terça-feira, 27 de janeiro de 2004

WOLFGAMG AMADEUS MOZART [1756-1791]



n. em Salzburgo, a 27 de Janeiro de 1756

"Salve sagradas criaturas que se impõem através da noite!
Agradecimentos a vós, Osiris e Isis, sejam apresentados!
A força venceu, e como recompensa
Apresenta a eterna coroa à beleza e à sabedoria".

[Flauta Magica]


CATÁLOGO Nº 3 DA LIVRARIA D. PEDRO V


A Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) lança o seu Catálogo 3 (nova série) com 286 peças raras umas, esgotadas todas, a preços interessantes. Julgo que ainda está à frente da D. Pedro V a Catarina, que aqui apresenta um cuidadoso conjunto de obras de estimação a ter em conta.

Algumas referências: Cartas de Amor de Sóror Mariana ao Cavaleiro de Chamilly, de Sóror Maria Alcoforado, Livr. J. Rodrigues, 1925 (ilustrações de Alberto de Souza, e prefácio de Gustavo Matos Sequeira) / Alquimias, por Al Berto, Sines, 2001 / Recolhimento do Arcanjo S. Miguel (Alguns Apontamentos para a Historia de Guimarães) As Beatas de Chapéu, 1923 / Portuguese Hebrew Grammars anda Grammarians, de Moses Bensabat Amzalak, 1928 / Chorographia Estatística do Districto de Coimbra, por Agostinho Rodrigues d'Andrade, Coimbra, 1896 / Judeus em Montemor-o-Novo, de António Alberto Banha de Andrade, 1977 / Contra a Obscuridade, de Eugénio de Andrade, 1992 / Os Poemas de Luís Buñuel, de J. F. Aranda (trad. de Mário Cesariny Vasconcelos), Arcádia, 1974 / Inventario de Lisboa, por Norberto de Araújo & Durval Pires Lima, 12 vols, 1944-56 / Homenagem a Camilo no seu Centenário, por António Baião (refere a suposta ascendência israelita de Camilo), 1925 / Cadernos de Literatura (nº 1 ao nº 25), Coimbra, 25 vols, 1978-86 / Biografias Figueirenses, por José de Sousa Cardoso, F. Foz, 1947 / Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, por José dos Santos Carvalho, Lx, 1965 / Pequenos Mundos Novas Civilizações, de Ferreira de Castro, 1938 / Á Volta do Mundo, de Ferreira de Castro, 1938 / Os Transportes Populares em Portugal. Carros e Barcos, por Luís Chaves, 1958 / Inscrições na Quinta do Viso, por José Coelho, 1928 / Cristo como os Pintores, Escultores e Poetas Portugueses o Viram, Sentiram e Entenderam, Estúdios Cor (texto de José Régio), 1952 / Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo, por José Gomes Ferreira (publicada anteriormente sob o pseudónimo O Avô do Cachimbo, no jornal de Lisboa), 1963 / Ronda de Africa, por Henrique Galvão, 2 vols, 1942 / A Caça no Império Português, de Henrique Galvão et all, 2 vols, 1943-45 / Primeira Parte da Historia dos Religiosos da Companhia de Jesus, pelo Padre Sebastião Gonçalves, 3 vols, 1957-62 / Commigo, de Manuel Laranjeira, 1923 / Livro do Centanário de Eça de Queiroz, 1945 / Leitos e Camilhas Portuguesas (junto com Cadeiras Portuguesas), por J. F. Nascimento & Augusto Cardoso Pinto (reed.), 1998 / Olleboma Culinária, Lisboa, Empresa Diário de Noticias, 1928 (imp. livro de cozinha portuguesa) / Para uma Cultura Fascinante, de Ernesto Sampaio, 1959 / Os Primitivos Portugueses, de Reynaldo dos Santos (3ª ed.), 1958 / Loiça Brasonada, por José de Campos Souza, 1962 / Marcas de Contastes de Ourives Portugueses, de Manuel G. Vidal & Fernando Moitinho de Almeida, 2 vols, 1974

segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

FLORES PARA MIKI FEHÉR



Sabemos da bondade da vida. Quantas vezes se julga que não a sabemos merecer. No entanto o lugar que ocupamos "é o único temível porque nos prende". Hoje os deuses esqueceram-se de Miklós Fehér. Ou foram os homens? A tristeza embala-nos os olhos, enquanto o que a TV mostra, nos mata aos poucochinhos. Um sorriso nos lábios, o coração a ceder, inclinação e morte. É demasiadamente perturbante para ser verdade. Magoa-nos. Torna-nos inúteis. É noite e hoje aqui não está ninguém. Até sempre Miki.

