terça-feira, 21 de dezembro de 2004
Passa por mim em Bruxelas
"Tenho uma ligeira oscilação quando ando, até uso uma bengala" [A. O'Neill]
Os altíssimos dias deste final d'annus horribilis deu para assistir à récita pública do Eurostat, sempre fidelíssimo nos 3% e em demanda de défices excessivos, e ao espalhar da fúria, flagelo e dedicação sublime de três admiráveis personagens da lide política doméstica. Fala-se, evidentemente, de Santana Lopes, Bagão Félix e Vítor Constâncio. Dir-se-ia que não nos deixam dar graças às festividades sem qualquer martírio confesso. Estranha forma de vida em que os dotes políticos são completados pela sacrossanta oratória.
A governação está em padecimento de corpo. O que, hoje, foi dado assistir em conferência de imprensa é verdadeiramente espantoso. Fora ninguém ter entendido o porquê da prece mediática, dado não se ter apresentado nada de substantivo, fica-se a saber que em vez da literatura económica e financeira os governantes preferem os jornais, mesmo que estrangeiros. Qualquer dia ainda os apanhamos a ler a Maria, o Record ou as crónicas do Delgado. Por fim, a dupla Lopes & Félix, em alegre coligada apresentam-se como arrependidos, prestam perjuro ao saudoso PEC. Como os desamparados do Barrosismo andam com amargos de boca, descontentes pelo seu sacrifício!
O mistério do défice, a perfeição orçamental, a tabuada contabilística, comove qualquer indígena. Santana Lopes, um crónico incompetente consciente, generoso na sua sabedoria, imolou-se na miséria da mercearia Ferreira Leite. Como desconhece o que quer que seja, acreditou em tudo, seguiu «o Cherne». Pois se todos os extraordinários economistas e olheiros orçamentistas laranjas abraçavam a bondade das medidas do seu amigo Barroso, porque razão se haveria de verter lágrimas? Bagão Félix, o pudibundo cristão do orçamento cheio de graça, faz testemunho de ideias mal arranjadas e, num admirável discurso, dá uma valente sova no talento alemão. Inolvidável. Ligeiro, o despachante do Banco de Portugal, de nome Vítor Constâncio, revela o espírito do provado funcionário público: na falta de patrão, não há receitas extraordinárias para ninguém. No tempo da senhora Ferreira Leite é que era, suspira o piedoso economista. Mas afinal, o que seria uma Nação sem estes talentos bizarros? Pode-se saber?
[Remédios]
"... Vi um médico, de espírito sublime, que possuía, a fundo, a ciência do governo. Tinha consagrado as suas vigílias, até à data, a descobrir as causas dos males do Estado e a encontrar remédios para curar os maus fígados dos que administram os negócios públicos (...) «Os homens encarregados da administração pública, as mais das vezes, estão cheios de humores movediços, que lhes enfraquecem a cabeça e o coração, causam-lhes convulsões, contracção dos nervos da mão direita, fomes caninas, indigestões, vapores, delírios, e outros males»
Propunha tomar-se-lhes o pulso quando estivessem para se reunir em conselho. Por este processo tratava-se de ver se se descobria qual a espécie de doença de que eles padeciam (...)
E porque, ordinariamente, todos se queixam da pouca memória que tem os validos dos príncipes, queria o nosso doutor que a todo aquele que tivesse de tratar com eles alguns negócio fosse permitido a liberdade de dar ao senhor valido esquecido um piparote no nariz, de lhe puxar pelas orelhas ou espetar-lhe um alfinete nas nádegas, a fim de que a pretensão fosse sempre lembrada (...) Queria também que um dos senadores, depois de haver apresentado a sua opinião e ter dito, em abono dela, o que tivesse para dizer, fosse obrigado a formular a opinião contrária ..."
