segunda-feira, 26 de junho de 2006


Valente equipa!

"Na Holanda o Demónio era negativo (...)

Na Holanda é assim. O Demónio está no meio das vacas - não escreve poemas. Não pode exercer os seus dons. Pensa, perde o nome
" [H.H.]

Eis uma equipa valente & d'alma repleta de ambições. Eis uma selecção ardente de sabedoria, de instinto altivo. Que a todos contagia. O manto de futebol que a selecção de futebol de Portugal fez desfiar na Batalha de Nuremberg, contra uns holandeses medrosos, grosseiros e pouco talentosos, recompensa qualquer mortal. Dos que gostam de futebol, evidentemente.

Aos que vaticinavam mil desgraças e celebravam maldições a jogadores e à equipa técnica, de novo o céu lhes caiu sobre as cabeças. Aos tumultos de Pinto da Costa, Manuel Serrão ou, mesmo, de Rui Santos, o grupo de Portugal deu um testemunho de valentia, uma bofetada de paixão, uma lembrança cruel. E que merece ser louvado. Aos que desprezam o futebol, com a perversidade do politicamente correcto enquanto expurgam as paixões da vida tão putativamente vivida, que não desistam: um dia sereis, fatalmente, felizes.

quinta-feira, 22 de junho de 2006


Hoje estivemos assim ...

"Estamos gastos sim estamos
gastos
O dia já foi pisado como devia
e de longe nosso coração
piscou na lanterna sanguínea dos automóveis
Agora os corredores nos desaguam
neste grande estuário
em que os sapatos esperam
para humildemente conduzir-nos a nossas casas ..."

[Francisco Alvim, Drummondiana: A Roupa do Rei]

Dos Blogs ... para fugir à moléstia

- III Aniversário: farol da escrita pura ou lugar dos afectos, o Opiniondesmaker fez 3 (três) anos venturosos. A sua escrita não carece de descanso. É um pergaminho de sentimentos incessantes onde se respira eternos e frondosos prazeres. Sigamos então os passos do Desfazedor de Rebanhos. Parabéns!

- "... A escrita alquímica não é uma encantação, é uma incantação, no impulso que leva os alquimistas a descrever, repetir, citar, enumerar , recordar e recordar num labor incessante que o MUTUS LIBER com as suas gravuras apresenta , sem contudo desvendar o segredo que todos ambicionam descobrir. Não há segredo, há trabalho ..." [Y. K. Centeno]

Não há felicidade maior que o luzimento de acompanhar a escrita de Y. K. Centeno. Maior arquitectura que sonhar os raios "desta vida ainda inteiros na boca" [As palavras que pena]. O espírito da revelação em 2 Blogs, assim tão perto de nós, é magnificente. Mil graças ... as nossas!

- A esta hora, na Casa Fernando Pessoa, o intelecto de Alexandre Soares Filho asfixiou Lisboa. Certamente! A coisa prometia animação e todos os cavalheiros de peito liberal foram depositar saudades. Esperemos pelos testemunhos de reconhecimento, por amor dos aplausos. Somos ... todos ledores & ouvintes.

Anotações

Barbara Epstein, Editor and Literary Arbiter, Dies at 77 [N.Y.T.] / Ladrões levam toda coleção de gravuras de Debret no Rio / The Unequal Exchange of Time and Space: Toward a Non-Normative Ecological Theory of Exploitation [Alf Hornborg] / Copacabana e a cultura urbana carioca

terça-feira, 20 de junho de 2006


Arrumações - Vynil, CDs e Cassetes Piratas

"Sou uma pessoa de gostos simples, contento-me com o melhor" [O. Wilde]

Formosa new wave ou diamante de virtude. Até a noite é mais bela, assim despojada de pecados. Afinal os corpos são "vastos como a aurora /... / com as mãos estendidas a tactear o cenário" [Queneau]. A lista de mazelas do Bande à Part dos Nouvelle Vague é isso mesmo. Um hino ao coração. Ao nosso ... evidentemente. Ilimitadamente.

Nouvelle Vague - Heart of GlassCastpost

"Once I had a love and it was a gas
Soon turned out had a heart of glass
Seemed like the real thing, only to find
Much to mistrust, love's gone behind

Once I had a love and it was divine
Soon found out I was losing my mind
It seemed like the real thing but I was so blind
Much to mistrust, love's gone behind ...
" [ver letra aqui]

Kurt Schwitters [n. 20 Junho 1887-1948]

"My name is Kurt Schwitters ... I am a painter and I nail my pictures together...I should like to join the Club Dada"

"Eu amo a limpeza higiénica! Tinta a óleo tem cheiro de banha rançosa. Tinta têmpera fede como ovo podre. Carvão e grafite são os dejectos mais lambuzentos que há, vê-se já pela própria cor. Eu amo a limpeza e a pintura higiénica. E dei-lhe o nome de pintura 'MERZ'. A pintura 'MERZ' utiliza os materiais mais delicados, como puríssimo grude de farinha de centeio, pedaços de objectos e nacos de papel esterilizados, madeira bem lavada e ferragens e afins sem adição de álcool. A pintura 'MERZ' é completamente livre de bacilos. O único bacilo realmente transmissível pela pintura 'MERZ' é o bacilo da raiva. O contágio ocorreu, sem que eu pudesse impedir, através da mordida de críticos raivosos. No momento, o bacilo é retransmitido a todos os críticos que se mordem com a pintura 'MERZ'. MERZ não morde, mas os críticos, sim. Os críticos mordem, e mordem-se de raiva, como buldogues ..." [aqui]