domingo, 25 de janeiro de 2004

VIRGINIA WOOLF [1882-1941]



n. em Londres, a 25 de Janeiro de 1882

"Discutamos, pois, com a maior brevidade possível, o tipo de educação necessário. Dado que a história e a biografia - as únicas provas ao dispôr de estranhos - provam, aparentemente, que a antiga educação das antigas faculdades não provocam particular respeito pela liberdade, nem particular ódio pela guerra, é evidente que deverá reconstruir a sua faculdade em moldes diversos. Está ainda no começo e é pobre; deixe-a, por conseguinte, tirar vantagem dessas qualidades e tomar como base a pobreza e a juventude. Deve, portanto, ser obviamente uma faculdade experimental, uma faculdade temerária. Deixe que se construa com estruturas próprias. Não deve ser construída em pedra talhada e com vitrais, mas em qualquer material barato e de combustão fácil que não crie nem perpetue tradições. Não faça capelas. Não instaure museus e bibliotecas, com livros de encadernações luxuosas e edições metidas em vitrinas. Vale para que todos os quadros e livros sejam novos e estejam sempre a mudar. Deixe que cada geração a decore com as suas próprias mãos e processos baratos. O trabalho dos vivos não é dispendioso; oferecem-no muitas vezes, apenas a troco de deixarem que o produza. (...)

Os professores deveriam ser escolhidos entre os «bon vivants» e os bons pensadores". [Virginia Woolf , in Os Três Guinéus, Veja, 1978]

Locais: Virginia Woolf / Virginia Woolf (1882-1941) / Virginia Woolf (biografia) / Virginia Woolf forum, links / Virginia Woolf's Texts / The International Virginia Woolf Society / Virginia Woolf's Psychiatric History / Virginia Woolf Her Life and Works / Virginia Woolf and Modernism / Virginia Woolf (Um Tecto Todo Seu) / Virginia Woolf: a androginia como desconstrução / Virginia Woolf Seminar [1-9 Junho 2004]

sábado, 24 de janeiro de 2004

BAIRRO LIVRE - JACQUES PRÉVERT





















[Bairro Livre]

Puz o boné na gaiola
saí com o pássaro na cabeça
E então
já não se faz continência
perguntou o comandante
Não
já não se faz continência
respondeu o pássaro
Ah bem
desculpe julguei que se fazia
disse o comandante
Não há de quê toda a gente pode enganar-se
Disse o pássaro

[Jacques Prévert, Bairro Livre, trad. Jorge de Sena]

SOLIDARIEDADE COM A FUNÇÃO PÚBLICA



"O Homem é um secular malvado, que, por perversão ou estupidez, construiu uma civilização de canibais, cem vezes mais malvada do que ele" [Gomes Leal]

A requintada hipocrisia com que alguns mencionam a Função Pública, ontem em greve por melhores condições de vida e qualidade de trabalho face a uma administração e gestão ruinosa, inoperante e incompetente que anos a fio a classe politica amamentou, pelos ditos assombrosos proferidos, na maior das soberbas e com entoações do mais profundo desprezo pela dignidade de quem trabalha, desvela bem os sinais dos tempos.

Dum lado os acólitos do neo-liberalismo balofo e de sacristia, para quem toda a perfeição reside na gestão privada, enquanto lá vão piscando os olhos aos amigos, entretidos a espoliar o Bem Público, fugindo aos impostos, praticando a corrupção moderna, com a eficácia e a produtividade conhecida. Outros, os ressaibiados que por fastio, acomodação servil e falta de qualificações técnico-profissionais foram atirados para a selva do mercado de trabalho, tão de agrado dos novos liberais, dobrados que lhes foram a espinha vertical, desatam em impropérios vários, quase sempre bem maledicentes e espumosos de servilismo e arrogância. Por fim aqueles que em papeletas avençadas, os opinativos serventuários dos seus donos bem amados, clamam com o dedo no ar contra a alimentação do monstro, bem sustentado que foi pelo cavaquismo nos tempos áureos do oásis e depois continuado em alegro folgazar pelos que lhe seguiram, burilam teorias orçamentais que fariam corar o Botas de Santa Comba.

