segunda-feira, 23 de junho de 2003

DO PRINCÍPIO DA REALIDADE AO PRINCÍPIO DO PRAZER

«(…) seria interessante ler blogues de outros cientistas sociais como António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, não?» [JN, Socio[B]logue]

Acabo de ler no blog de João Nogueira, um curioso exercício laudatório ao blogar enquanto um noviciado espaço sociológico a não perder, que permitiria o construído de uma nova «gramática» discursiva a partir dos espaços ou dos interstícios presentes na blogosfera. Está, assim, assumido que os blogs (e a sua sedução) podem ser um campus de analise «cientificamente analisável», novo investimento sociológico que, a partir de registos conceptuais de rigor, possa aceder aos liames de uma problemática sociológica dita interessante. Daí que João Nogueira acredite, piedosamente, que a overdose de blogs caída sobre as nossas cabeças, permita que os cientistas do social deixem a parcimónia dos seus maples escolásticos, saiam do seu altar iluminado e iluminante, e corram para a desconstrução do real e do seu simulacro.
Mas nós tememos que esta nova comunicabilidade, expurgada da «ideologia dos dons» escolásticos que os cientistas sociais interiorizariam, levaria ao abando da constante acção de controlo social disciplinar, onde a confusão entre o trabalho curricular e não-curricular surgiria, o que seria manifestamente perigoso e, logo, de pouca aceitabilidade.

É evidente que blogs de António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, seriam «socialmente úteis» e espaços conversáveis por excelência. Mas a questão é bem outra: porque razão os docentes universitários portugueses e as Universidades em geral, manifestam o mais completo desprezo pela utilização das novas tecnologias de informação, sendo raro encontrar páginas (ou blogs) sobre os seus docentes e os seus trabalhos académicos? O que no estrangeiro é absolutamente normal, por cá, a resistência aos novos modelos comunicacionais que as NPI permitem é elucidativo da não aceitação desse novo «espaço público», ou nova Àgora (Lídia da Silva, U.A.). E, assim, é de louvar essa «moral de prazer» que, ao comportar riscos vários e muitas vezes «iniciações» conflituosas, alguns bloguistas como JPP, JN, FJV, NM, VA, bem como os nossos jornalistas bloguistas, souberam defender, sem submissões.

Ou como diria René Char, é verdade que «o desejo de saber, é sempre o desejo de saber sobre o desejo».