sexta-feira, 15 de maio de 2009
LEILÃO DA RENASCIMENTO – LIVROS E MANUSCRITOS
No próximo dia 26 e 27 de Maio (21,30h), via RENASCIMENTO (Rua Agostinho Lourenço - ao Areeiro -, 20 C, Lisboa), haverá lugar a um Leilão de Livros e Manuscritos. Trata-se de 922 lotes (de merecida estimação) sobre diversos assuntos.
Algumas referências da I Sessão: A Arte Popular em Portugal (dir. F. de C. Pires de Lima), III vols / Obras Completas de Nicolau Tolentino de Almeida, 1861 / curioso álbum de Fotografias de Itália / Antiguedades Mexicanas publicadas en homenege á la memoria de Cristobal Colón por la Junta Colombina de México, 1892 (c. 145 Litografias) / Annuario da Sociedade Nacional Camoneana, 1881 / Archivo Republicano, dir. Victor de Sousa, Setembro 1911 (colec. imcompl.) / Orlando Furioso, Ariosto, Lx, 1895 / Histoire Pittoresque de L'Équitation, por Charles Aubry, 1833 / Voyage Dans les parties Sud de L’Amèrique Septentrionale ..., de William Bartram, Paris, 1801, II tomos / [3 Mapas] Battle of Mount Tabor (Napoleónica) / Exercícios Espirituaes ..., do Pe. Manuel Bernardes, Lx, 1757, II vols (IV impressão) / Bodas de Oiro Cientificas de António Cabreira e VII Centenário da Tomada de Tavira, Lx, 1942 / Trité de L’Art de Fabriquer La Poudre à Canon ..., Bottée et Riffault, Paris, 1811 / Os Lusíadas (ed. III Centenário, publ. Emile Biel), 1880 / Cancioneiro [da Ajuda e da Biblioteca Nacional) / Carta Constitucional da Monarchia Portugueza (ed. Microscópica), 1832 / Corografia Brazilica ou ..., pelo Pr. Manuel Ayres de Azal, Rio de Janeiro, 1817, II tomos / Obras de José Daniel Rodrigues da Costa / Ensaio Económico Sobre o Comercio de Portugal e Suas Colónias, de José J. da C. de Azeredo Coutinho, 1794 / [Cozinha] Cuisiniere La Bourgeoise, Suivie de L’Office ..., 1788 / Origem da Insigne Ordem Militar do Tusão D'Ouro ..., de António Pereira de Figueiredo, 1785 / conjunto curioso (e valioso) de Folhetos do Sec. XVIII e XIX / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão, 1943, II vols / Gazeta de Lisboa (de 7 de Janeiro de 1716 a 31 de Dezembro de 1722), VII vols / In Memoriam de Camillo, 1925 / Jornal de Coimbra (vol. I ao Vol. XVI), Lisboa, 1812 (a 1820) / Historia da Vida, Morte e Trasladação de Sancta Isabel ..., Lisboa, 1680 / Amanhan, de Manuel Laranjeira, 1902 / Famílias de Portugal, por Jacinto Leitão Manso de Lima, 1925, XXVI vols / Livro de Horas (sec. XV), 171 folhas em pergaminho.
Pode-se consultar (em breve) o Catálogo - realizado por José Vicente - online, AQUI.
"FRASES QUE IMPÕEM RESPEITO"
- "Augusto Santos Silva considera 'gravíssimas' as declarações do presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sobre alegadas pressões aos procuradores do caso Freeport. Estas afirmações 'não podem passar sem consequências', disse o dirigente socialista à entrada das jornadas parlamentares do PS, que decorrem em Guimarães [vide exame crítico do conselheiro SS, AQUI]
- "Para [Augusto] Santos Silva - que garantiu estar a falar na 'plenitude do seu ser' – enquanto cidadão, dirigente e ministro - o presidente do SMMP ‘tem que dizer que pressões são, sobre quem são feitas e quem as exerce’, isto porque ‘o facto de alguém dizer que há pressões não quer dizer que elas existam’" [SS em retiro espiritual ou breve resumo de política prática]
- "Mudou a presidência do sindicato dos magistrados do ministério público e a conversa mantém-se. João Palma, assim que tomou posse, logo repetiu a ladainha de que os magistrados sofrem pressões: ‘há pressões, umas conhecidas e outras não, e se for necessário, se não acabarem, direi quais são e quem as faz’.
