terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Analistas & colunistas - Os Piores de 2006
"O que ler ensina, a vida sobre a terra esquece" [M. G. Llansol]
Não há artigalhos grátis, nem luvas limpas. Todos o sabem. O trilho de analista é uma interminável transcrição de encómios ao poder. Quando arrufam (o que acontece) é para iludir o defeito da prosa. Os governos passam, os colunistas ficam. O frete político tem de continuar. Deve continuar. Alguns deles estão há longos anos nessa egolatria. Enfatuados, com a vassalagem em dia, dizem sempre o que qualquer indígena espera que digam. Nunca ninguém errou nesse curioso jogo. Todos sabem de cor a maviosidade do inefável analista. A encomenda, essa, recebe-se sempre de véspera. O engodo, quando calha, vai de folia. Para que serve, então, um colunista? Para diversão! A mão oblige.
No entanto, há algumas encomendas, que de tão riscadas estão pela bajulice e a sem vergonha, que aparvoam o casto indígena. Não por maldade infausta, mas por simples desaforo. O cronista, anos a fio sem "acertar uma", no seu divertimento buliçoso, insiste em cenários rendilhados. Indecorosamente fatais. Pura depravação.
Alguns serviçais partidários obram a velha melodia afadistada do "desgraçadinho". Outros, bem mais caceteiros e iletrados, nem sequer dissimulam. Julgam que têm talento. Os lambe-botas, esses, apresentam-se por todo o lado, ao público. A indigestão do raminho de colunista & escribas enfastia. Não há decência. Apenas fantasia, hipocrisia e decadência.
Eis, portanto, para documentação aos vindouros ... o raminho que mais caprichou neste 2006. Ano da graça do eng. Sócrates e do dr. Cavaco. Actum est.
1. João Carlos Espada (Expresso) / João César das Neves (D.N.)
2. Fernando Madrinha (Expresso) / José António Lima (Sol) / Nicolau Santos (Expresso)
3. Eurico Barros (D.N.) / Luís Delgado (D.D.) / Vasco Rato (S.I.C.)
4. Helena Matos (Público) / Jorge Coelho (S.I.C.)
5. António Perez Metelo(T.V.I.) / Daniel Bessa(Expresso) / João Cândido da Silva(Dia D)
6. Mário Pinto (Público) / Mário Bettencourt Resendes (S.I.C.)
7. Henrique Monteiro (Expresso) / Manuel Carvalho (Público)
8. Nuno Rogeiro (S.I.C.) / Teresa de Sousa (Público)
9. Inês Pedrosa (Expresso) / Vítor Rainho (Expresso)
10. António Tadeia (C.M.) / Bruno Prata (Público) / Rui Santos (S.I.C.)
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
Figuras & Factos - O Pior de 2006
"Quem tem algo a dizer que dê um passo adiante e permaneça em silêncio" [Karl Kraus]
Eis a memória anunciativa ou o bom resumo das qualidades dos indígenas (ou factos por eles medicados) que neste ano da (des)graça de 2006 pudemos observar. O pior que neste annus de 2006 a astúcia social e política pariu. Estouvadamente. E que, se (ainda) é permitido, declinamos. Certo é que o espelho das putativas inquietações não fica aqui provado. A nossa vida sóbria não o permite. Nem sequer é essa a missão que aqui damos guarida. Mas deixamos este testemunho para o estudo futuro da derrocada. Que a paróquia, um dia fará. Disse.
1. Socratismo - a doença narcísica do indígena luso. A autoridade despeitada da arrogância. A charanga autoritária da nova união patriótica, a lembrar as vitualhas da antiga União Nacional. Nessa rosariada tudo é cinzento, por demais. Não deixa de ser curioso como essa comunhão filosofante de respeitáveis votantes, braço-no-braço com os seus putativos sequestradores, é tão enternecedora!? Os destroços e a choradeira, que qualquer dia aí vêm, serão bem dramáticos.
2. Bushistas - a caridade guerreira dos novíssimos democratas de sofá. A religião oficial do sr. José Manuel Fernandes e uns quantos mais. A arrulhada de escritos & os afectos, ao locatário da Casa Branca, atiçados nos jornais (e blogs) é um caso sério de paixão varonil. Mas demasiado comichoso, para nós. Seguir a invulgar movida dos (ex)bushistas, é um caso de pura paranóia.
