sexta-feira, 13 de março de 2009
4 ANOS DE INCOMPETÊNCIA, OUTROS TANTOS DE PREPOTÊNCIA
"... o terrorismo mais eficaz é sempre o do Estado: os grupos matam simbolicamente, o Estado estatisticamente" [Alberto Morávia, 1978]
O governo esquizofrénico do sr. Sócrates ladrou alto durante quatro anos. A sua governança, mais que a (urgente) exaltação dos cidadãos em prol do esforço colectivo e autonomia, tornou-se um modelo de ilusionismo político, de irracionalidade estatística e leviandade autoritária. Da pesada herança recebida, o sr. Sócrates (e amigos) acumulou outras mais, ao mesmo tempo que exercitou uma colossal mentira, em espectáculos absolutamente deprimentes.
Ao esforço e dedicação, perda de direitos sociais e restrições cívicas por que os cidadãos passaram todos estes anos, o sr. Sócrates lançou mão de um activismo fossilizado (acompanhe-se as intervenções autoritárias do inenarrável Santos Silva), dissimulado em putativas "reformas", curiosamente da mesma natureza que as tentadas (e nunca permitidas pelo antigo partido socialista) por Durão & Santana. A alucinação do défice (outrora sebento, pelas mãos de Ferreira Leite), a natureza de classe (ou as corporações de interesses) que representa o seu governo e a compleição despótica do seu governo, são marcas espinhosas que perdurarão.
O sr. Sócrates mais que governar o país, "domesticou" (José Gil) a sociedade. E com ele pronunciou a transfiguração do outrora partido socialista, agora transformado em correia de transmissão do grupo de interesses do sr. Sócrates. O Sócrates way of life é um arrazoado ideológico saído do curral do Estado Novo corporativo e onde, reluzentemente, se integram alguns prosistas do anti-fascismo, de momento em trânsito para o "vil metal". Note-se os vitupérios e o desprezo, da parte dos guardiães do templo do sr. Sócrates e sempre com a cumplicidades de conhecidos jornaleiros acofiados, contra a desobediência civil ("direito político fundamental" ou "condição de liberdade") que a dado passo se instalou entre nós e a polémica que então emergiu. Leia-se. O espírito de quartel está todo ali!
Pouco dado ao uso (ou aborrecimento) de explicar qualquer tipo de pensamento político ou ideológico sobre as medidas tomadas, nestes infaustos quatro anos de terror, o sr. Sócrates caiu no modismo herdado via Giddens (conhecido traficante da 3ª via). Mas, sem a gentileza do sábio "mestre", nunca aprendeu as suas regras, só os seus excessos. A questão do papel e peso do Estado, a reforma na Justiça, na Educação e na Saúde, nunca foram pensadas como parte integrante de um qualquer modelo desenvolvimentista, que se conheça. Apenas resultou num total fracasso, que a situação comatosa da justiça, da educação e da saúde confirma. A operacionalização das putativas reformas foram sempre erráticas, ou quanto muito à la carte. Ninguém as entendeu, mesmo se num primeiro momento obtiveram copiosos aplausos de todo o bloco central e um excelente apreço nos media. Por isso, ao fim destes quatro anos de decomposição do Estado Social, o país está exangue, de rastos e sem qualquer remédio. Mas não é o sr. Sócrates o derrotado. Somos todos nós. Vergonhosamente!
JOÃO MESQUITA
Faleceu ontem de manhã, em Lisboa, João Mesquita. Um competente e estimado jornalista, que tantos serviços prestou à sua classe. Um generoso e combativo cidadão. Até sempre, João!
"... Corria o ano de 1971 e é matriculado no Liceu Camões, para fazer o quinto ano (...) fundador do núcleo do Camões do Movimento Associativo do Ensino Secundário de Lisboa (MAESL)..." [ler, AQUI]
"Usava então o cabelo pelo meio das costas (até ao dia 16 de Dezembro de 1973, em que eu [José Manuel Fernandes], ele e mais uns 160 estudantes fomos presos por uma noite ..." [ler, AQUI]
[entre eles o Bernardo (P.A.V.), a Elsa e a Maria da Luz (R. D. Leonor), o João e o Luís (D. Dinis), a Helena (D. Pedro V). Alguns dos (16 dos 146 ou 160?) estudantes foram levados para Caxias. Deu origem a greves, RGA's, ocupações - caso no P.A.V., do ginásio - e expulsões]
"Nascido em Coimbra em 3 de Junho de 1957, João Mesquita foi um empenhado activista nas causas em que acreditou desde a sua juventude, tendo iniciado a profissão em Março de 1979 no jornal Voz do Povo. Trabalhou, depois, no vespertino Notícias da Tarde (1982), onde se destacou como repórter parlamentar, transitando para o Jornal de Notícias (1985) e, posteriormente (1988), para o Semanário, de onde saiu para integrar a Redacção fundadora do Público (1989), tendo permanecido neste jornal até 1993. Trabalhou, depois, no diário As Beiras (até 1994), no semanário Independente e em A Capital, de onde saiu em Março de 2002. Como freelance, manteve colaborações com várias publicações, nomeadamente o semanário Expresso" [ler, AQUI]
Até sempre, João!
