segunda-feira, 13 de julho de 2009


Homossexuais - Perseguidos no Estado Novo

A revista Pública [do jornal Público] apresentou neste Domingo (12/07), três curiosos artigos de São José Almeida sobre a questão/situação homossexual durante o Estado Novo:

"O Estado Novo dizia que não havia homossexuais, mas perseguia-os", texto com diversos testemunhos, referências pessoais e com utilidade bibliográfica dispersa

[refira-se: revista Lilás (sucessora da revista Organa); "O Estado Novo e os Seus Vadios" (Susana Pereira Bastos, D. Quixote, 1997); "Quotidianos Femininos 1900-1933" (tese de mestrado de Paulo Guinote); "Do Acto à Identidade: Orientação Sexual e Estruturação Social" (Octávio Gameiro, 1998).

NOTA: mesmo não se tratando de nenhum ensaio ou desconhecendo se existe uma verdadeira bibliografia geral homossexual por cá – o que sendo inexistente, revela o peso dessa "semitolerância envergonhada e claustrofóbica" herdada de todos esses anos - seria possível citar/incluir, ainda, "Fractura. A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea" (Eduardo Pitta, 2003), "A Homossexualidade Masculina" (António José Ferreira Afonso, 1995), "A Homossexualidade Feminina" (Teresa Castro d’Aire, 1996) ou os diversos trabalhos publicados de António Fernandes Cascais (como, por ex., "Dos estudos gays e lésbicos à teoria Queer", in Fenda, 2004), no próprio artigo]

mas [texto] algo confuso, aliás como bem nota Ademar Santos. Aliás, bem curioso é o facto que, sempre que se fala sobre a problemática da homossexualidade na paróquia, nos seus vários discursos ou na discriminação/repressão de personagens, surge de imediato o recurso a factos/situações ocorridos com militantes do PCP (repressão policial e sua marginalização partidária), num tolerante e aparente branqueamento da condição e produção homossexual em Portugal noutros registos ideológicos ao longo do tempo;

um segundo artigo, "Amor numa Cadeia da PIDE" [refª. à dirigente do PC Fernanda de Paiva Tomás]; e por último, "Guerra Colonial. Sim, havia maior liberdade sexual, mas um oficial matou-se na parada" [sobre as práticas homossexuais entre os militares na guerra colonial].

Adenda: ler os textos, AQUI (via Caminhos da Memória)

domingo, 12 de julho de 2009


VIVA RAOUL HAUSMANN!

"O que é Dada?
Uma arte? uma filosofia? uma política?
Um seguro contra fogo?
Ou: religião estatal?
Dada é energia verdadeira?
Ou é coisa nenhuma, i.e., tudo?
" [Raoul Hausmann, 1919]

Raoul Hausmann [n. 12 Julho de 1886-1 de Fevereiro 1971]

D'OUTRO TEMPO - ACTUALIZAÇÃO

Adelino Pires apresenta, para ardentes e luminosos bibliófilos, novas peças de muita estimação.

"... Perdoe-me um silêncio que foi efeito do imenso trabalho que não vejo diminuir... Calcule que acabei uma tese de doutoramento sobre "Unamuno e Portugal".... Ainda bem que o meu convite para o "Pessanha" o tentou... Qual responsabilidade qual nada! E é V. desconhecido, despois do Oxford Book revised by You?..." [in Carta manuscrita de Jorge de Sena "dirigida a Bernardo Vidigal, 2 pag., assinada e datada (Assis,6/6/960). Com envelope selado". – ver AQUI]

"... Bom e justo seria destruir a afirmação gratuita daquele velho republicano, a quem Deus tenha perdoado, de que os poetas portugueses querem... a União Ibérica. Eu, o mais pequeno de todos, firmemente posso clamar que nenhum deles, - creio! - deseja a mais leve sombra sobre a independência pátria... Portugal é um Verso heróico e livre..." [carta manuscrita de António Corrêa d' Oliveira "de conteúdo patriótico, dirigida a G.M. (do Jornal A VOZ), 2 pag., assinada e datada (Quinta de Belinho, Espozende, 26 Fevereiro 1930)".]