A história, aliás, não é nova. Primeiro, aparecem nos jornais – sempre nos mesmos, sempre nos mesmos – umas notícias que falam da existência de pressões, logo a seguir vem o sindicato referir sem concretizar as mesmas pressões que os jornais noticiaram sem concretizar. Depois, claro, chega o 'agarrem-me se não eu denuncio'" [notícias ou aviso do céu do sr.Pedro Adão e Silva, conhecido turista à esquerda do sr. Sócrates, em 30/03/09]
- "[Ao post]... só há a acrescentar uma coisa: é que neste caso a questão é mais grave que de costume: é que o Ministério Público (contrariamente aos juízes) é uma magistratura hierarquizada, e o seu mais alto representante institucional - o Procurador-Geral da República - já disse mais que uma vez que nunca houve pressões nenhumas. Como se admite que venha agora o "visconde" dizer o contrário?
Além de violar o princípio da separação de poderes, o pseudo-proletário 'sindicalista' desrespeita a hierarquia em que está integrado!" [reflexão varonil anti-sindical do sr. Carlos Esperança, ex-professor primário]
- "Mais para a frente na entrevista, Palma também disse que há pressões no caso Freeport: quando, como, de quem, contra quem? Aos costumes disse nada. Tão pouco se importou com o facto de o procurador-geral da República ter desmentido quaisquer pressões. Se ele acha, é verdade ..." [confissão para aleitamento do eleitorado do sr. Sócrates, pelo rapaz mui cooperativo]
- "O que é ao certo uma pressão? Como se reconhece? No contexto político-mediático português, a palavra tem vindo a revelar-se deslumbrantemente polissémica ..." [nota erudita ou tratado de escrita para o ensino no Largo do Rato, por Dona Câncio]
Saúde e Fraternidade!
quarta-feira, 13 de maio de 2009
BIBLIOTECA DR. LAUREANO BARROS
"Em ano de comemoração dos seus 50 anos de existência, a Livraria Manuel Ferreira promove um importante leilão de cerca de 6000 espécies bibliográficas constitutivas de uma das mais valiosas bibliotecas particulares do século XX, formada pelo dedicado bibliófilo Dr. Laureano Barros.
Este Leilão será dividido em 3 partes; a primeira decorrerá entre os dias 21 e 23 e 28 e 30 de Maio, a decorrer no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, pelas 21 horas. As restantes, com data a definir, serão oportunamente anunciadas.
Da primeira parte deste leilão destacamos a magnífica colecção de Cancioneiros portugueses antigos; manuscritos e edições originais do poeta Eugénio de Andrade do qual destacamos o seu primeiro e extremamente raro «Narciso», publicado em 1940; as edições originais de «O Lima», de Diogo Bernardes; da «Crónica de Cister», de Bernardo de Brito; do belo livro de Lima Bezerra, «Os Estrangeiros no Lima», as revistas literárias «Árvore», «Athena», «Caliban», «Centauro», «Contemporânea», «Contravento» ..." [ler tudo, AQUI]
Catálogos online - AQUI.
ALBERTO, O PEQUENO
Desde que o infortunado Alberto Costa recebeu o ungido cargo de Ministro, nunca mais a Justiça se alevantou. Por uma série de quebrantos, que decerto a "arte" de Alberto invocou, a Justiça tornou-se uma enorme trapalhada, de tão ridícula e adulterada que está. Alberto Costa tem essa luz aziaga: tudo o que ele toca, fenece. A sua história política, por vezes demasiado entronizada, é uma enorme desilusão. E quando exerce o poder (um qualquer), a balbúrdia em que se vê rodeado é sempre bem maior que a sua excitada vaidade.
Tudo isto a propósito da assuada que vai por aí. Que é séria e de respeito e, não haja dúvida alguma, marca um ponto de viragem – política – em todos estes anos sombrios de palavrório do grupo do sr. Sócrates. O resgate do Partido Socialista desse horror inaudito virá tarde, mas virá! O ajuste de contas, que sem espanto aparecerá então, será exemplar. Este lamaçal, a que alguns chamam irresponsavelmente "estado de direito", terá um dia de ter um fim. A democracia, a civilidade e a modernidade (que tarda) assim o exigem.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
BIBLIOTECA JOSÉ PACHECO PEREIRA - A CASA DAS PALAVRAS
in P2 - jornal Público [6 de Maio de 2009, p.4-5]
terça-feira, 5 de maio de 2009
LEILÃO DO PALÁCIO CORREIO VELHO– COLECÇÃO CAPUCHO
Começa hoje (pelas 21 horas) e segue nos próximos dois dias, o invulgar Leilão do riquíssimo espólio (Colecção e Biblioteca de António Capucho) que foi pertença de António Emídio Ferreira de Mesquita da Silva (1918-2009), pai do Presidente da C.M. de Cascais António d’Orey Capucho, um notável homem de arte e cultura, bibliógrafo e apaixonado coleccionador [ver, "António Capucho. Retrato do Homem através da Colecção", de Luísa D’Orey Arruda et al, Civilização, 2004].