[foto, tirada d'AQUI, com a devida vénia]
terça-feira, 10 de março de 2009
84, Charing Cross Road
"The life that I have is all that I have - and the life that I have is yours"
Serão agradável, via canal Hollywood. Miss Hanff disse um dia: "If I live to be very old, all my memories of the glory days will grow vague and confused, till I won't be certain any of it really happened. But the books will be there, on my shelves and in my head - the one enduring reality I can be certain of till the day I die."
Lá fora – entretanto – os indígenas eram acometidos por piedosas paisagens. Ninguém escolhe, com lucidez, a sua própria noite.
sábado, 7 de março de 2009
LETREIRO LICENCIOSO NECESSÁRIO AOS SRS. DEPUTADOS
A regressada Assembleia Nacional tem urgência do uso escorreito da colocação da palavra, do furto da grandeza do vocábulo, do eco da oratória. O acolhimento, na tertúlia parlamentar, que a legenda do insigne deputado Eduardo Martins impiedosamente verberou ao ouvido do sr. Candal (filho) fez - segundo dizem - honras de improvisação. O espectáculo, indiscutivelmente feminino, que a verborreia discursiva do sr. Candal compõe, merece não só uma elocução aperfeiçoada mas exige também uma fonética subsidiária. Em verdade (naquele local) não há oradores negligentes, mas sim devassidão política. O sr. Candal (filho) atrapalha-se nos exercícios práticos de lisonja ao seu patrono. Compreende-se! Mas por isso mesmo deve continuar a esforçar-se para restaurar as letras pátrias. Assunto que o sr. Eduardo Martins - distinto promotor do purismo e concisão da linguagem – solidamente e harmoniosamente observa.
Portanto, para que ao deboche político se junte o dom pessoal no uso do castiço vocabular, os srs. deputados devem ser puros na linguagem e devassos na ideologia. Em bom português, o fraseador político terá de ter qualidades e vícios de estilo que a libertinagem do trabalho não confere. Estamos convencidos que a locução "eu só faço o natural se queres variedades vai ao teatro" [cf. Eduardo Nobre] não tem fundamento e é intolerável.
Por isso, para fazer bom uso da vernaculidade e fugir à banalidade, para deputados estreantes ou com ócio, aqui vos deixamos um reputado letreiro licencioso. Bom trabalho!
Pénis / Pila / Picha - abono de família, apenso, assobio, banana, barambaz, barrote, berimbau, bilharda [corruptela decerto da "bilharda: f. Jogo de rapazes, que consiste em fazer saltar com um pau comprido outro mais pequeno", cf. mestre Cândido Figueiredo], cacete [na acepção de "O rapaz recebeu o cacete e seguiu", cf. Poesia Popular Brasileira], caralho
[usado por Plínio Marcos – curioso dramaturgo falecido em S. Paulo em 1999 – na peça/novela policial "O assassinato do anão do caralho grande", 1996; ou com o mesmo sentido que deriva o poema de Joaquim Pessoa "Ó caralho! Ó caralho! / Isto de a gente sorrir / com os dentes cariados / esta coisa de gritar / sem ter nada na goela /..."; equivalente ao "o enfermeiro que me ajudava repetia Caralho caralho caralho com pronúncia do Norte", saído da pena de António Lobo Antunes, in Cu de Judas; loc. copiosas vezes utilizada na obra "O Meu Pipi" e escusadíssimo quando diz:"Que porra de esquizofrenia é essa, caralho?"],
careca, carocho, chicote-da-barriga, coiso, encomenda, farfanho, flauta-lisa, gaita, gregório, lalau, mandrião, mangalho [loc. pop. que Jorge de Sena usa em Os Grão-Capitães:"puxar por um mangalho"], marsapo, mascoto, mingalho, pechota [diz-se no Norte], pica, picha, piegas, pincel, piroca, pau-barbado, pau-de-leite, pendureza, pissa
[termo registado, ainda, na exuberante obra de Pierre Louys, Manual de Civilidade para Meninas, onde se regista;"Não suspendais pissa postiça nenhuma à cabeceira do vosso leito. Tais instrumentos colocam-se por debaixo do travesseiro", p. 9; do modo cordial, ainda Louys assegura que "cativam-se os homens assim: pondo-lhes um grãozinho de sal na ponta da pissa e chupando-a, depois, até o sal se derreter", p. 30; é erro – diz Louys -, confundir o termo com Teseu; e em bom português não se deve dizer "O que mais gostava de ser era Metelo", cf. Louys, p.19],