[J. Swift, in Viagens de Gulliver]
domingo, 19 de dezembro de 2004
Excitações Lusitanas & mais do mesmo
- os domésticos socialistas da cidade do Porto, sempre pródigos nas suas perturbações de fé eleitoral, congratularam-se pelo providencial apoio do senhor Pinto da Costa contra o insolente Rui Rio. O país nem um sorriso profundo manifesta. Nem um esgar incómodo declara. Ninguém se chega à frente em reparos. Mas sabe-se que os mistérios portuenses dão sempre em alucinações entusiastas, que invariavelmente acabam em arriscadas hermenêuticas no Bolhão.
O brinde do virtuoso Papa Costa foi disputadíssimo. O estremado Francisco Assis deu o amem rosa. Fernando Gomes comoveu-se pelo altíssimo discurso do sr. Pinto da Costa, esse incansável paladino da democracia. Nuno Cardoso amuou. A tralha socialista reclama um regresso. Sócrates resta um túmulo. Enquanto isso, o inefável Marco António confessa que frequenta as Antas aos domingos e dias santos. Consta, ainda, que Luís Filipe Menezes teve uma apoplexia, politicamente falando, é claro. Como são puros os ares da província.
- a economia já era. As lambiscadas dos tediosos opinion-maker's da coisa económica andam cansativas. Enjoam pelos testemunhos. Todas as manhãs lá vêm a ordem de argumentos em defesa do defunto. Entre as trevas da política económica, saltam as vozes puristas do professorado. Miguel Cadilhe consegue ver a borda do precipício, mesmo que esteja à sombra de quem o construiu. O deslumbrado Miguel Frasquilho, aleijado pelas mazelas pós-keynesianas, entretém os indígenas na comédia divertida do choque fiscal. Ignora-se, apenas, como entende imolar o Estado. O professor Cavaco, em magnifico delirius oeconomicus, fustiga os seus imediatos da governação, cavalga a besta do apocalipse pátrio, taramela qualquer coisa. A lenga-lenga do prof. Cavaco esquece o caudal económico dos disparates Barrosistas e, principalmente, a mercearia da senhora Ferreira Leite. Mas não faz mal a sabatina económica. O charivari é ensurdecedor. A turba indígena está de consoada. O bacalhau não desaparece, de vez. Deo gratias!
Prémio Pessoa 2004 - Mário Cláudio
"... Um nevoeiro puríssimo desce sobre os bosques da madalena, torna infinitos os espelhos, derrete neles os fios do esplendor da tarde, e logo as redes se lançam, ficam por instantes suspensas até que as engole o ventre líquido. São os vapores que respiram ofegantes em sua rota, com uma multidão heteróclita de passageiros, onde causa escândalo certa dama coberta de flores e plumas, na companhia de seus dois periquitos, três gansos canadianos, quatro peixes doirados, um macaco e um par de criados. E os grumetes ficam-se a olhá-la um pouco de revés, dela se afastam os frades e os beleguins e a rapariga olheirenta embrulhada num xaile, que arrasta uma história passional e foge à sanha dos burgueses. Exportam-se os produtos da terra, e na alma deles se retém uma saudade de sangue e de suor, o espectro morno do amor que os fez nascer e crescer e serem separados do seio original onde se conceberam ..."
[Mário Cláudio, in Das Torres ao Mar, O Oiro do Dia, 1983]
Prémio EDP 2004, Artes Plásticas - Álvaro Lapa
'... carácter de «últimas» vontades, de última-vontade, de vontade extrema, tensa, sobreavisada, que tornam as obras para o futuro (=doravante). A obra como sinal premonitório, a imaginação como actividade receptiva (seu carácter dominante), captadora do sinal-mensagem «que vem do futuro»: uma gigantesca central-receptora, a imaginação da «arte moderna». Trata-se de preservar o essencial - donde as minha «legendas proféticas», as minhas «caixas-relicário-pessoal», as minhas «alegorias», os meus «cânones», os meus «dogmas», os meus «abrigos», os meus «auto-auto-retratos», os meus «estímulos», os meus «flagrantes eróticos» ...'