"Ó tu, bem-amada dos meus vinte e sete sentidos, amo-te!
Tu teu tu a ti eu a ti tu a mim - Nós?
Isto (diga-se de passagem) não é daqui.
Quem és tu, inumerável fêmea? Tu és - és tu? -
Há quem diga que deves ser - deixa-os dizer, os que não sabem
como o campanário está de pé.
...
Ana Flor! Ana, A-na, dedilho o teu nome.
O teu nome pinga como carne tenra sangrando.
Sabes tu, Ana, tu sabes que és bela?
Podes ser lida de trás para diante, e tu, a mais senhora
de todas, tu és a mesma da frente para trás: a-n-a ...
"

[Kurt Schwitters, A Ana Flor, trad. Jorge de Sena]

Locais: Kurt Schwitters / Kurt Schwitters (1887-1948) / Kurt Schwitters / Kurt Schwitters (port.) / Kurt Schwitters (1887-1948) / Kurt Schwitters: o Dadaísta que era Merz

quinta-feira, 15 de junho de 2006


Ensino: a destruição final (conclusão)

Interessa não esquecer, para que a arrogância de uns e a vã glória de outros não sejam recompensados, um ponto crucial em toda esta questão da análise da nova proposta de alteração do ECD, a saber: o lugar que toma a autoridade da competência do docente (e da sua legitimação), baseada em conhecimentos técnicos ou "poder do especialista" - aquilo que uns denominam por poder cognoscitivo [Simões, 1980] - e o modo como este poder, lido através da nova proposta em marcha pela ministra, é diluído, pela partilha na estrutura escolar e pela avaliação da prática profissional dos professores, através do chamado poder normativo, autoritativo e remunerativo, topos da legitimação de todo o poder. E antever de que modo isso tudo se conjuga para que se possa alguma vez pronunciar, com a maior das bondades, que se está presente uma mudança educacional visando uma Escola de qualidade, de rigor e moderna.

Estamos a falar, evidentemente, das bases do poder do professor, aqui tomadas de diferentes formas (do pessoal ao cognoscitivo, do normativo ao autoritativo) e que Formosinho Simões em tempos interpretou. Diga-se que existe uma vasta bibliografia sobre a matéria e que parece esquecida pela turbulência das decisões governativas. Faz tempo que o famoso "Relatório Braga da Cruz" (Análise Social, 1988, vol. XXIV), poderoso e exaustivo levantamento da situação do professor em Portugal, mandado fazer por Roberto Carneiro, assegurava que "os professores são agentes privilegiados da reforma que, por isso mesmo, deve começar por eles e deve ser levada a cabo com eles". De lá para cá instalou-se o vazio no comprometimento, motivação e colaboração dos professores na reforma educativa. O ministério da educação adoptou o autismo como prática existencial e qualquer regulamentação exarada nunca teve em conta o debate e a participação dos docentes em sede de escolas. Percebe-se, assim, a necessidade que têm a ministra Maria de Lurdes Rodrigues de insultar professores, sindicatos e de estes últimos zurzirem na ministra. Não podem existir uns sem os outros, porque são a face da mesma moeda. Por isso, a diversão comunicativa da senhora ministra é não só lamentável, como desnecessária.

Dissemos que se deveria questionar o modo como as "bases do poder do professor" são entendidas na nova proposta. Acontece que o discurso da Ministra, inebriado no estudo da organização escolar a partir da sociologia das organizações e das profissões, tem em conta somente a racionalidade e eficácia (esse conceito extraordinário) da organização escolar, desconhecendo que o que toma teoricamente é uma parte do saber das organizações e não a própria ciência em si. Não admira que nessa tentativa (organizacional) de determinar o tipo de cooperação entre os intervenientes escolares, em que forçosamente estará presente a autonomia de decisões e onde deve ser assumido divergências de interesses, esteja sempre ausente a análise das estruturas e das relações de poder. E quando é assim, subsiste a tentação de começar do zero, fazendo-se "tábua rasa" dos conhecimentos e competências, laboriosamente adquiridos pelos profissionais [José Matias Alves, 2006]. E que é bem evidente na proposta.

Assim, quer seja pelo fim da carreira única (sem fundamentação teórica pertinente que se notasse) e a instituição de diferenciações profissionais, sem um mecanismo credível de avaliação do mérito (até porque a este está reservado um sistema de cotas de matriz economicista); quer pela assumpção de uma avaliação anual do desempenho, baseado na mais burocrática das modalidades e na mais doce confusão dos interesses; quer pelo aumento da componente lectiva (coisa inacreditável em educação) e da não-lectiva, transformando o docente num proletário do eduquês, pelo que deixará de estudar e investigar conteúdos científicos (coisa maldita em eduquês) ou pedagógicos; quer pela desvalorização remunerativa agora proposta (tudo é considerado horas não-lectivas e, como tal, não pagas) que imobilizará definitivamente os docentes nas funções a desempenhar; quer pela introdução na avaliação do desempenho dos docentes da figura dos pais, tornando-a de ordem meramente normativa (aqui entendida na avaliação da função de socialização. Coisa que "guru" da politica educativa José Manuel Fernandes, por ignorância, desconhece) e não de teor cognoscitivo; por tudo isso em conjunto estão definitivamente alteradas as bases do poder do professor, desvalorizando-se a profissão pela natureza omnipotente do poder normativo, autoritativo e remunerativo sobre critérios de natureza científica e técnica. Se pensarmos, como nos diz J. F. Simões, que "a profissão docente é das raras que tem por objectivo transmitir a própria base do seu poder", isto é conhecimentos que outro não tem, então é evidente que o ensino bateu no fundo. E a inquietação, por parte de gente séria, ganha todo o sentido. Sem surpresas!