porra [de uso esforçado, como filosoficamente Guerra Junqueiro nos serviu n’A Torre de Babel ou a Porra do Soriano, "A porra do Soriano, é um infinito assunto! / Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto? / Onde é que ela começa? / Onde é que ela termina"], puxador, quilé, romão-cego, sardão, solino, surdo, tinoco [não confundir com Tinouco Vieira O Xantho, pseud. José A. X. Coutinho, que escreveu a insigne obra, "Freio métrico para os novatos de Coimbra em oito oitavas", 1749, cf. Dic. Pseudónimos de Albino Lapa], tangalho, trincalho, verga, vergalho (ou finório, Alberto Bessa), zezinho, faro (cf. Artur Bívar), galinha (cf. Alberto Bessa), camarão pequeno (cf. Cândido de Figueiredo)
[retirado do Dicionário Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, P&R, 1984]
domingo, 1 de março de 2009
VITAL MOREIRA, FUTEBOL & APAGÕES
Vital Moreira é profissionalmente correcto, culturalmente estimado, pacificamente democrata, mas politicamente imprudente. Ao aceitar ser cabeça de lista pelo partido do sr. Sócrates ao Parlamento Europeu, além de entrar (definitivamente) no inner circle dos seus duvidosos amigos, não faz mais que dar "cobertura científica ao reaccionarismo" [cf. Vital Moreira, Vértice, 1979, nº416] e aos "arrochos" dessa gente. Decididamente Vital Moreira "perdeu a cabeça" [ibidem] com o sr. Sócrates. Coisa já previsível ao longo dos seus desbragados escritos na Causa Nossa e pelos jornais. Nunca nenhum independente (que o seja) foi tão longe em defesa do chefe e do seu grupo de interesses.
Decerto que o "carácter compromissório" [ibidem] de Vital Moreira é diferente do catecismo de um Santos Silva ou das diatribes do aio vigilante Lello. Mas a campanha psicótica injuriosa, difamatória e a inqualificável contra os educadores – os médicos, ou a função pública em geral – e a instrução pública (que os seus textos de raiva ostentam) apresenta-o, desde logo, como um ignorante em matéria educativa. Assunto, aliás, que totalmente desconhece e não pratica. Vital Moreira, na sua especulação socrática, não entendeu ainda que mais que um ministério da educação se precisa é (aqui e na Europa) de um ministério de instrução. Coisas, absolutamente diferentes!
Curiosamente (ou não), a questão da instrução e do ensino tem atravessado o debate académico e político por toda essa Europa (vide França e Alemanha), tendo assumido um lugar central e urgente, dado a falência da instituição educativa e do modelo de ensino neoliberal - modelo esse que Lurdes Rodrigues e o próprio Vital pela paróquia defendem – e a urgência de medidas de requalificação profissional dos seus cidadãos. No Parlamento Europeu, em que trincheira ideológica Vital Moreira se colocará?
Por outro lado, a cantilena das "reformas em curso" do governo (que, de facto, são urgentes, mas ninguém vê) com que tem blindado o seu próprio discurso, mais que o seu opinioso protestatório a favor da governação, é, isso sim, o branqueamento de verdadeiras e boas reformas. De facto, como Vital Moreira um dia escreveu, andam por aí um raminho de "juristas do Estado-de-Direito" [Vértice, 1974, nº369] que se armam, quando a contestação sobe de tom, em "campeões do Estado-de-Direito" [ibidem]. Vital Moreira, em todos os assuntos da fazenda, comporta-se nesse registo.
Finalmente – já o dissemos - Vital Moreira é academicamente competente e tecnicamente insuspeito. Postulados não desprezíveis num Parlamento. Mas o seu propósito de gorjear no grupo de amigos do sr. Sócrates, não lhe vai trazer aplausos ou fidelidades. Pelo contrário, perde-se um académico e não se ganha um político. Não por sinal, os excursionistas de Espinho, pouco dispostos ao debate político, depois do futebol visto durante o decorrer do Congresso, foram virtuosos no apagão salvífico. E das trevas nunca virá luz. Como se sabe.
In-Libris – Mais livros de Fevereiro
A In-Libris (Porto) apresenta um novo lote de (50 livros) usados e antigos de temática variada - poesia, literatura, arte, artes gráficas, sociologia, etnografia, história,etc.
A consultar on line.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
OS AMIGOS DO SR. SÓCRATES
"A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer" [Stig Dagerman]
A curiosa romagem a Espinho (este fim-de-semana) dos amigos do sr. Sócrates – a que chamaram graciosamente Congresso – é notícia, desde logo porque é um sério abalo ao ex-partido socialista português. Marca o desânimo e a confusão da gente socialista, que algures existe e ainda resiste. Em Espinho, nunca tantos patrulheiros políticos reaccionários, se nos esquecermos da dita "esquerda" punheteira que habita na blogosfera, estiveram juntos. Tais próceres neo-populistas ofertaram um show business terrorista: ora inocentemente assomadiços contra a imprensa ou sempre de olho na reputação do Chefe.
