segunda-feira, 23 de junho de 2003
MACHADO DE ASSIS
«Ah! indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da Terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afectos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.»
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
DO PRINCÍPIO DA REALIDADE AO PRINCÍPIO DO PRAZER
«(…) seria interessante ler blogues de outros cientistas sociais como António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, não?» [JN, Socio[B]logue]
Acabo de ler no blog de João Nogueira, um curioso exercício laudatório ao blogar enquanto um noviciado espaço sociológico a não perder, que permitiria o construído de uma nova «gramática» discursiva a partir dos espaços ou dos interstícios presentes na blogosfera. Está, assim, assumido que os blogs (e a sua sedução) podem ser um campus de analise «cientificamente analisável», novo investimento sociológico que, a partir de registos conceptuais de rigor, possa aceder aos liames de uma problemática sociológica dita interessante. Daí que João Nogueira acredite, piedosamente, que a overdose de blogs caída sobre as nossas cabeças, permita que os cientistas do social deixem a parcimónia dos seus maples escolásticos, saiam do seu altar iluminado e iluminante, e corram para a desconstrução do real e do seu simulacro.
Mas nós tememos que esta nova comunicabilidade, expurgada da «ideologia dos dons» escolásticos que os cientistas sociais interiorizariam, levaria ao abando da constante acção de controlo social disciplinar, onde a confusão entre o trabalho curricular e não-curricular surgiria, o que seria manifestamente perigoso e, logo, de pouca aceitabilidade.
É evidente que blogs de António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, seriam «socialmente úteis» e espaços conversáveis por excelência. Mas a questão é bem outra: porque razão os docentes universitários portugueses e as Universidades em geral, manifestam o mais completo desprezo pela utilização das novas tecnologias de informação, sendo raro encontrar páginas (ou blogs) sobre os seus docentes e os seus trabalhos académicos? O que no estrangeiro é absolutamente normal, por cá, a resistência aos novos modelos comunicacionais que as NPI permitem é elucidativo da não aceitação desse novo «espaço público», ou nova Àgora (Lídia da Silva, U.A.). E, assim, é de louvar essa «moral de prazer» que, ao comportar riscos vários e muitas vezes «iniciações» conflituosas, alguns bloguistas como JPP, JN, FJV, NM, VA, bem como os nossos jornalistas bloguistas, souberam defender, sem submissões.
Ou como diria René Char, é verdade que «o desejo de saber, é sempre o desejo de saber sobre o desejo».
Acabo de ler no blog de João Nogueira, um curioso exercício laudatório ao blogar enquanto um noviciado espaço sociológico a não perder, que permitiria o construído de uma nova «gramática» discursiva a partir dos espaços ou dos interstícios presentes na blogosfera. Está, assim, assumido que os blogs (e a sua sedução) podem ser um campus de analise «cientificamente analisável», novo investimento sociológico que, a partir de registos conceptuais de rigor, possa aceder aos liames de uma problemática sociológica dita interessante. Daí que João Nogueira acredite, piedosamente, que a overdose de blogs caída sobre as nossas cabeças, permita que os cientistas do social deixem a parcimónia dos seus maples escolásticos, saiam do seu altar iluminado e iluminante, e corram para a desconstrução do real e do seu simulacro.
Mas nós tememos que esta nova comunicabilidade, expurgada da «ideologia dos dons» escolásticos que os cientistas sociais interiorizariam, levaria ao abando da constante acção de controlo social disciplinar, onde a confusão entre o trabalho curricular e não-curricular surgiria, o que seria manifestamente perigoso e, logo, de pouca aceitabilidade.
É evidente que blogs de António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, seriam «socialmente úteis» e espaços conversáveis por excelência. Mas a questão é bem outra: porque razão os docentes universitários portugueses e as Universidades em geral, manifestam o mais completo desprezo pela utilização das novas tecnologias de informação, sendo raro encontrar páginas (ou blogs) sobre os seus docentes e os seus trabalhos académicos? O que no estrangeiro é absolutamente normal, por cá, a resistência aos novos modelos comunicacionais que as NPI permitem é elucidativo da não aceitação desse novo «espaço público», ou nova Àgora (Lídia da Silva, U.A.). E, assim, é de louvar essa «moral de prazer» que, ao comportar riscos vários e muitas vezes «iniciações» conflituosas, alguns bloguistas como JPP, JN, FJV, NM, VA, bem como os nossos jornalistas bloguistas, souberam defender, sem submissões.
