segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Descascando o Cebolo
Sábado passado fomos à Catedral da Luz. Isso mesmo: uns vão para as universidades de verão (curioso nome), outros caminham em passeata presidencial para o Leste, mas nós não fazemos por menos. Fomos pedir a bênção à Catedral e a solene pastoral só podia correr bem. Anoitecemos de júbilo. Idonea vero causa!
Ora na Catedral de todos nós, apesar do relvado apresentar estimáveis doses de cebolas & outros tubérculos menores, convém dizer que não houve cheiro algum a futebol e presume-se, mesmo assim, que ninguém chorou por isso. O que conta é lá ter estado, entre a nossa gente! E mesmo que as importações de cebolas argentinas pelos Andrades das Antas seja um verdadeiro cebolório – o caso de Lucho Gonzalez e o rapaz Lisandro revelaram mesmo pouco tango -, aquele cebolo do Rodriguez, made in Uruguai, anteriormente player do Glorioso e que, na época, era "bom de briga" [brasileirismo, evidentemente], como se viu, foi bem lavado com a pele que apresentava no momento. Pouco desenvolvido e sem flor de cheiro, ainda assim mostrou que quem arriba ao quintal das Antas alcança maquinalmente a figura de um inabalável caceteiro. Na Luz tal tumulto nunca se lhe viu. Nem seria desejável!
No resto, evitando falar nessa ideia pouco doutrinal de entregar o meio-campo ofensivo ao rapaz Carlos Martins e continuar - com tenacidade diga-se – a manter o Katso na defesa, o nosso Glorioso está como está: falta-lhe a espada de conquistador. Por sua vez, os Andrades, sem um tal Paulo Assunção, foram simplesmente incompetentes. Em vantagem numérica, curiosamente desarrumados, com um guarda-redes me(r)droso e sem atacantes lúcidos, mostraram temor, muito temor. Até o inefável Bruno Prata – jornaleiro com assento na bacia das Antas - o compreendeu. Coisa que o dito cujo prof. Jesualdo não assina. Manias!
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Jogos Olímpicos: "o ouro da vingança"
"Amigo torcedor, que Michael Phelps que nada, o grande personagem destes de Pequim é o gajo e valente Pedro Dias, a quem no trágico e inevitável tatame da existência coube o papel de um confesso chifrudo olímpico (...)
Ai, Mouraria, ai Tejo que carrega todas as dores do mundo, coube ao judoca português, numa estupenda sinceridade d'alma, dizer de onde vinha a sua fúria de indomável touro: "Questão de saias". Havia sido traído, confessou, pelo oponente e favoritíssimo brasileiro João Derly, na categoria meio-leve - se é que pode existir leveza em tais circunstâncias.
Quis o destino, esse mascarado trocista, que o gajo encontrasse justo o Derly pela frente. Não em um beco escuro, não em uma taberna esquecida do Alentejo, não no largo dos Aflitos, bastante estreito a essa altura, caro amigo Antônio José, esse gênio de Irará e derredores, bastante estreito para caber tanta aflição e orgulho de macho ferido.
Quis o destino, essa mão que manipula as assombrações internas de um homem como quem balança mamulengos e fantoches, que Pedro e João tirassem as suas diferenças no maior espetáculo da terra. O que poderia ser uma meia dúzia de tabefes e sopapos, sob as vistas de inflamados bebuns da rua Augusta, virou uma contenda olímpica.
O certo é que o ressentido gajo derrotou impiedosamente o bicampeão mundial, o favoritíssimo "canalha" brasileiro, no maldizer do judoca português. Coube, então, ao jornal "A Bola", um matutino lisboeta, cravar a melhor e imbatível manchete destes Jogos até agora: "Matar o traidor e depois morrer" ...” [ler tudo, aqui]
[Xico Sá, O brilhante ouro da vingança, in Folha de S. Paulo, 15 de Agosto 2008, sublinhados nossos]
In-Libris – livros em Agosto
A In-Libris (Porto) apresenta um novo Catálogo de livros. A referir alguns números da esgotada e muito procurada revista Oceanos, a 2ª ed. das Novas Cartas Portuguesas, o drama histórico Os Portuguezes em 1640 de Miguel Osório Cabral, obras de E.M. de Melo e Castro, estimadas e raras peças da saudosa Natália Correia, o curioso tratado de Jerónimo Cortez Fysionomia e Vários Segredos da Natureza (1792), livros de Mia Couto, obras poéticas de Gastão Cruz, livros de Culinária e Gastronomia (vidé os de Alfredo Saramago), o excelente A Memória das Palavras de José Gomes Ferreira, o estimado trabalho Jornalistas do Porto e a sua Associação (1925) de Luiz F. Gomes, obras estimadas de Alberto Pimenta, livros de poesias de Al Berto, Egito Gonçalves, Vasco Graça Moura, António Ramos Rosa, Fernando Guimarães, Carlos de Oliveira, António Pedro, Herberto Helder e António Maria Lisboa, as obras completas (via FCG) de Paulo Quintela e o raro Vocabulário Taurino de António Rudovalho Duro (1915).
A consultar on line.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Atrevimento ... muito atrevimento!
"A onda de assaltos e crimes violentos é uma coisa muito séria" [Cavaco Silva]
1. Com o maior dos despautérios, muito bem alapado no sofá de Belém, o dr. Cavaco, decerto ainda a refulgir da doce cooperação institucional com o medíocre governo de Sócrates, comunicou ao país a sua preocupação com a onda de assaltos e crimes que acontece por todo o lado, o que, de facto, qualquer cidadão já tinha entendido. Imediatamente um curioso grupo de jornalistas e analistas da paróquia se curvou no espectáculo presidencial e professou as apreciações elogiosas do costume. Com as orelhas a arder pelos ditames dessas criaturas inteligentes, o eng. Sócrates, esta madrugada, utilizando a poeira do costume, respondeu e mandou de imediato e com grande aparato a polícia cercar a Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho. Decerto os "assaltos e crimes violentos" que percorrem todo o país, segundo a douta opinião do nobre primeiro-ministro e do sr. Rui Pereira, têm lá os seus mentores e a sua sede, o que não deixa de ser espantoso pelo atrevimento.
2. As palavras de Cavaco Silva sobre a "onda de assaltos", logo seguidas pelo pedido de "estratégias adequadas para combater a criminalidade violenta", são de enorme hipocrisia. São grotescas e de mau gosto. Não será preciso recuar aos tempos de inefável Laborinho Lúcio e do pitoresco descalabro das medidas então tomadas. Basta saber que a esfíngica figura que hoje brama por tais medidas de combate à criminalidade foi a mesma que assinou de cruz, braço no braço com o eng. Sócrates, as alterações ao novo Código de Processo Penal, o mesmíssimo que recomendou o Código Penal como feliz conquista conta o crime e aquele que considera que a nova Lei de Segurança Interna é um instrumento importante e, por isso, não encontra "razões para [a] não promulgar". E é o mesmo senhor que não nada diz sobre o estado comatoso da polícia e da GNR, sem meios humanos, materiais e jurídicos e perante a total degradação e paralisia da sua autoridade. Eis o nosso homem! Maior atrevimento não é possível.
3. Com a lista de mazelas denunciadas pelo dr. Cavaco, na mão e no ouvido, acorrem sempre à acção mediática os rapazes do costume. Os despeitados do PSD e a garotagem do CDS desataram num alarido artificial e cómico, sem que nunca se ouvisse uma única palavra de crítica ou simples lamentação sobre a posição do senhor presidente da República no apoio dado ao construído jurídico arquitectado pelo governo e que, fora outras razões substanciais, são importantes em toda esta questão. E mesmo que, por puro exercício que fosse, se aceite estar presente uma sustentada estratégia política de desgaste e cerco ao governo, levado a cabo pelo dr. Cavaco e seus anões - enquanto a D. Ferreira Leite espera em silêncio no recesso do lar - tal experimentalismo insano e provocador, com evidentes reflexos na vida dos portugueses e no país, não o permite aceitar. Não estamos num vale tudo. Haja decoro!