Nem uma só ideia política consistente deu à luz, em Espinho. Frivolidades inúteis, calúnias tenebrosas (vide o regresso da "campanha negra"), chibatadas à esquerda (o BE agradece), eis a originalidade dos amigos do sr. Sócrates. A crise social, económica e financeira foi definitivamente escorchada: simplesmente não existe! Os "problemas dos portugueses" não interessam, em demasia, para tais sujeitos. Bem pode António José Seguro pregar tal deficit no debate: a ausência é total. Naquele manicómio de engajados do sr. Sócrates, o beija-mão está primeiro e as suas vidinhas & dos amigos, a seguir. Os vagabundos da vida são sempre a canalha. Ou algum desabrido jornalista.
De facto, não surpreende que o mundo à volta do patrulheiro Augusto Santos Silva seja um circo, a exigir as suas suspirosas tiradas "sociológicas"; e que o pavor político do inútil presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, se transforme numa agitada e miserável comédia discursiva; ou que o ridículo José Lello, assanhado porteiro do sr. Sócrates, ainda tenha alguma coisa para dizer. Esta gente, que nada aprendeu nestes seus quatro anos de terror autoritário e despotismo pacóvio, é parte do problema que a crise (económica, financeira, mas principalmente ética e de cidadania) autoriza. Jamais tais professos podem envolver as pessoas num esforço colectivo nacional (à boa maneira do que Obama um dia referiu), porque, além do bom senso, lhes falta um simples e único pingo de democracia. E de liberdade. Como um dia – já muito longínquo – um senhor chamado Mário Soares teve a ousadia de proclamar. Adiante!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
SPORTING: O ATREVIMENTO
Paulo Bento é o maior folgazão dos treinadores de futebol. Um perfeito sobrevivente carnavalesco. E, curiosamente, não há assessor político que não o corteje e estude. Não por ser uma perfeita nulidade no seu mister (o que seria tranquilamente normal) ou pelo patético vocabulário usado em cada flash interview, mas pela faina assombrosa de nunca assumir tropeçar na sua própria miséria. Daí os arrufos da rapaziada dos governos & dos think tank indígenas, pela singular personagem. Na verdade, Paulo Bento está para a teoria política como o eng. Sócrates para o palanfrório futebolístico da Assembleia Nacional. No futebol a máxima de ambos é que o "crítico é um privilegiado que só começa a jogar quando o jogo termina: por isso ganha sempre". E, dizem, não há combate mais limpo que esse. Até o Santos Silva – se lhe soletrarem docemente – entende. Deo gratias!
Hoje, porém, o Paulo Bento está livre desse admirável raminho de críticos. Até mesmo dos que, de peito generoso, dizem:"A bola rola para todos, mas só dá bola para alguns". Paulo Bento, mesmo que não tenha memória, deixou jogar. A derrota contra os boches foi uma liberalidade. Arriscada! O atrevimento dos seus jogadores foi pensar que depois da viciosa correria contra o nosso Glorioso (2ª parte, no sábado passado) tinham pernas, coração e ânimo para o jogo do Bayern. Paga-se caro a tolice, a aventura e a intrujice. Esqueceram-se, há três dias, que num jogo de futebol "quem corre é a bola, senão era só fazer um time de batedores de carteiras". Hoje viu-se no que isso dá. Muito atrevimento.
DA INSTRUÇÃO DA MULHER
Em petição & provimento a S. Exa., o Sr. Rui Pereira, Ministro dos Costumes do Reyno:
"... Madre D. Ana Máxima de Mota e Silva, religiosa do mosteiro de Santa Ana, pelo qual, tendo sido autorizada a sair de clausura para uso de banhos, se obriga a ir directamente para casa do seu irmão, Dr. ..., e dahi para os banhos, levando sempre o rsoto coberto, e portando se com aquella modéstia, e cautela devida às virgens dedicadas a Deos, co o tão bem na ida, estada e regresso para convento ser sempre na companhia do dito seo sobrinho e da creada, indo em carruage, ou liteira, e se sujeitava a não conversar com pessoas estranhas (…); e que sucedendo anoitecer lhe alguma vez pelo caminho, ou sendo lhe necessário tomar algumas refeiçoens corporaes, prometteo de não fazer em estalajaes publicas ..." [1784, Julho, 1, Coimbra (Mosteiro de Santa Ana) – in Câmara Eclesiástica de Coimbra, mc 35, Arquivo de Coimbra]
"Inquirição de Isidoro de Abreu Cardoso, como testemunha da devassa que teve lugar após visitação à igreja de santo Isidoro de Melo. A referida testemunha revelou que Antónia da Costa, da freguesia de Nogueira, viera àquela vila infamada de mensinheira e fizera varias curas andando pellas casas dos enfermos ... não usava de palavras, mas pondo hua galinha preta no estomago ..." [1712, Setembro, 16, Melo (c. Gouveia) – in Livros de Devassas - Vouga, lv. 72, fl. 21, Arquivo de Coimbra]
"Inquirição de Maria, solteira, filha de ..., moradora em Ançã, na sequência da devassa que teve lugar após visita pastoral à igreja de Ançã. A testemunha referiu que Ana Bagulha era mulher de mau procedimento e costumada a desinquietar as mulheres honradas desencaminhando as para ellas se desonestarem e dá conta do que lhe contara uma moça solteira chamada Páscoa que com muitas lágrimas chorando lhe dicera que a dita Ana Bagulha fora a cauza da sua perdissão ..." [Livros de Devasssas – Vouga, 1725, lv. 72, fl. 21, Arquivo de Coimbra]
reprodução do Catálogo da Exposição, "Os direitos da mulher e da criança (séculos XVI-XIX)", org. Arquivo da Universidade de Coimbra, 2007
TEMOS ANDADO POR AÍ ...
