terça-feira, 6 de junho de 2006


Abade Correia da Serra [n. em Serpa a 6 Junho 1750-1823]

José Francisco Correia da Serra ou Abade Correia da Serra é uma personagem absolutamente deslumbrante, arrebatadora, única. O que quer que se saiba sobre os seus trabalhos científicos (estudos botânicos e de geologia, principalmente), literários, diplomáticos e outros (bem menos conhecidos) é bem pouco para a abundante eloquência do erudito presbítero secular.

Foi, o Abade Correia da Serra, "fidalgo da Casa Real, do conselho da rainha D. Maria I, conselheiro da Fazenda, comendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cavaleiro da Ordem de Cristo, doutor em direito canónico pela Universidade de Roma, conselheiro de legação e agente diplomático em Londres, ministro plenipotenciário de Portugal junto ao governo dos Estados Unidos ["Estabeleceu relações de amizade com Thomas Jefferson (1743-1826), a quem visitava regularmente. Na sua mansão Monticello, na Virginia, o antigo presidente norte-americano tinha um quarto permanentemente reservado ao amigo"], deputado nas cortes ordinárias de 1822, sócio fundador e secretário perpétuo da Academia das Ciências [de 1790-1795; tendo sido um dos principais redactores do seu Estatuto fundador], sócio da Sociedade Real de Londres, da Lineana [de Inglaterra] e da dos antiquários da mesma cidade; membro correspondente do Instituto de França, da Sociedade Filomática de Paris, das Academias de Turim, Florença, Bordéus, Lyon, Marselha, Liège, Sena, Mântua e Cortuna; e das Sociedades Reais de Agricultura do Piemonte e da Toscana; e da Economia de Valença" [ver aqui], membro da American Philosophical Society [onde "ministrou cursos de botânica"]. Foi um assombroso naturalista, polígrafo e diplomata e falava fluentemente um ror de línguas.

O Abade Correia da Serra, "homem comprometido com o seu tempo", esteve ligado aos ideais maçónicos e liberais, foi um dos muitos estrangeirados que o caminho levou (e leva ainda) deste intratável Portugal. Poucos trabalhos de investigação têm sido feitos sobre a vida e o percurso conspirativo do nosso Abade e convinha fazê-lo.

Afinal, sendo conhecida a sua grande amizade com o Duque de Lafões [D. João Carlos de Bragança], Domingos Vandelli, Broussonet [médico francês refugiado em Portugal em 1794 e que o Abade Correia da Serra protegeu, tendo, por isso mesmo, (ambos) que fugir à polícia de Pina Manique], Avelar Brotero ou Thomas Jefferson (todos de tradição maçónica), reconhecido que é o seu trabalho na Academia Real das Ciências ["organização paramaçonica", com uma curiosa - segundo assegura Oliveira Marques, in História da Maçonaria em Portugal, vol. I - estrutura e organização que lembra uma loja maçónica], suspeitando-se que teve algum papel na constituição (em 1820) das Sociedades Patrióticas, ou conhecido o que afirmou sobre esses enigmáticos "sucessores dos Templários" nos tempos idos de 1805

[o Abade Correia da Serra publicou, originariamente, nos Archives Littéraires de l'Éurope, tomo 8 (1805) um curioso texto - depois sucessivamente reeditado pela Ilustração, de Julho 1846, seguido de nova edição por "um fiel de Amor" em 1980, e já em 2000 de novo publicado, aqui pelos Cadernos da Tradição, sob direcção de Manuel Gandra - intitulado "Os Verdadeiros Sucessores dos templários e o seu Estado em 1805"]

seria, pela abundância de interrogações, conveniente encetar o trabalho de pesquisa nesta sua faceta discreta, ou seja procurar um olhar outro, que nos revele em toda a grandeza o grande Abade Correia da Serra.

Locais: Serra (José Francisco Correia da) / Correia da Serra (1751-1823) / The Abbé Correia (1750-1823) and Jefferson / Seleção de documentos da Divisão de Manuscritos [Library of Congress]

[continua]