Ainda: Carta manuscrita de Agustina Bessa-Luis, Pedro Homem de Mello; obras de Mário Dionísio, Vitorino Nemésio, Gervásio Lima e Manuel da Fonseca.

Consultar AQUI.

sexta-feira, 10 de julho de 2009


MÁSCARAS DA UTOPIA: HISTÓRIA DO TEATRO UNIVERSITÁRIO EM PORTUGAL 1938-74

Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo apresentam HOJE (pelas 18,30 horas) no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian o livro "Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974", de José Oliveira Barata.

"... três décadas de actividade dos grupos de teatro académico, abrangendo o período de 1938 a 1974. Ao aprofundar os percursos de grupos como o TEUC(Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra), o TUP(Teatro Universitário do Porto), o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), o Grupo Cénico da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa ou o Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa, entre outros, o livro reenvia inevitavelmente para a vida cultural e política da época, em pleno Estado Novo, marcada por fortes restrições à expressão criativa e liberdade associativa ...

Ao longo de quase 400 páginas, reúne informação relevante sobre a vida destes grupos universitários, historiando o seu percurso e identificando, de um modo muito completo, os principais intervenientes. Ao mesmo tempo, procura responder a várias questões como, por exemplo, quem defendeu ou procurou impedir o projecto do Teatro Universitário, de que modo se articulavam os projectos dos vários grupos de teatro universitário com a oposição política do país ou que importância teve o teatro protagonizado por estudantes universitários no diálogo com o teatro profissional e com o teatro amador ..." [ler mais AQUI]

Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974 - de José Oliveira Barata, FCG, 2009

JOÃO GONÇALVES, SEM TÉDIO

"os homens se despedem, /.../ lançando ao mar os barcos de outra vida" [Jorge de Sena]

O Portugal dos Pequeninos, qual "espreitador do mundo novo", subiu numa tarde calmosa de Julho às terras da Figueira. Não cuidou sequer nas sábias palavras de Ramalho Ortigão, quando este confessa ao entrar na vila, "terror mesclado de tédio", em tempos de banhos. Não! João Gonçalves, em exercício espiritual, não tem desses abismos de alma. O mar, a foz do Mondego, a qualidade do manjar na Celeste Russa (que me perdoe a minha amiga Rosa Amélia pelo bordado culinário) e, principalmente, o pronunciamento nos dias do Festival de Cinema (saudade eterna), restabelecem-no na sua bem-aventurança. Até porque "hoje não tem importância que os versos estejam errados ou não" (Jorge de Sena, claro).

O Portugal dos Pequeninos, assim temperado, deu livre comunicação aos seus alevantados pensamentos, no encontro com os leitores. Foi cáustico na rebelião, casto nos arrochos, elegante nas informalidades. As admiráveis tiradas ou perturbações das ordens do regime, foram judiciosas. Pouco irritadiças! Quase ternas. João Gonçalves veio à Figueira, alumiou sentimentos, falou com sinceridade sobre a paróquia, pediu mentes esclarecidas e livres. Sem salvadores! Em troca ficou de continuar a dar-nos o prazer da sua letra, o luxo da sua ironia. E assim se espera que cumpra!

quinta-feira, 9 de julho de 2009


IN-LIBRIS - LIVROS DE JULHO 2009

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de livros antigos e estimados de temática variada (monografias, poesia, literatura, história, política, etnografia, filosofia, ensaio, teatro, etc.).