Ensino: a destruição final

Nos últimos dias, a actividade opinativa ou escavação predicatória sobre as medidas propostas pelo Ministério da Educação para alteração do ECD, arrastou uma turba de "inteligentes" da educação e do ensino para a praça pública, desde o mais dócil dos caceteiros jornalísticos ao mais obscuro do cidadão indígena. Pela verborreia a que se assistiu, todos pareciam ser professores: titulares, diga-se. Na hora, enquanto a ruína ainda só se pressentia, a senhora Ministra da Educação vai de desprofissionalizar, desqualificar e caluniar docentes, sem nenhum pudor intelectual ou tacto pedagógico. Arrebatada, presumivelmente por um qualquer génio da sociologia das profissões, a Ministra deu conferências em série, despachou decretos e outros receituários em massa, quase que sorriu aos devotos admiradores do seu eduquês, apareceu televisiva, encontrou-se com os pais, estava feliz. Não houve, por hora, festanças para os lados das ESE's e Politécnicos e só no Largo do Rato pertinentes analfabetos comiciaram socraticamente. O eduquês é polido, mas não valente.

Não iremos falar da Escola em geral, porque esta, piedosamente, se desvaneceu. Fernando Gil explicou isso bem (ver Enciclopédia Einaudi, vol. VII). Outros, para citar os mais próximos, como Lopes Carrilho, Stephen Stoer, Ferreira Patrício, António Magalhães, Bártolo Paiva Campos, João Formosinho Sanches Simões, António Nóvoa, Albano Estrela, João José Boavida ou Ana Paula Caetano, fazem-no ainda e muito bem. Por isso, não falaremos, especialmente, de objectivos educacionais ou da sua taxionomia, do currículo, da estruturação do ensino ou da aprendizagem, da didáctica, dos tipos e técnicas de avaliação escolar, do espaço físico-social e pedagógico, da comunicação educacional, do meio escolar e extra-escolar, da formação de professores, da disciplina/indisciplina, de sucesso/insucesso escolar. Matérias essas que os colunistas domésticos e os bons espíritos indígenas, aqueles que saem em defesa da obra da ministra, parece que dominam e pisam inteiramente. Estamos gastos por tanta erudição avulsa. E não é este o espaço ideal para isso e bem penoso o seria. Somos recatados.

Apenas se pretende ao analisar este espectáculo indecoroso da retórica ministerial & dos seus apaniguados, registar algumas contradições presentes na proposta de alteração do "Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente". Dito de outro modo, consideramos não existir qualquer princípio de correspondência entre a nova proposta de regulação da profissão docente e a filosofia da educação ou politica educativa que é publicamente alardeada pela ministra.

Assim, dizemos que nem o novo ECD tem características meritocráticas, nem faz aumentar a eficácia, a competitividade e a rentabilidade das escolas e, por isso, não melhora o sistema educativo. Que na "histeria política" sobre a avaliação do desempenho nunca se assume o porquê de assim se proceder, não se expõe os objectivos pedagógicos a atingir, nem se questiona o seu putativo resultado final. Que no invés de conceder autonomia, responsabilidade e liberdade organizacional a docentes e outros intervenientes escolares e depois os avaliar, se tem a intenção de limitar direitos profissionais e coarctar os diferentes poderes pessoais e cognoscitivos dos professores. Que a visão romântica da organização escolar, criada por esta nova burocracia que tudo uniformiza e ritualiza, tem efeitos perversos na liderança e na necessária colaboração individual/de grupo nas tarefas de aprendizagem. E assim sendo, porque não desenvolve a "aprendizagem de grupo colaborativa" e skills individuais, não se torna a escola uma importante "unidade de mudança", que todos exigem. Que a visão (partilhada) da Escola, que é sempre de ordem individual, interactiva e contextual, fica completamente à mercê da tutela, não deixando margem de decisão aos vários clientes escolares e aos docentes, em particular, o que questiona imediatamente a natureza e os objectivos pedagógicos ou ideológicos que lhe estão associados. Que, por fim, o caos organizacional consequente que promove, irá resultar em conflitos de autoridade, existência de diversos poderes formais e informais em disputas insanas, exacerbação do mal-estar docente e fuga profissional dos melhores, forçando conflitos agitados entre alunos-pais-professores e, deste modo, conduz a uma degradação completa do ensino e educação. E que o Ministério teima em não querer ver, tal é a obsessão doentia.

[continuação]

quarta-feira, 14 de junho de 2006


O que faz falta ...