[Álvaro Lapa, in Raso como o Chão, Estampa, 1977]
sábado, 18 de dezembro de 2004
Antonio Stradivari [m. 18 Dezembro 1737]
Locais: Antonio Stradivari. His Life and Work (1644-1737) / Antonio Stradivari / Antonio Stradivari / Sonatas Barrocas
[Livros & Arrumações]
Temos da "Annona ou mixto-curioso folheto semanal que ensina o methodo de cosinha e copa, com um artigo de Recreação", Lisboa, Imprensa de C. A. S. Carvalho, fim da Calçada do Garcia nº 42, nº 1 ao nº 36, 1836-1837, curiosas observações e dizeres vários. Algumas anotações:
"Doce - Manjar branco de peros. Ponham-se a coser em meia canada de leite meia dusia de peros grandes, limpos, apurados, e sem pevide, estando meio cosidos, deitem-se em um tacho, desfasem-se com a colher, e deitam-se-lhe duas canadas de leite, dois arrateis de assucar, e um arrátel de farinha de arroz, ponham-se a coser; e em quanto se cosem, refrescam-se com meia camada de leite, deitando-se-lhe pouco a pouco, e depois de cosido, deita-se-lhe agua de flor, tira-se do lume, e põe-se nos pratos" [nº20]
"Detalhes sobre a vida de Milton - Milton levantava-se da cama às quatro horas da manha no verão, e as cinco no Inverno. Trazia sempre uma borjaca de pano ordinário de mescla, estudava até ao meio dia, jantava frugalmente, e dava o seu passeio com o seu conductor, cantava pela tarde, tocando qualquer instrumento, conhecia as regras da harmonia, e tinha uma voz agradável. Sabia a arte da esgrima. E quem ler com attenção o seu Paraíso Perdido, verá que amava apaixonadamente a musica, e o cheiro das flores; ceava cinco, ou seis azeitonas, e uma pouca de agua, deitava-se às nove horas da noute, e alli compunha algumas obras; quando compunha alguns versos, repetia-os a sua mulher, ou a seus filhos; em dias de sol, sentava-se em um banco à sua porta ..." [idem]
"Poesia - Dois sujeitos, e ambos muito feios, andavam continuamente motejando-se um ao outro; um deles entrando certo dia no quarto do outro, a tempo que este fazia a barba, com grande trejeitos, que ainda o tornavam mais horrendo, lhe improvisou o seguinte soneto
"Boca, e mais boca de letrinea casta!
Penca, e mais penca té ao cu descida;
Horrenda, e sempre eterna prosseguida,
Carranca enorme a quem eu cedo, e basta!
Mal haja o sabonete que se gasta,
Em lavar-se essa tez ennegrecida;
Mal haja essa navalha envillecida,
Que a barba hirsuta do cartão te affasta!
Oh! quem pudera da fealdade excesso.
