segunda-feira, 30 de junho de 2008


57 – folha independente de cultura - on line na Hemeroteca Nacional

57 - Publicação de "Actualidades, Filosofia, Arte e Ciência, Literatura". Cascais; Ano I, nº 1 (Maio de 1957) ao Ano V, nº 11 (Junho de 1962). Editor: Afonso Botelho; Direcção: António Quadros [a partir do nº5, António Quadros e Fernando Morgado]; Alguns colaboradores: Afonso Cautela, Agostinho da Silva, Agustina Bessa Luís, Alfredo Margarido, Álvaro Ribeiro, Ana Hatherly, António Areal, António Quadros, António Telmo, Azinhal Abelho, Bernardo Santareno, Fernando Pessoa, Jorge Preto, José Marinho, Natércia Freire, Orlando Vitorino, Sant'Anna Dionísio.

"... Impunha-se (...) um programa, que libertasse a cultura portuguesa do ‘imobilismo paralisante’ de ‘escolas e políticas que nos são estranhas’ e de ‘fins egoístas’. Este programa, de acordo com o ‘Manifesto de 57’, publicado no primeiro número do jornal, logo a abrir, passava pelo recurso a ‘estudos antropológicos e cosmológicos que garantam as teses propostas’, ou melhor, pela adopção de ‘formas antropo-cosmológicas em que o Espírito ou a Razão se particularizam, isto é, as pátrias’ (...)

‘Não é possível servir Portugal sem conhecer Portugal. Não é possível servir o homem português sem conhecer o homem português’. (...)

A história de Portugal não era feita de uma ‘cadeia de eventos fortuitos dominados pelo acaso, provocado pela luta das classes ou dependentes das flutuações do comércio e da indústria’. Pelo contrário, obedecia em ‘finalismo, a um destino e uma missão’, por outras palavras, a uma 'necessidade', como o tinham afirmado os nossos primeiros poetas épicos, Camões, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa. Esta ‘necessidade’, que resistira ‘as pressões do grandes povos’, exigia, para o grupo do 57, numa crítica à influência das correntes estrangeiras mas também ao poder político, que a nação recuperasse a sua “autonomia filosófica, artística e cultural”, que valorizasse as causas espirituais, ‘que são de expressão concreta e portanto nacionais’, em detrimento das materiais. Desta forma, evitava-se que a autonomia política, a independência, fosse um ‘capricho de governantes que ambicionam o poder temporal ou teimosia de passadistas, anacronicamente presos a hábitos mentais e a lembranças, atavismos, nostalgias’ (…)

Esse caminho era, para o 57, o existencialismo e a filosofia portuguesa ..."

[Álvaro Costa de Matos, in O Jornal 57: História e Memória - sublinhados nossos]

Consultar todos os 11 números do jornal, aqui.

quarta-feira, 25 de junho de 2008


Exames ou o choro desvalido dos comentadores

No começo da regência do eng. Sócrates, logo na primeira reunião do directório ministerial da educação, Maria de Lurdes Rodrigues mostrou ao que vinha: tomar medidas economicistas para a tutela de acordo com o plano socrático de "mercearia" financeira para o controlo do défice, limitação do poder educacional dos docentes via novo Estatuto da Carreira Docente e restituir a "dignidade" estatística do sucesso escolar dos nossos educandos – para Europa ver – estimulando a quase "passagem administrativa" dos alunos. Tudo isso estava ligado e tinha de ser feito em conjunto. Durante a insigne reunião e nos tempos seguintes, não teve pejo em insultar e caluniar os docentes, as famílias, a comunidade educativa e alguns investigadores em história da educação. Tudo a bem da escola, dizia.

Poucos entenderam aonde tudo isso levava. A não ser os docentes, como excelentes profissionais que são, e alguns poucos investigadores (o poder atemoriza, sempre, tais vates) do ensino e educação em Portugal, poucos mais se podem orgulhar de ter levantado a voz contra o desastre que se avizinhava. Pelo contrário, muitos desses carpinteiros da educação, sempre em tom desconchavado, não só não entenderam criticar as medidas preconizadas como apoiaram a putativa luminosidade disso tudo. O "cantar de amigo" funciona sempre muito bem entre nós.