Colheitas de bom veraneio (II)
"Do Viril* Hora crepuscular de melancolia ... Há nas coisas e na alma uma lassidão dominante. O sonho! O sonho! Mas … Junto ao Amazonas só se pode sonhar com gigantes. E …com montanhas. Porque ... Para se viver o Amazonas é preciso ter uma alma tão grande como o próprio Amazonas (...)
... Havia um silêncio fictício (...) O índio avança, dobrando muito as pernas nos joelhos. A fêmea extasiava-se também no crepúsculo suave de nuvens vestido-de-bailarin: - cortadas agora por uma grande mutum, que veio poisar sobre o assahyzeiro, apequenado pela altura. Com um golpe só, passando-lhe a mão pela cabeça, o macho fel-a tombar: - de cara para cima. Ela, defendendo-se, suspendeu as pernas: - encolhendo-as, formando um ângulo: - mostrando então a vagina aberta dum arroxeado-escuro. Ele, mordeu-lhe o pescoço, os peitos, torcendo-lhe os braços, arrepanhou-lhe a pele da barriga com a sua mão larga e felpuda: - como se a quizesse suspender pelo ventre encolhido. E a fêmea estremecia: - como se um rolo de veludo a acariciasse. Um mundo de sensualismo invadia a tarde ..."
* ... Foi no Amazonas que nasceu o meu primeiro desejo (…) O Amazonas é um poema de sensualismo vegetal. Na sensualidade potente-e-morbida da selva ao crepúsculo eu fui homem (...) Hoje o Amazonas é a minha pátria: - o museu das minhas imagens: - a silenciosa biblioteca onde se acumulam todas as variantes da Belesa. Po isso … As ultimas paginas deste livro alcançam a primitividade: -na sua violência de verdadeiro. Às pessoas de pudor elas serão contundentes. Para que as expatriem da obra mandei perfurar. Quanto a mim ... O pudor é a túnica da Verdade: - Eu já rasguei há muito essa túnica” (p.98)
Ferreira de Castro, in "Mas ...", (p. 97-99) Tip. Boente & Silva, R. do Século, 2-C, Lisboa, Portugal, 1921, 100 pgs
Raro livro, nunca reeditado, de Ferreira de Castro. Trata-se do seu quarto livro, o primeiro que publicou em Portugal [Criminoso por ambição, 1916; Alma Lusitana, 1916; O Rapto, 1918; foram todos publicados no Brasil (Pará)] e que tem como curiosidade apresentar as duas ultimas folhas picotadas, pelas razões atrás referidas pelo autor. Muitos exemplares não apresentam essas folhas. Registe-se que se trata se ensaios de teor sociológico, sendo de realçar "Junqueiro hoje é o cadáver vivo do seu Génio morto" e, em especial o curioso:"A anarquia é a fronteira sociológica contemporânea".
Sebo na Estação da Lapa - Salvador da Bahia
Simples e curioso sebo, perto da estação da Lapa, em Salvador da Bahia. Apesar de ter poucas peças de interesse, apresenta obras literárias de edição popular e, se esquecermos o mau estado físico dos seus livros (que aliás é uma constante na Bahia, ou melhor por todo o Brasil), muito baratas. De muita simpatia.
Colheitas de bom veraneio (I)
Raríssimo primeiro livro de Ferreira de Castro. A novela "Criminoso por ambição", saída em fascículos sob edição de F. Lopes (Pará, Brasil) e vendida à mão pelo autor, foi publicada em 1916, mas foi anteriormente escrita (1912-13). Ferreira de Castro (que nasceu em 1898, pelo que tinha então mais ou menos 15 anos) era então empregado num armazém no Seringal Paraíso, no rio Madeira, coração do Amazonas - para onde foi enviado por um "engajador", por sinal seu conterrâneo. Trabalho duro e miséria terrível. Decerto é a partir daí e dos contactos com outros portugueses que começa a esboçar o seu importante livro, "Emigrantes".
Ferreira de Castro, "Criminoso por ambição" (novela). Edição F. Lopes, Pará, 1916
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Home
Arribámos! Com muita soidade, algumas rimas e poucas profecias. O nosso veraneio, por natureza sóbrio & casto, foi como "uma gaiola [que] ia à procura de um pássaro". Deixámos, por isso, os nossos folgados indígenas lusos e seus ilustrados conselheiros dos jornais & blogs a caprichar na lição dos assuntos caseiros. Desde que, enfadados, assistimos ao curioso serão do dr. Cavaco que dizemos (como Machado de Assis), "felizes os que podem conhecer a origem das coisas ... e explicá-las entre o almoço e o jantar". Por isso não prevaricamos. Por cortesia e piedade!
Assim, não lemos em todos estes dias, em rigor e extensão, os boletins paroquiais do governo do eng. Sócrates ou as notícias de pesar sobre o adormecimento político da sra. Ferreira Leite; nem acompanhámos os rabichos intelectuais do imortal Alberto João, as rogativas do sr. Aguiar-Branco contra o inefável ministro Pereira ou as composições espinoteadas do dr. Lello; e deixámos de comungar, exaustos de tanta angústia, os escritos humorísticos lavrados pelo jovem João Miranda, a intensidade liberal e a esperteza ruminante dos artigalhos de Sir Carlos Espada e o movimento editorial do portentoso Henrique Monteiro. Não temos perdão! Mas – helás - sobrevivemos (como se vê), o que não deixa de ser um exercício curioso.
Não comentamos, por pudor e tédio, os negócios ideológicos privados do dr. Cavaco e os seus vetos amestrados, mesmo que venha daí, e em particular na Lei do Divórcio, alguma e sábia ponderação no meio da mais trôpega argumentação presidencial jamais publicada ou, como no caso da aprovação cavaquista da Lei de Segurança Interna, se possa declarar a falta de ousadia e aprumo em defesa do Estado de direito democrático. Conhecendo-se o dr. Cavaco e as suas retrincadas evocações ideológicas, não são de estranhar a trivialidade política, o estilo e os detalhes nisso tudo. Um pesadelo!
Deste modo, não fazemos relatórios! Até porque, se a situação nativa é de uma garotice enfastiante, já o mesmo se não pode dizer da actual situação internacional, em particular desse perigoso e pouco humorado jogo de xadrez que se trava entre uma Rússia travestida de potência política e uns EUA que se julgam a única superpotência mundial. Eis, realmente, o que nos preocupa. O resto é a indiferença cheia, como diria o poeta.
E, agora, para ledores originais e de pensamento largo, frequentadores da casa, os que escusam a fadiga e não sucumbem à crítica do tempo – essa poesia primeira –, certos que Everything That Happens Will Happen Today, aqui vos deixamos este clarão primeiro de
David Byrne & Brian Eno – Home
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Saúde e Fraternidade
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Em mistérios de Veraneio
Por ser Agosto, mês de reencontros e de exílios vários, estamos ausentes da V. companhia. Admiravelmente inspirados, longe dos curas e indígenas lusitanos, consumimos os dias-ligados-a-dias pela doce e carinhosa espiritualidade brasileira. Em humana paixão. E ainda só agora começamos. O eterno Rio ficou in su situ. Caminhamos, neste momento e uma vez mais, para a Bahia de Todos os Santos. O chamamento é depois mais para o Norte, onde os triângulos se fecham. Iluminados.
Voltaremos assim que pudermos. Não temos pressa. Temos os pés bem ferrados no chão. Só para chatear!