Referências: Antologia do Humor Português, Ed. Ribeiro de Melo, 1969 / As Puppilas do Senhor Reitor (c/ilustrações de Roque Gameiro), de Júlio Diniz, s.d. / Manual do Jardineiro-Amador, de Joaquim Casimiro Barbosa, 1892-3, III vols / Teoremas de Filosofia (revista), Porto, 2000-2005 / Cadernos Despertar (único vol. Publicado), Amadora, 1982 / [raro] Catálogo da Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, Porto, s.d. / [curioso] Álbum do Gerez, Tip. da Casa Editora Alcino Aranha & Cª., s.d. / Manual do Typographo, de Joaquim dos Anjos, 1900 / Monografias do Caldas do Gerez, Barcelos, Igreja de S. Pedro de Rates, Vimioso, Igreja Matriz de Valongo, Guimarães (Roteiro) / Obras de (sobre) Afonso Duarte, Agostinho da Silva, Almada Negreiros, Agustina Bessa-Luís, Al Berto, Amadeu de Souza Cardoso, António Francisco Barata, Camões, Cunha Leal, Eça de Queiroz, Egas Moniz, Fernando de Abranches-Ferrão, Jacinto Prado Coelho, Jorge de Sena, Luís Pedro (Acrónios), Matias Aires, Miguel Torga, Natália Correia, Vergílio Ferreira.

A consultar on line.

NÃO PERCAS A ROSA

"Inapetente para a meticulosidade pachorrenta dos registos sistemáticos — por índole poética perfilho as sísteses das vivências acumuladas —, foi-me então estranhável iniciar este diário nas horas entusiásticas em que deflagraram os acontecimentos que lhe foram dando forma (...)"

Natália CorreiaNÃO PERCAS A ROSA. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 — 20 de Dezembro de 1975), Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1978

in CATÁLOGO da Livraria In-Libris.

[postado tb. no Almanaque Republicano]

ANTÍGONA – 30 ANOS DE ABASTANÇA

"A editora Antígona nasceu com uma ideia de subversão no seu interior e não necessitou de fazer mais nada. A coerência não é pensada; é vivida momento a momento, como consequência duma atitude, antes. A Antígona é assim porque é ela, porque sou eu – como diria Étienne de La Boétie ...

Não existe uma literatura à margem. O que existe são experiências de vida marginais, que se reflectem naturalmente na escrita ...

Não sei o que vai acontecer ao livro no futuro; terá muito a ver com a evolução das sociedades. Na Antígona, o salto não será para trás, porque penso que nada substituirá o livro enquanto objecto. O prazer de ler no sofá ou em cima de uma árvore, de o leitor se deter em certas passagens, de sublinhar esta ou aquela frase, não me parece substituível. Naturalmente, não nego o progresso, mas não alinho em modas ou necessidades de consumo. Decididamente, não serei um aliado do capitalismo…

Não há, em Portugal, uma tradição subversiva ..."

[Luís Oliveira]

"Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder, e muito menos se atribuem números aos militantes." [Carlos da Fonseca]

Locais: Frenesi / Manuel Portela: «Antígona: 30 Anos» / Luís Oliveira, sobre os 30 anos da Antígona (I) / Luís Oliveira, sobre os 30 anos da Antígona (II) / Antígona: 30 Anos / Livraria Letra Livre

quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009


EXAMES PAROQUIAIS

"Tivemos provas mais justas, mais adequadas e sem truques" [Maria Lurdes Rodrigues] - "As pautas estão desastrosas, em especial a Português" - "Lá se foi a praia" - "Menos investimento, menos trabalho e menos estudo” do lado dos alunos" [Maria Ludes Rodrigues]- "Os professores estão chateados com o ministério e nós é que sofremos. Os que sabiam analisar poesia e Pessoa não passam e os que põem as cruzinhas no sítio certo têm bons resultados". - "Desde o ano passado que mudou qualquer coisa nos exames de Português" [in Público] - "Não procurei o facilitismo do programa Novas Oportunidades. Trabalhei e estudei ao mesmo tempo durante três anos e passei várias noites sem dormir. Estou essencialmente chateado por as coisas estarem tão subjectivas e mal feitas". - Em conferência de imprensa, o secretário de Estado Valter Lemos alargou o leque de responsáveis, juntando a Sociedade Portuguesa de Matemática e "partidos e pessoas com responsabilidades políticas". "É um desincentivo ao estudo e ao trabalho", sublinhou. [in Público] - "Quando me esforço e não aprendo a incompetência só pode ser do professor, por exclusão de partes", "Há muitos maus alunos com excelentes resultados". - "Se alguém anunciou facilidades foi o ministério com a prova [de Matemática] do ano anterior, que foi escandalosamente fácil. O que prejudica os alunos é a variação do grau de dificuldade e dos critérios de ano para ano. Isso fez baixar o tempo que dedicam à preparação para a prova". [Nuno Crato] - "Um Viva às Estatísticas" - "O director do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), responsável pela realização das provas, sublinhou a elevada correlação que existe entre o desempenho dos alunos na escola, ao longo do ano lectivo, e no momento dos exames. Os bons alunos na avaliação contínua são os que se saem melhor nas provas nacionais, o que "prova" que estes testes são "justos" e adequados aos programas leccionados, concluiu" [Expresso]

