e já difícil de encontrar) livro "Memórias de um Ex-Morfinómano". O prefácio, ao livro, por Artur Portela é elucidativo. Não resistimos a transcrever um pequeno extracto. Como são belas as tardes de Julho!]

Memórias de um Ex-Morfinómano [Reinaldo Ferreira]

"Reinaldo Ferreira foi o maior repórter da Imprensa portuguesa. Morto, continua a sê-lo, através de uma obra extraordinária, fulgurante, caudalosa, que é impossível avaliar (...)
Estou ainda a vê-lo, de olhos cinzentos, fosforescentes, o cabelo loiro, como se fossem as chamas do incêndio da sua alta vocação jornalística; dinâmico, nervoso, fustigante, multiplicando os gestos, as palavras, as ideias, sempre com uma caneta na mão, que não passeava lentamente no papel, mas galopava vertiginosamente, desentranhando-se em milhares de artigos, sensacionais reportagens, crónicas de viagem, novelas de mistério, romances empolgantes, peças de teatro, numa palavras, toute la lyre que ele percutia, sem esforço, como que ébrio ou magnetizado pela mais assombrosa vocação que tenho visto no Jornalismo!

Falta ainda, para o retrato ser flagrante, medir-lhe a estatura física, que não era muito alta, como que condensada na força do salto; desenhar-lhe a fronte enorme, enobrecida de claridade interior; dizer que os cabelos fulvos, chamejantes, pareciam desgrenhados pelo vento das mais arrojadas aventuras e que nos lábios, cremados pelo fumo, ardia sempre um cigarro, quase nunca tirava da boca carregada de cinza - essa mesma cinza de um talento de oiro, irresistível, frenético, electrizante, que ele espalhou sobre o Mundo nas mais extraordinárias e audaciosas performances. (...)
O jornalismo era nele, fisicamente, uma vocação instintiva. (...) Por instinto, decerto -
Reinaldo Ferreira não tinha tempo para ler, tanto escrevia! -, ele introduziu em Portugal a maneira característica do jornalismo americano - incisivo, inconfidente, mesmo escandalosa, densa na sua verdade, em que as imagens, como no cinema, dominam as palavras, fotografando o que se passava e o que se não disse, o que se sabe e o que se esconde, numa reconstituição visual em que tanto as personagens como os pormenores empolgam, visceralmente desnudados. (...)
A certa altura, porém,
Reinaldo Ferreira encontra um formidável adversário. Um gigante enorme, duro, terrível, tolhe-lhe o passo: é o Repórter X.

Mas, quem é o Repórter X? (...) É ele próprio, Reinaldo Ferreira, pseudónimo criado por um lapso tipográfico no final de um seu artigo no jornal A Tarde, e que será até ao fim de tão febril e convulsiva existência - o seu inimigo nº1. O pseudónimo individualiza-se, humaniza-se e destrói Reinaldo. O ser que engendrou entra em circulação. É um nome civil. Uma autêntica personalidade (...) É a sua sombra, que nunca o deixará de perseguir na existência, até aos últimos passos, até á morte! (...)
[Reinaldo Ferreira] desapareceu por completo. À sua mesa de trabalho, com os mesmos traços, o mesmo cigarro em brasa, que não tira das comissuras dos lábios, a grenha a empalidecer com os primeiros fios brancos dos anos - senta-se esse horrível monstro, o repórter X, que o fita, irónico, desabusado, de mãos enluvadas de negro, mascarilha vermelha, sangrenta, irónica, cruel, insaciável, (...) É ele que quem visita as lôbregas prisões, (...), que penetra nos esgotos das tentaculares cidades, (...), que devassa os cárceres dos loucos (...), que se embriaga com os paraísos azuis da morfina e de outros alcalóides, como Aldous Huxley, nas Portas da Percepção, para nos descrever todas as sua bizarrias, todos as suas abomináveis, todas as suas oníricas fantasmagorias. (...)

[Artur Portela, in, Nota Prefacial (pag. 9- 21) às Memorias de um Ex-Morfinómano de Reinaldo Ferreira, Lisboa, 1956]

IN MEMORIAM HENRIQUE BARRILARO RUAS



"Se a terra falasse, havia de contar, por entre abundantes lástimas, muitos sinais do amor dos homens por ela... Terra humanizada é sempre mais que terra trabalhada. Se o homem só a quisesse como nascente de ouro, talvez já ela se tivesse extinguido. Mas, se a terra dá o pão à gente, também nós lhe damos pão. E o pão mais rico que lhe damos não é tanto a semente que a fecunda; é a alma que lhe confiamos."

[Henrique Barrilaro Ruas - in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

segunda-feira, 14 de julho de 2003

AINDA ... REINALDO FERREIRA - O REPÓRTER X


Afinal temos, apenas, 115 números do antigo semanário Repórter X. A colecção completa, ao que sei é de 128 números [REPORTER X. SEMANÁRIO DAS GRANDES REPORTAGENS - Director Reynaldo Ferreira (Reporter X) e chefe da redacção, Mário Domingues. Nº 1 (9 de Agosto de 1930) ao Nº 128 (23 de Junho de 1933). Lisboa, 1930-1933]. Ficámos angustiados.

Algumas curiosidades:

- "Existem Templários em Portugal?" [refª ao texto do alemão Paulo Kopper, publicado no Instituto Histórico de Leipzig, nº 9 de 20/09/1931] - in, Repórter X, Ano II, nº 63

- "Cavaleiro de Oliveira - um admirável e quási ignorado jornalista planfetário do século XVIII" [Trata-se de um artigo sobre Francisco Xavier de Oliveira (Cavaleiro de Oliveira), com referências ao seu panfleto (muito citado por Camilo e, posteriormente por Aquilino Ribeiro) "Amusement Periodique", publicado em francês e que apenas 3 exemplares chegaram a Portugal (e um às mãos de Camilo)] - in, Repórter X, Ano II, nº 67

- "Hitler, o homem que mete medo ao mundo" [um texto bem premonitório]] - in, Repórter X, Ano II, nº 72

- "O último instantâneo de Joshua Benoliel" - in, Repórter X, Ano II, nº 80

- "O que se passa entre os hebreus e os «Marranos» do Norte?" [refª à revista mensal Há-Lapid, órgão da comunidade isrealita do Porto] - in, Repórter X, Ano II, nº 96

- "Os mistérios da Revolução de 5 de Outubro" - in, Repórter X, Ano III, nº 100

- "Trotski o antigo comissário de guerra russo ... esteve alguma vez em Portugal? " - in, Repórter X, Ano III, nº 105 e 106

- "Finanças Literárias. Os rendimentos dos escritores, nacionais e estrangeiros ... " - in, Repórter X, Ano III, nº 106

- "António Ferro, Salazar. António Ferro, a sua entrevista e o seu entrevistado" - [texto de Reinaldo Ferreira] - in, Repórter X, Ano III, nº 112

domingo, 13 de julho de 2003

CORRESPONDÊNCIA AO MAR



Correspondência ao Mar

Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar

.............

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que teve em mim
Que onde ele acaba, o coração começa
.............

[Vitorino Nemésio, in O Bicho Harmonioso]

sábado, 12 de julho de 2003

SOCIEDADE DOS AMIGOS DA DEMOCRACIA PORTUGUESA

Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa

[Do Jornal Republica, 23 de Outubro de 1945 (?), citado pelo Jornal Vitória (25/02/1946)]

"No Rio de Janeiro constitui-se a Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa

O movimento de defesa de unidade democrática, excedeu quanto se tivesse imaginado. Não só em todo o continente, mas através o mundo os portugueses procuram estabelecer a máxima união em defesa da democracia.

A comprovar isto, diremos que no Rio de Janeiro acaba de constitui-se a Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa, com o fim de promover o desenvolvimento das relações entre os democratas portugueses e brasileiros e dar apoio a todas as iniciativas realizadas em Portugal no sentido da conquista das liberdades democráticas, as quais, no entender da sociedade, constituem a melhor garantia da futura cooperação entre os países irmãos.