Arrumar-te em logar de banho morno,
Dois peidos nessas ventas d?arremesso:
Oh! quem te dera para teu adorno,
Por agua escarros, por espelho o cesso,
Por sabão merda, e por navalha um corno." [nº 21]
Temos da "Annona ou mixto-curioso folheto semanal que ensina o methodo de cosinha e copa, com um artigo de Recreação", Lisboa, Imprensa de C. A. S. Carvalho, fim da Calçada do Garcia nº 42, nº 1 ao nº 36, 1836-1837, curiosas observações e dizeres vários. Algumas anotações:
"Doce - Manjar branco de peros. Ponham-se a coser em meia canada de leite meia dusia de peros grandes, limpos, apurados, e sem pevide, estando meio cosidos, deitem-se em um tacho, desfasem-se com a colher, e deitam-se-lhe duas canadas de leite, dois arrateis de assucar, e um arrátel de farinha de arroz, ponham-se a coser; e em quanto se cosem, refrescam-se com meia camada de leite, deitando-se-lhe pouco a pouco, e depois de cosido, deita-se-lhe agua de flor, tira-se do lume, e põe-se nos pratos" [nº20]
"Detalhes sobre a vida de Milton - Milton levantava-se da cama às quatro horas da manha no verão, e as cinco no Inverno. Trazia sempre uma borjaca de pano ordinário de mescla, estudava até ao meio dia, jantava frugalmente, e dava o seu passeio com o seu conductor, cantava pela tarde, tocando qualquer instrumento, conhecia as regras da harmonia, e tinha uma voz agradável. Sabia a arte da esgrima. E quem ler com attenção o seu Paraíso Perdido, verá que amava apaixonadamente a musica, e o cheiro das flores; ceava cinco, ou seis azeitonas, e uma pouca de agua, deitava-se às nove horas da noute, e alli compunha algumas obras; quando compunha alguns versos, repetia-os a sua mulher, ou a seus filhos; em dias de sol, sentava-se em um banco à sua porta ..." [idem]
"Poesia - Dois sujeitos, e ambos muito feios, andavam continuamente motejando-se um ao outro; um deles entrando certo dia no quarto do outro, a tempo que este fazia a barba, com grande trejeitos, que ainda o tornavam mais horrendo, lhe improvisou o seguinte soneto
"Boca, e mais boca de letrinea casta!
Penca, e mais penca té ao cu descida;
Horrenda, e sempre eterna prosseguida,
Carranca enorme a quem eu cedo, e basta!
Mal haja o sabonete que se gasta,
Em lavar-se essa tez ennegrecida;
Mal haja essa navalha envillecida,
Que a barba hirsuta do cartão te affasta!
Oh! quem pudera da fealdade excesso.
Arrumar-te em logar de banho morno,
Dois peidos nessas ventas d?arremesso:
Oh! quem te dera para teu adorno,
Por agua escarros, por espelho o cesso,
Por sabão merda, e por navalha um corno." [nº 21]
quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
Olavo Bilac [n. 16 Dezembro de 1865-1918]
"Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
- Mais abaixo, meu bem! - num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
- Mais abaixo, meu bem! - disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci..."
[Delírio, por Olavo Bilac]
Locais: Biografia / Olavo Bilac / O. Bilac / Poesia / Bilac / Aviso aos pais ou Bilac Erótico
Geração Rasca
Os episódios políticos, a crise laudatória e a cacofonia destes dias não têm nada de empolgante, nem de virtuoso. A estratégia política foi há muito exumada e nem a língua de trapos, destas semanas, pode servir de paródia a quem quer que seja. Os disparates em série de um conjunto de homenzinhos da classe política, et pour cause seguido de chacota bem humorada, evidencia o que muitos referem sem mistério: estamos perante uma classe política rasca, que sem se saber porquê veste a farda da governação e usurpa o poder. Não há memória de tamanha obscenidade. Custa acreditar em tão desabridos acontecimentos.
A singular arribação destes novíssimos gestores governamentais tem de ter alguma explicação sob pena de estarmos decisivamente condenados. Sabia-se que a invasão do aparelho político era prometedor para quem tem da administração a vaidade de subir de vida, sem aborrecimento pelo trabalho, com um perfil e preparação técnica tacanha e grotesca, sem esforço intelectual ou ético visível. Sabia-se que quase todos lá chegam, unicamente, via benesses político-partidárias. Mas ninguém pensou, decerto, que estávamos a assistir à sua massificação, no meio de uma algazarra extravagante e perturbadora.