LE COQ PORTUGUÊS

"Galo bom nunca foi gordo" [Popular]

O artista M. Sousa Tavares, rapaz que fareja nas moitas da literatura chã, é um modelo de virtude caseira, um desassombrado na exposição sentimental, uma lenda viva da nossa paróquia. Espanta, pois, o conteúdo do seu último pastiche, agora escriturado na forma de entrevista. O Tavares, ainda a fazer a digestão dos "votozinhos" suspirados por D. Lurdes Rodrigues, manifesta um ror de divagações inebriantes no seu depoimento, capaz de equipar a altíssima missão do sr. Sócrates.

A fazer fé no artista Tavares, que é sempre "telefonado" em sinal de reconhecimento do seu opinioso protestatório e por ora elevado à imortalidade da "rua" (ou comércio intelectual), o sr. Sócrates (com quem almoça e – diz – conversa) perdeu a cabeça, qual "jogador de casino" e "não sabe o que é que há-de fazer, se há-de jogar o dobro ou desistir". Excelente descoberta! A historiografia há-de lembrar, para todo o sempre, o arrojo do argumento e a eloquência da discursata do sr. Tavares.

Mesmo sem exercitar qualquer opinião ou calamidade paroquial, a confissão do escriba do "Equador" é brutal e esmaga. Jamé tal respeitável análise ocorreu na produção versada do sr. Bettencourt Resendes, nem viu luz na sempre intuitiva sentença do sr. Luís Delgado. Muito menos abriu a inteligência ou o delito verbal do ministro Augusto Santos Silva. A visão do artista Tavares pode estar temperada de razão, qual Confúcio indígena, mas o panfleto esotérico registado só nos lembra – comprovando – que a epidemia de "artistas" que obram sem sujar a capa do regime não tem sossego. O folhetinista M. Sousa Tavares é, fora as mazelas da sua escrita de maçada, acima de tudo um verdadeiro coq português: sempre a cantar, anafado de aleluias originais, a sua vaidade sapientíssima. Mas como se sabe, "galo bom nunca foi gordo"!

segunda-feira, 6 de julho de 2009


DR. LAUREANO BARROS

"Ele planeava tudo. Era organizado, previdente e perfeccionista. Inflexível com a verdade, a liberdade, a independência, o rigor e a pontualidade, exigia-os de si e dos outros (...)

Foi quando foi viver para o Porto, para frequentar o liceu, que o jovem Laureano Barros começou a comprar livros. Frequentava os alfarrabistas e iniciou uma colecção, tal como fazia com os paliteiros, bengalas, relógios, louças, antiguidades ou alfaias agrícolas. Mas ao contrário de toda a traquitana que sempre gostou de trazer para casa, aos livros ergueu uma fidelidade. Não os vendia, não desistia nem se esquecia deles. Começou a acumulá-los na moradia que o pai lhe comprou para se instalar na cidade, na Foz, continuou a ampliar a colecção enquanto viveu nessa casa com a primeira mulher, Leonor, e depois quando se divorciou dela e das seguintes. De cada vez que se separava da mulher com quem vivia (e foram mais mulheres do que os três casamentos), deixava-lhe tudo: a casa, os móveis, as antiguidades. Mas levava consigo a biblioteca. Eram livros de Matemática, de Filosofia, de Botânica, mas acima de tudo de Literatura Portuguesa, e, cada vez mais, volumes curiosos e raros, obras pouco conhecidas, primeiras edições. Por alguns autores tornou-se obcecado e comprava tudo. Depois estendeu a obsessão a todos os escritores. Comprava e lia, várias vezes, os livros de Camilo, Eça, Pessoa, Torga. Sempre teve insónias, e passava-as a ler. Dono de uma memória prodigiosa, sabia páginas e páginas de cor. Perdia horas a arrumar os livros, a manuseá-los, a acariciá-los (...)"