Ou como diria René Char, é verdade que «o desejo de saber, é sempre o desejo de saber sobre o desejo».
CURTOS
- «Ó Pacheco, vá escrever o blog» [JM, in Flashback, TSF]. José Magalhães no seu melhor.
- «Se houvesse leis sobre a matéria e eu pudesse legislar, os "blogues" existiam, mas tinham esta reserva legal: a eles só deveriam ter acesso os que, pelas mais diversas razões, não têm espaço próprio nos meios de comunicação. Ponto final. Nessa medida, fazem sentido os "blogues" de gente anónima e cheia de raiva para destilar (…)» [PRD, DNA]
Expiação de um jornalista mestre-escola. Leu Pedro Oom e disse: «Espreitei na fechadura dos horizontes e o que eu julgava ser vácuo e raiva emplumada mostrou-se-me coalhado de cogumelos e de lagartos». Está bem!
- «Se houvesse leis sobre a matéria e eu pudesse legislar, os "blogues" existiam, mas tinham esta reserva legal: a eles só deveriam ter acesso os que, pelas mais diversas razões, não têm espaço próprio nos meios de comunicação. Ponto final. Nessa medida, fazem sentido os "blogues" de gente anónima e cheia de raiva para destilar (…)» [PRD, DNA]
Expiação de um jornalista mestre-escola. Leu Pedro Oom e disse: «Espreitei na fechadura dos horizontes e o que eu julgava ser vácuo e raiva emplumada mostrou-se-me coalhado de cogumelos e de lagartos». Está bem!
A BD CHEGOU À BLOGOSFERA PORTUGUESA
Aqui: Saudações ao Beco das Imagens.
«Há no exercício do poder um momento particularmente bem conseguido, quando um indivíduo se submete aos desejos dos outros, não apenas com espontaneidade mas também com uma sensação de virtude. O momento mais sublime é quando o indivíduo não mais se apercebe que é comandado»
[Rasputine, in Corto Maltese, A Casa Dourada de Samarcanda]
domingo, 22 de junho de 2003
A TORNEIRA
DUELO PRECISA-SE
A vida está perigosa, trivial de banalidades e de calúnias. Alguns sermões recitados na paróquia de Portugal, remetem não para um tratado da raiva, mas para um regresso do famoso e antiquado duelo, que à espadeirada, à pistola ou à faca, reponha a honra em moldes ritualistas, como a tradição exigia. Disso tive conta, lendo um texto de Mário Matos e Lemos, «O duelo em Portugal depois da implantação da República», publicado na Revista de História das Ideias, da FLUC, em 1993. E já antevia o duelar de alguns indígenas da nossa praça, se por acaso estivéssemos no principio do século XX e se o duelo como instituição social não tivesse fracassado. Pensando melhor, ter-se-ia que acreditar que os ofendidos aceitavam a afirmação de Bruneau de Laborie, que «o duelo só é admissível entre iguais [op.cit.]» , o que não nos parece que batesse certo. Depois sempre se poderia consultar a Acta de Carência, onde se poderia observar como foi dirimido a pendência, e resolvida a ofensa dos seus constituintes.
De referir que há literatura sobre esta matéria, seguindo-se os «códigos de honra franceses» como se esperaria. Assim, cite-se alguns retirados do texto de Mário Matos e Lemos, acima referido: Les Lois du Duel (Bruneau de Laborie, 1908); Regras do Duelo de 1901 (tradução de Conseils pour les Duels); O duelo em Portugal no sé. XIX e ínicios de sec. XX …(H. de Fátima Morais Almeida, 1989); Eu e o Visconde de Pedralva ou História documental de dois duelos fantásticos (João Terenas Júnior, 1914); Uma Pendência Célebre (António José de Almeida e Alfredo Pimenta, 1914).