O desaire do exercício presidencial do dr. Sampaio; a declaração conjunta de Lopes & Portas em bom estilo pimba, embuçados em juras d'amor até ao espinote final daqui a dias; as atabalhoadas e vergonhosas afirmações do santanista Paulo Pereira Coelho, em excelente prosápia do que foi a atmosfera destes anos de jogos florais em terras figueirenses; as fantasias desafinadas de Bagão Feliz quanto ao deficit, aos agentes financeiros e ao pessoal indígena; as maquinações condimentadas de Morais Sarmento; as lamúrias improvisadas de Dias Loureiro; as tiradas vazias e torpes do afadistado Pires de Lima Filho ou as cogitações de Nuno Thomaz; são apenas a ponta do iceberg. Porque o aparecimento deste rebanho de novos políticos na pista governamental é o mais singular testemunho do desastre nacional. E que irá perdurar por tempos intermináveis. Como alguém já disse, "a ignorância é muito atrevida". O abismo aí está.
[Dezembro]
"O entendimento foi concebido de molde a guiar o coração; desgraçadamente, tanto neste mês como nos seguintes, os homens deixar-se hão arrastar pelo sentimento, cavalo fogoso e sem vista.
É costume cada um gravar as injúrias em bronze e os benefícios e finezas na areia ou na onde fugidia. As belas almas têm uma só lápide: a das boas obras recebidas.
Há povos infortunados hoje, ora e sempre. São os que fazem depender a fé e suas acções resultantes da decisão dos homens (...)
A ambição é um golfo em que só há escolhos e penas. Àqueles que se mantenham no cairel, os aplausos do mundo fá-los hão esquecer que podem escorregar ... e escorregam (...)"
[Cavaleiro de Oliveira, in Recreação Periódica, vol II, 1922]
"O entendimento foi concebido de molde a guiar o coração; desgraçadamente, tanto neste mês como nos seguintes, os homens deixar-se hão arrastar pelo sentimento, cavalo fogoso e sem vista.
É costume cada um gravar as injúrias em bronze e os benefícios e finezas na areia ou na onde fugidia. As belas almas têm uma só lápide: a das boas obras recebidas.
Há povos infortunados hoje, ora e sempre. São os que fazem depender a fé e suas acções resultantes da decisão dos homens (...)
A ambição é um golfo em que só há escolhos e penas. Àqueles que se mantenham no cairel, os aplausos do mundo fá-los hão esquecer que podem escorregar ... e escorregam (...)"
[Cavaleiro de Oliveira, in Recreação Periódica, vol II, 1922]
terça-feira, 14 de dezembro de 2004
[Amôre]
"O Amôre, graça de mau gosto,
muitas vezes na boca, sempre no sentimento,
veio, trota trotando, ter comigo.
Trazia a língua de fora, tropeçava nela,
fazia-se cansado, era apenas piegas.
Por que volta a bestiúncula
a rondar-me o terreiro?
É camaradagem
ou aragem de cama?
Desapossados é que estamos livres para caminhar."
[Alexandre O'Neill]
"O Amôre, graça de mau gosto,
muitas vezes na boca, sempre no sentimento,
veio, trota trotando, ter comigo.
Trazia a língua de fora, tropeçava nela,
fazia-se cansado, era apenas piegas.
Por que volta a bestiúncula
a rondar-me o terreiro?
É camaradagem
ou aragem de cama?
Desapossados é que estamos livres para caminhar."
[Alexandre O'Neill]
Bom dia Jane. Faço ideia do alvoroço que vai por aí. Uma Avé Maria por cada olhar, um pecadilho por ouvido. O ideal seria cantares sob protecção divina. O fruto ainda não caiu ... de vez.
Naquele tempo "uma mulher passou quando eu dormia ou acordava" [H.H.]. Não sei bem. Ter apenas memória que a vida es sueno. Feliz aniversário.
[DOWNLOADS]
The Clash - Discography [via KingBlind]
Meus senhores é entrar e downloadar para afastar o tédio aqui na lusa Pátria acanhada à espera de toda essa gente coligada que o Bettencourt já botou faladura o Delgado cultiva ideias ad-curativas e o sismo Lopes pode ocorrer que ninguém consegue escapar ao destino nem à pachorra destas noites sem entrarmos em alvoroço poético. Vivam as brigadas Clash recauchutadas. Tenha um bom dia.