in Laureano Barros - O Homem que Fugiu com uma Biblioteca, por Paula Moura, P2 (Jornal Público), 5 de Julho 2009, pp. 4-7]

- ler TODO o artigo sobre Laureano Barros (retirado do jornal Público, com a devida vénia), invulgar bibliófilo e que AQUI e AQUI fizemos referência, no nosso site BIBLIOMANIAS.

quarta-feira, 1 de julho de 2009


IN MEMORIAM DE PINA BAUSCH (1940-2009)

"Uma monja com um gelado, uma santa com patins, um rosto de rainha no exílio, de fundadora de ordem religiosa, de juíza de um tribunal metafísico, que de repente nos pisca o olho ..." [Fellini]

"I loved to dance because I was scared to speak. When I was moving, I could feel."

"Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é que é sempre 'no momento' e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança." [Pina Bausch, in Expresso]

"The choreographer who has always been tied with the term 'dance theatre' says that she is not interested in how people move. What matters is what is behind their movements". [Anna Gordeyeva, 2004]

"Quero fazer muitos amigos no mundo inteiro. E que tenhamos novamente vontade de aceitar o desafio da vida ... Quero que preservemos a esperança" [Pina Bausch, in entrevista a Norbert Servos]

"Pina Bausch, durante a montagem de um de seus espetáculos, disse, em entrevista, que estava falando sobre o amor porque o mundo, no momento, precisava ouvir sobre o amor. Creio que Pina durante toda a vida, ajudou o mundo, falando de amor, em todos os seus gestos e movimentos ..." [Márcio Meirelles – Secretário de Cultura do Estado da Bahia]



LOCAIS: Pina Bausch / Morreu a coreógrafa das emoções absolutas / Uma conversa com Pina Bausch / Pina, Queen Of The Deep / Entrevista de Norbert Servos / Working with Pina Bausch / Pina Bausch Bibiliography

sábado, 27 de junho de 2009


MÁRIO SAA (1893-1971)

"Mário Paes da Cunha e Sá [Mário Saa] nasceu no dia 18 de Junho de 1893 nas Caldas da Rainha, fazendo parte de uma das famílias da elite económica e social do concelho de Avis. Na altura do seu nascimento, o pai de Mário Saa (nome literário) exercia as funções de notário e sub-delegado no julgado de Óbidos, residindo nas Caldas da Rainha.

Em 1895, a família volta para o concelho de Avis e o seu pai constrói, quatro anos depois, o Monte de Pero Viegas, onde Mário Saa residiu quase toda a vida. Recebeu formação no colégio de S. Fiel, em Louriçal do Campo (Beira Baixa), no Liceu de Évora e, em 1913, era aluno do Instituto Superior Técnico. Sabemos, através da revista Presença (n.º19,1929), que em 1917 continuaria a frequentar esta instituição. No ano seguinte inscreveu-se no curso de Sciencias Mathematicas na Universidade de Lisboa e, em 1930, no curso de Medicina desta mesma Universidade.

A vida de Mário Saa dividiu-se entre a administração agrícola das suas propriedades e a investigação e produção literária. De acordo com o perfil dos intelectuais do seu tempo interessou-se por temáticas distintas, publicando várias obras e numerosos artigos em periódicos. Dedicou-se à filosofia, à genealogia, à geografia antiga, à poesia, à problemática camoniana, às investigações arqueológicas, e mesmo à astrologia e à grafologia.