Eis algumas das individualidades que deram já a sua adesão àquela sociedade:
Gilberto Freire, Manuel Bandeira, Caio Prado Jr., Graciliano Ramos, João Mangabeira, Hermes Lima, Carlos Drumond de Andrade, Hedgar de Castro Rebelo, Abel Chermont, Vinicius de Morais, José Lins do Rego, Sérgio Buarque da Holanda, Jorge Amado, Aparício Torely, Osvaldo de Andrade, ..., Astrugildo Pereira, ..., Ruben Braga, Carlos Lacerda, Joracy Camargo, Paulo Mota Lima, ..., Oscar Niemeyer, ..., Valdemar Cavalcanti, Maria Werneck, ..., Dias da Costa, Raimundo Sousa Dantas, ..., Gastão Cruz, Raul Lins e Slva, ..., Melo Lima, …

As listas de adsão a esta sociedade encontram-se na Livraria José Olímpio, do Rio de Janeiro, e na Associação Brasileira da Imprensa"

VOX POPULI


* Causou impacto nos meios jornalísticos, em especial no NYT e na BBC, o último editorial do mestre José Manuel Fernandes. Consta que vários directores de jornais pediram a demissão; um conhecido presidente americano engasgou-se no Texas com meio copo de JD; um grupo de senhoras pretende patrocinar a Liga dos Amigos do Fernandes; a União dos Blogs Livres aceita, depois de intensas conversações com Pedro Mexia, convidar JMF para presidente honorário; um fadista de renome dedicou-lhe uma canção vadia; um activista de esquerda sucumbiu ao ler o Livro de Estilo, patrocinado pelo mestre; Vasco Graça Moura fez um poema de circunstância; e o Meu Pipi ficou preocupado com a argumentação sobre as 3 fontes, presentes no editorial citado. A redacção do Almocreve das Petas pediu a exoneração do seu director.

* Reapareceu de caqui e chapéu novo colonialista, o senhor Presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, na recepção ao Presidente do Brasil. Foi um assombro em S. Bento a elegância de estilo e maviosidade desvelada. Lula da Silva manteve-se hirto e firme. O deputado Telmo Correia compôs o nó da gravata, enquanto Guilherme Silva arregimentou as hostes. Mário Soares não foi ao Tavares!

* Tony Blair jurou pela centésima decima vez que "vão aparecer provas concretas de armas de destruição maciças" no Iraque. José Manuel Fernandes prepara editorial para esse momento solene. Foram pedidas várias garrafas de Don Perignon. Nós por cá abrimos uma Maria Gomes.

* Manuel Vilarinho não fica no Benfica. A redacção do Almocreve embriagou-se, perdidamente. Foi uma correria às garrafas da Quinta do Vale Meão. Sempre assumimos que pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.

* Cansado de oásis, Alvalades e Quintas do Lago anda o edil de Lisboa, Pedro Santana Lopes. Agora pretende dedicar-se à feitura de túneis. O vício nunca esquece. A nós também não.

* Pedrito de Portugal levou uma estocada no valor de 100.000 Euros. Na Moita é assim. Sejam prudentes, pois.

sexta-feira, 11 de julho de 2003

BOLETIM Nº19 DE J. A. TELLES DA SYLVA

Chegou o Boletim nº 19 da Livraria Telles da Sylva, superiormente dirigida por Margarida Maria Pacheco de Noronha Soares Franco.

Estes boletins são sempre uma fonte de ensinamento, uma aprendizagem com muito gozo. É soberba a descrição biográfica dos autores, bem como as referencias sobre o livro à venda. Por exemplo, no numero 1359, "José da Silva Carvalho /e/ o seu tempo/ ... / " é-nos dito:

"José da Silva Carvalho nasceu em 1782 vindo a morrer em 1856. Magistrado no Porto fundou o Sinédrio que deu origem à Revolução de 1820. Esteve emigrado em Inglaterra durante o reinado de D. Miguel I, vindo posteriormente a ser ministro de D. Maria II, tendo negociado os empréstimos externos. A obra que apresentamos é composta por 2 volumes e um suplemento e trata da correspondência desta figura política de relevo com as diferentes estâncias oficiais da época, comentadas por António Viana. Exemplar com as capas de brochura um pouco deterioradas, com falhas de papel e por abrir."

Como o Boletim está disponível on line, deixo ao leitor e amante do livro a curiosidade da descoberta. Boas compras!

IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30 (II)


No nº 2 (24 de Maio de 1930) um texto não assinado, com o título «Os estetas do cinema»

"... [o cinema] não é uma arte para raros apenas, destinada a satisfazer a ânsia bizarra, tola, falsa de meia dúzia de estetas com aberrações visuais.
Não a entendem assim certos pequenos decadentes e tristes. O cinema, para esses mancebos, não passa duma colecção de imagens bêbadas. Não lhes agrada ver uma paisagem de casas, como toda a gente vê, com os telhados voltados para o céu. Babam-se de goso quando as coisas e as figuras aparecem na tela branca viradas do avesso. Deliram com os ângulos esquisitos! O ângulo! Como eles enchem a boca com essa palavra saborosa! Rebolam-se quando aparece no écran o mesmo objecto fotografado 10 vezes de sítios diferentes: da ponta do nariz, do lado da frente, da parte de trás, de cima da mesinha da cabeceira, etc. São os estetas, em suma, os encharcados da literatura até ao esqueleto, os seres mais complicados e inúteis da criação. Esses desgraçados não compreendem as coisas simples, tranquilas e humanas
. (...) "

No nº 10 (12 de Setembro de 1930) um texto sobre as aventuras de Arthur Lak, artista jovem de Holywood, na sua iniciação na praia de Santa Mónica e Palm-Beach. Trata-se da via iniciática, a prova de fogo, que os neófitos artistas teriam de passar nesses lugares de veraneio. Desde os flirts (consta que o A. L. atacou 10 putativas candidatas) com variadas estrelas bem na moda, até a um conjunto bem sensaborão de brincadeiras ou praxes de duvidoso gosto. No fim, parece que entregaram ao jovem candidato ao estrelato Arthur Lak pequenos textos literários, conselhos a seguir, prosas curiosas que a revista Imagem transcreve. Eis algumas pérolas citadas, com especial dedicatória a alguns bloguistas e, em especial, aqueles que confessam não levar à pratica a máxima: "A mulher é de quem a trabalha".

"O flirt é um invento de praia, amor epidérmico, leve; duas palavras trocadas, quando se está em maillot. Um amor que não deixa rasto, tal como uma onda, quando rebenta na praia. Na praia de Santa Mónica tudo é assim superficial. Profundo, só é o mar. (...) O flirt é uma bola com que os banhistas jogam, quando estão mergulhados até à cinta. Uma bola com vinte cores. (...) uma bola de sabão, que o vento desfaz; um rebuçado que sabe bem, que é delicioso, mas que passado meia hora, já nos esquecemos do gosto." [Robert Montgomery]

"Se eu escrevesse um livro, havia de intitular-se O Elogio do Maillot. Esse livro seria, ao mesmo tempo, o elogio da América. (...) Paris ensina a vestir. A América ensina a despir. Enquanto a Europa continua agarrada à literatura dos trapos, que inventam corpos divinos à mulheres, nós limitamo-nos a gritar ao mundo: vai-te despir! (...)" [Frances Dee]

"Este ano surpreendi um grupo de «estrelas» ao sol, completamente despidas, num canto discreto da praia de Santa Mónica. Era um grupo de vedetas célebres, adeptas do nudismo. (...) Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido co esta visão da velha Grécia. Só a antiga imagem clássica das deusas ao sol, acabadas de sair da espuma, pode descrever a beleza daquele grupo. Fiquei ali horas, a contemplá-las e a filosofar! (...) os corpos das mulheres nuas já nem parecem nus. São maillots cor de rosa, através dos quais a alma espreita." [Frank Albertson]

" ... O paraizo devia ter existido ao pé do mar, numa praia larga com algumas rochas e uma ondas pouco violentas. Foi ali, concerteza, que os nossos primeiros pais viveram, completamente nus e felizes. Isso explica a atracção atávica que ainda hoje sentimos pelo mar, e o desejo que nos assalta de atirar para longe os fatos, quando nos deitamos na areia. (...) O maillot! Deixem-me fazer uma confidência. O maillot despe mais a mulher. Se Eva tivesse aparecido a Adão, vestida de banho, ele não só teria comido a maçã, mas toda a macieira! (...) [Charles Roggers]

[Conselhos de Gary Cooper] " Quando estiveres no estúdio, a filmar, sê o mais natural possível. Mas quando fores para a praia, não hesites: representa."

quinta-feira, 10 de julho de 2003

IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30

Nas arrumações costumeiras, reunimos a revista IMAGEM, dirigida por Chianca de Garcia e com José Gomes Ferreira como redactor principal. Estamos a 10 de Maio de 1930, quando saiu o número 1, 24 páginas que custavam 1$50 (lembram-se?). O editor era Francisco Bertrand e o administrador João Sá. Na capa, com dedicatória especial à revista, a vedeta alemã Lilian Harvey. Do número de estreia, saliente-se o editorial «Sempre Cinema», onde se debate a questão do cinema mudo versus cinema sonoro

« ... surgiu para o cinema uma nova possibilidade. A imagem juntou-se ao som. E um novo sentido, num mundo que parecia imutável, surgiu, modificando toda a técnica de expressão de que o cinema se servira até hoje. (...) Quer isto dizer que o som veio completar o cinema - ou que o cinema mudo era uma Arte incompleta? Devemos confessar que não. A Lina geral, de Eisenstein, é, através de tudo, uma obra definitiva. (...) O sonoro terá um grande lugar, como tem na literatura o romance e a novela. Mas o mundo persistirá também, pela mesma razão que em todos os países os poetas continuam a sonhar».