O Leilão, que decorre no Palácio do Correio Velho, apresenta 764 lotes, entre azulejaria, faiança portuguesa, pintura, mobiliário português, uma notável colecção de registos de santos e imagens religiosas, uma curiosa colecção de camafeus e, também, um acervo de livros e manuscritos raros e invulgares, como uma preciosa cartas de armas , iluminuras estimadas e livros de horas.
Absolutamente a não perder.
Consultar os bonitos Catálogos, AQUI.
sábado, 2 de maio de 2009
PORQUÊ, dr. VITAL MOREIRA?
Temos uma forte simpatia pessoal pelo dr. Vital Moreira. Quem passou por Coimbra e acompanhou a lide académica e cultural, saberá entender. Tal clarão, que circunda (ainda) a sua brilhante figura, não se apaga por trajectos pessoais e políticos (antes e depois de Abril), que só ao mesmo diz respeito: como homem livre que é. Ou não estivesse a nossa alma "cavada de trincheiras", como diria Joaquim Namorado.
O episódio insensato e intolerante que se passou na concentração (e manifestação) do 1º de Maio com o candidato Vital Moreira, que abriu telejornais e relembrou outros "esquisitos" acontecimentos – caso da Marinha Grande, Felgueiras e Matosinhos –, é absolutamente lamentável ao mesmo tempo que não desculpa ninguém.
Que o dr. Vital Moreira – vestindo a pele (na falta de outra) de candidato & propagandista eleitoral – apareça à frente de uma delegação do governo (reaccionário) do sr. Sócrates para a bênção da CGTP e reconhecimento público televisivo, sendo um comportamento bizarro (outros dirão, provocatório) da sua parte, não é impossível (como se viu) nem inesperado (como se comenta). O dr. Vital Moreira tem todo o direito de frequentar lugares, que ele mesmo violentamente enjeita. A liberdade e a democracia são isso mesmo. Que outros assim o não entendam, mesmo sendo de igual modo um agir livre, só os responsabiliza pelos seus arremedos. A cada um a sua imputação!
Por isso, neste alucinado espectáculo, ninguém está de fora. Os exaltados sujeitos que tentaram tirar esforço de Vital Moreira, extravasaram os limites da civilidade, e praticaram um acto gratuito e provocatório, que contra eles se virou. O dr. Vital Moreira, que ao longo destes anos de terror autoritário Socrático se tornou um audacioso especialista em insultos (intelectuais) e ameaças (jurídicas) a quem trabalha e, em especial, aos sindicatos, sabia naturalmente a inoportuna visita de cortesia que ia fazer. A organização da manifestação, a cargo da CGTP, de igual modo não desconhecia a crescente animosidade que Vital Moreira tem no país real, e foi totalmente imprudente e irresponsável. O dr. Vítor Ramalho, decerto obreiro desta baralhada, não fica bem na foto, mesmo que confesse a sua venerável paixão pelos trabalhadores. O sr. Vitalino Canas, a testada política do sr. Sócrates, lá apareceu ao público na sua habitual reclusão provocatória, lançando mais fogo na fogueira.
Entretanto, alguns curiosos "analistas" nas TV’s, num prosaísmo grosseiro, clamaram contra Carvalho da Silva, pelo que (não) disse, manifestando um retorno às velhas relíquias doutrinárias de antanho. A descrição deste espectáculo insano teve o seu auge numa diatribe de Carlos Abreu Amorim na RTPN, que o transformou, o que era um brilhante observador, num vulgar e trôpego comicieiro.