A desorientação é evidente e total. Aliás é vê-los a dissertar sobre o vencimento dos assessores ministeriais (hi! Marques Mendes) e outros cérebros partidários, o pagamento da antiquíssima dívida da República ao poupado Jardim madeirense, o aumento e descontrolo das dívidas das autarquias locais a bem dos colegas de carteira, a qualidade técnica e profissional dos gestores públicos, ou das políticas de saúde e educação, para se entender de que se fala quando se fala de modo obstinado e boçal sobre as revindicações dos trabalhadores da Função Pública. Estamos disso crentes. [foto: Henri Cartier-Bresson, Bolsa de Londres, 1955

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

O JUDEU NO POLÍPTICO DE SÃO VICENTE


A Rua da Judiaria faz alusão aos Painéis do Museu das Janelas Verdes ou Políptico de São Vicente, identificando o homem gordo com um livro aberto, no Painel dito da Relíquia, como um judeu, e logo o famoso Isaac Abravanel.

Pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo.

Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. E a paixão que o debate suscita, com alguma violência diga-se e tragédia mesmo (exemplo disso foi o suicídio de Henrique Loureiro), sugere que se seja prudente nalgumas das "certezas" proferidas. Quer no que toca a execução dos Painéis para a Sé de Lisboa, às diferentes interpretações e significados esgrimidos (Tese Vicentina, Fernandina, esotérica, etc), quer ao reconhecimento das diferentes figuras aí representadas, o que conduz a dizer que se está ainda longe da sua inteira compreensão. Paradoxalmente, ou talvez não, os historiadores remetem-se a um prudente silêncio interpretativo.

De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V, astrólogo ["A Era Messiânica manifestar-se-á quando Saturno e Júpiter estiverem conjuntos no signo Peixes (particularmente influente no que respeita a Israel por ser signo água ...)", in Dicionário do Milénio Lusíada, de Manuel Gandra, referindo-se a Isaac Abravanel]. Curiosamente D. Afonso V era um interessado por alquimia, tendo ao que alguns dizem escrito um livro (julgo que só circula policopiado), denominado "Tratado Alquímico". Para uma consulta bibliográfica sobre a questão dos Painéis, aqui se deixa algumas referências:

Obras a consultar: Joaquim de Vasconcelos, Tábuas da Pintura Portuguesa do Século XV, in Comercio do Porto, 27/28 Junho de 1895 / José de Figueiredo, O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910 / Alfredo Leal, Os Painéis do Infante e a Obra do Sr. José de Figueiredo, Lisboa, 1917 / José Saraiva, Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925 / Affonso Dornelas, Os Painéis do Mosteiro de S. Vicente, Elementos para a sua Identificação, II vols, 1931 / Albino Lapa, História dos Painéis de Nuno Gonçalves, 1935 / Artur da Motta Alves, Os Painéis de S. Vicente num Códice da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936 / Georges Kaftal, Essai Iconographique sur Les Paneaux Atribués à Nuno Gonçalves, in Boletim dos Museus Nacionais, vol II, fas. 6, 1942 / Garcez Teixeira, O Significado dos Painéis de S. Vicente, Museu, vol. IV, 1945 / João Couto, Nuno Gonçalves, O Políptico de S. Vicente, Col. Museu, 1954 / Reynaldo dos Santos, Nuno Gonçalves, London, 1955 / Adriano de Gusmão, O Nuno Gonçalves da Phaidon – Erros, Omissões e Plágios, Eur. Amer., 1956 / Adriano de Gusmão, Nuno Gonçalves, Colecção saber, 1957 / António Belard da Fonseca, O Judeu, o seu Livro e a Crítica, 1958 / Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História, nº 37, São Paulo, 1959 / Armando Vieira Santos, Os Painéis de São Vicente de Fora, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis as Personagens e a Armaria, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis, IV vols, 1959-1967 / António Belard da Fonseca, Dom Henrique? Dom Duarte? Dom Pedro?, Lisboa, 1960 / António Manuel Gonçalves, Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, Museu, 1960 / Jorge de Sena, Os Painéis ditos de 'Nuno Gonçalves', in Revista Ocidente, nº 305/306, 1963 / José dos Santos Carvalho, Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, 1965 / Charles Sterling, Les panneaux de Saint Vicent e leurs Enigmes, in Revue d’Art, nº 159, 1968 / Jaime Cortesão, "A Historia dos Painéis de S. Vicente", in Historia dos Descobrimentos Portugueses, Circulo de Leitores, 1979 / José Luís Conceição Silva, Os Painéis do Museu das Janelas Verdes, Guimarães, 1981 / Jorge Segurado, Painéis de S. Vicente e Infante Santo, Ed. Noticias, 1984 / Paula Freitas & M. Jesus Gonçalves, Painéis de S. Vicente de Fora uma questão inútil?, 1987 / Dagoberto L. Mark, O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, Caminho, 1988 / Theresa Schedel de Castello Branco, Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, 1994