3. Manuel Pinho & Correia de Campos - a incompetência profissional que ilumina a nação. Dois perturbados da política, sempre muito bem assessorados pelos media. A vaidade provinciana a desfilar ministerialmente entre ovações académicas. Ambos cinzentos e mui rabiosos, não têm vocação nem se dão ao respeito. Não deixam, por isso, de revelar a nossa própria caricatura.
4. José Lello - o rato do Largo do Rato. O delírio incarnado de um Dutra Faria, mas com menos classe e inteligência. Megalómano e inflamado de vassalagem, está em todas as esquinas, sobe todos os degraus. É o merceeiro ou bardo de serviço ao Socratismo. Desdenha os seus camaradas, exuberantemente, com arremedilhos imodestos. Típico indígena alcoviteiro. Uma nódoa.
5. Jornal Sol - o semanário das mulheres-a-dias, com o secundário feito. A vitória da andropausa do trovador José António Saraiva. Ou não fosse a escrita andromaníaca do seu director um must, apetecível em cabeleireiros, casa de fados e ministérios. Dizem-nos que a vaidade dos jornalistas da casa é caprichosa. Pura laudatória. É uma simples paródia. Uma chacota.
6. Garotada do PP - a linguagem de velhos trapos, agora em farda liberal. Uns pegadiços garotos a brincarem ao sério. Esta gaitada liberal anda muito tramontana, vazia de ideias, obscena. A ternura intelectual dum Nuno Melo com Ribeiro e Castro lembra as hienas a merendar. O coval dos garotos do PP, com Paulo Portas à ilharga, é imortalizado por figurantes da estatura de Diogo Feio, João Rebelo, Mota Soares, Telmo Correia. Tudo gente erudita. Como se sabe.
7. Carmona Rodrigues & Rui Rio - a presunção do primeiro suplanta a monomania do segundo. Estes birrentos governantes são veteranos na gargalhada pública. Estão dispostos a destruir cidades, por despeito e vingança. Uns bons & excelentes mariolas. Tudo gente de chinelo no pé, mirrados pelo fastio da inabilidade. Esbanjadores do erário público, recebem na Câmara com impertinência. São amigos do seu amigo. Apenas!
8. PT/TV Cabo/CP/CTT - a vingança da democracia, a maldição das privatizações. Os clientes, utentes ou simples cidadãos, são deliciosamente enganados, maltratados, espoliados ... sempre com um sorriso tecnológico nos lábios. Nada funciona: os posto, a velocidade de acesso à Internet, as estações de TV, uma simples carta de amor. Sinal do choque tecnológico do eng. Sócrates. Uma prosápia estes serviços públicos. Um ardil para os consumidores. Uma puta de vida!
9. o novo S.N.I. - o guarda-portão Santos Silva e a bandeirinha vermelha do sr. Azeredo Lopes, ao serviço da grande pátria. A ERC exquisita, rameira do antigo SNI. Um clássico da censura a passar perto de si. Sem engenho & arte, sem mistério ou ocultação, fazem o que sempre se fez: dilatar o túnel do silêncio ao debate político. A sarabanda destes senhores é simples formalidade. O que virá depois é inimaginável.
10. Eduardo Prado Coelho - o suspeito do costume. Não soube, sabiamente, envelhecer. Afinal, o ocioso tempo de mestre E.P.C. tinha prazo de validade. A nossa memória, nem por isso. A escrita maliciosa de antanho teve uma derrocada. A rapsódia socrática que celebra foi um final sem glória. A hermenêutica do E.P.C. "está-se desmanchando sozinha". E não havia necessidade.
sábado, 30 de dezembro de 2006
O melhor e o pior de 2006
"No princípio era a imprensa e depois apareceu o Mundo" [Karl Kraus]
Somos, como diria Eugénio de Andrade, "folhas enormes onde dormem/aves de silêncio e solidão". Por vezes pregamos de nós para nós, outras para todos. Quebrar o silêncio do ano, eis o nosso ruído. Acostumamo-nos, bem demais diga-se, quer ao teatro do mal quer ao outro que nos vai ocupando a torrente da alma. Pura maledicência de espírito. Podem crer!