Esta inesperada feira, em pleno 1º de Maio, sugere que os tempos que vamos assistir vão ser de lodo e destruição. A degradação económica e política, a intolerância, a oratória pífia, impregnam os ares. Revolver as cinzas, é o que nos resta. Se ainda tivermos tempo!
quinta-feira, 30 de abril de 2009
O COLEGIAL FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS
Num curioso assomo corporativo, decerto a fazer jus ás palavras de "salvação nacional" vindas do Palácio de Belém, os srs. deputados da nação aprovaram uma revisão da "lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais" inqualificável. Ao que se diz, a sensibilidade desvelada pelos "camaradas" deputados da A.R. pela Festa do Avante (nunca faltámos, devemos dizer), fez nascer um afeitado humanismo e um desejo bravio de resolver (com inspiração legal) as doações voluntárias e as contribuições particulares feitas no decorrer da Festa e que são parte imprescindível das receitas de financiamento do P.C.P. Rezou assim a labita.
Esta habilidade altíssima dos srs. deputados é, no entanto, escandalosa. Que a seriedade (se alguma vez existiu) em travar a corrupção seja abalada pela medida agora tomada, não espanta vinda dos insuspeitos deputados do bloco central dos interesses. Mas que o sublimado diploma comova o grupo parlamentar do B.E., que pretende ser (e tem sido, goste-se ou não) uma reserva ética da nação, ao ponto de o aprovar, causa perplexidade e é incómodo. Tal facto significa que o atoleiro onde o país navega é demasiado profundo e já não tem solução. Que o B.E. não o tenha contestado é trágico. Ou terá chegado a vez do sr. Louçã dar uma de partido "sério" e respeitador do sistema? Era o que nos faltava, agora! Valha-nos, santo Marx!
CHRONICA ECHOLOGICA
O estado de espírito e a energia ambiental do Governo é de pasmar. Depois de prescrever contra-ordenações ambientais (2006) respeitáveis aos prevaricadores, na época acompanhada de uma ruidosa exaltação partidária, o sr. Sócrates – conhecido festivaleiro de questões ambientais –, numa rara sensibilidade humanitária, entendeu (via Conselho de Ministros) fazer "aprovar alterações ao actual regime de contra-ordenações ambientais".
Na aprovação da nova barrela oriunda do douto Conselho, teve-se em conta (em alumiada inteligência) os tempos de "dissolução" económica e por isso considera o sr. Sócrates ser a proposta a mais adequada "ao quadro socioeconómico do país, ajustando a punição à necessidade de não comprometer a subsistência de pessoas singulares e de pessoas colectivas de pequena e média dimensão". As coimas doravante a existirem, a extraordinária concepção dessa figura do "arrependido" ambiental (que aí se mendiga), retratam muito bem o espírito e o exercício de cidadania que o imprudente Ministro do Ambiente professa.
A ridícula argumentação recitada, em sede de Conselho de Ministros, revela uma notável falta de talento argumentatório, uma desconsideração ambiental repulsiva e é, acima de tudo, um insulto à inteligência de todos. Não há pachorra!
GRUPO CESARINY
"Em cima, da esquerda para a direita: Lima de Freitas, Mário Henrique Leiria, Eunice Muñoz, Fernando Alves dos Santos e Mário Cesariny de Vasconcelos. No plano inferior, da esquerda para a direita: Arthur do Cruzeiro Seixas, António Barahona e Diogo Caldeira"
Foto (1978) retirada, com a devida vénia, do espaço estimado de Alberto Castro Ferreira [Skocky ou outro mais "quando se acende a luz"].
sábado, 25 de abril de 2009
IN MEMORIAM DO 25 DE ABRIL
"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare.
Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo; a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vitimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..."