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

AUGUST STRINDBERG [1849-1912]



n. em Estocolmo, a 22 de Janeiro de 1849

"Sinto-me melhor porque li Strindberg. E não o li por ler, antes porque desejava aninhar-me contra o seu peito. Agarra em mim com o braço esquerdo, como se eu fosse uma criança, e ali fico feito homem sentado numa estátua. Dez vezes senti o perigo de cair mas à décima primeira instalei-me solidamente. À minha frente segurança e uma vasta perspectiva ... Enorme Strindberg, essa raiva, essas paginas conquistadas a murro ..." [F. Kafka, in August Strindberg, Inferno, Edições &etc, 1978]

"... Só completamente só, janto no quarto e como tão pouco que o empregado solícito fica penalizado. Há uma semana que não dou palavra e, por falta de exercício, o som da minha voz começa a sumir-se. Não tenho tostão. Preciso de cigarros e selos. Num esforço supremo concentro a minha vontade. Quero fazer ouro pela via seca e pelo fogo. Dinheiro há-de arranjar-se, as muflas, os cadinhos, as brasas, o fole, as pinças (...)

O inferno? Fui educado no mais profundo desprezo pelo inferno. Ensinaram-me que não passava de fantasia a rejeitar para a lista dos preconceitos. A verdade, porém, é que não posso negar a novidade que agora encontro na interpretação das penas ditas eternas. Já nos encontramos no inferno. A terra é o inferno, prisão construída por uma inteligência superior, de forma tal que não podemos dar um passo sem ferir a felicidade alheia e os outros não podem ser felizes sem nos fazer sofrer..." [August Strindberg, ibidem]

Locais: August Strindberg / August Strindberg (1849 - 1912) / August Strindberg (Life and work) / (Johan) August Strindberg (1849-1912) / Strindbergs unofficial Homepage / August Strindberg Interviews Himself / Strindberg the Fertile (1963) / O Catecismo Radical de Strindberg / A Ciência Política e o teatro Intimista de A. Strindberg

À VOLTA DOS BLOGS & CIA



* João Oliveira dá missiva no seu blog sobre a produção da comunidade bloguística da zona de Aveiro * Sous les pavés, la plage - o regresso em versão blog de alguns dos fazedores do saudoso projecto Zona Non. De novo Coimbra e os seus encantamentos. Bem-vindos Rui Bebiano, Tiago Barbosa Ribeiro, Tó Lopes e Carlos Osório * Fernando Pinto Amaral, Nuno Júdice, Mário de Carvalho, Hélia Correia, Francisco José Viegas, Mia Couto, os rostos da escrita postados pela Silvana da Costa no Cometas * Regresso do Outro Eu, cada vez mais prendado e de merecida estimação. Transmissível ... sempre! * O Princípio da Atracção de Teresa Direitinho, ou o amor à luz da Ciência como nos foi indicado por um amigo. A ler, evidentemente. * Para leedores caprichosos, eis que saiu o número de Janeiro 2004 da Revista de Cultura Agulha: Ciência e surrealismo de Estela Guedes; Heidegger e Artaud: o percurso da angústia, por Wilson Coelho; Picasso versus Duchamp e a crise da arte atual, por Alberto Beutenmuller; Poesia Completa, de Cecília Meireles: a edição do centenário, por Antonio Carlos Secchin; Saramago e Drummond: o verdadeiro senhor dos arquivos, por Maurício Matos; Surrealismo e marxismo? por Claudio Willer; desenhos de Júlio Resende.

Nota: O Rio já corre. O venerável escriba do blog sem mancha e patriarca do Correio da Manhã, jornal para intelectuais debutantes ou espaço lúdico fogoso e subtil para seguir o bem e afugentar o mal, esta de volta. Com ditos sentenciosos, espirituais & morais, deu à estampa uma prudentíssima posta, bem esgalhada por sinal, que perdura entre um relato de futebol a João Marcelino e uma vigorosa discursata Bushiana, varrendo sem empacho as postumeiras dissertações do terrível Sousa Tavares. Na verdade "pretium laborum non vile". Evidentemente.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

GEORGE ORWELL [1903-1950]



Morre a 21 de Janeiro de 1950

"A essência da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas do produto do trabalho humano. A guerra prefigura a forma ideal de despedaçar, de lançar na estratosfera ou de afundar nos abismos marítimos produtos que, de outro modo, poderiam servir para dar às massas um conforto excessivo, e por conseguinte, a longo prazo, torná-las extremamente lúcidas. Mesmo que o armamento não chegue a ser de facto destruído, o seu fabrico, ainda assim, ocupa, na prática, forças de trabalho sem nada produzir que possa ser consumido.Se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela".