A investigação que realizou sobre vias romanas resulta na sua obra de maior vulto. Os seis volumes de «As Grandes Vias da Lusitânia» são produto de mais de 20 anos de investigações e prospecções arqueológicas e constituem, ainda hoje, uma obra de referência para os investigadores. Conjuntamente com a arqueologia, Mário Saa destacou-se, também, no panorama da poesia portuguesa das décadas de 20 e 30. Publicou com assiduidade na revista Presença e privou com os grandes poetas e intelectuais da época no âmbito da boémia literária da Brasileira do Chiado"

"A Biblioteca da FAPT [Fundação Arquivo Paes Teles] possui todas as obras da autoria de Mário Saa e, também, o conjunto bibliográfico que foi adquirindo, recebendo e conservando.
É constituída por mais de 10.000 volumes, entre monografias, periódicos (revistas, jornais, boletins e almanaques) e obras de referência (dicionários e enciclopédias), com datas de edição que remetem, maioritariamente, para o período entre os finais do século XIX e terceiro quartel do século XX.

Uma parte deste acervo bibliográfico, onde prevalecem temas como a história, a arqueologia, a antropologia, a etnografia, a política, o direito, a fotografia e a agricultura, foi herdada de António Paes da Silva Marques, tio de Mário Saa e deputado da 1.ª República.

O espólio documental de Mário Saa espelha a sua obra literária e os seus interesses intelectuais, profissionais, culturais e pessoais. É composto pelos manuscritos do autor, por correspondência, documentos biográficos, contratos, recortes de imprensa, folhetos, prospectos e convites, etc. A organização da primeira parte deste conjunto documental decorreu na década de 80, foi efectuada na Biblioteca Nacional e está disponível para consulta na Fundação. A segunda parte, constituída principalmente por correspondência, encontra-se em fase de organização e poderá ser disponibilizada na medida em que as condições técnicas do seu tratamento o permitirem"

in Fundação Arquivo Paes Teles, Travessa da Igreja, Ervedal (Avis).

MÁRIO SAA - AS GRANDES VIAS DA LUSITÂNIA (50 ANOS DEPOIS)

Itinerários Romanos do Alentejo. Uma releitura de "As Grandes Vias da Lusitânia - O Itinerário de Antonino Pio" de Mario Saa, cinquenta anos depois, por André Carneiro, Colibri.

"As Grandes Vias da Lusitânia, cujo primeiro volume foi publicado em 1956, constitui uma das obras mais controversas da bibliografia portuguesa de temática arqueológica. Ao longo de seis volumes o seu autor, Mário Saa, apresenta os itinerários romanos da Lusitânia, misturados com interpretações fantasiosas, contradições, opiniões polémicas ou constantes re-escritas dos trajectos apresentados que em muito confundem o leitor e obrigam a reformular os seus conhecimentos. A sua obra é paradoxal, um objecto raro em tempo de formalismos cinzentos. Mas por esse motivo o seu contributo nunca foi devidamente avaliado. Cinquenta anos depois, é tempo de procurar, no terreno, o que viu Saa, olhando para os testemunhos e procurando enquadrá-los no quadro de conhecimento sobre os itinerários romanos no território alentejano. E é tempo também de perceber tudo aquilo que já não se vê porque foi destruído pelo passado recente, aquele que já nos distancia tanto de Saa que já não nos permite reconhecer o que o autor viu. E assim compreendemos a dimensão da perda, o modo como a paisagem dramaticamente se alterou neste curto espaço de tempo, e o modo como o que havia ficado do passado já não se consegue encontrar. Ou já é tão diferente". [ler AQUI]

RICHARD YATES - PERTO DA FELICIDADE

17 de Julho - "Perto da Felicidade" [aliás Cold Spring Harbor, tradução de Nuno Guerreiro Josué], de Richard Yates, Quetzal Editora.



Locais:Richard Yates [1926-1992] / The Lost World of Richard Yates / Livros

quinta-feira, 25 de junho de 2009


FERREIRA LEITE: CEMITÉRIO POLÍTICO

"Não é ter um sistema político, deixar-se assim arrastar por todos os acontecimentos" [Napoleão Bonaparte]

A fotografia da "velha" senhora Ferreira Leite, exibida ontem na SIC (Alô, doce Ana!), não surpreende na pose nem no discurso – o simulacro era demais conhecido –, nem seduz politicamente, porque gasto está o espectáculo do tempo adoçado do "mercado" e do deficit, que em tempos lhe lambuzou os dedos ministeriais.