Paulinho da Viola - Só Pra Chatear
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Saúde e Fraternidade
quinta-feira, 31 de julho de 2008
O serão do Presidente
O dr. Cavaco Silva fez hoje, via T.V., uma desastrada comunicação aos indígenas sobre a questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores e que ninguém, em esforço e minimamente instruído, entendeu. Apologista do tabu e do silêncio tortuoso como estratégia política, o Presidente da República caiu, definitivamente, nas profundezas da silly season nativa e no anedotário paroquial ao interromper as (merecidas) férias dos portugueses com avisos avulsos ao governo e à Assembleia da República, depois de en passant ter atestado a incompetência jurídica dos sábios do Tribunal Constitucional. Convenhamos que, para quem ao longo do santo dia esperou algum serviço ou dito sentencioso vindo do Palácio de Belém, a espera, além de aborrecida e pouco divertida, foi inútil e afrontosa.
Mesmo se a récita presidencial fosse por alguma vez estimulante - o que nunca se verificou -, o tom grave e carrancudo do sr. Cavaco Silva, a par da sua eterna dificuldade de dicção, torná-la-ia enfadonha e incompreensível.
Mas afinal que pretendeu dizer o sr. Presidente da Republica e que os conselheiros do Tribunal Constitucional e todos os deputados, regionais e da República, não souberam ver? Que o sistema de equilíbrios institucionais e os poderes presidenciais, tal como estão consagrados no novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores, era beliscado existindo mesmo uma putativa diminuição de poderes presidenciais. Para tão sentencioso letreiro político-institucional o dr. Cavaco avançou, passando por cima do sentido político que se quis imprimir às autonomias desde a revisão constitucional de 2004, com uma bateria curiosa de exemplos no que considera ser uma moléstia sobre os deveres/direitos de audição e consulta no acto de dissolução da Assembleia Legislativa dos Açores.
Fica-se a saber, pelo narrado, que partidos para o dr. Cavaco Silva só existem os de expressão nacional, não havendo lugar a infectos partidos ou grupos regionais fora da bitola dos grandes partidos e que, assim, bastaria consultar aqueles numa putativa dissolução. Mais bizarro foi considerar que a "audição autónoma do Presidente do Governo Regional [é] tanto mais incompreensível quanto ele tem assento no Conselho de Estado". Isto é, para o dr. Cavaco Silva o processo autonómico foi formatado em devido tempo e não há lugar a mais alterações. Do mesmo modo, é de supor que a revisão constitucional de 2004 feita não agrade ao preclaro defensor da actual Constituição.
Mas é evidente que os poderes presidenciais não foram de modo algum diminuídos, aliás conforme entendeu o Tribunal Constitucional, a quem Cavaco Silva agora pretende dar lições. Não há pois razão para o dramatismo do dr. Cavaco. A questão que se colocou no serão presidencial de hoje foi essencialmente política, com estranhas motivações por detrás. Tudo leva a crer que o caminho iniciado a partir deste incidente por Cavaco Silva não augura prudência e ponderação. E é de supor pelo ridículo do teor da comunicação que o seu magistério, esse sim, é que foi mesmo beliscado. Como um dia se verá.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Heitor Villa-Lobos
"É na formação das artes de um país, que existe a cega necessidade imprescindível de colher os principais motivos na sua própria natureza, como fizeram todas as grandes nações que mais se distinguiram pela sua maneira própria de ser, algumas delas chegando mesmo a dominar o espírito artístico universal, implantando sugestivamente um Belo que nada tem de comum com o Belo de outros povos de temperamentos completamente opostos. É verdade que nestes casos resulta sempre num curioso fenômeno de condições e paradoxos. Por exemplo, (sem ironia) no Brasil [...] veneram com eloqüência todos os feitos da Grécia/Roma antiga e ridicularizam as façanhas dos nossos primitivos selvagens. [...] É isso que se chama talvez, modernamente, esnobismo" [A Noite, 9/1/1926 – ler mais aqui]
Leila Guimarães/Heitor Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras No. 5-Dança
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Tabuada: "Honorabilidade"
Honorabilidade – E um vocábulo de acepção indefinida e, talvez, indefinível.
Se equivale a benemerência (como ensina Figueiredo), não há precisão de neologia: benemerência escusa honorabilidade.
A meu sentir, honorabilidade, quando o consagrássemos, teria de significar a estimação, com que o juízo público, isso a que hoje em dia chamamos por excelência a opinião, recompensa os homens de bem.
Mas, nesse caso, honorabilidade se confundia com honra, que (leia-se a definição de Morais) também tem essa acepção.
[M. S. Mendes de Morais, "Repertório Réplica de Rui Barbosa", Casa de Rui Barbosa, 1950, p.92]
Edições Livraria José Olympio Editora
Fui advogado da Livraria José Olympio Editora durante muitos anos, de 1935 a 1960, iniciando os trabalhos com o preparo do contrato da locação da sala na Praça XV de Novembro, edifício da Bolsa, no mesmo prédio em que o Valadão [prof.e advogado Haroldo Valadão] e eu tínhamos escritório, pois o José Olympio vinha da Travessa dos Barbeiros. Houve depois uma acção de renovação de contrato da loja da Rua do Ouvidor, esquina de Avenida, onde estava instalada a livraria (...)
José Olympio, o maior editor brasileiro dos últimos anos, foi o editor de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Luís Jardim, Herman Lima e muitos outros, e nunca houve qualquer acção para cobrança de direitos autorais, porque a firma cumpria rigorosamente suas obrigações. Lá conheci todos os autores da época, e nos almoços de quarta-feira (depois às sextas) conversávamos muito. Houve até um caso curioso de Guimarães Rosa: ele entregou originais com o título de Terceiras Estórias, quando só tinha publicado as Primeiras Estórias, e alguém, no almoço, perguntou pelas 'segundas'. O Daniel Pereira, director da Casa, declarou: 'O Rosa falou meia hora explicando o porquê das terceiras sem as segundas, e eu não entendi nada'. Em seguida, o Rosa saiu-se com esta explicação: "Vocês conhecem o Plínio Doyle, que não está satisfeito enquanto não tem um papel na mão para a sua colecção. Ele pediu os originais das ‘Segundas Estórias’ para ler e agora não quer devolver porque já estão no seu arquivo”. Com essa resposta todos riram e o Rosa não explicou nada. As “Segundas Estórias” não existem e o Paulo Rónai, ao preparar uma nova edição das Terceiras Estórias, para que não houvesse confusão, deu-lhe o título de Tutaméia ...
[Plínio Doyle, in Uma Vida, Edições Casa Rui Barbosa, 1999]
terça-feira, 29 de julho de 2008
José Olympio: o Editor e Sua Casa
Em breve teremos o prazer de folhear o admirável e curioso livro sobre José Olympio Pereira Filho e a sua "Casa", a estimadíssima Livraria José Olympio Editora. Trata-se da edição feita pela "Sextante" [a cargo de Geraldo Jordão Pereira, filho de José Olympio] e organizada por José Mário Pereira: "José Olympio: o Editor e Sua Casa”. São mais de 400 páginas de imperecível saudade sobre o livreiro e a sua casa editora, que foi uma das mais importantes em língua portuguesa e principal ponto de encontro literário do Rio de Janeiro. A Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, fará uma exposição sobre o evento.
Do registo estimado da "Casa" (Rua do Ouvidor 110, Rio de Janeiro), como era conhecida a Livraria de José Olympio, em boa hora feito por José Mário Pereira revela-se a exuberância e a riqueza do acervo da sua Livraria, como se poderá ver pela reprodução de mais de 500 capas, quase sempre magnificas, com desenhos de Portinari, Tomás Santa Rosa, Cícero Dias, Oswaldo Goeldi, Luís Jardim e outros tantos mais. A "Casa" que segundo José Mindlin "abriu caminho para escritores que no tempo se tornaram grandes nomes na literatura brasileira" publicou obras de Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Rubem Braga, entre muitos. E daí que no livro a sair se possa também entender as relações de amizade e cumplicidade entre o Editor e os seus autores, tais as referências expressas. Coisa rara, nos tempos de hoje.