[George Orwell, 1984]

VÍTOR CONSTÂNCIO: UM FUNCIONÁRIO ZELOSO


A entrevista dada pelo Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, à RR e abundantemente divulgada pelos media é exemplar. As suas previsões optimistas sobre a economia portuguesa, atiradas do alto do Banco de Portugal sobre as nossas cabeças malabrutas, fazem a delícia dos analistas económicos, sobretudo daqueles que frequentam a gamela do aparelho de estado ou correm às sua migalhas, mas não são perceptíveis a partir das magras bolsas das famílias portuguesas e da miséria da sua situação económica e financeira, nem sequer do ponto de vista da ciência económica pode tal ser entendido.

Afinal, desconhece-se os fundamentos macroeconómicos com que se baseia o insigne economista, agora impulsionado como altar iluminante pela governação, para tais inauditas previsões e demais bênções à política orçamental.

Compreende-se o esmero de Vítor Constâncio. Funcionário zeloso e irrepreensível do Banco Central Europeu, a politica fundamentalista dos seus patrões não pode ser posta em causa. O controle da inflação como única variável explicativa dessa abencerragem do pacto de estabilidade não o incomoda nada. Nem os efeitos que tal máxima de estabilidade comporta na frágil economia portuguesa, sequer o atrapalham. Fica, sim, extasiado em discursos à volta da teoria dos ciclos económicos, esquecendo o que sobre eles foi dito por Robert Lucas, numa vaidade irritada e irritante à boa maneira de Mr. Jekyll & Mr. Hide. Dizem que é socialista. É possível que sim, não sabemos. Porém, pode crer que o seu nome ficará, independentemente do lugar que ocupa e da sua função, irremediavelmente ligado a um dos ciclos mais nefastos da economia portuguesa. Para bem ou para o mal.

CATÁLOGO Nº 80 DO LIVREIRO ALFARRABISTA MARTINHO


Saiu o Catálogo 80 do Livreiro Alfarrabista Martinho [Outeirinho do Mirante, 5, Lisboa] com livros esgotados, alguns raros e a preços convidativos.

Algumas referências: Álbum de Pensamentos, Máximas, etc, por Francisco Pimentel Carvalho, 1901 / Auxiliar do Ferroviário, por Jorge F. Teixeira, Lisboa, 1929 / Coimbra e António Nobre Homenagem ao Poeta, Coimbra, 1940 / Documentos para a História da Universidade de Coimbra (1750-1772), Coimbra, 1959 / Fel, de José Duro, 1898 / Elogio Histórico de Anselmo José Braamcamp, Porto, 1887 / A Memoria das Palavras ou o Gosto de Falar de Mim, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1966 / O Mundo dos Outros-Histórias e Vagabundagens, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1969 / Aldeia Nova, por Manuel da Fonseca, Ed. Forja, 1975 / Inventario da Criação dos Expostos do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia, Lisboa, 1998 / Memorias Extraordinárias do major Calafaia, Páginas Desconhecidas, por Reinaldo Ferreira (Repórter X), Lisboa, 1945 / Os Lusíadas de Luís de Camões, Edição Comemorativa do IV Centenário da Publicação, 1972 / A Confissão de Lúcio, por Mário Sá-Carneiro, Edição do Autor, 1914 (raro) / As Portas que Abril Abriu, de José Carlos Ary dos Santos / Tarrafal Testemunhos – Trabalho Colectivo de Sobreviventes do Tarrafal, Editorial Caminho, 1978 / O Senhor Ventura, de Miguel Torga, Coimbra, 1943 / Traços de União - Temas Portugueses e Brasileiros, por Miguel Torga, 1955 / Relance da Alma Japonesa, de Wenceslau de Moraes, 1925

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

EDGAR ALLAN POE [1809-1849]



n. em Boston a 19 de Janeiro de 1809

"'Rancores literários, vertigens do infinito, cuidados familiares, insultos da miséria - diz Baudelaire - tudo Poe sepultava na negrura da embriaguez; bebia não como quem é guloso, mas como quem é bárbaro'

Em Nova Iorque, exactamente na mesma manhã que a revista «Whig» publicava O Corvo, ao mesmo tempo que o nome de Poe passava a andar nas bocas de toda a gente, sendo o poema mais que disputado, ele deambulava pela Broadway a bater às portas e a estrebuchar. Uma tal quantidade de contradições bastaria para não ser preciso ir mais à frente falando de humor: umas vezes ele nasce do choque entre as suas faculdades lógicas fora do normal, a alta estatura intelectual e o brumoso espírito do vinho (O Anjo Bizarro); outras vezes vê-se tenebrosamente nascer nas inconsequências e contradições da condição humana pressentidas em alguns estados mórbidos (O Demónio da Perversidade)" [Edgar Allan Poe, in Antologia do Humor Negro, de André Breton, Fernando Ribeiro de Mello/ Afrodite, 1973]