... a guardar o ouro dos emolumentos, que a coisa está preta. O cartório do sr. Teixeira dos Santos é tão vibrante como a novela do BPP, mas mais cobrada que a contribuição aos melhoramentos do BPN. Este último, porto franco das sinecuras tem, como se sabe, "mais laranja" & mais "rosa". Os motivos de precaução & a sensatez de uma pausa bloguista, estão explicados. No resto, catrapiscámos em todo o lado curiosos papéis pintados (e autografados) e, ingenuamente, pecámos em húmidas paisagens espirituaes. Evidentemente nada comparáveis com aquela outra com que a nova polícia dos costumes do sr. Rui Pereira afugentou da paróquia de Braga. Mas estivemos bem perto! Pelo meio da vernissage do caos, que se pressente e que não tem remédio, ainda tivemos tempo para ir ao horto d’Alvalade, cumprir promessa. Aqueles rapazes das riscas verdes têm uma boa passada. Trotaram muito bem depois do intervalo. Uns cavalões! Levá-los para o atletismo era de bom proveito pátrio. Quanto ao futebol, confesso que não vi. Estarei com problemas de visão como o Manuel Pinho? Credo! Valha-me S. Sócrates!
Saúde e fraternidade.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Leilão ex-Colecção Ernesto Vilhena, Biblioteca Jorge de Brito III parte – 17 e 18 de Fevereiro
No próximo dia 17 e 18 de Fevereiro (21,30h) na Rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), 20 C, Lisboa, vai à praça 955 lotes, parte proveniente da Biblioteca Jorge de Brito (ex-Colecção Comandante Ernesto Vilhena). A leiloeira é a Renscimento e o excelente Catálogo foi elaboado pelo livreiro José Vicente.
Conjunto estimado (e raro) de Serigrafias, Arte, Arqueologia, Bibliografia (Diccionario Bibliographico Portuguez), uma Camiliana (ver a "A Infanta Capellista", 1872), Comoneana (vide Lusíadas, ed. III Centenário), Colonial, Culinária, Descobrimentos, Direito, Equitação, Gravuras, História Antiga, Jornalismo, Literatura, Literatura Modernista, Litografias (ver Costumes de Portugal, Lisboa, 1865), Livros de interesse para a I República, Manuscritos, Monografias, Ourivesaria, um livro raro de Fernando Pessoa ("35 Sonnets", Lisbon, 1918), Sermões, Tauromaquia (ver Gran Biblioteca de Selecciones del Museo Torino Espanol, 1977), Revistas, Almanaques e Periódicos (vide Almanach de Trancozo; Almanach Portuguez, 1826; Revista Portuguesa de História, Coimbra; Terra da Beira, Castelo Branco). Algumas peças com dedicatória dos autores ao comandante Vilhena.
Pode-se consultar o Catálogo online, AQUI.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
PARECER preliminar de Garcia Pereira – versão completa
Toda a alucinação dos normativos em torno do concebido ECD, a "avaliação de docentes" & demais ferretes do M.E. contra a Escola Pública e os professores, têm aqui o seu contraditório jurídico.
É muito importante (e reconfortante) esta apreciação de Garcia Pereira, mesmo sabendo-se anteriormente que o construído jurídico-administrativo de Lurdes Rodrigues (seguindo outras muitas leis do governo) era claramente inconstitucional. Por isso, nada de novo, tal a inabilidade laboratorial dessa palavrosa gente. Só peca este receituário jurídico por ser tardio e não ter sido considerada no tempo (como devia) como um decisivo mecanismo colectivo de acção (e de cidadania) pelas estruturas sindicais. Como sempre, tais cantadores de feira vieram, agora, apregoar tal forma de luta associativa. É tarde! Demasiado tarde para quem ministra sindicatos e associações de classe. Foi necessário um grupo de docentes independentes (nada desprevenidos pelo sentido que a luta adoptava) avançar para tal embargo, para que muitos entendam (no futuro) que a luta política tem tantas vertentes quantas as que quisermos e a imaginação permita. E, seguramente, que a luta jurídica, a par do marketing político em defesa da classe (que, aliás, a imagem pública dos docentes consente), têm aqui o maior sentido nesta contenda. Afinal, para que servem os sindicatos?