[Eduardo Guerra Carneiro, in Como não quer a coisa, &ETC, 1978 - sublinhados nossos, p. sim]
Jose Mario Branco - Menina dos meus olhos
EDUCAÇÃO - 35 ANOS DEPOIS
"...há convicção dos adultos de que a sua acção educativa é importante ... e é, não nego que seja mas não é tão importante pelo que eles dizem nem pelo que fazem, mas sobretudo pelo que eles são! É a autenticidade que é importante ... E também já aqui disse uma vez, numa destes conversas, que a arte de educar ou de ser educado, é a arte de fazer falhar a educação que nos foi dada ..." [João dos Santos, in rev. A Ideia, nº 38-39, 1985]
"A educação, desde os primórdios da humanidade, tem tido, quase sempre, como principal motivação a integração da criança no mundo dos adultos, tanto a partir da família como da religião e da escola e, por último, da sociedade, com os mais broncos a ditarem as normas, as regras e a moral que deverá enformar os despojados" [Ilídio dos Santos, in rev. Utopia, nº 23, 2007]
"A ideia de eternidade é a mais grosseira que um homem pode conceber a respeito dos seus actos (...) O principal drama afectivo da vida, a seguir ao perpétuo conflito entre o desejo e a realidade que se lhe mostra hostil, parece de facto ser a sensação do tempo que se esvai" [Guy Debord, Rapprt sur la constrution des situations, 1957, aliás, in rev. Utopia, nº 1, Abril 1995]
[ilustração de António Valério]
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A EDUCAÇÃO DO MEU UMBIGO
Quando a história da governação do sr. Sócrates na instrução e educação em Portugal se fizer (com rigor, seriedade e modernidade), o estudioso terá de consultar o excelente blog de Paulo Guinote. Os textos aí produzidos, as notas valiosas de investigação, as ideias e propostas enunciadas - em defesa da Escola e da Instrução Pública - constituem um contributo insubstituível para entender o sistema educativo, a dimensão "político-pedagógica do profissional da educação", a profissão docente e a sua autonomia face ao Estado e às corporações de interesses, nesse período.
Contra a demanda irresponsável e a hostilidade reaccionária dos sábios da 5 de Outubro (e dos seus patrulheiros), o acervo documental que nos facultou Paulo Guinote (e um extraordinário grupo de docentes, que aí se reagruparam) é uma fonte imprescindível para entender os jogos do poder político, os (des)propósitos sindicais e revela o espírito que "exalta a vida" (Vaneigen), nessa afronta que a memória não esquecerá. O aprofundamento com que todas as questões foram analisadas e contraditadas, à revelia daqueles que venderam a alma (pedagogos e especialistas em eduquês), aliada à participação colectiva de vasto número de profissionais livres e libertos, estabeleceu uma rede de histórias notáveis e de respeito. O campo educativo, que as cabeças intelectivas à ordem do sr. Sócrates formatou, deixou marcas profundas e irreparáveis.
A Educação do Meu Umbigo saiu em suporte de papel. Auspiciosamente! Para facultar os espíritos deformados, para reclamar o exercício da liberdade e ridicularizar grotescos experts, para manter a memória. Como tal, indispensável.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A TONSURA DESTES DIAS
Na chamada Blogosfera, a tonsura destes dias fez-se, por motivo de devoção, gorjeio & acabamento teorético, à volta da questão da trova & da "gramática" da sra. Fernanda Câncio. Isto é a produção jornalística com que a sra. tricota a pauta impressa no D.N. parece que incomodou uns tantos liberais, alguns sacerdotes que habitam no Expresso e outros prelados da objectividade da informação, dando origem a uma curiosa polémica.
A sra. Câncio, espírito que paira entre assuntos fracturantes e autoridade consultora do sr. eng. Sócrates & governo, e que não lemos por tédio e precaução anti-reaccionária, verteu insólitos (quanto persistentes) pensamentos que a matriz ética ou deontológica (não se sabe qual) não poderia permitir – ao que nos dizem. Invocando a existência de conflitos de interesses, com origem numa putativa relação privada, os fascículos saídos arrebataram os trovadores da Blogosfera e, pasme-se, até o Expresso, desse precoce sábio Henrique Monteiro.
O sedutor debate (e o dissenso) que se seguiu teve o seu esplendor neste curioso texto ("A democracia da suspeita"), que – passe o facto de confundir moral com ética e esta com deontologia – se subscreve, em parte. Mas, como talvez diria o dr. Pacheco Pereira (e bem!), "essa não é a questão fundamental". Porque, afinal, a prosa oratória da sra. Câncio só é perfeita (e consumida) por quem já está disso convencido. Os encómios aos seus textos "testiculares" surgem, curiosamente, da maioria de adeptos das tais causas fracturantes, que (sem inocência) trocam a melíflua nutrição da sua prosa, pretensiosamente radical, que lhes reverdece a alma e lhes adoça a vida privada, pela pouca original atitude de cedência face ao exame do poder autoritário e de pensamento único que tudo corrompe - e que sublimam para o dia de finados. Com ou sem declaração de interesses, a questão em debate não permite esquecer a ostentada (e medíocre) propaganda que se observa e é total. No resto, a converseta é estimulante e, até mesmo, imperiosa. Porque os tempos do jornalismo estão "feios" e a causa "corrompida pela língua", como diria Kraus. E assim o cremos!