A Sra. Ferreira Leite não pode jogar ao cadavre exquis do desenvolvimento económico (e social) porque os escombros e a tragédia do país (até hoje) tem propriedade e rosto(s). E não será ao dr. Guterres o único a ser-lhe passado o atestado de irresponsabilidade pelo legado (como a Sra. Leite e o dr. Pacheco Pereira, laboriosamente assegura). A lenda do dr. Cavaco & a cegueira de Ferreira Leite, mais as orações de um ror de insidiosos sábios – sempre muito bem dispostos a debater qualquer "abalozinho" financeiro que nunca entenderão –, não desapareceram por encantamento divino ou joguete de palavras. O cemitério político indígena é uma moléstia que não honra ninguém!

Só o magnífico delírio do pensamento económico de Ferreira Leite - aliás bem conhecido entre os estudantes das velhas aulas práticas de Economia por si leccionadas - pode sentimentalmente considerar que esta paróquia tem validade ou viabilidade económica (estude-se a poeira no nosso passado), por insignificante seja, que permita um dia deixar de ser essa lamuriante caça de negócios ou affaires conspícuos, para tornar-se economicamente mais autónoma, mais livre e criadora. E interessante para medir o grau de felicidade de todos nós, longe da ortodoxia do sistema.

Era (é) fácil martelar nesse fanfarrão e insolente sr. Sócrates. A ignorância audaciosa do homem, os enfeites contabilísticos da sua governação, a mentira sempre respigada, a “perfeição” do seu sistema de cárcere (justamente reaccionário), a par dos arranjinhos burlescamente plagiados em governos anteriores (veja-se o caso PT), traz argumentos infindáveis e muito autorizados. Porém o testemunho da sra. Ferreira Leite não foi perfeito, nem conforme.

A "velha" senhora, quiçá dolorida na sua oratória incompetente, esgrime copiosas interrogações sobre o endividamento do país (no que está certa), sem nunca vincar como se pode (economicamente) combater tais desequilíbrios externos. Julga (porque julga) que as suas cantorias contra as grandes obras públicas, garatujadas num qualquer five o'clock tea decorativo, pode substituir o homem.

No novo look da graciosa Manuela não há lugar a escolhas económicas (diz que estão, ainda, no forno partidário), a (re)interpretação de estudos económicos de custo-benefício sobre obras públicas (que diz, grosseiramente, não conhecer) e a sua ciência ignora onde se podem fazer os investimentos públicos. Mais, extraordinariamente, tem pretensão de combater o desemprego sem investimentos públicos, bem como, escandalosamente, intenta resolver o problema do sobre-endividamento do país mantendo o nível dos impostos (ou mesmo, baixando-os). A sra. Ferreira Leite tem pavor da economia e dos seus ensinamentos. Tal como tem a torpeza de "não fazer juízos de valor" sobre esse impoluto Dias Loureiro ou esse génio da banca que é Vítor Constâncio. Os amigos, não se esquecem!

Sem comentário ficaram as classes profissionais, selvaticamente atingidas pela violência das medidas do sr. Sócrates. Ninguém sabe o que fará um governo da sra. Manuela no que diz respeito às trapalhadas reaccionárias na Educação e Saúde, no sistema de Segurança Social ou no código de trabalho. Com o serviço já feito pelo actual representante da corporação dos interesses, julgamos que tudo ficará como está. Conhece-se há muito o cemitério político da sra. Ferreira Leite!

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Boris Vian, más vivo que nunca

"Ingeniero, poeta, trompetista y crítico de jazz, autor de teatro y actor de cine, funcionario y director musical de la Philips, Boris - por Boris Godunov:su madre era opera victim - Boris Vian, en sus breves 39 años, escribió once novelas, cuatro antologías de poemas, varias piezas de teatro y dos óperas, quinientas canciones y centenas de críticas de jazz (...)