Nós, que há alguns anos, em vaidade bibliómana, coleccionamos (graças Ricardo! graças Manel!) obras publicadas pela linhagem da Livraria José Olympio Editora - não só pela raridade das suas obras mas também pela riqueza e excelência das suas capas - lá estaremos para lhe prestar a merecida homenagem.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Tabuada: "Despedir"
Despedir – A consemelhança, que figura aparentar os verbos expedir, impedir e despedir com o verbo pedir, ocasionou a versão vulgar de impeço, expeço, despeço; mas, não tendo a outra sido proscrita inteiramente da pratica dos mestres, razão é que prevaleça, desde que de sua parte está o significado das palavras e a sua etimologia.
Convém aliás notar que, entre os antigos, o próprio verbo pedir se conjugava por vezes regularmente: pido, pidais, pida.
"Que não sei se remédio ou morte pida" (Camões)
"Não me pidais interesse" (Id.)
"Amor, amor, mas te pido" (Id.)
- Ex. com expedir:
"Não me fico, e no imo peito espido brado louvor" (Camilo)
- Ex. com impedir:
“Não me impidas o gosto da tomada" (Camões)
“Que nos turbe a paz, e impida a liberdade” (Bernardes)
- Ex. com despedir:
"Com esta ultima advertência vos despido ou me despido de vós, meus peixes" (Vieira)
[M. S. Mendes de Morais, "Repertório Réplica de Rui Barbosa", Casa de Rui Barbosa, 1950, p.56]
In-Libris – livros em Julho
A In-Libris (Porto) apresenta novo Catálogo de livros, outras tantas peças bem curiosas e invulgares, algumas peças de colecção. Refira-se a estimada monografia da Serra da Estrela (de Adelino de Abreu), alguns livros de Eugénio de Andrade (entre os quais o raro "Coração do Dia"), curiosas bengalas antigas, obras de Fiama Hasse Pais Brandão, o raro Diccionario Portuguez das Plantas e Arbustos do sec. XIX (por José Monteiro de Carvalho), um livro já esgotado de Dórdio Guimarães (Ubéria), ainda a peça de colecção de Júlio & Régio "Musica" (edição da Presença), a Poesia completa de Luis Miguel Nava, um conjunto apreciável de obras de António Correia de Oliveira raras com bonitas encadernações e exemplares com dedicatória do autor (ex: a Henrique Trindade Coelho), os Discursos de Oliveira Salazar (VI vols encadernados) assinados pelo próprio, obras estimadas de António Osório, a muito rara obra (1ª do poeta) José Carlos Ary dos Santos "A Liturgia do Sangue", a cobiçada e invulgar colecção "Os Modernistas Portugueses" de Pedro Veiga (muito esquecido hoje e que proximamente daremos pequena nota biográfica no Almanaque Republicano), alguns livros de Couto Viana.
A consultar on line.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Tabuada: "Avir-se"
"Avir-se: Lá se avenham entre si os dois apologistas do projecto. § 202
- Obs. I. Evidentemente por equivoco escreveu Castilho [no Fausto]:
‘E como se havém na emprêsa o desenhador?’
Neste caso é manifestamente o verbo avir-se, correspondente ao adjectivo avindos, que empregou na página anterior; e êsse carece de h.
Salvo êsse caso, de evidente descuido, não se poderá dizer que os mestres da língua confundissem, como alguns têm dito, com o verbo avir-se o verbo haver-se. De um e outro neles se encontram exemplos distintos.
Camões, verbi gratia, poetou:
- ‘Com o meu gado me avenho, e estou contente’
- ‘O rico com seu ouro lá se avenha’
- ‘Houve-se amor comigo
Tão brando ou pouco irado
Quanto agora em meus males se conhece’
- ‘Hajamo-nos, pois, com a nossa língua, como os romanos se houveram com a sua’ (ANT.PER. DE FIGUEIREDO).
- ‘O senso das turbas mal sabia como se houvesse com as trevas e monstros’ (CASTILHO). § 281
Obs. II. Avir na significação transitiva quer dizer ajustar, compor, conciliar, congraçar, concordar:
‘E se alguns Concelhos hão demandas ou contendas entre si, deve trabalhar quanto puder de os concertar e avir’ (Ord. I.39) § 490”
[M. S. Mendes de Morais, "Repertório Réplica de Rui Barbosa", Casa de Rui Barbosa, 1950, p.27]
Livros Livros Livros
No Ipanema, claro! Livraria Livros, Livros e Livros. Na Rua Visconde de Pirajá e ... como ele, estamos convenientemente loucos.
Saúde e fraternidade
Pois sim! Vamos andar ... por aí
"Ah, cidade maliciosa
de olhos de ressaca
que das Índias guardou a vontade de andar nua
e que, apesar do Toque do Aragão,
do Recolhimento do Parto
e do Prefeito Amaro Cavalcanti
- impondo em 1917 a moralidade rigorosa
nos banhos do mar –
despe-se novamente hoje nas areias de Ipanema"
[Ferreira Gullar]
sábado, 19 de julho de 2008
Forró do Professor
As peças cariciosas sobre o ensino e educação que, meticulosamente, alguns dos nossos prosadores de serviço à paróquia coleccionaram e ofertaram copiosamente nos jornais e TV, neste ano lectivo que chegou ao fim, foram utilíssimos para todos os amantes da educação e da instrução. Os álbuns e o repositório de curiosidades ditas por todos esses senhores, neste ano da graça de Maria de Lurdes, não se esvaíram em fumo. Não! Ficaram como notícia e testemunho aos vindouros. E para asseverar que o seu trabalho encomiástico ao directório educativo - de crónica fácil, de reclamação pedagógica nula e obstinada afronta aos docentes deste país - não será esquecido.
Tenham um bom dia!
As peças cariciosas sobre o ensino e educação que, meticulosamente, alguns dos nossos prosadores de serviço à paróquia coleccionaram e ofertaram copiosamente nos jornais e TV, neste ano lectivo que chegou ao fim, foram utilíssimos para todos os amantes da educação e da instrução. Os álbuns e o repositório de curiosidades ditas por todos esses senhores, neste ano da graça de Maria de Lurdes, não se esvaíram em fumo. Não! Ficaram como notícia e testemunho aos vindouros. E para asseverar que o seu trabalho encomiástico ao directório educativo - de crónica fácil, de reclamação pedagógica nula e obstinada afronta aos docentes deste país - não será esquecido.
Tenham um bom dia!
Semanada medíocre
Sem alarido que se visse, o caminho para a recessão económica decorre em normalidade. Pelo descampado do convénio nativo começam a passar as habituais & arqueológicas figuras (o Bettencourt Resendes prevarica), enquanto outras inteligências, as que antes grasnavam oásis de crescimento e desenvolvimento, desapareceram na silly season. O tédio é imenso.
O sr. Sócrates, à beira do palco eleitoral, fala aos pobrezinhos, trazendo pela mão o extraordinário dr. Manuel Pinho. A prevenida sra. Ferreira Leite, olheiras pisadas e com algumas rugas sociais ainda frescas, nada tem a declarar sobre a crise ... a não ser (evidentemente!) o apoio inebriante à construção do novo aeroporto de Alcochete. Este será portanto a novíssima obra do bloco central dos interesses. Sorte para o dr. Coelho! Com isso, a antiga "sopradora" deixa portanto por realizar a sua grande Obra alquímica e que consistia em transformar recursos financeiros de investimentos de obras públicas em transferências sociais para os indígenas. Maldito enxofre!