Leia o PARECER preliminar de Garcia Pereira (versão completa) - via Educar
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
In-Libris – Livros de Fevereiro 2009
A In-Libris (Porto) apresenta um lote de 100 livros usados e antigos de temática variada - poesia, literatura, história, zoologia, Botânica, História Natural, Agricultura, Política, Fotografia, etc.
Referências: Actas do 1º Congresso de Etnografia e Folclore, Braga de 22 a 25 de Junho de 1956. Biblioteca Social e Corporativa. Lisboa. 1963, III vols / Álbum de Costumes Portuguezes, Lisboa, David Corazzi, 1888 / O Minho Rural e a Agricultura Moderna, de Veloso de Araújo, Braga, 1928 / A Filosofia Portuguesa 1720-1820. História da Revolução Portuguesa de 1820, por José d’Arriaga, 1980, IV vols / História Natural dos Pinheiros, Larices e Abetos remettida à Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, de Félix Avelar Brotero, 1827 / A Sciencia e a Industria em nossas casas, por Bento Carqueja, Lisboa, 1912 / Diccionario Portuguez das Plantas, Arbustos, Matas, Arvores, Animaes, ..., por José Monteiro de Carvalho, Lisboa, Offic. de J. F. M. de Campos, 1817 / Os Ciganos em Portugal, por F. Adolfo Coelho, Lisboa, 1892 / História do Regime Republicano (publ. Luís de Montalvor), Lisboa, 1930-32, II vols / Discursos de Oliveira Salazar, 1935-67, VI vols / Ensaios Etnográficos, de Fernando de C. Pires de Lima, 1969, II vols / Obras de Jorge Amado, Sophia de Mello Breyner, Agostinho da Silva, Antero de Quental, António Botto, Adolfo Casais Monteiro, Branquinho da Fonseca, Celestino Gomes, Ferreira de Castro, João Grave, José Augusto Seabra, José Rodrigues Miguéis, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Maria Lamas, Sant’Ana Dionísio, Tomaz da Fonseca, Wenceslau de Moraes.
A consultar on line.
Witches, Wizards and Magic
"Witches, Wizards and Magic from the Middle Ages to the Early Modern Period
Our upcoming issue will be devoted to representations and interpretations of witches, wizards, and magic in art, chronicles, letters, literature, and music from the Middle Ages to the Early Modern period"
in Hortulus - Call for Papers
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Regressar à teoria
Banho de bola no campo das Antas. Marcando em cima dos rapazes do prof. Jesualdo, o Glorioso – de "gravata vermelha" – foi brilhante, genial até. Apagaram as luzes do bairro. Jogaram de ouvido e gozaram! O descanso dado aos andrades (toda a semana), que o reaccionarismo do prof. Jesualdo felizmente estimulou, foi infrutuoso. Uma anedota! Os jogadores são para jogar – os que o sabem fazer, evidentemente – e terem intimidade com a bola. A rapaziada das Antas arrastando-se pelo campo, sem malícia nem jogo de bola, foram objecto de troça de Aimar e seus camaradas. O improviso da velha táctica do chuveirinho, em direcção a jogadores com mais de 2 metros & uma solidez à moda de Luisão e Sidnei, é armar a intelectual. Vem no manual, mas é para gente talentosa. Pingar a bola, nessas condições, é ser "idiota de objectividade" (Nelson Rodrigues). Uma miséria!
A lavagem de bola do Glorioso foi só excedida pela lavagem ao jogo feita pelo soprador de apito, o jovem Pedro Proença. Curioso nome que lembra, e muito, o travestido sindicalista João. Aos 71 m de jogo, Proença, viu um falso penalty contra o Glorioso. É moda (para citar o eng. Sócrates) que os “polícias” de serviço, quando se enganam contra o Glorioso, sejam adeptos confessos do próprio clube. Ladrão de bola contra o Glorioso foi, é, ou será sempre associado do clube. Mestre Pinto da Costa não brinca aos Freeport’s!
A "vitória doce e santa" (ainda, N. R.) que (não) obtivemos fizeram regressar, entre os correligionários das Antas e os veraneantes d’Alvalade, a teoria da "intensidade do lance". Na época, Pôncio Monteiro filosofava sobre esse apurado e raro estudo. Pedro Proença tem aqui um papel principal na sua reconstituição. É, de novo, o futebol a regressar às suas origens. Mestre Pinto da Costa (sabe-se) não brinca em serviço!
domingo, 8 de fevereiro de 2009
CARTA a uma Universidade Perdida
"Carta a uma Universidade perdida - Decisões de semestre novo - de Miguel Vale de Almeida".
Para ler e reler. E guardar para os vindouros! Para que - quando a incomodidade não seja apenas um correio de saudade - ninguém diga que não houve testemunhos que um dia honraram a Instituição e os docentes.
via A Terceira Noite, com a devida vénia.