"Não ser de nenhuma seita e de nenhum partido, de nenhum club, de nenhum grémio, de nenhum botequim e de nenhum estanco, não ter escola, nem irmandade, nem roda, nem correligionários, nem companheiros, nem mestres, nem discípulos, nem aderentes, nem sequazes, nem amigos, é possuir a liberdade, é ter por amante a rude musa aux fortes mamelles et aux durs appas, cujo beijo clandestino e ardente põe no coração a marca dos fortes, mas requeima nos beiços o riso dos desgraçados"

[Ramalho Ortigão, As Farpas, VI]

O colunista doutrinal ou memória do crítico a fazer vénia à governação

"Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato.

Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ron-ron e a garra, a língua espinhosa e a calinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversário (...) Amigo de fazer jongleries com a primeira bola de papel que alguém lhe atire, ou seja um poema, ou seja um tratado, ou seja um código.

Paciente em aguardar, manso e apagado, com ar de mistério, horas e horas, a sortida dum rato pelos interstícios dum tapume, e pelando-se, uma vez caçada a presa, pró trazer da agonia dela uma distracção; ora enrolando-a como um cigarro, entre as patinhas de veludo; ora fingindo que lhe concede a liberdade, e atirando-a ao ar, recebendo-a entre dentes, roçando-se por ela, té a deixar num picado ou num frangalho ..." [Fialho de Almeida, Os Gatos]

Portugal dos Pequeninos - III Aniversário

"Há o país da espera e dos sinais, /.../ E a terra de tudo e muito mais ..." [Vitorino Nemésio]

Este espaço é um rincão especialíssimo. Solene na análise dos costumes indígenas, austero perante o atrevimento da política caseira & prudente nas instruções governamentais, o nosso Portugal dos Pequeninos dispersa, mesmo se a realidade dos vaticínios não seja a nossa, esculpidas prosas e rasgados devaneios, que lemos com merecida atenção. Fez 3 (três) anos respeitáveis.

E se não lhe perdoamos a conversão ardente ao Cavaquismo (que é cada vez mais um presidencialismo engomado e decadente) não deixa de ser por isso que quebramos o encanto. Porque "neste país do monólogo, / dos fala-só, muitos poucos / conversatam uns co'os outros". Evidentemente ... era O'Neill a passar por aqui.

Pelos 3 (três) anos de domicilio inteligente, parabéns. Saúde e fraternidade.

terça-feira, 13 de junho de 2006

LIVROS PORTUGUESES SOBRE O CÃO DE PARAR



Ferreira, Dioguo [Diogo] Fernandez [Fernandes] - Arte de Caça da Altane[a]ria, dirigida a D. Francisco de Mello, ..., na Off. de Jorge Rodrigues, Lisboa, 1616 [reeds: Edição Mello d'Azevedo, 1899 em II vols; Edição Diana, 1959]

[Esta rara e estimada obra clássica "Arte da caça da altaneria composta por Dioguo Fernandez Ferreira ... Repartida em seis partes. Na primeira trata da criação dos Gauiães & sua caça. Na segunda dos Assores & sua caça. Na terceira dos Falcões & sua caça. Na quarta de suas doenças & mezinhas. Na quinta das Armadilhas. Na sexta da passagem & peregrinação das aues", é de autoria do outrora pajem de D. António Prior do Crato [Inocêncio], falcoeiro e moço da Câmara Filipe II, Diogo Fernandes Ferreira (n. 1546)]

Anachoreta, Henrique - Álbum Synoptico das Principais Variedades de Cães de Mostra, Lisboa, 1901 / Livro da Montaria, feito por D. João I, Rei de Portugal, publicado por ordem da Academia das Sciências de Lisboa, por Francisco Maria Esteves Pereira, Impr. Universidade, 1918 [aliás entre 1415 e 1433], LXV, 465 p. [segundo o ms manuscrito nº 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa] [nova edição por M. Lopes de Almeida, Lello & Irmão, Porto, 1981 e uma outra pela Mar de Letras Editora, Ericeira, 2003] / Pero, Menino - Livro de Falcoaria, introd. notas e glossário Rodrigues Lapa, Coimbra, Impr. da Universidade, 1931, LXVII, 91 p. [reed. Coimbra, Impr. Universidade, 1999]

[Pero Menino, falcoeiro de D. Fernando, elaborou o "Livro de Falcoaria", uma obra notável de cetraria, por encomenda do seu Rei, e que serviu de fonte a diversas obras posteriormente feitas, tais como o "Tratado de Falcoaria de D. João II de Castela" ou o "Libro de la Caza de las Aves" de Pêro Lopez de Ayala, que o traduziu quase literalmente. (refª á curiosa separata da Academia Portuguesa de Ex-Libris, intitulada "O Bispo de Lamego D. João da Costa e a sua copilação de Livros de Cetraria no manuscrito Sloane 821 do Museu Britânico", escrita por António Pedro de Sousa Leite, 1967). O manuscrito original de Pero Menino perdeu-se de todo e só se conhece algumas cópias, entre as quais a mandada fazer pelo Bispo D. João da Costa (está no Museu Britânico), a cópia descoberta pelo professor Rodrigues Lapa (ms. 518 da Colecção Pombalina) e uma outra (ms 2294 do Fundo geral da BN) publicada por Gabriel Pereira. Curiosamente na obra de Pero Menino é referido um livro anterior de altanaria, autoria de João Martins Perdigão, dito falcoeiro de D. Dinis, e que o nosso falcoeiro diz conhecer]