Escrevem ainda, António Lopes Ribeiro (Crónica), José Gomes Ferreira (Os que não passam de figurantes. Reportagem sentimental), Cottinelli Telmo ( Os antepassados do sonoro), Rui Casanova (O que cortam os censores em Portugal).

[A continuar a visitação às revistas de antanho]

INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM (EUA)


Saiu uma amostra pequena (no Público de dia 7 de Julho, último) dos livros banidos dos manuais e do receituário escolar pelas «school boards» americanas. Os neoconservadores ianques, agora com a roupagem do politicamente correcto, não param de nos surpreender. Ou talvez não. Deles já se espera tudo. Eis algumas obras do Index, capaz de fazer corar de inveja o nosso Sousa Lara:

- Huckleberry Finn, Mark Twain
- Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
- Uma Agulha no Palheiro, J. D. Salinger
- Adeus às Armas, Ernest Hemingway
- Diário, Anne Frank
- As Vinhas da Ira, Steinbeck
- Fahrenheit 451, Ray Bradbury
- Harry Potter, J. K. Rowling

BOLETIM BIBLIOGRAFICO Nº15 DE LUÍS BURNAY


Acaba de sair o Boletim Bibliográfico do Livreiro-Antiquário Luís Burnay, totalmente dedicado à bibliografia. Há muito que não tínhamos acesso a um conjunto tão expressivo de livros (684 exemplares) sobre a temática bibliográfica. Tudo é excelente para consulta bibliográfica e desde logo para bibliófilos. Refira-se:

- Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa Machado, 4 vols; Dicionário Bibliográfico Português de Inocêncio F. Silva e Brito Aranha, 25 vols; Livros Antigos Portuguezes1489-1600 da Biblioteca ... El-Rei D. Manuel, 3 vols; Catálogo da notável ... livraria ... do ilustre bibliófilo conimbricense Conde do Ameal [Josão Correia de Campos], 1924; Catálogo da ... livraria ... escritores e bibliófilos Condes de Azevedo e Samodães, 2 vols, 1921/22; Catalogo da Livraria Duarte de Sousa, 2 vols, 1972-1974; Manual Bibliographico Portuguez de Livros Raros,..., por Ricardo Pinto de Matos e prefácio de Camilo, 1878.

- Inúmeros catálogos de bibliotecas e livrarias particulares, que foram colocados em leilão, entre os quais a de Ávila Perez, do etnólogo Francisco Lage, do crítico de arte Alfredo Pinto Sacavém, do jornalista Geraldo Soares, do bibliófilo portuense Arnaldo Coimbra da Silva, da biblioteca de Rebelo da Silva, do Dr. Américo Teixeira, Dr. Jorge Peixoto, do escritor Fran Paxeco, do engenheiro agrónomo António Romão Passos, da importante biblioteca do Dr. António Simões Baião, do Eng. Pedro Joyce Diniz, da biblioteca do Conde de Ficalho, da biblioteca preciosa do industrial José Rodrigues Simões, do Prof. Cânones Francisco Gomos, do Visconde de Juromenha, de Francisco Gomes de Amorim, do cónego F. da S. Mattos (Porto), do Barão de Vila Nova de Fozcoa, da biblioteca do romancista Arnaldo Gama, da biblioteca e Arthur de Sandão, de Antonio da Silva Tullio, de Henrique Botelho, do Visconde de Ouguella, da livraria de José Maria Nepomuceno, do bibliófilo Dr. Luiz Monteverde da Cunha Lobo de Viana de Castelo [nós por cá temos um ternura muito especial por catálogos de livrarias e bibliotecas particulares. Pode consultar o site Bibliomanias para mais registos]

- um conjunto de livros importantes e curiosos, como a Bibliografia das Bibliografias Portuguezas, de António Anselmo, 1923; o Arquivo de Bibliografia Portuguesa, sob direcção de Manuel Lopes e Almeida, 56 números, 1955 ? 1968; a Bibliografia Geral Poruguesa sec. XV ? XVI, 1941-1983; o Bibliófilo Aprendiz de Rubens Borba de Morais, S. Paulo, 2ª ed. 1975; Bibliografia sobre a Economia Portuguesa, coordenada por Amaro Guerreiro, 1958 -1967, 13 vols; vários exemplares da Livraria Lusitana e catálogos dos irmãos Santos; A Bíblia do Bibliophilos, de Xavier da Cunha, 1911; a Arte do Livro - Manual do Dourador e Decorador de Livros, por Maria Barjona de Freitas, 1941; os Jornais e Revistas de Coimbra, 1931; Bibliografia Coimbrã de Pinto Loureiro, 1964; e muitos muitos mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2003

IN MEMORIAM AUGUSTO ABELAIRA


AUGUSTO ABELAIRAIn Memoriam

Não podia deixar passar: gostava da escrita de Augusto Abelaira. “Bolor” e “Sem Tecto entre Ruínas”, com certeza. Mas, também, as crónicas do Jornal das Letras ou no Jornal. O romancista era demasiado humano para ser de companhia. Mas quem o conheceu sabe que entre a timidez e os infortúnios vários, existia um homem livre. Talvez por isso fosse pouco compreendido. Pouco lido. Nós dizemos – obrigado Abelaira.

NUM BAIRRO MODERNO - CESÁRIO VERDE


E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados,
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injectados

As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos d'uvas - os rosários d'olhos

Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E, como feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vivida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras

[in, O Livro de Cesário Verde, Editorial Ática, Lisboa, 1945]

BOAS


De regresso, fico estupefacto com tantas novidades em tão poucos dias. Isto na blogosfera. Porque o país e o mundo estão na mesmíssima posição (perigosos à maneira de Pulido Valente).

- Direi que o fecho do Blogo não é aceitável. E como tal, proponho uma manif bloguista contra a decisão do(s) mentor(es) desse importante espaço que agora desaparece. Não há substituição possível. Volte ao work, já!

- Fiquei comovido pelo bestial figurino do amante de Berlin, o nosso caro MacGuffin. Rodeado de livralhada, a mão docemente segurando o peso da teoria liberal, o Carlos deu a cara no Contra a Corrente. Fez bem. Cada um dá o que pode. Só lamento que em vez de referir o ar “de puto” que supostamente tem, não termine o MacGuffin com a velha máxima de Baudelaire, “A verdade enfática do gesto nas grandes circunstâncias da vida”. Dava uma atmosfera mais erudita.

- Lemos com o recato possível, sem ousar corar por uma única vez, a crónica da Charlotte em estylo maviosamente Carlos Castro (como sugere o JPP) sobre a elegante e cuidada reunião da UBL. Post de impressões (in eternum manebit et ultra) é um curioso documento para a história da blogosfera. Ficámos sabedores da inteligência do Lomba (a juventude é um mystério), compreendemos a timidez Mexiana que depois é transposta para a poesis com sucesso, também concordamos que O Intermitente deve ser castigado, enquanto os giros De Direita não por serem giros. Até aqui tudo bem, mas quer no post da piedosa bloguista Charlotte, quer naquele outro do Pedro Mexia, nada nos é dito sobre os pormenores da desbunda gastronómica havida, nem nos é referido as sinopses das comunicações proferidas, pelo que suspeito deve ter ocorrido o que o narrador de Fradique Mendes nos diz: “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor D. João V, antes da democracia e da crítica».

quarta-feira, 2 de julho de 2003

O ALMOCREVE AUSENTA-SE POR CURTOS DIAS



Eis, mais acima, sob as vossas cabeças e clamores, o momento da partida. Serei nestes dias um mutante de barriga ao sol. Mas voltaremos quando reunirmos a saudade e em antiquíssimo cantar dos frescos campos do Mondego, faremos espaço de reflexão e de dizeres outros, retomando a nossa (e vossa) ventura.