O testemunho que em cada final de ano (annus horribilis, por sinal o de 2006), o Almocreve das Petas regista em oratória profana, vem por aí. Embaraçando algum orvalho mais nocturno, avistamos o que soubemos contemplar. E foi tanto que nos enrubesceu de zelo e gratidão. Mas (oh! horror!) o ancien régime está de volta. Dá para ver a lama que traz. Temos foto, a comprovar.
Neste espantoso annnus horribilis não existe, por isso, indulgência para ninguém. Listamos os melhores colunistas, bloggers, blogs nacionais e internacionais. Chamamos à pedra os que na literatura & na música foram brilhantes e virtuosos. Mas também, a bem dos atavios da não-lisonja (a que alguns, com piada, chamam intolerância) arrolamos os piores colunistas, atascados agora no Socratismo melífluo, os vendilhões de papel, os novos censores. É a hora! Cansados que estamos de tanto gorjeio aos indígenas, não caímos no tédio ou na agonia. Ripostamos e tocamos os sinos. Para que conste.
Boa noute
Almanaque Republicano - Actualização
No Almanaque Republicano, cada vez mais farto & prendado, temos em sortido de final de ano e para ledores estimados, curiosos e pouco suspeitosos:
a revista Alma Nova (Publicação mensal ilustrada de Moral, Critica e Literatura); retrato de João Chagas; biobibliografia de Elias Garcia; uma (terna) recordação de D. Manuel II; noticias, novas & lugares de publicações periódicas digitais on line; a capa da Constituição Política da República Portuguesa votada em 21 de Agosto de 1911 pela Assembleia Nacional Constituinte; continuação do registo de bibliotecas digitais on line; foto da Árvore de Costado d'El Rei D. Manuel II - linha paterna (Braganças); post sobre a Imprensa Periódica Portuguesa - notas bibliográficas I e II; gravura do Projecto de Bandeira de Portugal, por Guerra Junqueiro; um curioso Diploma de Sócio da Associação de Socorros Mutuos dos Artistas de Coimbra, de 1930; post sobre a escolha a fazer (segundo a tradição blogosférica) dos melhores Livros sobre História Contemporânea de Portugal saídos neste ano; fotografia da Livraria Sá da Costa, em 1913; a escolha do Almanaque Republicano dos 10 Livros da Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2006; a justificação das escolhas feitas.
A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!
Saúde e fraternidade
Discípulos do horror
"Não se pode estar e ter estado. Mas é possível ter sido um imbecil e continuar a sê-lo" [Léon Bloy]
O esforço de meia dúzia de pulhas internacionais louvando publicamente o assassinato de um homem execrável, é o sinal dos tempos que aí vêm. E que nos condena a todos, espectadores obrigados. O insulto desses sádicos animais de duas patas - que coabitam entre nós tricotando o dernier cri civilizacional & a última moda de abraço democrático (como as nauseabundas figuras ali em cima) - enlameia a (ainda) existente humanidade e é de uma gravidade sem precedentes.
Higienicamente deviam, dado a pungentíssima dor que exibem com as vítimas do criminoso Saddam Hussein, entregarem-se todos à justiça (dos homens e não só divina) porque o ditador não esteve sozinho nessa monstruosidade.
Faça um esforço, caro leitor: quem estava na administração americana, que em 1963 apoiou e fomentou o partido Baas no golpe de estado feito no Iraque, no que resultou o assassinato de milhares de cidadãos? Que fez correr Carter e os acólitos europeus ao terem dado "luz verde" para a carnificina de um milhão de pessoas, na guerra Irão-Iraque? E depois quem vetou (pst! ó amigos do adorado Ronald Reagan) o bloqueio e a condenação do criminoso Saddam, quando da chacina dos curdos em 1988, afirmando, de modo infame, que tinham sido os iranianos? E que disse o governo francês na altura? Afinal, quem queria proteger o inefável sr. Rocard, quando a opinião pública tecia horrores sobre esse acontecimento? Onde estavam vocês todos, ó engenhosos democratas? E vós também, ó pudicos cidadãos que trazem Bush na lapela, onde estavam? Ainda sabem!?
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
CONVERTA-SE!
LETREIRO À MANA DO RIO
"Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo" [Barão de Itararé]
Não temos esclarecimentos maiores a confiar, mana. Esta que aqui vai, ao jeito de Sô [Machado] Assis, só quer "fazer apetite para o chá". Agora que a noute por aqui se esvai, de tão assoprada foi de malandragem, ficamos sem ordem, sem pranto e, acontece mesmo, sem "chopes". Bem sabes mana que sobrenascemos aqui, desconsolados, a ver-o-mar morrer. Este ano a alma perdeu-nos o corpo, não fizemos travessia. Este ano, não!