Carmona, Leopoldo Machado - Estudos sobre o Perdigueiro Português. Tese apresentada ao I Congresso Nacional de Caça e Tiro, Bol. Ass. Perd. Port. Nº 36, Lisboa, 1937, 7-31 p. / Sanches, J. Dias - O caçador e o cão de caça [raça de cães de caça; ensino do cão; higiene, teoria do caçador; lei e regulamento da caça], Livr. Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1938, 119 p. / Barroso, Domingos - O Perdigueiro Português, Gazeta das Aldeias, Porto, Typ. Mendonça, 1948, 150 p. [reed. 1962, 1990] / Bravo, João Maria - O Ensino do Cão de Parar, Lisboa, Tip. Imp. Sociedade Astória, 1951, 127 p. / Andrade, Ruy de - A minha experiência no ensino do pointer, Lisboa, 1959, 81 p. / Barroso, Domingos - Perdigueiros e Lebres, Revista Diana, 1948, [reed. 1962] / Branco, Manuel Castelo - Criação de Cães, Editorial Notícias, Lisboa, 1969 / Barroso, Domingos - Colectânea de textos sobre o Podengo Português, C.P.P. (Clube do Podengo Português), ed. policopiada / Correia, Manuel J. - O Perdigueiro Português, Ed. Presença (Tempos Livres nº 113), 1981, 159 p. / Costa, Moisés do Nascimento - Ensino do Cão Perdigueiro, Porto Editora, Porto, 1984 / Rodrigues, Jorge - Perdigueiro Português. O Cão de Parar, Inapa, Lisboa, 1993, [10], 209, [4] p. / Barroso, Domingos - Ainda o Perdigueiro Português, Tipave, Aveiro, 1994 [coord. Domingos Barrroso], 66 p. / Barroso, Domingos - Conselhos velhos para caçadores novos, Edição S.P.S, s.d. / Piçarra, Jorge - Em honra do Cão de Parar. Técnicas de ensino e treino, Tema, Lisboa, 1998, 111 p. / Veiga, Vítor - Raça de Cães Podengo, Tip. Peres, Amadora, 2001, 276 p. / Piçarra, Jorge - Cão de Parar. Uma Paixão, Inapa, Lisboa, 2004

segunda-feira, 12 de junho de 2006


O Cão de Parar - anotações

Um núcleo de estudo organizado sobre o assunto, utilíssimo aos amantes do cão de parar, abarca obras importantes e curiosas de velhos livros, memórias esparsas em artigos de revistas e jornais, pois a matéria é de muito merecimento e apreço. Não espanta, portanto, que verdadeiras preciosidades e raridades a vários respeitos, desde livros de cetraria, altanaria ou montaria, que podem contribuir para compor o essencial das notas históricas e bibliográficas sobre o assunto, apareçam em lugar importante, lado a lado com valiosos artigos em revistas [que mais tarde falaremos].

Assim, além das já referidas edições, interessa referir os trabalhos de:

Alfonso XI [Libro de la Montaría], Chamerlat, Elzéar Blaze [Le chasseur au chien courant ..., 1838], Félix Rodríguez de la Fuente [El Arte de Cetrería], Fernando Tamariz de la Escalera [Tratado de la Caza del Vuelo, 1654], Frederic II de Hohenstauffen [De arte venandi cum avibus], G. Marolles [Chiens de Faucon], Gabriel Pereira [As Caçadas, Évora, 1892], H. Schlegel & A. H. Wulverhorst [Traité de Fauconnerie, 1844-1853], Henrique da Gama Barros [História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV, 1922], Jean de Francieres [Livre de lart de faulconnerie, 1532], José Gutierrez de la Veja [La Ilustración venatória], Juan Vallés [Libro de acetrería y montería], Luis Barahona de Soto [Diálogos de Montaría], Mestre Giraldo [Tratado das Enfermidades das Aves de Caça], Moamin [Libro de los Animales que Cazan], Pero Menino [Livro de Falcoaria], Pero López de Ayala [Libro de la Caza de las Aves], do Rei Dancus [Tratado da cetraria], William Arkwright [The Pointer and His Predecessors], Xenofonte [livros de arte de caça ou cinegética], etc

entre outros mais publicados anónimos, que a colecção é imensa e apreciada.

O Cão de Parar

"A primeira arte do homem, escreveu Buffon, foi educar o cão e, pelo cão, é que ele chegou à conquista e posse do mundo" [Padre Domingos Barroso]

"... um cão perdigueiro de dous narizes, o melhor da matilha" [Camilo]

O debate sobre o cão de parar ainda não está, completamente, encerrado. Ao elogio do cão (de aves, de falcão, de busca, de mostra, de parar) o bom senso diz-nos que é provável que a paixão pelo cão de parar, e a estima pelo perdigueiro lusitano em particular, o seu "equilíbrio estético", alegria, humildade e obediência, ou mesmo o aperfeiçoamento morfológico que a raça impõe, essa estima provada que se têm por esse admirável "caminheiro" e "buscador" incansável nunca nos fará esquecer a controvérsia estimulante sobre a sua origem e o seu estudo.

Não é invulgar que a questão sobre a narrativa e origem do cão de parar (em particular o perdigueiro português) nos convide a traçar, olhos na terra & auxílio do céu, as antigas artes de cetraria, altanaria ou montaria. E se, a partir dos tratados que nos chegaram incólumes, posteriormente, se passe à converseta sobre as virtudes do "governo do príncipe" e à reflexão sobre o poder, do seu exercício & avisamentos, o que torna a prosa cada vez mais instruída e de pregação proveitosa, não sugere nada de estranho nem tão-pouco pode ser impensável. Afinal ... isto anda tudo ligado.