Pretium laborum non vile. Até Segunda!

Vale

JOSE LAMEGO, O VIGILANTE DAS CIMENTEIRAS


Lamego ontem refutava os actos belicistas no Iraque. Hoje a mando da Secil corre alegremente para lá. Lamego quer ser o primeiro. Eis os últimos suspiros de um velho revolucionário a caminho da velhice. Não pode, o camarada Lamego, sacar das medalhas da sua luta contra o Estado Novo, exibindo o curriculum de ter sido barbaramente agredido nas cadeias da Pide se agora num perfeito golpe de rins, vacila no que é mais sagrado no Homem - ter espinha vertical. Lamego, manifestamente, não tem. A mando das Empresas da Construção Civil, o ex-maoista e actual socialista perdeu por fim o pudor. Afinal, a caminho da velhice, o vil metal está primeiro que a honra e a ética.

Começa a ser preocupante o papel que um conjunto de jovens oriundos da extrema-esquerda, versão maoista, começam a ter na política caseira e internacional. E acompanhar o seus percursos é lembrar o tempo, a lembrança. Não bastava o José Manuel Fernandes (travestido de mestre escola liberal), o João Carlos Espada (mais soft porque a vergonha persiste), o próprio José Pacheco Pereira (nas suas análises de política internacional - que na política lusitana desmarca-se quase sempre - embora se lhe reconheça algum fair play e inteligência política e cultural), o Pedro Baptista convertido agora em simples amador de futebol, versão Pinto-costista, o Henrique Monteiro a colunar expressivamente em defesa da nova pátria do tio Bush, o Vilaça agora literato e fazedor de canções, e muitos mais.

Eis pois um trabalho interessante, a fazer pelo nosso Estudos sobre o Comunismo, sobre a chefia e o percurso individual dos principais dirigentes dos vários movimentos à esquerda do PCP, antes e depois de Abril - desde os troskystas Lambertistas ou Pablistas, ou versões mais familiares, toda a tribo maoista que, dos URML, UCPML, UCMLP, OCMLP, PCPml (em todas as suas versões), O Bolchevista, a ORPCml, MRPP, ... - que contribuíram, de facto, para um Portugal melhor mas ao mesmo tempo instalaram a perplexidade nos tempos de hoje. Porque não acredito que o mundo tenha mudado e os intervenientes restassem na mesma posição. Como quer fazer passar o JPP quando diz que (ele, JPP) não mudou nada, mas sim o mundo. Suspeito que é mais, aquilo que diz Herberto Hélder - As palavras não fazem o homem compreender / é preciso fazer-se homem para compreender as palavras.

REVISTA EPICUR

Para os epicuristas, que os há ainda, a boa nova: acaba de sair o nº34 da EPICUR, superiormente dirigida por Mestre Alfredo Saramago. Logo na abertura podemos ver as fotografias do grupo de aprendizes dos puros, agora em terras da Figueira da Foz. Consta que castigaram várias Quintas dos Cozinheiros, o que me preocupa pois estou a ver que vai subir de preço, rapidamente, ali feita perto da Marinha das Ondas. Mas o tema de eleição é o whisky (assim mesmo escrito). A não perder: uma entrevista a João Paulo Martins, um vate do vinho em Portugal e que tem a ousadia de nos dizer que, "aí pelos 17 ou 18 anos" começou a calcorrear as tascas e mercearias velhas de Lisboa, tendo comprado a sua primeira Barca Velha a um extraordinário preço de 200$00, o que dá direito a ser seviciado imediatamente. Depois, um texto que me assustou, de título, " Garrafeira Guterres", o que seria fantástico: o nosso António abandonando os prazeres celestiais, caindo no pecado terreno. Mas, não é isso, podem ficar tranquilos. Trata-se de João Guterres, de Valença, que tem um autêntico "quartel-general" de vinhos e charutos - Aromas de Vinho. Por fim, uma prova de charutos: Juan Lopez (corona gorda) desta feita. Cubano claro. Refira-se uma entrevista a Jaime Gama, um praticante de puros, e as colunas habituais. Boa leitura a todos e em especial ao Fumaças.

FESTA DOS TABULEIROS OU FESTA DO ESPÍRITO SANTO - TOMAR


A serenidade incómoda, nunca explicada, que nos invade em Tomar, ruas a fugir de ruas, esguias, labirínticas, castelo ao fundo, é sentida por todos que lá vão em visita. O saber do corpo e da terra estão presentes num ritual mágico-religioso ao longo do rio Nabão, num enamoramento que o corpo responde com as doçuras das coisas perenes. Ao longo do ano, no solstício sem dúvida. Na Festa dos Tabuleiros também. Os agradecimentos à Divindade o produto das colheitas, em "acções de graça" de uma religiosidade pagã que se perde nos tempos, tem uma das suas expressões ritualistas mais poderosas em Tomar, nas festas em honra do Espírito Santo. Como nos Açores terá e tem. "É esse o nome do povo, o culto popular do Espírito Santo" [Agostinho da Silva].

"Talvez o povo, para que se atinja seu ideal de governo, de economia e de liberdade, saiba de Constituições mais adequadas do que aquelas que, talvez sempre com as melhores das intenções, lhe fabricaram os especialistas; talvez para um Portugal do Espírito Santo ... " [Agostinho da Silva]

Tomar, pois. "A Festa dos Tabuleiros é essencialmente constituída por um CORTEJO de oferendas, neste caso particular o PÃO, fruto da terra e dom de Deus. Quer a tradição que todos, indistintamente, recebam após a festa o seu Quinhão - a PÊSA - de Pâo Abençoado pelo Pároco - PÃO BENTO - e a CARNE, produto das rezes abatidas propositadamente e que, primitivamente, seriam imoladas em sacrifícios. Também, por vezes, se tem feito incluir na «Pêsa» o Quinhão de VINHO" [Programa Oficial das Festas, 1950].

Tomar, Teodomar dos Visigodos, lugar protegido pela Virgem Negra, presente na Igreja de Santa Maria do Olival (ou da Nossa Senhora das Oliveiras), mais tarde, ao que parece [O Ouro dos Templários. Gisors ou Tomar, Bertrand]" anexada por um convento de beneditino de quarenta e quatro frades? [note-se, 44], a lenda de Santa Iria [ou Ireia, vide Amorim Rosa, "Tomar"], a mixagem cultural, antropológica e etnográfica aí presente; o Castelo dos Templários, o Convento de Cristo, a Ermida da Conceição, a Igreja de S. João Baptista, a Sinagoga, todo uma via simbólica, arquitectónica por descobrir. Como em Sintra, Mafra, Batalha ou nos Jerónimos [vide o Jornal V Império, 1991]

Tomar, Ordem do Templo ou Ordem de Cristo. Gualdim Pais, vindo de Bragança, aluno dos Cruzios, símbolo da defesa desse lugares, mas também procurando "os conhecimentos" que o universalismo templário assumia. Dupla face: Esóterico (Igreja de S. João) versus exóterico (Igreja de S. Pedro). Daí a presença importante da comunidade judaica. O Castelo Templário, o ovo alquímico nas ruínas do castelo que nos diz que a Grande Obra se realizou. A Charola, templo dentro do castelo, octogonal, os medalhões da com a Cruz de Cristo nas abóbadas, edifício único da época, lendas sobre os subterrâneos ou câmaras de iniciação debaixo da sala; a Janela Manuelina do Convento de Cristo com traçados geométricos elucidativos, a Ordem da Jarreteira e do Tosão de Ouro aí presente, que nos leva ao claustro da Micha e do Corvo; e de novo surge Hermes de Trimegisto, lá no alto da abobada; o Olho de Boi Manuelino, com a presença (constante na arquitectura templária) de ângulos de 17 e 34 graus. Eis uma linguagem secreta por descobrir. Toda uma cosmogonia para estudar. Toda uma Terra para visitar.