Por outro lado, uma prosa pesada sobre a crise veio por intermédio de um relatório (via B.P.) do inquieto (e pouco estudioso) funcionário público do BCE, que dá ao nome de Vítor Constâncio. E compreende-se porquê: tantos anos na paróquia a reabilitar sucessivos governos do bloco central, que se cansou sentimentalmente. A dor do funcionário foi tanta que o disparate e a charge política vieram de imediato. Por seu turno, o impante dr. Cavaco Silva anda pelo "país real" pregando à canalha "a não baixarem os braços". Comovente!
Por fim, os nossos pungidos economistas - com guichet nas Universidades, jornais e TV's - como a sábia Teodora Cardoso, o sr. Daniel Bessa, o abominável César das Neves, o sr. Daniel Amaral, o cénico António Metelo, o Beleza ou o emotivo Silva Lopes, de tanta indigestão económica e entretimento orçamental cultivados estes muitos anos, desapareceram para a posteridade. Não há, por ora, exercícios didácticos sobre a crise. Recordar o que diziam, anos antes, nas suas previsões e análises macroeconómicas sobre Portugal e o mundo, olhos pousados na fancaria do sr. Sócrates e no milagre de Teixeira dos Santos, Trichet & Cia, Lda, é um trabalho bem curioso mas pouco cavalheiresco. Espanta é como persistem, com exaltação, a "vender" aulas sobre assuntos que desconhecem. De facto, o ensino anda perigoso!
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Boletim Bibliográfico 37 de Livraria Luis Burnay
Está online o excelente Boletim 37 da Livraria de Luis Burnay [Calçada do Combro, 43-47, Lisboa], que apresenta 728 obras, algumas raras ou de muita estimação.
Algumas referências: Dicionário Corográfico de Portugal Contemporâneo, de António Sampaio Andrade, 1944 / Anedoctes Africaines depuis l’origine ..., por Joseph Gaspard Duboi-Fontenelle, Paris, 1775 [c/ refª a Portugal] / Inventário de Lisboa, de Norberto de Araújo, 1944-1956, 12 fasc. / Historia dos Christaos Novos Portugueses, de J. Lúcio de Azevedo, 1921 / Velharias de Sintra (I.IV), por José Alfredo da Costa Azevedo, 1980-82 / O Conde de Castel-Melhor: as suas presumidas relações com os alquimistas, mágicos, filósofos, moedeiros-falsos e envenenadores do século XVII, Coimbra, 1923 / Ermida de Nossa Senhora do Carmo da Penha na Serra de Santa Catharina cercanias de Guimarães, de António José Ferreira Caldas, 1873 / varias peças sobre a polémica "Casamento Civil" [sec. XIX] / Historia Y Magia Natural O Ciência de Filosofia Oculta ..., pelo Padre Hernando Castrillo, 1723 / Colecção Henriquina. Comissão das Comemorações do Quinto Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1958-1961, XII vols / Cancioneiro chamado D. Maria Henriques, de D. Francisco da Costa, 1956 / Diário dos Acontecimentos de Lisboa, por ocasião da entrada das tropas de Junot ..., 1808 (aliás, 1944) / A Maçonaria Portuguesa, por da Cunha Dias (curiosa peça anti-maçonica), 1930 / Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal, de Jorge Dias & Ernesto Veiga de Oliveira, 1959 / O Minuto Vitorioso de Alcácer-Quibir, de José de Esaguy, 1944 / várias peças da polémica "Eu e o Clero" (sec. XIX) / Vagão "J" (romance), por Vergílio Ferreira, 1946 / O Monumento de Mafra, de Joaquim da Conceição Gomes, 1866 / vários Inventários Artísticos de Portugal / Dicionário da Linguagem de Marinha, por Humberto Leitão, 1963 / A Entrevista [20 entrevistas a várias personalidades políticas de então], por Joaquim Leitão, 1915 / A Caça: Colónia de Moçambique, de Jacinto Pereira Martinho, Lourenço Marques, 1934 / Os Monges Agrónomos do Mosteiro de Alcobaça, por J. Vieira Natividade, 1942 / As Farpas, por Ramalho Ortigão & Eça de Queiroz, Lisboa, 1871-73, XLII numrs / Revista de Portugal, dir. Vitorino Nemésio nº1 (Outubro 1937) a nº 10 (Novembro 1940), X vols / Colecção "Pelo Império", nº1 (1935) a nº 131 (1961), 131+índice / S.W. Sudoeste: Cadernos Almada Negreiros, nº1 (Junho de 1935) a nº3 (Novembro 1935), III vols
sábado, 12 de julho de 2008
O estado do sr. Sócrates
[O Orador: José Sócrates] - E a nossa mensagem é muito clara, Sr. Primeiro-Ministro: isto não está a correr bem, Sr. Primeiro-Ministro! Isto não está mesmo a correr nada bem!! Portugal tem hoje mais de 420 000 desempregados. Não se riem agora, Srs. Deputados do PSD?! É verdade!
E já não são só as vítimas habituais! Não! Agora, o desemprego sobe mais entre as pessoas com curso superior e sobe mais entre os jovens!! O drama do primeiro emprego, que marcou boa parte do cavaquismo, está de volta (...) É por isso que, se há uma "imagem de marca" deste Governo, se há uma imagem que marca a governação desta maioria, ela é, sem dúvida, a marca do desemprego. Triste marca!
[Aplausos do PS]
Não, Sr. Primeiro-Ministro! Isto não está a correr bem, isto não está a correr mesmo nada bem! E o que é extraordinário é que, nos debates teóricos sobre a forma de governar, ainda há muito quem pense e teime em afirmar, apesar de tudo, que não vê grandes diferenças na governação do PS e do PSD.
[Vozes do PSD: - Mas há, mas há!]
(...) E esta não é uma subtil diferença, esta não é uma questão política de somenos. Não! Esta é a diferença entre considerar ou não considerar o emprego como a prioridade central da política económica.
[Vozes do PS: - Muito bem!]
E o que temos visto deste Governo é que o emprego já não é um indicador económico valorizado na sua política. Em matéria de desemprego, o Governo só tem tido uma preocupação: por um lado, inventar desculpas, por outro, procurar culpados.
[O Sr. António Costa (PS): - Muito bem!]
E vai logo aos suspeitos do costume: a culpa já foi da "pesada herança", já foi dos sindicatos, já foi das leis laborais e até da Constituição, tendo passado, depois, para a conjuntura internacional (...) Não, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a razão para o desemprego é outra: o desemprego aumenta porque a economia se afunda. E aqui, Sr. Primeiro-Ministro, mais uma vez, temos muito que conversar. Portugal ainda há um ano e meio crescia acima da média europeia. Hoje, Portugal é o país da Europa em pior situação económica.
[O Sr. José Magalhães (PS): - Agora não se riem!]
E uma coisa o Sr. Primeiro-Ministro não pode aqui dizer: é que tudo isto era inevitável ou que tudo está a correr como previsto. Não! O Sr. Primeiro-Ministro afirmou aqui, na Assembleia da República, que, consigo, com este Primeiro-Ministro, Portugal iria crescer, cada ano, dois pontos acima da média da União Europeia.
[Vozes do PS: - Exactamente!]
A verdade é que estamos a decrescer dois pontos para baixo da média europeia. E é caso para lhe recordar, Sr. Primeiro-Ministro, o conselho que, noutras circunstâncias, se apressou a dar a outros: não faça mais previsões, Sr. Primeiro-Ministro, nem deixe a Sr.ª Ministra das Finanças fazer mais previsões ..."