CATÁLOGO 44 – Livraria Olisipo
Acaba de sair o Catálogo de Fevereiro da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente, com um conjunto estimado de livros esgotados (e raros) de Literatura, Monografias, Ultramarina, Brasiliana, História, Biografias, Revistas, etc.
Algumas referências: Olivença e Marvão, de Ventura Lendesma Abrantes, Barcelos, 1934 / Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos. VI vols, 1961 / um valioso Álbum Henriquino [obras e jornais] referente ao V Centenário do Infante D. Henrique. (1394-1894) Conjunto das seguintes obras e jornais: 1394-1894 / o Almanach Perpetuum Celestium Motuum (Radix 1473) - reproduction fac-similé de l'exemplaire appartenant a la Bibliothèque d'Evora. Édition 1496. Leiria. Genève. Société Sadag, s.d. / Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, pelo General João de Almeida, III vols, 1945 / A Arte Popular em Portugal, sob direcção de Fernando Castro Pires de Lima, Editorial Verbo, III vols, s.d. / O Bardo. Jornal de Poesias Inéditas (red. F. X. de Novaes, A. P. Caldas), Porto – apenas o II vol (Março 1952-Março 1953) / Bodas de Oiro de António Cabreira e o VI Centenário da Tomada de Tavira, 1942 / Cadernos de Literatura, Coimbra, 1978, XXV numrs / Obras de Luiz de Camões (pref. notas do, Visconde de Juromenha), Lisboa, 1860-69, VII vols / Cancioneiro da Biblioteca Nacional. Antigo Colocci-Brancuti, 1949, VIII vols / Bragança e Miranda (Bispado), pelo Pe José de Castro, Porto, 1946 (51) IV vols / A Questão Académica de 1907, de Natália Correia, 1962 / Cortes de Lisboa dos Annos de 1697 e 1698. Congresso da Nobreza, 1824 / Os Meus Cavalos, de Arthur Ervideira, 1958 / História Económica-Financeira da Índia Portuguesa (1910 a 1947), II vols / Instituto Vasco da Gama (per. Impresso na Índia), 1872 a 1874, III vols / Primeiro Volume (e Segundo Volume) da 18ª parte da "Monarchia Lusitana" (ms. Original, publicado por M. Lopes de Almeida, Damião Peres, César pegado), Coimbra, 1940 (a 1958), IV vols / Lisboa de Lés-a-Lés, de Luis Pastor de Macedo, Lisboa, V vols / Os Grandes Vultos da Restauração de Portugal, de Rocha Martins, 1940 / Leitos e Camilhas Portugueses, por J. F. da Silva Nascimento, 1950 / Oceanos. Ed. da Com. Nacional Comem. Descobrimentos Port., Lisboa, 1989-2002, 49 fólios / As Farpas, de Ramalho Ortigão (mais Farpas Esquecidas, II vol. e Ultimas Farpas), 1942 (a 1946), XVIII vols / Cadeiras Portuguesas, por Cardoso Pinto & Silva Nascimento, 1932 / Recordações de Jacome Ratton (2ª ed.), Coimbra, 1920 / Oito Séculos de Arte Portuguesa, de Reynaldo dos Santos, 1970, III vols / Do Ultimatum ao 31 de Janeiro, de Bazilio Telles, Porto, 1905.
ver Catálogo online.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
BENÇÃO DE ANO NOVO
A fraternal Livraria Letra Livre, que vende copiosos papéis pintados & confeccionadas letras de salvação pós-moderna, conhecendo os efeitos que a crise da crise recolhe entre os ledores da coisa literária, deixa-nos neste garrotilho de annus horribilis – evidentemente para além de noviciadas composições e demais desportos para conter o fastio –, um postal de crença (e liberdade ... pois canté) para observar e fugir à Grande Dor. Lá em cima, seguramente sob protecção da Santa Wiborade, o postal alumia-nos.
Saúde e Fraternidade.
O LOBO DE WALL STREET ou o apóstolo Nicolau
A comissão promotora do bem-estar económico indígena teve outrora na autorizada pessoa de mestre Nicolau Santos sempre um judicioso parecer. O apóstolo Nicolau jogava (e, pelo que se sabe, ainda prevarica) no jogo do Expresso, compondo baralhos micro & macro económicos, adivinhando os sinais da abastança que por aí vinha, seguindo sempre o seu tacto financeiro e a chave ministerial do (qualquer) governo.
Para que o efeito do ruído tivesse aplausos, pois o seu dom de profeta do open-market se alevantava entre os neófitos, o sábio Nicolau rodeou-se de outros atinentes maníacos. Os Bessas, um qualquer respigado moço neoliberal da faculdade, dois ou três párocos empresariais de sucesso, um raminho de viciosos redactores da divina bolsa, o prof. Cavaco & equipa antes do atoleiro do oásis, oradores liberais cultivados em sementes reaganianas, todos deram no jornal fartos testemunhos. A coisa era inqualificável, petulante, fantasiosa e divertida, mas vendia. Nicolau estava feliz. Balsemão (e o BPP) agradecia.