[Há uma extensa bibliografia, em livros, brochuras, revistas sobre Tomar. Julgamos que é prossível começar por consultar o site Bibliomanias, onde pode aceder a um conjunto, imcompleto que o é, mas expressivo sobre a temática em causa]

terça-feira, 1 de julho de 2003

TOMAR



Ainda hoje
As constelações
São em ti esplendor,
Ponto vivo
De energia e de amor.

Quando batem as horas
No bronze alquímico
Os cavaleiros vigiam
No altíssimo segredo
O nosso inteiro destino.

Tomar,
Onde a neblina
Quando se forma,
É uma esfera armilar

[Eduardo Aroso, in Poemas do Arquétipo, 1990]

FESTA DOS TABULEIROS


Não me apetece escrever. A Net está tão bem nutrida que um tipo se perde nela, alegremente, enquanto cai a noute.

Poderia dar um bravo pelo texto do Daniel Oliveira no Público de hoje. Espantoso de força, pertinente nos argumentos. Arrasador. Ficámos, porém, preocupados dado a dama de Matos ser nossa cliente desde sempre. Nunca perdemos uma boa gargalhada com os paroquiais textos da senhora. E, também, suspeitamos que possa andar amancebada intelectualmente com o profeta César das Neves. Que tal um "Breve Tratado da Raiva", ó dupla maravilhosa?

Assim, fica para amanhã referir a FESTA dos TABULEIROS, ou FESTA DO ESPÍRITO SANTO, que acaba no próximo fim de semana. A não perder em Tomar. E, já agora, alumiadas as almas, será sempre útil castigar o corpo com a gastronomia local.

segunda-feira, 30 de junho de 2003

LIVROS DE CULINÁRIA

Tinha prometido ao Fumaças uma resma bibliográfica sobre livros de culinária. Desconhecia que o mestre José Quitério tinha prefaciado os "Livros Portugueses de Cozinha", com organização de Manuela Rêgo, edição Biblioteca Nacional, onde vem (suponho) um vasto conjunto bibliográfico sobre o tema. Como não o tenho, tomei nota de alguns livros que julgo importantes, nas minhas deambulações ...

- ARTE DE COSINHA [pref. Alberto Pimentel]
Matta (João da), Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1909, 416 p.

- ARTE DE COSINHA DIVIDIDA EM DUAS PARTES, ... [Primeiro tratado de cozinha portuguesa, escrito pelo chefe da cozinha de D. Pedro II, com oferta ao Conde de Vimioso. Inocêncio F. Silva considera que a melhor edição é a de 1765 (7ª ed., dividido em três partes, sendo a última o "preparar mesas em todo o ano"]. Saiu, ainda, mais edições sendo que a partir de 1836 trás mais uma quarta parte (fazer "pudinz, e preparar massas"]
Rodrigues (Domingos), Lisboa, 1693

- ARTE DO SALCHICHEIRO, OU METHODO DE PREPARAR E CONSERVAR AS DIFFERENTES PEÇAS DE PORCO, SEGUNDO ... .[obra traduzida do francês]
Typ. De G. M. Martins, Lisboa, 1856, 309 p.

- ARTE NOVA, E CURIOSA, PARA CONSERVEIROS, CONFEITEIROS, E COPEIROS, E MAIS PESSOAS QUE SE OCCUPAM EM FAZER DOCES , E ?
Off. de Jose Aquino Bulhoens, Lisboa, 1788, 203 p.

- COZINHEIRO MODERNO, OU A NOVA ARTE DE COZINHA, onde se ... [3ª ed.]
Rigaud (Lucas), Off.de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, 1798, 461 p.

- GUIA DA DONA DE CASA [Pref. Curioso do prof. Eduardo Pimenta]
Lopes (F.), Typ. da Empresa Litteraria, porto, s/d [1895], 240 p.

- ... O DOCE NUNCA AMARGOU ... Alguns motivos ornamentais de doçaria portugueza
Ribeiro (Emanuel), Tip. Sequeira, Porto, 1923, 51 p.

- O ESPÊTO. Sociedade conhecida, de responsabilidade limitada a ... ceias e piqueniques [peripécias culinárias de Beja]
Carvalho (Ernesto), Tip. Universal, Lisboa, 1914, 222 p.

- TRATADO COMPLETO DE COZINHA E DE COPA
Maia (Carlos Bento) (pseud. de Carlos Bandeira de Melo], Ed. Guimarães, Lisboa, 1904, 748 p.

... e já agora este curioso folheto com a participação de Fernando Pessoa:

- QUAKER OATS. Receitas [famoso folheto sobre os flocos de aveia Quaker Oats, em versão de Fernando Pessoa, saindo sobre anonimato]
[Pesoa (Fernando)], Lisboa, s/d [1930], 32 p.

[a continuar]

À VOLTA DOS BLOGS

- Memória Inventada é assim: abriu as portas do seu blog a "desenhos, vinhetas, pequenas animações e aguarelas” dos leitores. Boa malha! Ficamos à espera de revelações.

- Rui Knopfli em Obra Completa. Leio no Aviz que leu no Desejo Casar que ouviu no Acontece. Nestas coisas é bom passar palavra. Les bons esprits …
On line: "O tema da escrita em Memória Consentida de Rui Knopfli", por José Maria Aguiar Carreiro; Bibliografia na "À Esquina do Mundo", page de António Cardoso Pinto, onde pode ouvir poesia dita por A.C.P. do livro de R.K. , “O Monhé das Cobras”.

- José Mário diz-nos:"quem esperava sangue a correr pelas ruas, rasgar de vestes ou gritaria" na resposta, publicada no DNA a Pedro Rolo Duarte pode ficar desiludido. Homessa! Quem esperava tal? Nós sempre pensámos, como Karl Marx, que a "humanidade não põe questões que não pode resolver". Pode-se é ficar a pensar que, e afinal, os nossos revolucionários revelam que "já não há senhores, apenas escravos comandam outros escravos". Bem nos dizia Deleuze & Guattari.

- O esteta da Contra a Corrente, título assombroso e excelente paradoxo da pós-modernidade dado os interstícios ideológicos onde navega, anda cada vez menos Berlin e criativamente mais pela poesis. O problema é que entre as politicamente correctas reflexões sobre toiros e tourada e a arte poética avassaladora que posta, fica o vazio liberal. Estamos a ficar preocupados.

- Simplesmente genial a "INTRIGA NO MUNDO DOS DOURADINHOS".

domingo, 29 de junho de 2003

SEMANA LUSITANA


- "Luís Delgado, eis uma banha-da-cobra com que a direita ignorante gosta de se enganar" [Eduardo Cintra Torres]

- "No seu mais profundo nexo, a invocação sexual em Monteiro [César Monteiro] é também necessariamente um acto blasfematório e sacrílego (é a conversa com a puta numa associação religiosas). Mas talvez que a blasfémia seja ainda temente, e temente da punição; e, afinal, não é um instrumento como o seu, um falo, a causa letal?" [Augusto M. Seabra, sobre o filme "Vai e Vem" de João César Monteiro]

- Futebol: Al Zawraa do Iraque 11 – Militares dos E.U.A 0.
"Os jogadores americanos não são rivais, são inimigos e espero que saiam do nosso país o quanto antes" [comentário de Mohamed Nasrlla, treinador da equipa iraquiana, após a vitória]

- "Estivemos a ver se entrávamos num campeonato a sério. Como aquilo é a III divisão B, nós, pura e simplesmente, não fomos a esse campeonato" [palavras de Belmiro de Azevedo, questionado sobre o processo de privatização da Portucel]

- "A mensagem de Orwell, 50 anos depois, ainda não foi devidamente interiorizada" [José Manuel Fernandes, o direktor do Público, em editorial sobre os 100 anos de Orwell, lembrando-se (dizemos nós) quando há 24 anos atrás andava desvanecido a ler as Obras Completas do camarada Hoxha e do camarada José Estaline. Desde esse ano até hoje, o nosso direktor ainda não conseguiu entender patavina. Os textos hoxhianos eram mais legíveis … decerto.