[Intervenção de José Sócrates (PS), na Reunião Plenária de 2 de Outubro de 2003, Debate: Estado da Nação]
O duplo João Proença
Em tempos mais alumiados que os d’agora, era mister reclamar que o espírito de Carvalho da Silva apresentava predisposição - zelosa e instruída - para caminhar lado a lado com a estratégia do PCP. O milagre dessa devoção emanava por todo o lado e em todas as "lutas". Ao "bom" do Carvalho da Silva derramavam copiosas "maldades" e incestuosos tormentos. Mais ninguém, de igual linhagem ou carácter, parecia seguir tais escandalosos métodos, isto é ser correia de transmissão a um partido. O "bom" do Carvalho da Silva - é bom de ver - não apreciava tais ditames, mesmo que tal tivesse algum provimento. Por isso, com mal d’amores políticos à mistura, foi ler, estudar e deixou lentamente a sombra tutelar da linha ortodoxa do velho partido. Ganhou encantamentos. Nunca mais tais retóricas foram elevadas ao seu total exagero. Evidentemente, continuou a zelar, a falar e a instruir. E até, de vez em quando, a "lutar"- diga-se.
Entretanto, como se esperava e tinha de ser, desperta para a "vidinha" sindical essa figura ridícula, espaventosa e pouco graciosa que dá pelo nome de João Proença. Saltou do estabelecimento do Largo do Rato, directamente para a moita sindical. O pulo do João Proença, mesmo que desconchavado, não iludia nativo algum. Num país de controleiros mimados, todos bufaneando para o "patrão" que lhe der a mão, o indígena não se ocupou do assunto que entendia pouco suspeitoso. Até então a "correia de transmissão" dos sindicatos aos partidos era, ironicamente e para gozo dos putativos "patrões", atribuído ao "bom" do Carvalho. E assim, poisando a cabeça entre a agremiação de putativos "sindicalistas" e o rabo dos sábios colunistas, lá caminhava o inatacável João Proença: de dia tomando o boné proletário e de noite usando o fato das novas oportunidades socialistas. A evidente "dupla personalidade" deste curioso "sindicalista", ao fim de longo tempo, foi agora diagnosticada.
É que depois de ter andado em romaria pela paróquia com o eng. Sócrates - explicando a bondade da revisão do Código de Trabalho –, de ser entronizado em reunião na sacristia do Largo do Rato e de ter assinado de cruz o "notável" Código de Trabalho” do sr. Sócrates & Silva(s), revelou a gravíssima doença de que é possuído: o de ser o Mr. Hyde & o Mr. Jekyll dos proletas lusos. E há cura para tal afoiteza, perguntam vós? Não sabemos! Mas o sempre talentoso sr. Vitalino Canas, decerto, um dia dirá qualquer coisa sobre o doente. Se tivermos tempo.
Saúde e fraternidade
ALMOCREVE - PRAZERES OCIOSOS
Se não fossemos nós ...
"Se não fossemos nós
quem eram vocês?
Se não fossem vocês
quem éramos nós?
Quem nos lê a nós?
São vocês (e nós...)
Quem vos lê a vocês?
Somos nós (e vocês...)
Tudo fica, pois,
Entre nós, entre nós ..."
[Alexandre O’Neill]
terça-feira, 8 de julho de 2008
Catálogo de Livros Antigos e Modernos sobre Misericórdias e Assistência
Acaba de sair um curioso e invulgar Catálogo de Livros Antigos e Modernos sobre Misericórdias e Assistência pela Livraria Manuel Ferreira [Rua dr. Alves da Veiga, 89, Porto].
Algumas referências: Estudos Históricos e Archeologicos 1874-75, de Inácio de Vilhena Barbosa, Porto, II vols / A Cappela de S. João Baptista erecta na Egreja de S. Roque, de Sousa Viterbo e Lourenço de Almeida, 1900 / História da Santa Casa da Misericórdia do Porto, por A. Magalhães Basto, 1934-1964, II vols / Da Igreja Manuelina da Misericórdia de Lisboa "Conceição Velha", por Jorge Segurado, 1977 / Compromisso da Misericórdia do Porto, Porto, 1800 / Memoria Justificativa e Descriptiva das Obras Executadas na Egreja de S. Roque de Lisboa, 1894 / Centenário do Hospital Miguel Bombarda, Antigo Hospital de Rilhafoles 1848-1948 / Économie Sociale – Assistance Publique en Portugal, de Costa Goodolfim, Lisbonne, 1900 / O Problema da Assistência, por A. C. Amaral Frazão [pref. de Agostinho Fortes], Typ. do Grémio Lusitano, 1925 / Uma opinião sobre os expostos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pelo Conde de Rio Maior, Lisboa, 1866 / diversos Álvaras / Estatutos e Outros Diplomas relativos à Fundação do Collegio dos Meninos Orphãos de Nossa Senhora da Graça da Cidade do Porto, Porto, 1897 / Estatuto para o Asylo das Raparigas Abandonadas da Cidade do Porto, 1859 / Monographia do Estabelecimento Humanitário do Barão de Nova Cintra, Porto, 1910 / vários obras de relatórios e contas gerais da Misericórdia do Porto / Suprema Afronta. O Assalto à Misericórdia de Ovar, por Alberto Tavares & José de Oliveira Pinho, Edição do Jornal "A Pátria", de Ovar, 1928 / Restos da Monarchia a Dentro da Santa Casa da Misericórdia do Porto [por Vasco Nogueira de Oliveira et al], Porto, 1911 / Os Roubos na Santa Casa da Misericórdia do Porto à luz da syndicancia, Porto, 1883 / A Santa Casa de Misericórdia da Vila de Olivença, por Ventura Ledesma Abrantes, 1940 / Compromisso da Irmandade da Misericórdia da Cidade de Coimbra, 1891 / Constituições do Recolhimento da Santíssima Trindade de Braga [manuscrito original], s.d. / A Misericórdia de Castelo Branco (Apontamentos Históricos), de H. Castro e Silva, 1958
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
...
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
[Fernando Pessoa]
sábado, 5 de julho de 2008
Leilão de Livros e Manuscritos no Palácio do Correio Velho
Nos dias 7, 8 e 9 de Julho, pelas 15 horas - na Calçada do Combro, 38A, Lisboa – vai decorrer mais um leilão de Livros, Manuscritos, Gravuras, organizado pelo Palácio do Correio Velho.
Trata-se da venda de um valioso núcleo de obras de Arte, História, Olisipografia, Literatura Clássica e uma Modernista rara, Miguelismo, História da Moda e do Traje, uma importantíssima e invulgar colecção de Militária e Uniformologia Histórica Militar , Legislação Militar, Gravuras (Iconografia Militar), Manuscritos de interesse militar (Campanhas da Guerra Peninsular e lutas entre Realistas e Liberais), pertença do coleccionador, investigador militar e colaborador do "Jornal do Exército" Manuel António Ribeiro Rodrigues, conforme aqui pode ser lido e consultado.
Catálogo on line.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Ingrid Betancourt ... em liberdade!
"Ingrid Betancourt e três reféns norte-americanos há vários anos em poder da guerrilha das FARC foram resgatados pelo Exército colombiano, anunciou o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. O responsável revelou que outros 11 militares foram também libertados nesta operação ..." [ler aqui]
Locais: Ingrid Betancourt é resgatada na Colômbia / Colombian forces trick Farc rebels into freeing hostage Betancourt / Des espions infiltrés au sein des Farc, clé de la libération d'Ingrid Betancourt / Colombia, liberata Ingrid Betancourt
2 entrevistas: eleitoralismo & credibilidade
"As dificuldades nem sempre são igualmente consideráveis" [Clausewitz]
As entrevistas às Tv’s de Manuela Ferreira Leite e de José Sócrates, ambas em cativação de votos, foram irreais, insonsas e estranhamente vulgares. Pouco interessa se Sócrates bate copiosamente Ferreira Leite e esse jardim suspenso que é hoje o PSD. A senhora do défice, sem qualquer mistério ou ocultação, mostrou a tragédia a que se presta e o que vale, que é muito pouco ou nada. Sem conhecer os dossiers, seca em lamentações, dando mostras de se ter esquecido da linguagem económica e da sua fraseologia, Manuel Ferreira Leite ficou embaraçada entre o disparate de algumas coisas que (não) avançou (baixa de impostos e investimento público) e a sua putativa credibilidade. Não consegue descolar da sua anterior e desastrosa governação e, mesmo que repita até à exaustão essa presumida palavra "social", não deixa de ser vítima da antipatia que se lhe conhece. E da sua falta de credibilidade, que teimosamente persiste.