Do sabujo (de trela, de correr, de buscar) usado na montaria - esse cão ibérico, que os "franceses reconstruiriam" no "seu epagneul" e os ingleses formaram como "setter" ou "cocker-spaniel" [Correia, Gazeta Aldeias, 1921], apresentado no "Livro da Montaria de D. João I" e que Diogo Fernandes Ferreira também refere [Arte de Caça da Altaneria, 1616] - ao não menos antigo alão - entusiasmo maior do Mestre de Avis e que pode ser a "origem dos dogges da Alemanha" [Correia, 1921] - passando pelo podengo - admirável cão de mostra usado na caça de altanaria, como nos diz Diogo Fernandes Ferreira, muito referenciado nas Ordenações de D. Afonso III de 1621 e de agrado particular do Padre Domingos Barroso - até aos bracos peninsulares - usados em Portugal com o nome de perdigueiro, formidáveis descendentes do excelente "chien d'oysel" de que fala Gaston Phébus, aliás Conde de Foix [Le Livre de Chasse, ms. 616 da BNF, 1387-89] e que são ainda conhecidos por "Navarros", por braco espanhol em França, ou por "pachons", perdigueiro tão usados por caçadores lusos [refª Correia, 1921 e Henrique Anachoreta, 1903], ou mesmo por "pigarços" - existe toda uma literatura e bibliografia verdadeiramente notável, de interesse e respeito.

domingo, 11 de junho de 2006

GAZETA DAS ALDEIAS



Existiram alguns periódicos com o título de Gazeta das Aldeias. Pelo menos um datado de 1885 [Ano I, nº1, 5 de Julho de 1885, terminando a sua publicação ao nº 52 de 25 de Dezembro 1887], com o subtítulo de Política e Agrícola, e que foi fundado por José Teixeira Simões e teve a colaboração de Joaquim Machado e José Leite Guimarães.

Mas aquele que figura lá em cima, na foto, é um outro periódico, um "semanário de propaganda agrícola e vulgarização de conhecimentos úteis" [mais tarde passa a quinzenal], que surge [nº1] no domingo de 5 de Janeiro de 1896. Tem como proprietários o Padre João Pereira Vidal e Júlio Gama, e o seu redactor principal é o dr. António Magalhães [químico analista do Laboratório Químico-Agrícola do Porto]. A importância deste periódico é imensa, dado o grupo de colaboradores ilustres, com saberes muito diferentes e que ao longo de muitos anos e após várias reformulações, forneceram, com particular rigor, um conjunto apreciável de úteis conhecimentos, que vão da agricultura em geral, medicina prática, veterinária, etc, até estimados textos sobre pesca, caça e tiro.

Alguns excelentes e apreciados textos [que teremos ocasião de referir mais tarde], hoje bem invulgares, foram contributo de figuras notáveis, que aí os publicaram inicialmente, tais como: Armando Correia [cães portugueses], Carlos Manuel Baeta Neves [falcoaria, montaria, história da cinegética em Portugal], Padre Domingos Barroso [perdigueiro português], Henrique Anacoreta [cães portugueses], J. J. Gonçalves Coelho [caça, pesca], Júlio Gama [vitivinícola], Mello de Mattos [caça] e outros mais. Foram citadas, ainda, pela Gazeta das Aldeias, obras importantes, como a de um Diogo Fernandes Ferreira [caça de altanaria] ou a de Gaston Phoebus [Livre de la Chasse]. É, sem dúvida, um dos mais apreciados periódicos de "propaganda agrícola", contendo preciosas informações técnicas e bibliográficas, de evidente utilidade.

A Gazeta das Aldeias, como nos é referido no seu número inicial, apresentou como colaboradores "valorosos espíritos", entre eles: Adolpho Portela (adv.), Affonso Chaves (propr.), Agostinho de Campos (publicista), Alexandre de S. Figueiredo (agron. e dir. Escola de Agr. Prática de Faro), A. Moraes Carvalho (eng e deputado), Armando de Seabra (agron.), A. A. Telles de Menezes (agron e prof. da Escola de Viticultura Alexandre de Seabra), D. António X. Pereira Coutinho (lente do Inst. Agronomia de Lisboa), dr. Arthur Cardoso Pereira (médico-analista), Carlos de Oliveira Carvalho (regente agrícola), Conde de Samodães (propr.), Diogo de Macedo (propr. e deputado), dr. Ernst Richter (químico da Estação Químico-agricola de Tharand), F. Palma de Vilhena (dir. Estação Ampeto-Philoxerica do Norte), Georg Schweder (eng- industrial), Guilherme da Silveira (agron. Porto), Gonçalo Sampaio (botan.), Henrique Mendia (lente Inst. Agr. Vet. Lisboa), dr. Hugo Masthaum (químico), J. T. Menezes Pimentel (dir. estação Agric. de Mirandela), Padre Martins Coutinho (prop.), J. V. Paula Nogueira (médico veten. e lente), J. Gaudêncio Rodrigues Pacheco (eng. minas), dr. J. J. Gonçalves Coelho (adv.), dr. Júlio Augusto Henriques (dir. do Botânico de Coimbra), Manoel Amândio Gonçalves (dir. Botânico do Porto), Visconde de Vilarinho de S. Romão (eng. e propr.), etc.

