terça-feira, 1 de julho de 2008


GENIO DE COIMBRA (a)

A doçura dos ares, a serenidade dos ceos, e a fertelidade do sólo, fazem de Coimbra uma terra de delicias. Os seus campos sempre vestidos de verdura, e povoados de laranjeiras, loiros e oliveiras, que nunca largão a folha, parecem respirar uma eterna primavera.

É verdade, que ás vezes é tão rigoroso o Inverno, que parece ser o mesmo o clima de Coimbra. Um frio, como o da Russia, deixa por muito tempo nas fontes e poços das ruas as aguas geladas.(...)

Tambem são mui frequentes no verão os suffocativos suões. O sol nestes dias, quando se levanta, vem sempre coberto de vapores sanguineos. Dentro das montanhas visinhas sáe, como da boca de um forno, um bafo, que abraza e suffoca. (...)

Os habitantes de Coimbra gozão de um temperamento sanguineo. O canto e os risos são o seu estado ordinário. (...)

Nunca vi um povo mais curioso. Não levantão uma chaminé, em que não gravem a era da sua erecção. Nota-se isto em todos os edificios da cidade, grandes e pequenos. Se os povos da Grecia e Roma tivessem sido tão desvelados em transmitir á posteridade a épocha das suas façanhas, não darião tanto que fazer aos antiquarios modernos.


(a) Entendo por Genio de Coimbra a temperatura do clima, e indole dos habitantes.

[in CORTE-REAL, António Moniz Barreto (1831), Bellezas de Coimbra, Coimbra: Real Imprensa da Universidade, p.24-28]

Anotação de Coimbra, enviada via mail por J.R.. Com os agradecimentos aqui do Valle do Mondego, com mar ao fundo. Graças.