José Sócrates está, já, em campanha eleitoral. Porém, entre as suas lamentações (bem ao estilo de Calimero) pela ingrata crise "importada" (de que não soube interpretar os sinais) que se diz vítima e a gritaria incontinente de que tudo irá correr bem para o amanhã vindouro, Sócrates proporciona sempre um misto de incredulidade (pelo atrevimento) e de repulsa pela falta de decoro e humildade que revela. Quando, na sua melodia de sempre (e que Ferreira Leite não soube aproveitar porque, ironicamente, a "produção" teórica é idêntica), nos assegura que todo o mal do mundo (leia-se: a crise económica) é de origem externa - como obscenamente repete -, não está a fazer mais que dissimular o contributo formidável da sua ruinosa gestão económica e orçamental, para o estado da coisa. Ele não só pensa e repete que a fatalidade lhe bateu à porta, logo quando tudo ia bem (como diz), como, pela engenharia económica e social que pretende tricotar, tal maldição desaparecerá por retóricas intensas e choques de investimento público. E quem não pensar assim – confessa com a alma em dor – é um crónico pessimista, logo um sujeito sem "ânimo" e sem "coragem".
A controvérsia entre Sócrates e Ferreira Leite não é uma simples divergência sobre a afectação eficiente de recursos (como alguns sábios analistas divulgam), nem um qualquer pecadilho entre a economia positiva versus normativa, muito menos o confronto entre eficiência económica e distribuição de rendimentos – como timidamente outros nos dizem -, mas tão só a caricatura do que escreve Keynes:"o dever dos economistas é tentar mudar a opinião pública".
E sobre isso, estamos todos - evidentemente - bem conversados.
terça-feira, 1 de julho de 2008
GENIO DE COIMBRA (a)
A doçura dos ares, a serenidade dos ceos, e a fertelidade do sólo, fazem de Coimbra uma terra de delicias. Os seus campos sempre vestidos de verdura, e povoados de laranjeiras, loiros e oliveiras, que nunca largão a folha, parecem respirar uma eterna primavera.
É verdade, que ás vezes é tão rigoroso o Inverno, que parece ser o mesmo o clima de Coimbra. Um frio, como o da Russia, deixa por muito tempo nas fontes e poços das ruas as aguas geladas.(...)
Tambem são mui frequentes no verão os suffocativos suões. O sol nestes dias, quando se levanta, vem sempre coberto de vapores sanguineos. Dentro das montanhas visinhas sáe, como da boca de um forno, um bafo, que abraza e suffoca. (...)
Os habitantes de Coimbra gozão de um temperamento sanguineo. O canto e os risos são o seu estado ordinário. (...)
Nunca vi um povo mais curioso. Não levantão uma chaminé, em que não gravem a era da sua erecção. Nota-se isto em todos os edificios da cidade, grandes e pequenos. Se os povos da Grecia e Roma tivessem sido tão desvelados em transmitir á posteridade a épocha das suas façanhas, não darião tanto que fazer aos antiquarios modernos.
(a) Entendo por Genio de Coimbra a temperatura do clima, e indole dos habitantes.
[in CORTE-REAL, António Moniz Barreto (1831), Bellezas de Coimbra, Coimbra: Real Imprensa da Universidade, p.24-28]
Anotação de Coimbra, enviada via mail por J.R.. Com os agradecimentos aqui do Valle do Mondego, com mar ao fundo. Graças.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
57 – folha independente de cultura - on line na Hemeroteca Nacional
57 - Publicação de "Actualidades, Filosofia, Arte e Ciência, Literatura". Cascais; Ano I, nº 1 (Maio de 1957) ao Ano V, nº 11 (Junho de 1962). Editor: Afonso Botelho; Direcção: António Quadros [a partir do nº5, António Quadros e Fernando Morgado]; Alguns colaboradores: Afonso Cautela, Agostinho da Silva, Agustina Bessa Luís, Alfredo Margarido, Álvaro Ribeiro, Ana Hatherly, António Areal, António Quadros, António Telmo, Azinhal Abelho, Bernardo Santareno, Fernando Pessoa, Jorge Preto, José Marinho, Natércia Freire, Orlando Vitorino, Sant'Anna Dionísio.
"... Impunha-se (...) um programa, que libertasse a cultura portuguesa do ‘imobilismo paralisante’ de ‘escolas e políticas que nos são estranhas’ e de ‘fins egoístas’. Este programa, de acordo com o ‘Manifesto de 57’, publicado no primeiro número do jornal, logo a abrir, passava pelo recurso a ‘estudos antropológicos e cosmológicos que garantam as teses propostas’, ou melhor, pela adopção de ‘formas antropo-cosmológicas em que o Espírito ou a Razão se particularizam, isto é, as pátrias’ (...)
‘Não é possível servir Portugal sem conhecer Portugal. Não é possível servir o homem português sem conhecer o homem português’. (...)
A história de Portugal não era feita de uma ‘cadeia de eventos fortuitos dominados pelo acaso, provocado pela luta das classes ou dependentes das flutuações do comércio e da indústria’. Pelo contrário, obedecia em ‘finalismo, a um destino e uma missão’, por outras palavras, a uma 'necessidade', como o tinham afirmado os nossos primeiros poetas épicos, Camões, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa. Esta ‘necessidade’, que resistira ‘as pressões do grandes povos’, exigia, para o grupo do 57, numa crítica à influência das correntes estrangeiras mas também ao poder político, que a nação recuperasse a sua “autonomia filosófica, artística e cultural”, que valorizasse as causas espirituais, ‘que são de expressão concreta e portanto nacionais’, em detrimento das materiais. Desta forma, evitava-se que a autonomia política, a independência, fosse um ‘capricho de governantes que ambicionam o poder temporal ou teimosia de passadistas, anacronicamente presos a hábitos mentais e a lembranças, atavismos, nostalgias’ (…)
Esse caminho era, para o 57, o existencialismo e a filosofia portuguesa ..."
[Álvaro Costa de Matos, in O Jornal 57: História e Memória - sublinhados nossos]
Consultar todos os 11 números do jornal, aqui.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Exames ou o choro desvalido dos comentadores
No começo da regência do eng. Sócrates, logo na primeira reunião do directório ministerial da educação, Maria de Lurdes Rodrigues mostrou ao que vinha: tomar medidas economicistas para a tutela de acordo com o plano socrático de "mercearia" financeira para o controlo do défice, limitação do poder educacional dos docentes via novo Estatuto da Carreira Docente e restituir a "dignidade" estatística do sucesso escolar dos nossos educandos – para Europa ver – estimulando a quase "passagem administrativa" dos alunos. Tudo isso estava ligado e tinha de ser feito em conjunto. Durante a insigne reunião e nos tempos seguintes, não teve pejo em insultar e caluniar os docentes, as famílias, a comunidade educativa e alguns investigadores em história da educação. Tudo a bem da escola, dizia.
Poucos entenderam aonde tudo isso levava. A não ser os docentes, como excelentes profissionais que são, e alguns poucos investigadores (o poder atemoriza, sempre, tais vates) do ensino e educação em Portugal, poucos mais se podem orgulhar de ter levantado a voz contra o desastre que se avizinhava. Pelo contrário, muitos desses carpinteiros da educação, sempre em tom desconchavado, não só não entenderam criticar as medidas preconizadas como apoiaram a putativa luminosidade disso tudo. O "cantar de amigo" funciona sempre muito bem entre nós.