"Ninguém entra em pânico / Todos se prostituem / e tudo canta minha gente / por dentro do gaiolame / Os modelos morais cobrem os muros / ... / A rádio diz-me o que devo dizer / a rádio os jornais e a televisão todos mo dizem / ... / E como é pá pra veres o teu tempo interior / na TV? / ..." [Ninguém entra em pânico, The Clash, in Pravda nº1, 1982]
segunda-feira, 13 de dezembro de 2004
Heinrich Heine [n. 13 Dezembro 1797 - 1856]
"Põe sempre os nomes aos bois
Nas histórias que contares.
Ou logo os burros depois
Se queixam de os retratares:
«Mas são as minhas orelhas!
Este azurrar é o meu!
Se estas são minhas guedelhas!
Ai este burro sou eu!
Nâo me nomeie ele embora,
Toda a Pátria vai agora
Saber-me por burro, hin-hã!
Ai que eu, hin-hã, hin-hã!»
- Quiseste a um burro poupar
Logo doze hão-de zurrar."
[Heinrich Heine, in Bom Conselho, trad. Jorge de Sena]
Futebol - Reservado o direito de admissão
"Quando nasci já trazia um «deficit» de dois whiskies" [Charles Montague]
Toda a idade tem beleza. O SLB («Glorioso» para os fidalgos da bola) tem um século respeitável, um encanto opulento. Qualquer manifestação de retórica rústica, com atropelos à civilidade e à etiqueta, é um desperdício de trabalho. Assim se obram compêndios para cidadãos. Álbuns de glórias. Para que conste.
Porém, a garden-party do Restelo foi um quieto jogo para desenganos dos néscios. Estamos numa canseira bizarra. Os nossos nem num pastel de Belém se chegam à frente. Os modos finos e adamados desta equipa de Vieira & Veiga, Lda são uma curiosa demência histórica. Aquela equipa de mendigos extenuados, saltitando em alegre rincharia sobre a relva, babando-se à perfídia dos cavaleiros de Cristo, é uma afronta.
As massas desditosas queriam castigar uns pastéis de Bélem. Saiu-lhes um vulgar jesuíta. Ninguém nos convence que não há mão Presidencial nisto tudo.
[PS: Ao que parece, ninguém esclareceu o respeitável público qual a equipa que perdeu aos penaltys com aqueloutra das Antas. Está mal! Depois de não se saber o que sucedeu de Segunda para Terça-feira passada em Bélem, era o que faltava que, agora, nem uma simples informação se dê sobre essa notável equipa que perdeu, algures no Japão. A ignorância nunca é de louvar. Seja como for, aplaudimos aquele rapaz de nome Maniche, outrora muito honrado, nas Antas, com interjeições à moda da Ribeira quando vestia o fato de gala do Benfica. Bem-haja.]
"Quando nasci já trazia um «deficit» de dois whiskies" [Charles Montague]
Toda a idade tem beleza. O SLB («Glorioso» para os fidalgos da bola) tem um século respeitável, um encanto opulento. Qualquer manifestação de retórica rústica, com atropelos à civilidade e à etiqueta, é um desperdício de trabalho. Assim se obram compêndios para cidadãos. Álbuns de glórias. Para que conste.
Porém, a garden-party do Restelo foi um quieto jogo para desenganos dos néscios. Estamos numa canseira bizarra. Os nossos nem num pastel de Belém se chegam à frente. Os modos finos e adamados desta equipa de Vieira & Veiga, Lda são uma curiosa demência histórica. Aquela equipa de mendigos extenuados, saltitando em alegre rincharia sobre a relva, babando-se à perfídia dos cavaleiros de Cristo, é uma afronta.