Por isso, em martírio por privação de encantamento, te mandamos saudades e esta foto da feira do livro do Carioca, desse Rio sensual, secreto de vida e de amores curtos, devasso de boémia, ditado que nos foi desdoidar na velha Lapa (ainda sussurra o Édipo-Rei? me manda um livro da Lapa ... mana! com chorinho e tudo). Me dá notícias, que a vida aqui é pouco mestra. E como te marquei no Ouvidor, em tarde de fundura e diabo no corpo ... a
"vida é sorte perigosa
passada na obrigação:
toda a noite é rio-abaixo,
todo dia é escuridão ..." [M. Assis]
Licença, mana! Me conta tudo para quebrar estes ferros de fim de tudo, eu que esbarrei no Leblon (eu ia) e fiquei logo sério a ouvir aquela fala misturada: "nasci devagar / sou é muito cauteloso" [G. Rosa]. Me dá alegria, mana. Me dá alegria!
Felicidades
FELIZ ...
sábado, 23 de dezembro de 2006
FELIZ NATAL
Feliz Natal
"Porque os caminhos são longos
E os carreiros que a eles vão dar são misteriosos
A razão atraiçoou-nos.
Pensámos que Deus dera o dever de desprezarmos:
A noite sem estelas cobriu-nos
Enquanto o Senhor se mostrava a cada esquina.
Misterioso como príncipe encantado"
[Ruy Cinatti, Nós não somos deste mundo, Ática, 1960 - desenho da Missa do Galo, Açores, in Alma Nova]
HOJE ... ANDAMOS ASSIM!
"Deixem-nos trabalhar" [Cavaco Silva]
"Do peru, está tudo dito. Elefante de aviário, o peru não aguenta mais apodos. Podemos, no entanto, garantir que o peru rupe, que não é mau com puré e que, embora prue, morre muito com urpe.
O melhor peru é o do vale do Epru. Mas não paga a pena mandá-lo vir de lá. Chegaria a vossas casas sem aquele 'repu' que o caracteriza. Podeis, perum, supermercá-lo: vitaminado, vacinado, pesado, congelado, embalado, carimbado, comprovado.
Aproveitai, no presente de Natal, este superperu, que, para o ano, vendê-lo-ão já mastigado, em bisnagas cheias de préu."
[Alexandre O'Neill, Peru, 1981]
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
PRENDAS DE NATAL
V. Excia deseja um presente evocativo, que trespasse de pavor e frémito o seu amigo(a) ou familiar, sem pieguices e absolutamente expressivo de virtudes humanas? Pois, V. Excia, tem à sua disposição uma oferta única e desenganada: uma TV admirável de modernidade. Na compra leva inteiramente grátis o génio (e as faces) do ilustre bando dos quatro. Numa loja perto de si. Stock limitado.
PS: não dispensa o prazer da leitura do prospecto, com assinatura Luís Amado.
O CORAJOSO ENG. SÓCRATES
Hoje foi dia de exposição política. No cadeiral de S. Bento não houve tumulto nem sedição alguma. Não vimos isso, nem haveria arrojo para tanto. O anfiteatro dispensa tais delírios, aliás respeitáveis, quando se está de governo e se tem convivas já defuntos. Naquela casa de fadas, o eng. Sócrates, semeado de rosas pela bancada da União Nacional, celebrou, ex-ante, a missa natalícia.
Ao seu lado direito, a cópia estava sorridente, grato de assunto, mesurando o dever de escrivão. Impecável, Silva Pereira revela nos olhares a entusiástica admiração pelo governador da paróquia. A inclinação, astutamente para a esquerda, era encomendada pelo dr. Santos Silva. Do lado direito do engenhoso leader, disfarçado de ministro, estava a cabeça das corporações académicas, o senhor Mariano Gago. Reputado e saudável. Enquanto isso, a ala esquerda do partido rosa no governo, sem forças e sem verve, passeava cabisbaixa pelos Passos Perdidos. Entretanto, Marques Mendes não atinava com a prosápia do abominável Sócrates. O homem não se levanta, mesmo quando a agremiação do governo se deleita com inenarráveis salazarices. E lá correu a soirée, entre aclamações, vivas e olés.