- "Gestão dos serviços públicos passa a ser feita por objectivos" [Durão Barroso dixit. Lá se vai a educação, a cultura … e o resto, dizemos nós. A não ser que se descubra um liberal neoconservador para traçar objectivos e linhas de orientação para essas áreas. Pode alguém ajudar? Fica candidato ao Nobel … já pensou?

- "Os ideólogos bombistas oriundos da extrema-esquerda que se arrependeram de o ser, excedem-se de zelo a reclamar bom senso, disputam à direita mais reaccionária o privilégio de exigir sacrifícios aos outros e são os mais lestos a proclamar o fim das ideologias" [Alfredo Barrroso]

- "Aos males físicos há ainda que juntar os psíquicos. Estes proliferam por ciclos. Ora é o stress, ora a depressão, ora a depressão gerada pelo stress, ora a solidão a que se junta o stress e a depressão … " [Helena Matos, colunista no Público. Desconhece-se qual o ciclo actual da senhora]

- "Buraco supera perdão" [extraordinário título de um artigo de Joana Mateus, no Expresso, sobre essa tragi-comédia em torno das receitas fiscais e do deficit de Manuela Ferreira Leite]

- "O ministro da defesa, o impoluto de dedo erguido Paulo Portas, tomou à letra o que nenhum ministro tomara nas últimas décadas: que tinha a tutela de uma organização como a Cruz Vermelha. (...) De facto, a intervenção na Cruz Vermelha é própria de um ministro aparolado que desconhece limites ..." [Henrique Monteiro, Expresso. Estás perdoado desta vez Ó Henrique …]

sábado, 28 de junho de 2003

NOITE ORDINÁRIA



"Que bela noite ordinária que eu passei!
.............................
Gritei por calculado amor
por brilhantina
por miséria
gritei até por vitória
(supremo humor!)
dos que se batem contra a Cara - Alegre
gritei p'ra não parar de gritar
gritei «Chapultepec!» e «Oaxaca!»
(nomes por excelência afrodisíacos)
gritei até descobrir
o sítio em que te «escondias»
e então deixei-te gritar ..."

[Alexandre O'Neill + fotografia do filme de Robert Bresson, «Le Diable Probablement»]

sexta-feira, 27 de junho de 2003

OCULTO [POR F.P.]

"A grande regra do Occulto é aquella do Pymandro de Hermes: «o que está em baixo é como o que está em cima». Assim, a organização das Baixas Ordens copia, guardadas as differenças obrigatorias, a organização das Altas Ordens; reproduzem-se os mesmos transes, por vezes as mesmas especies de symbolos; o sentido é outro e menor, mas a regra da similhança tem de ser mantida, pois, de contrario, a ordem menor não vive e abatem, por si, as columnas do seu templo."

[in Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, por Y. K. Centeno, Presença, 1985]

FERNANDO PESSOA PELO REPÓRTER X


FERNANDO PESSOA - in Semanário X (de Reinaldo Ferreira)

Reinaldo Ferreira (1897-1935), ou o famoso Repórter X, nascido em 1897 em Lisboa, foi jornalista, escritor de livros policiais e de peças de teatro, fundador de semanários e jornais, mais ou menos sensacionalistas ou curiosamente extravagantes, argumentista e realizador de filmes, aventureiro e ex-morfinómano (Memórias de um Ex-Morfinómano é um testemunho notável do jornalista).

Do X - Semanário de Grandes Reportagens, cujo director e jornalista era Reinaldo Ferreira, número 13 de 7 de Fevereiro de 1935, nos "Homens da Semana" (pag. 4), vem o seguinte sobre Fernando Pessoa:

"O nome Fernando Pessoa surgiu, bruscamente, ao som de uma imprevista pancada de gongo, como um Mefistófeles de Opera (...) e assim, à la minute, duma noite para o dia (...)
Fernando Pessoa que, há dez dias a esta parte é dos indivíduos mais discutidos, não só nos cafés, nas esquinas, nas tertúlias da capital, como em todo o pais, é também dos nomes mais ignorados, das personagens menos conhecidas. (...)
Fernando Pessoa é uma incógnita. (...) Antes de mais nada, é preciso que se saiba que a especial e sempre admiravelmente estranha actividade mental de Fernando Pessoa dura há vinte e tal anos. Já na aurora desta geração, Fernando ocupou um posto marcante de chefe, de orientador fleumático, oculto, desprezando glórias e troféus (...)

Poeta de ritmos preciosos, os seus versos, como a sua prosa, são forjados num ineditismo de concepções que, para muitos significa ânsia audaciosa de sensacionalismo, mas que é apenas uma disciplinada, premeditada e sábia expressão do seu pensamento e dos seu gosto estético. A literatura, para ele, é a sobremesa, o doce da vida. Não exibe as suas produções; raramente as publica. São para ele só, e para alguns amigos. A sua missão na vida, missão mental, espiritual, parece oculta-la como um segredo, e cumpri-la fervorosamente como um desígnio de Deus. Do mistério da sus intimidade apensa se transparenta o seu ar místico, a sua sede de estudo, a orientação complexa das suas leituras, duma biblioteca, da sua cultura. (...)
O seu contacto com a vida, fora da faina profissional é regateado : uma hora, todas as tardes, no Martinho da Arcada, no Terreiro do Paço, cercado por meia dúzia de jornalistas, poetas, escritores, artistas (...) é o menos palrador; mas quando fala, esgota a crítica ao objecto de discussão com um critério estranho, dir-se-ia que filtrado por um cérebro, uma mentalidade, um espírito doutro planeta. Esse estilo das sua expressões críticas, esse seu sistema de análise aos factos ou de profecias às consequências, criou-lhe a vaga fama de "ocultista", ou pelo menos de um mergulhador de textos misteriosos (...)
Fisicamente Fernando Pessoa é magro, tem os lábios sempre comprimidos, como os de uma criança, e como uma criança esbugalha os olhos, atrás dos óculos, numa expressão de pasmo infantil quando escuta algo que o surpreende ou quando fixa a sua atenção numa conversa (...)"

AINDA ... SOBRE UM POST

O excelente Socio[B]logue de João Nogueira refere-se a nós num texto intitulado "Socioblogosfera: um Retrato Singular". Estamos gratos por isso. E, porque julgamos que não fomos esclarecedores em post anterior, voltamos a replicar para que se não instale entre nós qualquer "cisma na alma" (Tonynbee) e no desejo de se saber do que se fala nestes dizeres por nós enunciados sobre a blogosfera, agora tomada como locus de inscrição de outras cumplicidades e de novas problemáticas.

Trata-se de reflectir, a partir do espaço que a Internet (novo espaço antropológico por excelência) veio preencher, num conjunto de questões que a dita blogosfera (e o seu discurso) enuncia e da contribuição (modesta que seja) para a reinvenção de uma "racionalidade comunicativa" que permita aceder à "desconstrução" do paradigma. De outro modo, diria que é necessário referenciar alguns aspectos que a especificidade da blogosfera transporta e veicula enquanto confluência de uma intensa rede de interdependências (onde a blogosfera é, de facto, uma pequeníssima parte), tomada como novo topos de comunicabilidade, mas onde se entrecruzam, sempre, diferentes discursos (da tecnociência à sociologia, da economia à política) e sujeitos.

Não sendo nosso mister descortinar qualquer linha de água conceptual nesta área, até pela nossa impreparação científica, pode-se no entanto alinhavar duas questões, que julgo pertinentes, a saber:

- seguindo o trabalho de Lídia Silva (citada anteriormente), assume-se que a Internet "veio introduzir a metamorfose do conceito de território", com "mudanças estruturais potenciadas pelos suportes tecnológicos" (duplicação e divulgação de informação; bidireccionalidade; emissão multiponto; dimensão planetária da comunicação;...) que de algum modo "tem conduzido a uma reorganização dos fluxos de informação e dos procedimentos comunicacionais". Ora essa nova territorialidade urge compreender para descodificar, já que se pensa sempre a partir de um território interiorizado e familiarizado (geografia telemática). Como se nota, está já longe a controvérsia entre os apocalípticos e os integrados em U. Eco. E mais perto do corpo, território despótico, lugar do poder e da sua sedução.