CHICO BUARQUE
"Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência (...)
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse 'endereço de gente desclassificada', está o antigo cemitério onde jaz seu avô"
ler AQUI.
NESTE CANTINHO OCIDENTAL ... NADA DE NOVO!
Um cidadão aterra vindo da inquietada civilização, para lá dos mares, e neste cantinho que da Ocidental praia lusitana nos fita ... nada de novo se passa. A degradação social & política nesta paróquia, que vai afagando a inspiração e as "cabeças cúbicas" dos dirigentes (enquanto nos vão afivelando a mordaça), é tremenda. Por sua vez, a liça jornalística vai arrastando pitorescos linguarejares e admiráveis depoimentos, com que entretêm a canalha. O inventário desta desdita – mais que uma charada diligente, – é uma curiosa e astuta intenção de laboriosas gentes, sem nenhuma dignidade ou honra.
Alguns mimos que saíram por estes dias, são elucidativos:
- a crise da crise (sistémica, como se diz nos preliminares do economês) está para continuar, estremecida nesta "morte suspensa", que a arreata do dr. Constâncio e o prelo indulgente do dr. Teixeira dos Santos vai permitindo. Tais sábios, equiparados no intelecto, parecem que estão admirados com a intensidade da "coisa" e com os detalhes desse mau-olhado que atravanca esta nossa lojeca. Mas, de facto, o descoberto político que põem a circular, face ao estado depressivo da economia e aos desafios rápidos que se exigem, não passa de mera doutrina (de boca de palmo), num aranzel absolutamente desprezável. Para o governo e o dr. Cavaco, na circular que espreita a cada "santo" dia, a culpa é do comboio da crise. Para a oposição (!?), o folhetim da tragédia, está no parlatório dos amigos e (des)conhecidos do sr. Sócrates. Isto é, não fornicam nem saem de cima. Cremos nós, que a pateada (que tarda) deste povo de mansos credores é pouca para tanto ócio à solta e estreita para cobrir a fronte dessas luminárias. A bengalada, que a contradita exigia a toda essa gentinha abusada, não faz sementeira. Muita pena!
- na notável Europa (do fraco Barroso), quase sempre sem política global e coerente, a Economia é acima de tudo uma técnica e uma arte ("policy science"), que a realidade social contraria em abundância. Curiosamente, os paradigmas foram-se de vez, sem um único queixume. E nem mesmo os (agora convertidos) novos-keynesianos passam no "teste do mercado" e podem (rapidamente) "salvar o capitalismo dos capitalistas". Quem assiste aos inenarráveis estudos sobre a crise pelos modernos sábios convertidos à coisa pública, só pode sorrir ... de enfado! Afinal Marx manda sempre "lembranças". Por sua vez, na morada do sr. Obama a resposta (por duvidosa que seja) é diferente. Enquanto ali existe voz e comando único capaz (!?) de inverter o (im)possível, na Europa do dr. Barroso há lassidão, incúria e mediocridade. Não por acaso, o dr. Barroso foi de novo entronizado chefe dessa escola. Por cá e por essa extraordinária Europa.
- a continuada (e histórica) chantagem política sobre os cidadãos independentes, teima em persistir. Esta semana – ao que nos dizem – uns embargados "renovadores comunistas" reapareceram da longa noite socrática, esclarecendo o gentio de Lisboa da necessidade de advogar a causa comum da "esquerda". Num golpe de mágica, esses desastrados professos da "frente de esquerda”, pretendem viabilizar uma presumida governação da cidade de Lisboa pelo sr. António Costa, gnomo do sr. Sócrates. A opinião de tão "vasto" auditório intelectual – uns renovadores de qualquer coisa, mais a ínclita geração de sábios que vivem à custa do poder e uns tantos obscuros sujeitos – entende que o sr. Sócrates & Cia é democrático e até mesmo de "esquerda". O génio desta assombrosa convicção anda por aí. Pode ser que essa espinhosa missão tenha vencimento, porque a memória do gentio é curta e me(r)d(r)osa. Mas esse contorcionismo pouco sério - a fazer negócio - degrada a vida política e enterra de vez o que quer que seja que tenha (ainda) a voz, a inteligência e a frescura de esquerda. O desamor de uns tantos, não pode ser exemplo para a miséria de todos. Para esse peditório ninguém é arrastado com inocência. A memória não esquece.
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