Esta posta não ficaria sugestiva se, para nossa glória e bem à maneira do espiritualíssimo Bettencourt Resendes, não registássemos o memorial do eng. Sócrates. Este, em resposta a uma malvadez qualquer da canalha da oposição, e mal tomando a cadeira do discurso, logo avisou, com autoridade, ambição e insolência, que era corajoso. Muito corajoso. Retorcidamente corajoso. Bravo como um soldado. Era a primeira vez que um primeiro-ministro adulava e tomava por suas as palavras dos Bettencourts Resendes. Tal empréstimo será doravante a bula Socrática. Não há nenhuma ERC ou ERSE, qualquer ministro Manuel ou Pinho, ou até mesmo um simples secretário de estado, que faça cair a soberba lúcida & grotesca do eng. Sócrates. Coisa de pasmar!
BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!
O Almocreve das Petas
Cumprimenta e saúda os Seus Fornecedores e Amigos e anuncia-lhes que tem à sua mercê um estimado sortido de livralhadas para brindes de Natal e Ano Novo.
Aproveita a ocasião para desejar aos estimados Fornecedores votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo.
Saúde e fraternidade
PS: foto da Livraria Barateira (Lisboa), graças à qual temos vindo a construir uma vida farta, copiosa e saudável. Graças!
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
ANÚNICOS GRATUITOS
O rato de automóveis não se reforma como o rato de hotel
Ao volante do Supercarro, o rato Super-Homem espatifou-se. Antes de morrer, chamou pela mãe.
«Tira a pata!» disse um rato que encontrou outro rato a roubar o seu automóvel. Brigaram. A cem metros, um guarda-nocturno tilintava as suas chaves.
[Alexandre O'Neill, Dos ratos e dos Carros]
CONSELHOS AO MORDOMO
"Se servir as bebidas, tenha maior cuidado em poupar trabalho, assim como a garrafeira e os copos de seu amo. Por isso, como se pressupõe serem amigos todos quanto jantam à mesma mesa, faça com que bebam pelo mesmo copo, sem o lavar, o que lhe evitará muita canseira, assim como a possibilidade de os partir (...)
Limpe as pratas, esfregue as facas e sacuda o que estiver na mesa com os guardanapos e as toalhas que tiverem servido, na altura, porque nem sempre é dia de lavagem, além disso poupará os esfregões e, como recompensa de tanta economia, acho que o mordomo pode, com toda a legitimidade, usar os mais lindos guardanapos como gorro de noite (...)
Mandam-lhe decantar uma garrafa suspeita? Quando estiver aí a meio, dê-lhe uma sacudidela a preceito e mostre, num copo, que o conteúdo começa já a aparecer turvo (...) [meta o dedo em todas os gargalos, para ver, se as garrafas estão cheias; é o método mais seguro, porque nada há como o tacto]
Quando, meu caro mordomo, um convidado se retira, tenha a preocupação de se pôr bem à vista e de o acompanhar até à porta, e, assim que tiver oportunidade para isso, fite-o bem na cara, com o que poderá ganhar um xelim (...)
Feche, todos os dias, um gato, no compartimento onde se guardam as porcelanas, não se dê o caso de os ratos se meterem lá dentro e escaqueirarem a louça toda (...)
Amole as costas das facas de modo que cortem tanto como o gume; isto terá a vantagem de os convidados poderem experimentar o outro lado se lhes parecerem embotadas; e para mostrar que se não poupa a afiar facas, passe-as tanto que gaste boa parte da lâmina e até mesmo o punho de prata. Isto aumentará o bom nome de seu amo, como indício de casa bem governada, e o ourives poderá, algum dia, ter consigo uma lembrança
[Jonathan Swift, in Preceitos para uso do pessoal doméstico, Estampa, 1979. Nota: sublinhados nossos]
REVISTA PRELO
"pensar no presente, na certeza de que nenhum passado chegará para redimir a sua eventual omissão ou incapacidade, mas convictos também de que aquilo que foi antes interroga e de algum modo responsabiliza o que é hoje"
[Prelo nº1, Outubro, 1983]
Estimada revista (trimestral) da INCM, publicada a partir de 1983 (agora na sua III série), sob direcção inicial de Diogo Pires Aurélio.
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