A los catorce años, Boris descubre el jazz y el clarinete. Cuando Éditions du Scorpion busca una novela policiaca, Vian inventa un escritor mestizo, norteamericano y hard.Y lo traduce al francés. En 15 días escribe una novela tensa, con la dosis requerida de sexo y violencia. El 8 de noviembre de 1946 sale J´irai cracher sur vos tombes. Vian no para: en un año, cuatro novelas, los cuentos de Les Fourmis,crónicas para Les Temps Modernes,la revista de Sartre y de Beauvoir y una obra de teatro, L'équarrissage pour tous. En noviembre de 1948 reconoce, ante un juez, que Sullivan y él son una misma persona. El 13 de mayo de 1949 es condenado a 100.000 francos de multa. Infatigable, escribe y publica otros dos Sullivan, con tan poco éxito como los Boris Vian, editados por pequeñas editoriales porque Boris Vian no gusta en Gallimard ..."

in La Vanguardia [ler mais aqui]

IN-LIBRIS – Livros de Junho 2009 (ACTUALIZAÇÃO)

O Catálogo de Junho da Livraria In-Libris (Porto) foi ACTUALIZADO, com novas peças de temática variada (poesia, literatura, história, política, etnografia, filosofia, ensaio, teatro).

De salientar o (re)aparecimento do curioso "Estudo da Localização do Novo Aeroporto de Lisboa" [Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, 1972. 21x30 cm. 420 págs. B], onde se pode ler:

"Nos estudos preliminares foram consideradas, como possíveis, várias localizações na margem sul do rio Tejo, dada a impossibilidade que, para o efeito, oferece a sua margem norte, e, assim, foram analisadas as da Fonte da Telha, do Montijo, de Alcochete, de Porto Alto e de Rio Frio. Procedeu-se, ainda, ao exame da própria Portela de Sacavém, embora esta apresentasse, além do mais e desde logo, graves inconvenientes resultantes de se encontrar práticamente dentro da cidade e não se vislumbrar qualquer hipótese de expansão ..."

Tal trabalho está "repleto de mapas, cartas topográficas, desenhos, muitos dos quais desdobráveis, estudos dos ventos,nebulosidade, precipitação, humidade, etc, acessibilidades (metro, rodoviários e ferroviários), natureza do solo, valores aquisitivos de terrenos, etc.De notar a inexistência da Ota como local analisado neste estudo.Raro e de provável restrita tiragem" [in Catálogo]

consultar o Catálogo (Actualizado), AQUI.

OS 28 SÁBIOS

"Que alguém se atreva a dizer a sombra de uma verdade e será condenado. Que alguém se lembre de bulir num qualquer dos ídolos do tempo, e será apedrejado – liberalmente!

Por isso a liberdade que provém da apatia parece ao crítico o sintoma do contrário da vida: da verdadeira liberdade forte, independente, na concorrência de opiniões conscientes e sábias. Por isso nós apresentamos caracteres singulares. Leiam-se os jornais, ouçam-se os discursos. Ninguém fala mais de papo, desculpem a expressão. De quê?

De tudo. Os Pico de Mirândola, senhores de si, anafados, satisfeitos, sempre na rua, sempre verbosos, com as cabecinhas alerta, a resposta pronta, a fórmula breve, um andar miudinho de pedante, um livrinho azul debaixo do braço se não são janotas, nos miolos a consciência do seu saber, da verdade definitiva da 'ciência moderna', uma grande prosápia ingénua, uma grande segurança e entono: os Pico de Mirândola, que sejam conservadores ou demagogos, deputados da direita ou rabiscadores de jornais esquerdos, têm uma fisionomia comum. A Pátria são eles; a ciência sabem-na toda, a moderna. Somente uns acham que é moderna a que já governa, outros fóssil a de hoje: só verdadeira a de amanhã, quando eles derem a lei!

Pecos frutos de uma árvore contaminada, se dão um passo caem. Um dos fenómenos curiosos em Portugal é o devorar dos homens pelo Governo. Hoje sobem, amanhã somem-se, corridos, desprezados. Porquê? Porque a árvore, seca, apenas tem vida para reconhecer o seu definhador, para desprezar os que no seu pedantismo ingénuo, mais ainda do que na sua corrupção, sucessivamente se lhe seguram aos ramos".

[J. P. Oliveira Martins, in Portugal Contemporâneo, 1981]