As massas desditosas queriam castigar uns pastéis de Bélem. Saiu-lhes um vulgar jesuíta. Ninguém nos convence que não há mão Presidencial nisto tudo.
[PS: Ao que parece, ninguém esclareceu o respeitável público qual a equipa que perdeu aos penaltys com aqueloutra das Antas. Está mal! Depois de não se saber o que sucedeu de Segunda para Terça-feira passada em Bélem, era o que faltava que, agora, nem uma simples informação se dê sobre essa notável equipa que perdeu, algures no Japão. A ignorância nunca é de louvar. Seja como for, aplaudimos aquele rapaz de nome Maniche, outrora muito honrado, nas Antas, com interjeições à moda da Ribeira quando vestia o fato de gala do Benfica. Bem-haja.]
ANÚNCIOS completamente grátis
* Primeiro-Ministro, idóneo, bem parecido, com inimigos à perna, em excelente situação financeira, procura companhia para coligações futuras. Absoluto sigilo. * Prof. universitário, grande capacidade de trabalho, com carro e cruzeta, resmas de livros para ler, em crise de comentários, marca encontra na TV. Urgência. * Presidente de clube, por motivo de saída, troca posição. Indicar curriculum * Bloguista, 20 anos incompletos, óptimo aspecto, possante, deseja conhecer jornalistas para almoços na Bica do Sapato. Assunto sério * Palácio de Belém, um lugar de sonho a seus pés. Mostra o próprio no local * A Quem Achou ministro em bom estado, completamente fatela, totalmente azeiteiro, agradeço a esmola de o não devolver. Dão-se alvíssaras
[FILMES] * Natal Radical - comédia para governantes e drama para os eleitores. Uma família coligada "farta da comunidade reaccionária em que vive" corre atrás do "bom rebanho". História encantadora, radical, repleta de amigos e inimigos, que ora ressuscitam o messias Cavaco, ora clamam pelo santo Guterres. Realização de Jorge Sampaio. A não perder. * Ligações de Alto Risco - um thriller apaixonante, pleno de chuis do Fisco a mando de Bagão Félix. Kim Basinger, no papel de Ferreira Leite, vê fugir o deficit porque não sabe a tabuada, encontra Santana Lopes num jantar com Portas a debater os aumentos de ordenado, enquanto Rui Gomes da Silva aparece como empregado de copa. Inolvidável. Especialmente dedicado a funcionários públicos.
[Pechinchas]
"... Perguntar a um bibliófilo quanto ele pagou por um livro é uma indiscrição, mas perguntar quanto vale é pedir uma informação. Não se chame novo-rico àquele que lhe disse logo quanto pagou por um belo exemplar. Geralmente, é porque pagou barato e tem vaidade de ter feito uma pechincha. Os pechincheiros muito vaidosos chegam até a diminuir o preço que pagaram. Há, também, os que pensam valorizar seus livros, aumentando o custo. São os vaidosos espertos que só enganam os leigos.
É curioso notar como, ente os bibliófilos, há muita gente sovina. São, geralmente, os mais ricos. Talvez haja no coleccionador um instinto de posse mais agudo que no comum dos mortais. Talvez, até a bibliofilia seja uma forma de avareza. Mas, é uma forma especial: o coleccionador apaixonado não dá valor ao dinheiro, mas ao objecto. É, talvez, por isso que todo o bibliófilo goza duplamente um livro, quando o compra barato. A ambição de muito bibliófilo é fazer pechincha. É unir o prazer de possuir, de entesourar, com o instinto recalcado de gastar o menos possível. Esse prazer é tanto maior quanto mais difícil está se tornando essa realidade. É muito difícil fazer reais pechinchas hoje em dia. Os livreiros estão ficando muito sabidos ..."
[Rubens Borba de Moraes, in O Bibliófilo Aprendiz, 1975 (2ª ed.)]
Subscrever:
Mensagens (Atom)