Ora, seria curioso antever os intervenientes para duelar, face aos impropérios e ódios de estimação conhecidos. Avanço desde já com alguns:
- Martins da Cruz em 3 assaltos com sabre, perante Seixas Santos
- Eduardo Prado Coelho a esgrimir com Vasco Pulido Valente
- António Manuel Baptista em duelo com Boaventura Sousa Santos
- Eduardo Cintra Torres versus António Pedro de Vasconcelos
- Morais Sarmento à espada com Emílio Rangel
- Marcelo Rebelo Sousa à pistola com Santana Lopes
- Augusto Seabra desafiando José Manuel Fernandes
- João Pereira Coutinho exigindo satisfação a Daniel Oliveira
- Paulo Portas em duelo contínuo com um ror de gente da esquerda, da direita e do centro, cidadãos anónimos, funcionários públicos, peixeiras, feirantes, GNR e tropa vária.
sábado, 21 de junho de 2003
AMÉRICA
IRAQUE SEM FIM À VISTA
Continua a confusão no Iraque sem se saber bem o que se passa e como sair do pântano que os americanos e seus amigos criaram. Todos os dias as informações são preocupantes e já se assiste a um cansaço e frustração enorme entre as tropas americanas, que não sabem o que estão a fazer naquele país. Diz um sargento ao Wasghinton Post
«“What are we getting into here?" asked a sergeant with the U.S. Army's 4th Infantry Division who is stationed near Baqubah, a city 30 miles northeast of Baghdad. "The war is supposed to be over, but every day we hear of another soldier getting killed. Is it worth it? Saddam isn't in power anymore. The locals want us to leave. Why are we still here?”»
Questão: que irá fazer a GNR portuguesa para o Iraque? Que actuação se pretende que tenha? Quem comanda e como? Que meios dispõe para o efeito? Missão humanitária (quem disse), será?
«“What are we getting into here?" asked a sergeant with the U.S. Army's 4th Infantry Division who is stationed near Baqubah, a city 30 miles northeast of Baghdad. "The war is supposed to be over, but every day we hear of another soldier getting killed. Is it worth it? Saddam isn't in power anymore. The locals want us to leave. Why are we still here?”»
Questão: que irá fazer a GNR portuguesa para o Iraque? Que actuação se pretende que tenha? Quem comanda e como? Que meios dispõe para o efeito? Missão humanitária (quem disse), será?
BIBLIOTECA NACIONAL
A página on line da Biblioteca Nacional está excelente. Ficamos surpreendidos pelo trabalho desenvolvido. Não sei se repararam, mas está disponível para leitura um conjunto de livros e documentos digitalizados, que dificilmente se encontram, mesmo em antiquários alfarrabistas. Considerado como um «núcleo fundamental» da actividade da Biblioteca (helás, que pelo menos a modernidade está a passar por aqui), a série «Memórias» - da memória da ciência, da educação, da língua, da literatura, do livro e da música – apresenta uma já sugestiva listagem de obras para consulta, que coloca a Biblioteca Nacional numa invejável posição face às suas congéneres.
Refira-se a Memória do livro que apresenta alguns «”marcos estruturantes” do nosso conhecimento: as Fontes da memória historiográfica do livro em Portugal, desde os finais do século XV ao século XVIII». Da tipografia ao coleccionismo, pode-se ler os velhos textos de Ribeiro Santos, Gomes de Brito, Xavier da Cunha, Sousa Viterbo. Ou conhecer o Boletim de Bibliographia Portugueza de Annibal Fernandes Thomaz, Bibliografia das Bibliografias Portuguesas, de António Joaquim Anselmo e mesmo os Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, todos estimados e bastante invulgares, de consulta obrigatória. Não há palavras para tamanha felicidade.
sexta-feira, 20 de junho de 2003
XADREZ OU BRIDGE, EIS A QUESTÃO
Afinal, que seriam as nossas vidas sem um joguinho de bridge ou xadrez? Nestas noites sem dormir nocturno, sem vivalma pela frente, temos de recorrer ao Ok Bridge ou, mesmo ao velho e brioso Yahoo. Hoje não há tempo a perder. Calmas são as noites ...
Pequena anotação em torno do xadrez:
"O xadrez é uma linda amante, a quem voltamos uma e outra vez, sem que nos importe as muitas vezes em que nos rechaça."
(GM. B. Larsen)
"No xadrez, como na vida, a melhor jogada é sempre a que é realizada"
(S. Tarrasch)
"No xadrez, o vencedor é quem faz a jogada seguinte ao último erro."