- de outro modo, inútil referir o dizer de Lacan quando nos diz que "o sujeito está lá onde não tem consciência de estar", remetendo para que o "sujeito da comunicação" (Beneviste) está envolto num campo de teoria de jogos comunicacionais onde a circulação da palavra tem uma função reguladora. Assim sendo, o "jogador" deve perder-se nele (jogo) e o "jogo ultrapassar o jogador". Isto é, "jogar é sempre ser jogado" (Gadamer). Donde, pode-se estabelecer a articulação entre o sistema comunicacional e as estruturas do poder, isto se aceitarmos que no "reino das mercadorias" a utilidade (felicidade) dos sujeitos e do seu bem estar, é quantificável (a informação, a cultura perdem conteúdo na apropriação) e logo o consumo legitimado pelo manuseamento das NTI é, em si, factor de prestígio e de poder. Ora, é reconhecido que, no seu campo específico, o investigador/docente não domina a linguagem tecnológica (linguagem-máquina) o que é um sério obstáculo que o impede de partilhar o poder (académico/simbólico) que detém no campo do saber. E é aí que tudo se joga. Percebe-se, pois, as reticências reveladas por quase todos os docentes e investigadores no manuseamento das NTI. E daí o meu espanto quando se pretende que os docentes/investigadores "migrem" para este novo espaço comunicacional e ao mesmo tempo possam manter intacto o seu poder.

quarta-feira, 25 de junho de 2003

ARRUMAÇÕES & LIVRAVALHAS


Curiosa ideia esta de organizar papéis, revistas, livros, fotos, coisas que nem sei que nome devo dar, jornais velhos ... Organizar, mas como? Fico sempre depressivo quando me dizem como se deve arrumar todos esses papéis. Não tenho a fúria do bibliómano, confesso, e sempre persegui essa ideia assumida de Eluard: sem ordem, nem desordem. Hoje fiz mais uma tentativa para redesenhar o caos. Não o consegui. Aliás, suspeito que nunca o farei. Começo a ceder logo ao segundo ou terceiro livro. Miro-o com olhar de espanto, folheio com o vagar das coisas solenes e nunca mais me lembro o que estava ali a fazer. É que "há seduções tão poderosas que não podem ser senão virtudes". Diria Baudelaire. Eu subscrevo.

Fiquei-me, pois, pelas separatas e pelos opúsculos. Sempre tive essa mania das separatas das revistas (como do Instituto, a minha paixão suprema) e dos folhetos. Não consegui resistir a tamanho encantamento. Eis algumas tiradas, sacadas entre o segundo café da tarde e o fim de tarde.

- "A caricatura é uma das mais terríveis armas de guerra aplicadas ao ridículo humano. Pior do que o canhão! Porque o canhão mata - a caricatura mutila. Antes das duas linhas de legenda que são vitríolo atirado ao rosto da personagem, a caricatura despenteia-a, deforma-a, desarticula-a, fá-la dançar o S. Vito da desfiguração, até categoria, poder, majestade se tornarem bonecos de pasta sobre que caiu chuva em quarta-feira de cinzas" [Joaquim Leitão, O Poço que Ri - Conferência sobre Rafael Bordalo Pinheiro e o seu tempo, proferida por ..., na Sociedade de belas Artes na noite de 8 de Fevereiro de 1936 ..., Publicações do Anais da Bibliotecas, ..., Lisboa, 1936]

- "Não costumo fazer erratas ao que aparece deturpado nesta secção, mas hoje tem de ser para evitar equívocos. No eco que dizia respeito a um miserável que escreveu o folheto infame dos AZEITEIROS, saiu: para excremento da espécie, onde eu tinha escrito escarmento da espécie. Vai isto para que conste. Quanto ao biltre, apesar de andar meio mundo a querer saber quem é, ainda não se deu por achado. É de força o mastim, que nem puxado pela arreata deu de si. Ele aparecerá um dia ..." [ João Paulo Freire (Mário), Azeite Escaldado, Lisboa, 1946 - Trata-se de uma polémica entre João Paulo Freire e o autor do célebre opúsculo Os Azeiteiros de Camilo, da autoria de Manuel de Castro]

- "E o sr. M. B., [Nota: Miguel Bombarda] usando alimentar-se intellectualmente de bugiarias, à maneira das mulheres pejadas que, no sempre judicioso parecer, ao menos para mim ..." [J. Mendes Martins, Sacudindo um Psychiatra, Porto, 1903 – curiosa polémica do autor com o Prof. Miguel Bombarda]

- "Em Portugal, nos últimos tempos, a crítica literária parece-me oscilar entre um modo geralmente teorizante, como que perceptivo, recensivamente pouco exacto, - e uma erudição comparativa de passos e ávida de descobrir influências..." [Gaspar Simões, citado por Eduardo Lourenço, in A Conversação Crítica de Nemésio, Eduardo Lourenço, Separata de Revista da F. L. Lisboa, nº 2, 1978]

terça-feira, 24 de junho de 2003

JMF 1 - PRD 0

O director do Público não é completamente desprovido de inteligência, mais a mais se segue com religiosidade a máxima de, "se não podes vencê-los junta-te a eles". Hoje apresentou 3-explêndidas-3 páginas do jornal que dirige, sobre os blogs e a blogosfera, e em lugar de destaque. Arrasou tudo e todos. Fez o que devia, pensam alguns, nada de estranho. Não é certo. É que o PRD do DNA, sobre o mesmo assunto, não só discursou sobre o que nunca entenderá como acabou a sua bestial prosa com uma enigmática “esperem pela pancada”. Assim sendo, declaramos que para sermos justos e sensatos, concedemos ao JMF um dia de tréguas. Para que conste.

COWBOYADAS AMERICANAS

Com muitos filmes visionados e total impunidade face aos crimes praticados, a soldadesca americana lá vai mostrando o que vale. Duas situações esclarecedoras: a primeira foi o ataque selvagem (já se perdeu a conta a estes actos criminosos, totalmente branqueados pelos nossos liberais lusitanos) a uma coluna (civil ou militar não se sabe) perto da fronteira com a Síria, com a explicação que lá se encontrava Saddam. Por ora, os criminosos americanos ficam pacientemente à espera dos resultados do DNA, para confirmar se era ou não o ditador Saddam que mataram, que nada os perturba. Até à próxima chacina.

A segunda é a extraordinária notícia da última página do Público, sobre a ocupação da piscina olímpica da cidade de Bagdad pelos soldados americanos que dela fazem veraneio, não permitindo que os atletas iraquianos possam utilizá-la, a não ser duas horitas por dia. Querem treinar - pensou o amigo americano - então que vão para as águas do rio Tigre, que por cá o calor é tanto que só apetece estar ... à beira da piscina. E assim continua a implantação da democracia no Iraque.

segunda-feira, 23 de junho de 2003

CAPABLANCA E O XADREZ

Alexandre Monteiro dá-nos a conhecer esta frase de José Raul Capablanca sobre o xadrez (onde foi exímio jogador). Obrigado AM.

«O Xadrez é algo mais do que um jogo. É uma diversão intelectual que tem algo de arte e muito de ciência»

MACHADO DE ASSIS


«Ah! indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da Terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afectos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.»

Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas

DO PRINCÍPIO DA REALIDADE AO PRINCÍPIO DO PRAZER

«(…) seria interessante ler blogues de outros cientistas sociais como António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, não?» [JN, Socio[B]logue]

Acabo de ler no blog de João Nogueira, um curioso exercício laudatório ao blogar enquanto um noviciado espaço sociológico a não perder, que permitiria o construído de uma nova «gramática» discursiva a partir dos espaços ou dos interstícios presentes na blogosfera. Está, assim, assumido que os blogs (e a sua sedução) podem ser um campus de analise «cientificamente analisável», novo investimento sociológico que, a partir de registos conceptuais de rigor, possa aceder aos liames de uma problemática sociológica dita interessante. Daí que João Nogueira acredite, piedosamente, que a overdose de blogs caída sobre as nossas cabeças, permita que os cientistas do social deixem a parcimónia dos seus maples escolásticos, saiam do seu altar iluminado e iluminante, e corram para a desconstrução do real e do seu simulacro.
Mas nós tememos que esta nova comunicabilidade, expurgada da «ideologia dos dons» escolásticos que os cientistas sociais interiorizariam, levaria ao abando da constante acção de controlo social disciplinar, onde a confusão entre o trabalho curricular e não-curricular surgiria, o que seria manifestamente perigoso e, logo, de pouca aceitabilidade.