Com apoio do bloco central dos interesses – veja-se como engorda a privada à custa da destruição do ensino público, note-se quem são estão esses senhores e os amigos que os sustentam –, mais a tumultuosa horda liberal que declamou na ocasião sonetos lurdianos e outras frases de efeito mercantil e de uma mão-cheia de ressabiados da vida e da coisa pública que escrevinham nos jornais ou abancam no ISCTE (caso do anarquista reformado João Freire que veio à praça pública fazer o mise-en-scéne sociológico que nos habituou e outros que tricotam em blogues), a opinião pública e publicada embriagou-se de eduquês. As famílias, com o pai dos pais em notas de aplauso, adocicadas e sensibilizadas pelo espírito da dissertação de todos eles, aplaudiram.
E pouco importava se a subtil estratégia que Maria de Lurdes prosseguia e a gravidade que adquiria a hecatombe colocasse em causa a linha educacional pública do partido socialista. O desaforo volante do trio do ministério da educação foi tal, que alguns dos seus antigos gestores foram ignominiosamente insultados e arrastados para a lama pública, apodados, também, como culpados da péssima (de facto!) prestação do ensino e educação em Portugal.
A estratégia seguida foi (é) de uma ingenuidade pasmosa. Primeiro avança-se com medidas avulsas, desgarradas (sem visão global) e a existir convulsões há que passar imediatamente para outra medida e assim sucessivamente. Criar factos políticos quando o alarido é exibido na comunicação social é, convenhamos, uma bravata pouco pedagógica mas, desde o que o prof. Marcelo entronizou tais episódios, poucos a não utilizam.
Assim, ao longo da lista de mazelas, chegamos agora ao debate curioso dos exames, da sua manifesta pouco qualidade e exigência, das suas consequências presentes e futuras. O tom, o azedume e a reprimenda da resposta de Lurdes Rodrigues aos castos comentadores e outrora adeptos do lindismo educacional da ministra, não se fizeram esperar. Habituem-se! Até porque, a partir de hoje (quarta-feira) e com a reunião do ministério com os conselhos executivos das escolas, novo facto político será declarado: a figura do director escolar. Suspeita-se que não há tempo mais para debates sobre os exames, que serão esquecidos, como tudo o resto anteriormente. A espuma, o choro e o letrismo dos ex-amigos da senhora ministra, obscenamente, mudará. O país e a educação não. A destruição é já total! E para ficar!
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Cruzeiro Seixas
"São complicadas as minhas relações com o que faço, são mesmo desesperadoras. Inexplicáveis, talvez. É quase com ódio que me sento diante do papel, que pego na caneta ou nos pincéis, que preparo as tintas. É com ódio que, no fim, verifico o que ficou. Porém, algumas vezes, uma certa simpatia se estabelece entre mim e o meu trabalho, para algum tempo depois verificar que essa obra é de facto inferior. É todo um ciclo de amor que se desfaz dolorosamente ..."
"... Os automóveis passando as mãos nas tuas pernas
perto a abóbada há milhões de séculos escondida
o poeta pendurado com um alfinete
na fachada da casa
nós lado a lado deitados
procurando-nos ..."
"Acredito que haja uma terra distante onde resida a esperança de nós todos e para ela experimento todos os símbolos, secretamente, como o ladrão experimenta mil chaves para abrir um cofre vazio"
[in Cruzeiro Seixas, por Mário Cesariny, Editora Lux, Lisboa, 1967]
Desenho original de Cruzeiro Seixas, via In-Libris, com a devida vénia.
In-Libris – Catálogo
A In-Libris (Porto) apresenta um curioso Catálogo de livros e outras peças bem invulgares, entre os quais se regista: livro de Fialho de Almeida, várias monografias [Santa Eulália de Oliveira do Douro, Avintes, Sandim, S. Félix da Marinha, S. Salvador de Perosinho, S. Pedro de Pedroso, Santa Maria do Olival, Vilar de Andorinho, S. Salvador de Valadares, Santo Tirso, os Pescadores da Murtosa de Joaquim Leitão], diversos livros de arqueologia, livros de Pedro Alvim, o raro Compendio de Botânica (1788) de Avelar Brotero, o estimado Da Vida e da Morte dos Bichos (Henrique Galvão & outros), uma edição dos Tempos de Coimbra de António Cabral, o esgotado livro e raro já das edições Ribeiro de Mello "Aventuras de Alice no País das Maravilhas", 2 obras estimadas de Natália Correia, a edição rara da "Fysiognomia, e varios segredos da natureza" de Jerónimo Cortez (1706), a edição fac-similada do "Tratado Practico de Fotografia" de Davanne, uma imperdivel câmara de espionagem disfarçada em relógio de bolso da "Expo Pocketwatch Camera" de Nova Iorque, a procurada peça de Ana Hatherly "A Reinvenção da Leitura" e, ainda, "63 Tisanas", a História da Cidade do Porto (III vols), uma gravura de Hogan, uma "Câmara fotográfica de Baquelite fabricada pela Kodak entre 1939 e 1954", o raro livro de João Ferreira Lapa "Artes Chimicas Agrícolas e Florestais ou Tecnologia Rural" (1871, III vols), a estimada e rara "Flora Cochinchinensis" de João Loureiro (1790, II vols), a revista Presença (fac-similada), um valioso manuscrito de José Régio destinado à revista Presença e nunca publicado, um desenho original de Cruzeiro Seixas, e muito mais.
A consultar on line.
Questions For Gore Vidal
And what about Mr. McCain?
- Disaster. Who started this rumor that he was a war hero? Where does that come from, aside from himself? About his suffering in the prison war camp?
Everyone knows he was a prisoner of war in North Vietnam.
- That’s what he tells us.
[Gore Vidal, entrevista via The New York Times Magazine]
terça-feira, 17 de junho de 2008
Bilderberger 2008 ou récita conspirativa
Dizem por aí que o "Clube de Bilderberg" ou "Senhores do Mundo" [títulos caprichados do livro de Daniel Estulin] ainda respiram. Ao que consta a reunião deste ano foi em Chantilly (curioso nome!), Virginia, em terras do sr. Bush. Grupo económico ou corporação de interesses, é o "Bilderberg Group" alvo de várias teorias da conspiração. Esse "fórum de elites", presuntivamente a nata da estratégia politico-económica ocidental (a Trilateral – dizem – seria mais globalizante, mas do mesmo rito ou ceia cardinalícia), suscita sempre exageros e intrigas de espírito, de permeio com achaques histriónicos de alguns capelões por esta blogosfera fora.
Seja como for, desde que espreitaram por lá – decerto pouco aborrecido – o invulgar Santana Lopes (2004), o sr. Sócrates (2004) e o mordomo do dr. Balsemão, o para-economista Nicolau Santos (1999), que já passámos a acreditar em tudo. Como diria o divino Marquês: "Tu não conhecerás nunca nada se não conheceste tudo". É o nosso caso! Mais para mais quando este ano, em Chantilly e para a posteridade, fizeram o devido investimento a dupla maravilha: o Rui Rio e o António Costa. Sorriram!?
Locais: BILDERBERG 2008 ATTENDEE LIST / Bilderberg 2008 – Eyes Wide Open (video no Youtube – há vários videos) / Bilderberg 2008 Postscript / Bilderberg 2008: Chantilly, Virginia near Washington DC, June 5th-8th / Bilderberg Group Organization / Bilderberg Org / Bilderberg o plano oculto de dominação mundial / Hillary & Obama In Secret Bilderberg Rendezvous / Le Group Bilderberg / Todos os portugueses de Bilderberg / The Bilderberg Group and the project of European unification / The world in the palm of their hands: Bilderberg 2005, Part II / Transnational Corporate Ties: A Synopsis of Theories and Empirical Findings
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