(S. Tartakower)
quinta-feira, 19 de junho de 2003
A BELEZA
A beleza está na recusa. Todavia a musa está
na beleza. Assim a beleza está na tusa. A tusa,
porém, está na musa. Ora a recusa está na tereza.
[in, O Z de Leibniz, Vasco Sérlei (Vasco Santos ?), Fenda, Coimbra, 1985]
na beleza. Assim a beleza está na tusa. A tusa,
porém, está na musa. Ora a recusa está na tereza.
[in, O Z de Leibniz, Vasco Sérlei (Vasco Santos ?), Fenda, Coimbra, 1985]
À VOLTA DOS BLOGS
Continuamos a tomar nota dos blogues, que o esforço permite. De repente, sem avisar, regressa o Pedro Mexia (espera-se que sem a poesis costumeira) e irrompe Francisco José Viegas, o que levou a minha tribo a dar gritos de contentamento (o poder das mulheres é cada dia mais complicado). Nós temos, há que dizê-lo, um misto de amor/ódio pelo Mexia. Mexe-se bem (dizem as más línguas, claro), satiriza com elevação, é bestialmente conhecido no DNA, dá conferências em grupo, fragmentos ensaísticos em linguagem pura e elegante, escreve despudoradamente bem. Veio só, ou abrindo caminho com a eloquência e o manual de etiqueta no bolso. Como somos leitores encartados, pode crer que não perdemos uma.
De Aviz, Francisco. Sempre foi, cá em casa, de grande estimação. A revista Ler foi (é) inolvidável. Corremos logo para a estante, para sacar o “Lourenço Marques”, ainda não lido, nem sequer à la Marcelo, diagonalmente. Mas agora temos Francisco à tecla. E não esqueceremos.
O "P.S" DE HENRIQUE MONTEIRO
Postou n’O Expresso com o título de «Cassandras» o conhecido Henrique Monteiro. Sabe-se que nutrimos toda a amizade pelo colunista. Tamanha é a perfeição do escriba, tal engenho e língua propaga, que ficamos com azia de tamanha perfeição. Agora nestas Cassandras bucólicas em favor do senhor Bush, modelo generoso aos neoconservadore lusitanos, é que ficou mal aquele P.S. final. Passo a citar:
«P.S. - Há que dizer claramente que no prato da balança contra Bush pesa cada vez mais a insuportável situação dos prisioneiros de Guantánamo. Passou mais do que tempo para que aquela situação não possa ser referida como mera decorrência da guerra do Afeganistão».
Não pode! Considerar cada vez mais insuportável tal situação, é a degenerescência a arribar ao democrata Henrique. É a extinção do último pulsar liberal. Ficamos preocupados, pois, com a saúde do colunista. As melhores, Henrique!
O GENIAL ARQUITECTO SARAIVA
As musas apaixonaram-se pelo director d’O Expresso. Não temos dúvidas. É que só um génio admirável, editorialista emérito ou escritor polido, como é o senhor arquitecto, pode estampar prosa assim, num jornal:
«Muita coisa mudou, de facto, com a guerra no Iraque. E ou me engano muito ou a alteração dos equilíbrios no Médio Oriente, na Europa, na relação com os EUA e na percepção de algumas personalidades mundiais vai ter no futuro próximo enormes consequências».
Pois, não está enganado caro director. O seu discernimento da cena política mundial – para não dar loas ao cabedal de conhecimentos caseiros que mestre Saraiva todos os sábados nos atira sobre as nossas cabeças – parece acertado. Juro, pois que me foi ensinado, docemente, pela filha da minha lavadeira. Nessas sessões expositivas, ela nunca me mentiu. Podem crer.
quarta-feira, 18 de junho de 2003
PARA O ABRUPTO ...
Para o Abrupto, seguido de vénia:
«Já Voltaire disse um dia a Luís XV que um rei precisava de coleccionar qualquer coisa, como curiosidade e alegria do espírito. Parece que o filho do rei Sol lhe respondera.