Locais: Edgar Allan Poe / Index to the Edgar A. Poe Biography / The Edgar Allan Poe Society of Baltimore / E. A. Poe / Allan Poe (Biografia) / Allan Poe Website / The Works of Edgar Allan Poe / Os Espectros de Edgar Allan Poe / O Corvo (trad. Fernando Pessoa) / Edgar Allan Poe (Obras)

IN MEMORIAM DE ARY DOS SANTOS [1937-1984]





"Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
O cerne do silêncio
"

[José Carlos Ary dos Santos, in A Luxúria, 1968]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (XIX)



* Loja Pátria e Caridade (1852) - O Conimbricense refere que "depois de estabelecida a Sociedade de Instrução dos Operários, lutava esta por falta de meios para sustentar as aulas nocturnas". Assim, entenderam alguns dos fundadores da Sociedade, criar uma Loja Maçónica com o fim de conseguir meios para tal fim. Nos primeiros dias de Outubro de 1852, chega a Coimbra o académico Francisco das Neves Castanheira (Ir. Fuas Roupinho) com a necessária autorização para a fundação da Loja. Após uma reunião inicial numa casa da Rua do Poço, reuniram-se numa casa da Rua dos Grilos, pegada com o Jardim do Colégio de Santa Rita, e onde habitava o académico José Affonso Coelho, a Loja Pátria e Caridade. Dado a adesão verificada teve-se que mudar as instalações para o Colégio da Trindade. Pertenciam à Loja, na qual era Ven. Fillpipe de Quental, Francisco das Neves Castanheira, Manoel José da Fonseca (Ir. Robespierre), José Affonso Botelho, Henrique de Castro, Carlos Pacheco Bettencourt (Ir. Lafayette), José Bernardes Galinha, Augusto Pinto Tavares, Manoel Ignacio do Canto Ramos, António José da Silva Poiares, Joaquim Rodrigues de Andrade (Ir. Annibal), José Joaquim Ferreira, João de Brito Furtado de Mendonça, Amaro Affonso de Moura, Padre João Manoel Cardoso e Nápoles (Ir. Bailly), Joaquim Martins de Carvalho (Ir. Lamartine), Padre Luiz Caetano Lobo, etc. Deixou de se reunir depois de Junho de 1853. [in, Conimbricense, 1905]

* Associação Agrícola dos Campos de Coimbra (1853) [ibidem]

* Sociedade dos Operários do Theatro da Graça (1853) [ibidem]

* Choça Kossut (1853) - O Conimbricense refere que, de novo sob os auspícios do Padre António de Jesus da Costa, foi de novo organizado a Carbonária na cidade de Coimbra. Assim, em 1853 funcionava uma Choça com o título Kossut, de que foi eleito presidente Abílio Roque de Sá Barreto. Mas foi breve a sua existência e não teve seguimento. [ibidem]

domingo, 18 de janeiro de 2004

RUBÉN DARÍO [1867-1916]



n. a 18 de Janeiro de 1867 [Nicarágua]

"Todo lo renovó Darío: la materia, el vocabulario, la métrica, la magia peculiar de ciertas palabras, la sensibilidad del poeta y de sus lectores. Su labor no ha cesado ni cesará. Quienes alguna vez lo combatimos comprendemos hoy que lo continuamos. Lo podemos llamar libertador." [Jorge Luis Borges]

"El lugar de Darío es central, inclusive si se cree, como yo creo, que es el menos actual de los grandes modernistas. No es una influencia viva sino un término de referencia: un punto de partida o de llegada, un límite que hay que alcanzar o traspasar. Ser o no ser como él: de ambas maneras Darío está presente en el espíritu de los poetas contemporáneos. Es el fundador". [Octavio Paz]

Locais: Biografia / Rubén Darío (1867-1916) / Bibliografía / Dariana / Poemas / Museu Archivo Ruben Dário / Rubén Darío en la Biblioteca Nacional de Chile

"Dichoso el árbol, que es apenas sensitivo,
y más la piedra dura porque esa ya no siente,
pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,
ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

Ser y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
y el temor de haber sido y un futuro terror...
Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
y sufrir por la vida y por la sombra y por

lo que no conocemos y apenas sospechamos,
y la carne que tienta con sus frescos racimos,
y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,
y no saber adónde vamos,
ni de dónde venimos!..."