quinta-feira, 8 de junho de 2006


Do Mundo

The urban imagery of George Orwell [Vittore Collina] / The Future of the American Workforce in the Global Creative Economy / Sur l'Affaire Handke, par Jean-Gérard Lapacherie / Ameriraq - The New Colonial Frontier [via Wood s lot] / Si el poder estadounidense cambia de manos en 2008, por Robert Kagan [ABC] / Los escritores y la guillotina de papel [ABC]

[ler o ...] Antimanifiesto de Banfield

[Ver, ouvir ... sentir] Le Sang d'un poète [50m 31 s] - filme de Jean Cocteau, 1930 [via Cinematógrafo]

Lembrar os valiosos (28) textos de Luis Carmelo, O 'tom' dos blogues, que é só a mais séria reflexão sobre os blogs & blogosfera lusa.

Felicitar a Maira Parula pelo lançamento do seu livro, "Não Feche Seus Olhos esta Noite" (logo ali na Livraria da Travessa do Ipanema ... oh! saudade, ah! inveja). E esteve linda a festa ... Beijo e felicidades.

Catálogo LXVII de Llibres del Mirall

Eis, de novo, um Catálogo da Llibres del Mirall. Apresenta livros e revistas estimadas e valiosas.

Algumas referências: Lectura Popular. Biblioteca d'Autors Catalans (364 quaderns enquadernats), Barcelona, 1900, XXI vols / Antologia de La Poesía Argentina, con notas biográficas y bibliográficas (1900-1925), Buenos Aires, Edición de "Nosotros", 1926 / La Revista (1915-1936, completa), Barcelona, XX vols [trata-se dos estimados cadernos La Revista, aqui digitalizados] / Revista Rosa dels Vents [rev. Mensal de literatura e critica], Barcelona, 1936, 3 numrs / Revista Sintesis, de Buenos Aires [nº1, Junho 1927 a nº41, Out. 1930], 1927-1930, XLI nums [Borges pertenceu à sua direcção, publicou aí a "Indagación de la palabra II" no nº3, "El lado de la muerte en Güiraldes", "Séneca en las orillas", "La duración del infierno"] / Revista Dau Al Set, Il Salon Jazz, Barcelona, Junho-Julho de 1952 [revista de vanguarda de influência surrealista, fundada por Antoni Tàpies, Joan-Josep Tharrats, Brossa, Ponc, Cuixart e outros pintores & poetas, em 1948] / Poesias Completas, de Rafael Alberti, Buenos Aires, Ed. Losada, 1961 / El Futurisme. Conferencia llegida en l'Ateneo Barcelonés la nit del 18 de Juny de 1904, por Gabriel Alomar, Barcelona, Tip. L'Avenç, 1905 / Le Pas Perdus, de André Breton, 1924 / Jean Cocteau, Portraits-souvenir 1900-1914 / Obras Poéticas Completas, de Ruben Dário, Madrid, Aguilar, 1937 / Garcia Marquez. Historia de un Deicídio, de Vargas Llosa, 1971 / Los Jefes, de Vargas Llosa, Barcelona, 1959

terça-feira, 6 de junho de 2006

ABADE CORREIA DA SERRA



José Francisco Correia da Serra ou Abade Correia da Serra

Para além de textos sobre geologia e botânica, escreveu outros para prefaciar e introduzir várias obras publicadas pela Academia das Ciências de Lisboa [ex: Collecção de livros ineditos de historia portugueza, publicados de ordem da Academia das Sciencias de Lisboa por José Corrêa da Serra, Lisboa, 1925, Officina da mesma Academia, V vol, etc] e fez o "Discurso Prelimimar" das Memórias Económicas da Academia publicadas em 1789.

Alguma Bibliografia sobre Correia da Serra: Silva, Inocêncio Francisco da, Aranha, Brito - Diccionario Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, T. IV, pp. 336-342 / Henriques, Júlio - Correia da Serra: apontamentos biográficos e correspondência, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1923, Separata do Boletim da Sociedade Broteriana Vol. II, 2ª Série / Carvalho, Augusto da Silva - O Abade Correia da Serra, Lisboa: Academia das Ciências, 1948, Sep. Memórias, Classe de Ciências, 6 / Bourdon, Léon - José Corrèa da Serra: ambassadeur du Royaume-Uni, de Portugal et Brésil a Washington, Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1975, XVIII, 668 p / Carvalho, Rómulo de - Serra, José Correia da, in Serrão, Joel, Dicionário de História de Portugal, Porto, Figueirinhas, 1981, vol. V, pp.539-540 / Davis, Richard Beal - The Abbé Corrêa in America, 1812-1820, Gávea-Brown, Providence, Rhode Island, 1993 / Abade José Correia da Serra documentos do seu arquivo (1751-1795): catálogo do espólio, compil. e pref. de Michael Teague ; trad. do inglês Manuela Rocha, Lisboa, Fundaçao Luso-Americana para o Desenvolvimento, 1997 / Carneiro, Ana Maria Oliveira - The portuguese naturalist Correia da Serra (1750-1823) and his impact on early nineteenth-century botany, Lisboa, 1998 / Faria, António (1999) - Concepção de história e prática política : o abade Correia da Serra, Lisboa, [s.n.], 1999, 2 vol / Diogo, Maria Paula, Carneiro, Ana, Simões, Ana - The Portuguese naturalist Correia da Serra (1751-1823) and his impact on early nineteenth-century botany, Journal of the History of Biology, 34, 2001, pp. 353-393

