sexta-feira, 27 de junho de 2003

AINDA ... SOBRE UM POST

O excelente Socio[B]logue de João Nogueira refere-se a nós num texto intitulado "Socioblogosfera: um Retrato Singular". Estamos gratos por isso. E, porque julgamos que não fomos esclarecedores em post anterior, voltamos a replicar para que se não instale entre nós qualquer "cisma na alma" (Tonynbee) e no desejo de se saber do que se fala nestes dizeres por nós enunciados sobre a blogosfera, agora tomada como locus de inscrição de outras cumplicidades e de novas problemáticas.

Trata-se de reflectir, a partir do espaço que a Internet (novo espaço antropológico por excelência) veio preencher, num conjunto de questões que a dita blogosfera (e o seu discurso) enuncia e da contribuição (modesta que seja) para a reinvenção de uma "racionalidade comunicativa" que permita aceder à "desconstrução" do paradigma. De outro modo, diria que é necessário referenciar alguns aspectos que a especificidade da blogosfera transporta e veicula enquanto confluência de uma intensa rede de interdependências (onde a blogosfera é, de facto, uma pequeníssima parte), tomada como novo topos de comunicabilidade, mas onde se entrecruzam, sempre, diferentes discursos (da tecnociência à sociologia, da economia à política) e sujeitos.

Não sendo nosso mister descortinar qualquer linha de água conceptual nesta área, até pela nossa impreparação científica, pode-se no entanto alinhavar duas questões, que julgo pertinentes, a saber:

- seguindo o trabalho de Lídia Silva (citada anteriormente), assume-se que a Internet "veio introduzir a metamorfose do conceito de território", com "mudanças estruturais potenciadas pelos suportes tecnológicos" (duplicação e divulgação de informação; bidireccionalidade; emissão multiponto; dimensão planetária da comunicação;...) que de algum modo "tem conduzido a uma reorganização dos fluxos de informação e dos procedimentos comunicacionais". Ora essa nova territorialidade urge compreender para descodificar, já que se pensa sempre a partir de um território interiorizado e familiarizado (geografia telemática). Como se nota, está já longe a controvérsia entre os apocalípticos e os integrados em U. Eco. E mais perto do corpo, território despótico, lugar do poder e da sua sedução.

- de outro modo, inútil referir o dizer de Lacan quando nos diz que "o sujeito está lá onde não tem consciência de estar", remetendo para que o "sujeito da comunicação" (Beneviste) está envolto num campo de teoria de jogos comunicacionais onde a circulação da palavra tem uma função reguladora. Assim sendo, o "jogador" deve perder-se nele (jogo) e o "jogo ultrapassar o jogador". Isto é, "jogar é sempre ser jogado" (Gadamer). Donde, pode-se estabelecer a articulação entre o sistema comunicacional e as estruturas do poder, isto se aceitarmos que no "reino das mercadorias" a utilidade (felicidade) dos sujeitos e do seu bem estar, é quantificável (a informação, a cultura perdem conteúdo na apropriação) e logo o consumo legitimado pelo manuseamento das NTI é, em si, factor de prestígio e de poder. Ora, é reconhecido que, no seu campo específico, o investigador/docente não domina a linguagem tecnológica (linguagem-máquina) o que é um sério obstáculo que o impede de partilhar o poder (académico/simbólico) que detém no campo do saber. E é aí que tudo se joga. Percebe-se, pois, as reticências reveladas por quase todos os docentes e investigadores no manuseamento das NTI. E daí o meu espanto quando se pretende que os docentes/investigadores "migrem" para este novo espaço comunicacional e ao mesmo tempo possam manter intacto o seu poder.