É evidente que blogs de António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, seriam «socialmente úteis» e espaços conversáveis por excelência. Mas a questão é bem outra: porque razão os docentes universitários portugueses e as Universidades em geral, manifestam o mais completo desprezo pela utilização das novas tecnologias de informação, sendo raro encontrar páginas (ou blogs) sobre os seus docentes e os seus trabalhos académicos? O que no estrangeiro é absolutamente normal, por cá, a resistência aos novos modelos comunicacionais que as NPI permitem é elucidativo da não aceitação desse novo «espaço público», ou nova Àgora (Lídia da Silva, U.A.). E, assim, é de louvar essa «moral de prazer» que, ao comportar riscos vários e muitas vezes «iniciações» conflituosas, alguns bloguistas como JPP, JN, FJV, NM, VA, bem como os nossos jornalistas bloguistas, souberam defender, sem submissões.

Ou como diria René Char, é verdade que «o desejo de saber, é sempre o desejo de saber sobre o desejo».

CURTOS

- «Ó Pacheco, vá escrever o blog» [JM, in Flashback, TSF]. José Magalhães no seu melhor.

- «Se houvesse leis sobre a matéria e eu pudesse legislar, os "blogues" existiam, mas tinham esta reserva legal: a eles só deveriam ter acesso os que, pelas mais diversas razões, não têm espaço próprio nos meios de comunicação. Ponto final. Nessa medida, fazem sentido os "blogues" de gente anónima e cheia de raiva para destilar (…)» [PRD, DNA]

Expiação de um jornalista mestre-escola. Leu Pedro Oom e disse: «Espreitei na fechadura dos horizontes e o que eu julgava ser vácuo e raiva emplumada mostrou-se-me coalhado de cogumelos e de lagartos». Está bem!

A BD CHEGOU À BLOGOSFERA PORTUGUESA


Aqui: Saudações ao Beco das Imagens.

«Há no exercício do poder um momento particularmente bem conseguido, quando um indivíduo se submete aos desejos dos outros, não apenas com espontaneidade mas também com uma sensação de virtude. O momento mais sublime é quando o indivíduo não mais se apercebe que é comandado»

[Rasputine, in Corto Maltese, A Casa Dourada de Samarcanda]

domingo, 22 de junho de 2003

A TORNEIRA


"Entre os nossos artigos de quinquilharia preguiçosa, recomendamos a torneira que deixa de correr quando ninguém a ouve"

[Marcel Duchamp]

DUELO PRECISA-SE


A vida está perigosa, trivial de banalidades e de calúnias. Alguns sermões recitados na paróquia de Portugal, remetem não para um tratado da raiva, mas para um regresso do famoso e antiquado duelo, que à espadeirada, à pistola ou à faca, reponha a honra em moldes ritualistas, como a tradição exigia. Disso tive conta, lendo um texto de Mário Matos e Lemos, «O duelo em Portugal depois da implantação da República», publicado na Revista de História das Ideias, da FLUC, em 1993. E já antevia o duelar de alguns indígenas da nossa praça, se por acaso estivéssemos no principio do século XX e se o duelo como instituição social não tivesse fracassado. Pensando melhor, ter-se-ia que acreditar que os ofendidos aceitavam a afirmação de Bruneau de Laborie, que «o duelo só é admissível entre iguais [op.cit.]» , o que não nos parece que batesse certo. Depois sempre se poderia consultar a Acta de Carência, onde se poderia observar como foi dirimido a pendência, e resolvida a ofensa dos seus constituintes.

De referir que há literatura sobre esta matéria, seguindo-se os «códigos de honra franceses» como se esperaria. Assim, cite-se alguns retirados do texto de Mário Matos e Lemos, acima referido: Les Lois du Duel (Bruneau de Laborie, 1908); Regras do Duelo de 1901 (tradução de Conseils pour les Duels); O duelo em Portugal no sé. XIX e ínicios de sec. XX …(H. de Fátima Morais Almeida, 1989); Eu e o Visconde de Pedralva ou História documental de dois duelos fantásticos (João Terenas Júnior, 1914); Uma Pendência Célebre (António José de Almeida e Alfredo Pimenta, 1914).

Ora, seria curioso antever os intervenientes para duelar, face aos impropérios e ódios de estimação conhecidos. Avanço desde já com alguns:

- Martins da Cruz em 3 assaltos com sabre, perante Seixas Santos
- Eduardo Prado Coelho a esgrimir com Vasco Pulido Valente
- António Manuel Baptista em duelo com Boaventura Sousa Santos
- Eduardo Cintra Torres versus António Pedro de Vasconcelos
- Morais Sarmento à espada com Emílio Rangel
- Marcelo Rebelo Sousa à pistola com Santana Lopes
- Augusto Seabra desafiando José Manuel Fernandes
- João Pereira Coutinho exigindo satisfação a Daniel Oliveira
- Paulo Portas em duelo contínuo com um ror de gente da esquerda, da direita e do centro, cidadãos anónimos, funcionários públicos, peixeiras, feirantes, GNR e tropa vária.

sábado, 21 de junho de 2003

AMÉRICA



América dei-te tudo e agora não sou nada.
..............................
América quando serás tu angélica?
Quando é que te despes?
Quando é que olharás para ti através do sepulcro?

[Allen Ginsberg, in Antologia da Novissima Poesia Americana, Futura, 1973]

IRAQUE SEM FIM À VISTA

Continua a confusão no Iraque sem se saber bem o que se passa e como sair do pântano que os americanos e seus amigos criaram. Todos os dias as informações são preocupantes e já se assiste a um cansaço e frustração enorme entre as tropas americanas, que não sabem o que estão a fazer naquele país. Diz um sargento ao Wasghinton Post

«“What are we getting into here?" asked a sergeant with the U.S. Army's 4th Infantry Division who is stationed near Baqubah, a city 30 miles northeast of Baghdad. "The war is supposed to be over, but every day we hear of another soldier getting killed. Is it worth it? Saddam isn't in power anymore. The locals want us to leave. Why are we still here?”»

Questão: que irá fazer a GNR portuguesa para o Iraque? Que actuação se pretende que tenha? Quem comanda e como? Que meios dispõe para o efeito? Missão humanitária (quem disse), será?

BIBLIOTECA NACIONAL


A página on line da Biblioteca Nacional está excelente. Ficamos surpreendidos pelo trabalho desenvolvido. Não sei se repararam, mas está disponível para leitura um conjunto de livros e documentos digitalizados, que dificilmente se encontram, mesmo em antiquários alfarrabistas. Considerado como um «núcleo fundamental» da actividade da Biblioteca (helás, que pelo menos a modernidade está a passar por aqui), a série «Memórias» - da memória da ciência, da educação, da língua, da literatura, do livro e da música – apresenta uma já sugestiva listagem de obras para consulta, que coloca a Biblioteca Nacional numa invejável posição face às suas congéneres.

Refira-se a Memória do livro que apresenta alguns «”marcos estruturantes” do nosso conhecimento: as Fontes da memória historiográfica do livro em Portugal, desde os finais do século XV ao século XVIII». Da tipografia ao coleccionismo, pode-se ler os velhos textos de Ribeiro Santos, Gomes de Brito, Xavier da Cunha, Sousa Viterbo. Ou conhecer o Boletim de Bibliographia Portugueza de Annibal Fernandes Thomaz, Bibliografia das Bibliografias Portuguesas, de António Joaquim Anselmo e mesmo os Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, todos estimados e bastante invulgares, de consulta obrigatória. Não há palavras para tamanha felicidade.

sexta-feira, 20 de junho de 2003

XADREZ OU BRIDGE, EIS A QUESTÃO


Afinal, que seriam as nossas vidas sem um joguinho de bridge ou xadrez? Nestas noites sem dormir nocturno, sem vivalma pela frente, temos de recorrer ao Ok Bridge ou, mesmo ao velho e brioso Yahoo. Hoje não há tempo a perder. Calmas são as noites ...

Pequena anotação em torno do xadrez:

"O xadrez é uma linda amante, a quem voltamos uma e outra vez, sem que nos importe as muitas vezes em que nos rechaça."
(GM. B. Larsen)

"No xadrez, como na vida, a melhor jogada é sempre a que é realizada"
(S. Tarrasch)

"No xadrez, o vencedor é quem faz a jogada seguinte ao último erro."
(S. Tartakower)