[Agradecimento pela colheita ... ao A.B., vale]

Abade Correia da Serra [n. em Serpa a 6 Junho 1750-1823]

José Francisco Correia da Serra ou Abade Correia da Serra é uma personagem absolutamente deslumbrante, arrebatadora, única. O que quer que se saiba sobre os seus trabalhos científicos (estudos botânicos e de geologia, principalmente), literários, diplomáticos e outros (bem menos conhecidos) é bem pouco para a abundante eloquência do erudito presbítero secular.

Foi, o Abade Correia da Serra, "fidalgo da Casa Real, do conselho da rainha D. Maria I, conselheiro da Fazenda, comendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem de Cristo, doutor em direito canónico pela Universidade de Roma, conselheiro de legação e agente diplomático em Londres, ministro plenipotenciário de Portugal junto ao governo dos Estados Unidos ["Estabeleceu relações de amizade com Thomas Jefferson (1743-1826), a quem visitava regularmente. Na sua mansão Monticello, na Virginia, o antigo presidente norte-americano tinha um quarto permanentemente reservado ao amigo"], deputado nas cortes ordinárias de 1822, sócio fundador e secretário perpétuo da Academia das Ciências [de 1790-1795; tendo sido um dos principais redactores do seu Estatuto fundador], sócio da Sociedade Real de Londres, da Lineana [de Inglaterra] e da dos antiquários da mesma cidade; membro correspondente do Instituto de França, da Sociedade Filomática de Paris, das Academias de Turim, Florença, Bordéus, Lyon, Marselha, Liège, Sena, Mântua e Cortuna; e das Sociedades Reais de Agricultura do Piemonte e da Toscana; e da Economia de Valença" [ver aqui], membro da American Philosophical Society [onde "ministrou cursos de botânica"]. Foi um assombroso naturalista, polígrafo e diplomata e falava fluentemente um ror de línguas.

O Abade Correia da Serra, "homem comprometido com o seu tempo", esteve ligado aos ideais maçónicos e liberais, foi um dos muitos estrangeirados que o caminho levou (e leva ainda) deste intratável Portugal. Poucos trabalhos de investigação têm sido feitos sobre a vida e o percurso conspirativo do nosso Abade e convinha fazê-lo.

Afinal, sendo conhecida a sua grande amizade com o Duque de Lafões [D. João Carlos de Bragança], Domingos Vandelli, Broussonet [médico francês refugiado em Portugal em 1794 e que o Abade Correia da Serra protegeu, tendo, por isso mesmo, (ambos) que fugir à polícia de Pina Manique], Avelar Brotero ou Thomas Jefferson (todos de tradição maçónica), reconhecido que é o seu trabalho na Academia Real das Ciências ["organização paramaçonica", com uma curiosa - segundo assegura Oliveira Marques, in História da Maçonaria em Portugal, vol. I - estrutura e organização que lembra uma loja maçónica], suspeitando-se que teve algum papel na constituição (em 1820) das Sociedades Patrióticas, ou conhecido o que afirmou sobre esses enigmáticos "sucessores dos Templários" nos tempos idos de 1805

[o Abade Correia da Serra publicou, originariamente, nos Archives Littéraires de l'Éurope, tomo 8 (1805) um curioso texto - depois sucessivamente reeditado pela Ilustração, de Julho 1846, seguido de nova edição por "um fiel de Amor" em 1980, e já em 2000 de novo publicado, aqui pelos Cadernos da Tradição, sob direcção de Manuel Gandra - intitulado "Os Verdadeiros Sucessores dos templários e o seu Estado em 1805"]

seria, pela abundância de interrogações, conveniente encetar o trabalho de pesquisa nesta sua faceta discreta, ou seja procurar um olhar outro, que nos revele em toda a grandeza o grande Abade Correia da Serra.

Locais: Serra (José Francisco Correia da) / Correia da Serra (1751-1823) / The Abbé Correia (1750-1823) and Jefferson / Seleção de documentos da Divisão de Manuscritos [Library of Congress]

[continua]

segunda-feira, 5 de junho de 2006


[Fora do Gráfico]

"O melhor momento de futebol, para um técnico, deve ser o minuto de silêncio. É quando os jogadores ficam parados, mais ou menos na sua posição designada no desenho da escalação. É no minuto de silêncio que o jogador mais se parece com o botão, ou com as cruzinhas ou a bolinha, que o técnico usa na instrução. Por um breve instante materializa-se no campo a sua onipotência diagramada. Ali estão as peças do seu pequeno universo, exactamente onde ele as quer. Sem o movimento e todas as suas imperfeições - o erro, o infortúnio, a desobediência, o esquecimento, a bola espirrada. Enfim, os acontecimentos. Todo o técnico deve saborear aquele último minuto antes de perder o controle, antes dos seus jogadores saírem do gráfico e caírem no real. Aí o juiz apita, as teorias se evaporam e começa a confusão, que é um outro nome para a vida ..."

[Luis Fernando Veríssimo, in A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto, 1999]