(Rubén Darío, Lo Fatal]

LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN [1743-1803]



n. a 18 de Janeiro de 1743

"Não temos deveres senão um - respeitar a integridade da personalidade humana, a nossa como a alheia. Isto quer dizer trez coisas: (1) para os fins fundamentaes da nossa vida, dispensar todo o auxilio alheio; (2) para os fins quotidianos da nossa vida, estabelecer uma exacta reciprocidade com os outros; (3) para as circunstancias da vida que são extranhas a uma cousa e outra, subordinar-nos à regra do ambiente, visto que ella nos não attinge (...) Estas trez grandes regras da vida superior, resumiu-as Saint Martin, servindo-se de um aspecto da formula dos Rosa Cruz, na phrase Liberdade, Egualdade, Fraternidade - independência dos outros (Liberdade) na vida superior e intima; reciprocidade com os outros (Egualdade) na vida normal que serve de base material a essa vida superior; conformação com os outros (F) nos phenomenos exteriores e insignificantes da vida [Fernando Pessoa 54-76 (dt), in Fernando Pessoa, Rosea Cruz, dir. Pedro Teixeira da Mota, Edições Manuel Lencastre, 1989]

Locais: Biografia / Louis Claude de Saint-Martin / Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) / Saint-Martin / Ecce Homo / O Filósofo Desconhecido / Louis-Claude de Saint-Martin and the Supérieurs Inconnus / Le Livre Rouge

CATÁLOGO Nº 205 DA LIVRARIA ACADÉMICA


Saiu esta semana o Catálogo 205 da Livraria Académica, de Nuno Canavez (Porto), podendo ser consultado na sua homepage. De consulta obrigatória, enquanto outros catálogos em breve estarão disponíveis, entre os quais o correspondente ao leilão da segunda parte da Livraria de Luiz Forjaz Trigueiros, a cargo de José Manuel Rodrigues.

Algumas referências: Dia do Mar, de Sophia M. Breyner Andresen, 1947 / O Castelo de Monsanto, por Guilhermino Augusto de Barros, 1879 (II vols) / MANUSCRITO alusivo ao teatro, escrito num álbum e datado de Lisboa (24/01/1950) de 28x20 cm, de Raul de Carvalho / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra, no Tempo da Invasão dos Denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1771 / Aquela Voz, de Alexandre da Conceição (Poema manuscrito, datado de Coimbra, 23 de Nov. 1881, 35x27 cm. O autor, natural de Ílhavo, foi fundador da Revista A Revolução (1877) e polemizou com Camilo tomando partido pela escola realista) / Os Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, Arcádia, II vols / Carta Manuscrita de Liberto Cruz (c/ 2 pags A4, datada de Rennes 1969 e dirigida ao escritor Serafim Ferreira) / Estatutos da Universidade de Coimbra, Lisboa, 1772, III vols / Longe, por José Gomes Ferreira, Lisboa, 1921 (2º livro do autor) / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et all, Ed. Primeiro de Janeiro, 1943 (II vols) / Gazeta Literária, Editor e Director Mário do Amaral (nº 1 Set. 1952 a nº 76 Dez. 1961) / Portugal Antigo e Moderno, por Pinho Leal, 1873, 12 vols / Mappa Genealogico, Histórico, Chronologico, Diplomático e Litterario do Reino de Portugal e Seus Domínios Antigos e Actuaes (s/d, sec. XIX, 1,10x75 cm) / Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1792-1856, 8 vols / Carta Manuscrita de António Luís Moita a Serafim Ferreira, de 11 de Nov. 1970 (s/ a homenagem a Irene Lisboa) / Mundo Ilustrado, Revista semanal, dir. Eduardo Pimenta e Marques Abreu (nº 1, 7 Abril 1912 a nº 26, 29 de Set. 1912) / Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel,Coimbra, 1797, 5 vols / In Memoriam de José Régio, 1970 / Anno Histórico Diário Portuguez, Noticia Abreviada de Pessoas Grandes e Cousas Notáveis de Portugal ..., por Francisco de S. Maria, 1744, 3 vols / Dispersão de Mário de Sá-Carneiro, Coimbra, 1939 / Evolução do Culto de Dona Isabel de Aragão ..., por A. G. Ribeiro de Vasconcelos, 1915

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

SER O QUE NÃO É



Na sequência do que Luís Carmelo refere em "Tragédia de um Esquecimento", a propósito da alusão da Rua da Judiaria sobre os "350 anos "sobre a chegada dos primeiros emigrantes judeus à colónia holandesa de Nova Amsterdão", é possível a partir do pensamento de Miguel Real (que cita), na sua obra "Portugal Ser e Representação" (Difel, 1998), ter em apreço aquilo que Miguel Real denomina como "tentativa de encontrar uma forma corporis do povo português", afinal uma demanda da característica dominante do português, e que configuraria um "ser o que não é" ou "estar onde não está", e que pode, de algum modo, levemente contribuir para as interrogações sugeridas no belíssimo texto de Luís Carmelo.