“A única coisa que vale a pena coleccionar são mulheres. E mesmo isso tem mais de curiosidade do que de alegria”. Seja como for, todos nós coleccionamos qualquer coisa, mesmo sem dar por isso. (…) À parte a preocupação mundial de coleccionar selos e moedas, borboletas e caixas de fósforos, rótulos de hotel, bengalas e garrafas, existem alguns persistentes maduros que reuniram famosos agrupamentos de armas, espadas, azulejos, livros de memórias, baralhos de cartas, autógrafos, leques, caixas de rapé e até escovas de dentes célebres. Um amigo nosso, valenciano de alta categoria diplomática, possui um volumoso álbum de desenhos de touros, com especial particularidade de estes serem vistos e desenhados por toureiros. São, evidentemente, sanguíneas.»
[in, Corvos, Leitão de Barros e Abel Manta, Vol.II, E.N.P., s/d]
«Já Voltaire disse um dia a Luís XV que um rei precisava de coleccionar qualquer coisa, como curiosidade e alegria do espírito. Parece que o filho do rei Sol lhe respondera.
“A única coisa que vale a pena coleccionar são mulheres. E mesmo isso tem mais de curiosidade do que de alegria”. Seja como for, todos nós coleccionamos qualquer coisa, mesmo sem dar por isso. (…) À parte a preocupação mundial de coleccionar selos e moedas, borboletas e caixas de fósforos, rótulos de hotel, bengalas e garrafas, existem alguns persistentes maduros que reuniram famosos agrupamentos de armas, espadas, azulejos, livros de memórias, baralhos de cartas, autógrafos, leques, caixas de rapé e até escovas de dentes célebres. Um amigo nosso, valenciano de alta categoria diplomática, possui um volumoso álbum de desenhos de touros, com especial particularidade de estes serem vistos e desenhados por toureiros. São, evidentemente, sanguíneas.»
[in, Corvos, Leitão de Barros e Abel Manta, Vol.II, E.N.P., s/d]
INTERNACIONAL
Citado do Expresso: «Este país [EUA] reagiu a uma ameaça representada pelo ditador iraquiano. Agora, alguns gostariam de rescrever a história, e a esses chamo 'historiadores revisionistas'». Bush dixit.
Cá está. Sempre entendi que mais tarde ou mais cedo alguém iria ser apodado de «revisionista». Conhecemos a palavra. 12 letrinhas, apenas.
Berlusconi não é português. Mas bem poderia ser, passe o exagero de se pensar que é adepto exempto do sistema democrático. A sua sanha demagógica contra a Justiça e os Tribunais italianos é um «study-case» para os esquizos-liberais. E premonitório para todos nós. Descortino o porfiado estudo, acompanhado de muito prozac para a ressaca, dos nossos patrícios embebidos em Berlin ou confiadamente pluralistas à moda de Oakeshott. Sai 3 posts e um soneto da União dos Blogues Livres. Berlusconi sorri!
CASA PORTUGUESA, CONCERTEZA!
Constituição Europeia. Sondagem aqui e ali, sabe-se que a rapaziada da Eurolândia é largamente favorável a uma Constituição Europeia. Li no Público, sempre bem informado. Consta que José Manuel Fernandes anda atarefado a preparar artigalho ao povo profundo, para exorcizar o demo constitucionalista. Entretanto, os neoconservadores portugas fazem as malas para os States, e levam a maleta repleta de ícones cristãos. A nossa esquerda suspira já pela V Internacional, organizando-se em comités constitucionalistas libertários. Eu já mandei limpar o fato.
70 Deputados 70. Todos ajuramentados na caridade cristã que professam na «sweet home» e na usina privativa, uns magníficos 70 deputados da Nação descobrem os abaixo-assinados e zás, exigem referências religiosas na futura Constituição Europeia. Pacheco Pereira deu o mote, os iniciados secundaram. Paulo Portas, mesmo entretido no seu ofício de mecânico aos tanques da GNR, teve tempo e arte de invectivar os pedreiros livres. Mas o que gostámos mais foi saber da justa palavra de ordem: «reconhecimento do "princípio da dignidade da pessoa humana"». Cruzes Canhoto!
terça-feira, 17 de junho de 2003
AGOSTINHO DA SILVA
BLOGS, "CLOSER" E MEC
«Se eu vos disser que não me lembro de andar tão excitado desde o meu contrabando da matriz do "Closer" dos Joy Division, escondido numa fita que dizia "Grupo Folclórico de Monção" na caixa, talvez fiquem com uma ideia de como ando entusiasmado com os blogues portugueses».