Anos depois, o bom do Nicolau Santos, com o "estouro" do sistema financeiro & demais estabelecimentos entre mãos, foi ler e estudar. No último Expresso (à pagina 5) obteve uma revelação, à qual sobreviveu, que denominou: "a loucura que criou a crise". Está explicado, portanto, o sacrifício dos trabalhadores e cidadãos, todos estes anos de luxúria económica. Graças Nicolau! Estás desculpado!
Diz Nicolau: "... Na verdade, Belfort colocava acções de empresas no mercado, cujo valor depois controlava usando a sala de corretagem. Se depois o dono da empresa não colaborasse, Belfort utilizava o seu poder para derrubar o preço das acções até chegarem aos centavos. Colaborando, fazia subir o preço das acções através de vendas maciças. E em novas emissões garantia para si uma parte que comprava abaixo do preço do mercado, vendendo depois as acções com um lucro enorme. Além disso, utilizava testas-de-ferro para comprar mais acções do que a legislação lhe permitia.
Contudo, o dinheiro ganho ilegalmente tinha de ser colocado em local seguro, onde as autoridades americanas não começassem a fazer perguntas acerca da sua proveniência. E assim Belfort lá abriu uma conta num banco suíço, em nome de uma tia da sua mulher, bem como duas empresas fictícias nas Ilhas Virgens britânicas, onde não se paga impostos nem há regulamentos a seguir. Pelo meio, havia documentos falsificados e pessoas que serviam de correio para transportar dinheiro para fora dos Estados Unidos.
Tudo foi correndo bem, até que morre a referida tia e um dos correios é detido e dá com a língua nos dentes. Belfort é obrigado a negociar com as autoridades o seu afastamento da presidência da Stratton e a empresa acaba por encerrar ao fim de oito anos. 0 seu passado profissional, contudo, continua a persegui-lo. E assim em 1999, Jordan Belfort, "O Lobo de Wall Street", é finalmente preso por fraude mobiliária, lavagem de dinheiro e outros crimes e acaba por cumprir uma pena de 22 meses numa prisão federal.
Foram pessoas como esta, brilhantes financeiramente mas gananciosas, amorais e que sempre desprezaram as empresas produtivas, que durante duas décadas fizeram girar triliões em Wall Street, inventaram todo o tipo de veículos financeiros sem que ninguém soubesse exactamente que risco continham e alavancaram a economia mundial a um ponto que já nada tinha a ver com a economia real. 0 resultado é a devastadora crise em que caímos”.
[escriba Nicolau Santos, in Expresso-Economia, 31/01/2009]
domingo, 1 de fevereiro de 2009
LIVRARIA (PARCERIA) ANTÓNIO MARIA PEREIRA
Na morte de António Maria Pereira [1924-2008], advogado e político, ocorrida no dia 28 de Dezembro de 2008, de imediato surge à lembrança a antiga Livraria António Maria Pereira, que tantos e estimados livros publicou. A mítica editora teve uma actividade editorial notável, patrocinando os melhores escritores portugueses.
O ofício de livreiro de António Maria Pereira, um desconhecido com 23 anos de idade que tinha sido aprendiz de oficio na Casa dos Vinte e Quatro [corporação extinta por D. Pedro a 7 de Maio de 1834] e depois caixeiro na estimada Casa Marques, começa a partir do dia 18 de Agosto de 1848 quando se instala no nº188 da Rua Augusta. O mester de livreiro [a este propósito é indispensável o livro de Fernando Guedes, "Os Livreiros em Portugal e as suas associações desde o século XV até aos nossos dias", Verbo, 1993] lê-se na tabuleta da porta que indicava:"Estabelecimento para venda e encadernação de livros" [cf. Crónica de uma Dinastia Livreira, de António Maria Pereira, Pandora, 1998].
Editando os melhores escritores da época, a par de literatura popular, torna-se uma importante editora e a partir da administração do 2º António Maria Pereira ("um homem de letras", segunda Eça) muda o nome para Parceria António Maria Pereira. Curiosamente na primeira direcção da (denominada) Associação dos Livreiros de Lisboa (13 de Fevereiro de 1924), o secretário da direcção estava atribuída à Parceria. Como, aliás, virá a suceder em 1927, quando aparece entre os livreiros que fundam a Associação de Classe dos Livreiros de Portugal [cf. Guedes, 1993]. Foi esta Associação que em 1930 promove a Feira do Livro.
A administração da Parceria passa, de novo, para as mãos de um novo António Maria Pereira (o 3º), mas a crise, a má gestão e depois os conflitos laborais surgidos após o 25 de Abril, passa à denominação de Livraria do Arco e rapidamente se extingue. O dr. António Maria Pereira, filho do último administrador da Parceria e falecido em Dezembro último, em 2000 refunda a casa editora dos seus antepassados, a Parceria António Maria Pereira.
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