Assim, a partir de diferentes contributos - de Teixeira de Pascoaes a Eduardo Lourenço; de Agostinho da Silva a A. José Saraiva, ou com referências a autores como Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, Antero, Dalila Pereira da Costa, António Vieira, Marcello Duarte Mathias, António Telmo, Pinharanda Gomes, etc - o autor de Portugal Ser e Representação refere os seguintes "traços":

- "habita-nos ... uma funda religiosidade, expressão actual de setecentos anos de domínio quase absoluto de códigos religiosos de comportamento, âncora histórica de uma cosmovisão bíblica que inundou a mentalidade cultural portuguesa até ao século XVIII. (...) O excesso desta visão religiosa portuguesa, ou talvez, a sua condensação numa ideologia, originou o messianismo providencialista português, a que nenhum grande autor nacional foi imune, pela positiva ou negativa ..." (pag. 181- 183)

- existência de uma "característica profundamente emotiva, apaixonada, sentimental, do comportamento dos portugueses em detrimento de uma visão racionalista, calculista, programada, técnica e cientifica da vida". Como consequência daí resultante: "ausência de um corpo coeso de obras cientificas e filosóficas; ausência de um espírito técnico e tecnológico de envergadura; predominância de uma mentalidade lírico-emocional que tem atravessado toda a nossa literatura" (pag. 184)

- "estar onde não se está" (...) Esta característica tem permitido ao português uma errância mental e física, ou, talvez melhor, uma plurivalência entre o que de facto é as mascaras ou as imagens por que se disfarça ora um jubilo se si, ora numa humilhação rendida, isto é, tem permitido ao português ser o que não é: religioso, mas herético; ortodoxo, mas heterodoxo (toda a filosofia portuguesa religiosa desde o sec. XIX); emigrante, mas não colonizador (miscegenização); aventureiro, mas radicado (...); pobre, mas generoso (comunitarismo); culturalmente atrasado, mas crente que possui um destino vanguardista (messianismo)" (pag. 185-186)

Concorde-se ou não com o autor, a obra é demasiado estimulante para passar despercebida, por isso aqui fica a sugestão da sua leitura.

VITTORIO ALFIERI [1749-1803]



n. a 16 de Janeiro de 1749

"... [Vittorio Alfieri] andou vagueando pela Europa, irrequieto, insatisfeito, dedicado à paixão do jogo e dos cavalos, e às mulheres, adquirindo ao mesmo tempo a experiência dos homens de das coisas: conheceu o continente desde a Rússia a Portugal, até que a leitura ouvida, em Lisboa, duma canção eloquente (a Alfa fortuna) do seiscentista Guidi, pelo amigo Tomaso di Caluso, lhe deu a consciência do seu destino de poeta" [Giuseppe Carlo Rossi, Breve História da Literatura Italiana, Cosmos, 115-116, dir. de Bento Jesus Caraça, 1946]

"[A Merope de Maffei teve como tradutor português Cândido Lusitano, que antepôs à versão (de 1751; conserva-se inédita em Évora) um longo prefácio, em que chama "talvez a melhor tragédia que tenha aparecido em teatro", e "fonte do verdadeiro bom gosto da poesia dramática". Há notícia de duas traduções brasileiras que também ficaram inéditas. Na tragédia de Maffei inspirou-se Garrett para a sua Mérope, como está narrado no prefácio desta útima; e tem relações com ela a Sofonisba espanhola de Zorrilla ..." [ibidem, pag. 193]

"... Foi português o primeiro amigo de Alfieri, confidente das suas ânsias amorosas e seu incitador ao estudo: D. José da Cunha, ministro em Haia. A obra alfieriana foi muito lida e traduzida em português. Familiarizou-se muito com ela, e dela se valeu para incitar os seus compatriotas às ideias da liberdade, o revalizador do teatro nacional, e editor de Gil Vicente, o então homiziado político J. V. Barreto Feio, que traduziu Orestes e os dois tratados literário-políticos fundamentais Del principe e delle lettere e Della tirannide... [ibidem]

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