Começa, assim, o texto de Miguel Esteves Cardoso no DNA último e que está disponível no Pastilhas. Lembrei-me logo do Padre António Vieira, quando dizia que «a maior saudade é a da vida». Tinha razão. E estou a ver o Miguel com «as fitas matrizes de ‘Closer’ num saco de plástico da Sapataria Lisbonense» (Escrítica Pop, Miguel Esteves Cardoso, Querco, 1982), para imaginar o gozo que sentiu. Com um sorriso, cúmplice, de Vieira. E nosso, já agora!
«’Closer’ é limpidamente belo – tem a transparência silenciosa da solidão, sem nunca se transformar em auto-compaixão ou sentimentalismo. É o momento em que nos damos fé duma tristeza insolúvel, e da futilidade de a conhecer. Não há revolta – apenas um lento despertar, corajosamente assumido e aceitado. O encanto principal dos Joy Division não é o virtuosismo, ou sequer a criatividade da música – é, sobretudo, uma inesquecível sinceridade (…)» (op.cit.)
Não há qualquer «messianismo» ou nostalgia, olhando para trás. Apenas o gozo que a libido ainda nos permite. E o blogar não é mais que isso mesmo. O prazer de encantamentos mil, livre e liberto. Ou modo de estarmos vivos. Ainda.
Mas, se nenhuma leitura é inocente, e algumas são mesmo perversas, a decifração ou desconstrução das linguagens e discursos presentes no «território» da blogosfera, exije meios de inscrição conceptuais, que permita aceder à «provocação» que o movimento da blogosfera faz aos velhos medias e a todos nós, intervenientes e leitores. Porém não é, ainda, o tempo de os blogs serem «objecto cientificamente analisável», embora se comece já a notar algumas fissuras na rede de interdependências que o discurso deste novo medium configura e que aos media institucionais (des)legitima. Alguns blogs deixaram argumentação - Abrupto, Pastilhas, Mar Salgado, Blog de Esquerda, Montanha Mágica, Gato Fedorento - sobre a matéria. Temos alguma dúvidas, mas o que nos interessa salientar são os seguintes pontos nodais, a saber:
- as novas tecnologias de informação contaminam toda a cultura, nivelam o imaginário de todos e conduzem a novas formas de sociabilidade, no sentido das «tribos» em Maffesoli. As redes de «unidades sociais afectivas» contra a desconstruções dos afectos, só podem decorrer a partir das condições materiais de existência (Marx ou Bourdieu).
- o dizer de Maffesoli, quando refere «uma cultura de sentimento» num «presente vivido colectivamente» e que a Internet transporta, muito bem, dado que o simulacro se cola ao real, habita essa «comunidade emocional». E, aí está a União dos Blogs Livres, ou a listagem classificada nalguns blogs, todos diferentes, porém todos iguais.
- poderá esta «socialidade» moderna ('presenteísta, tribal e estética') provocar uma guerrilha com os media? Que reencantamento encontrar num veículo comunicacional que destabilizaria (como alguns assumem) a organização e os conteúdos jornalísticos?
- a «estetização da vida quotidiana» (Featherstone) invade todos os saberes, tornando-os tecnicamente utilizáveis (circulação de imagens, textos, signos, …). Este jogo tecnológico – de sedução plena – presente nos intervenientes da blogosfera conduzirá a um novo mercado de «signos-mercadoria», a outro negócio? E se sim, então o saber cairia (sempre assim foi ou será?) ou existiria, apenas, como valor de troca, ou mercantilização do saber através das competências ou performances operacionais.
- o jogo comunicacional (destinatário/ destinador) é uma relação desigual, dado que na falta de regras não haverá «jogo». Outros jogam pelo prémio do «jogo» e não mais pelos simples «jogo», gozo ou fruição. A chegada à blogosfera de militantes partidários, é disso prova.
- um controlo disciplinar exercido por alguns (simbolicamente, sò que o seja) permite estratégias de sobrevivência, numa lógica de cuidado curiosa nalgum discurso bloguista. Afinal o putativo «umbiguismo» e a lucidez dessa praxis discursiva, é isso mesmo. Ritos de passagem? Rituais perdidos?
Enquanto a problemática ganha o fedback necessário para uma «gramática» blogosferiana, fiquemos recostados nos maples,em auto-serviço, fazendo espaço conversável. Se nos permitirem
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