Com apoio do bloco central dos interesses – veja-se como engorda a privada à custa da destruição do ensino público, note-se quem são estão esses senhores e os amigos que os sustentam –, mais a tumultuosa horda liberal que declamou na ocasião sonetos lurdianos e outras frases de efeito mercantil e de uma mão-cheia de ressabiados da vida e da coisa pública que escrevinham nos jornais ou abancam no ISCTE (caso do anarquista reformado João Freire que veio à praça pública fazer o mise-en-scéne sociológico que nos habituou e outros que tricotam em blogues), a opinião pública e publicada embriagou-se de eduquês. As famílias, com o pai dos pais em notas de aplauso, adocicadas e sensibilizadas pelo espírito da dissertação de todos eles, aplaudiram.

E pouco importava se a subtil estratégia que Maria de Lurdes prosseguia e a gravidade que adquiria a hecatombe colocasse em causa a linha educacional pública do partido socialista. O desaforo volante do trio do ministério da educação foi tal, que alguns dos seus antigos gestores foram ignominiosamente insultados e arrastados para a lama pública, apodados, também, como culpados da péssima (de facto!) prestação do ensino e educação em Portugal.

A estratégia seguida foi (é) de uma ingenuidade pasmosa. Primeiro avança-se com medidas avulsas, desgarradas (sem visão global) e a existir convulsões há que passar imediatamente para outra medida e assim sucessivamente. Criar factos políticos quando o alarido é exibido na comunicação social é, convenhamos, uma bravata pouco pedagógica mas, desde o que o prof. Marcelo entronizou tais episódios, poucos a não utilizam.

Assim, ao longo da lista de mazelas, chegamos agora ao debate curioso dos exames, da sua manifesta pouco qualidade e exigência, das suas consequências presentes e futuras. O tom, o azedume e a reprimenda da resposta de Lurdes Rodrigues aos castos comentadores e outrora adeptos do lindismo educacional da ministra, não se fizeram esperar. Habituem-se! Até porque, a partir de hoje (quarta-feira) e com a reunião do ministério com os conselhos executivos das escolas, novo facto político será declarado: a figura do director escolar. Suspeita-se que não há tempo mais para debates sobre os exames, que serão esquecidos, como tudo o resto anteriormente. A espuma, o choro e o letrismo dos ex-amigos da senhora ministra, obscenamente, mudará. O país e a educação não. A destruição é já total! E para ficar!

quarta-feira, 18 de junho de 2008


Cruzeiro Seixas

"São complicadas as minhas relações com o que faço, são mesmo desesperadoras. Inexplicáveis, talvez. É quase com ódio que me sento diante do papel, que pego na caneta ou nos pincéis, que preparo as tintas. É com ódio que, no fim, verifico o que ficou. Porém, algumas vezes, uma certa simpatia se estabelece entre mim e o meu trabalho, para algum tempo depois verificar que essa obra é de facto inferior. É todo um ciclo de amor que se desfaz dolorosamente ..."

"... Os automóveis passando as mãos nas tuas pernas
perto a abóbada há milhões de séculos escondida
o poeta pendurado com um alfinete
na fachada da casa
nós lado a lado deitados
procurando-nos ...
"

"Acredito que haja uma terra distante onde resida a esperança de nós todos e para ela experimento todos os símbolos, secretamente, como o ladrão experimenta mil chaves para abrir um cofre vazio"

[in Cruzeiro Seixas, por Mário Cesariny, Editora Lux, Lisboa, 1967]

Desenho original de Cruzeiro Seixas, via In-Libris, com a devida vénia.

In-Libris – Catálogo

A In-Libris (Porto) apresenta um curioso Catálogo de livros e outras peças bem invulgares, entre os quais se regista: livro de Fialho de Almeida, várias monografias [Santa Eulália de Oliveira do Douro, Avintes, Sandim, S. Félix da Marinha, S. Salvador de Perosinho, S. Pedro de Pedroso, Santa Maria do Olival, Vilar de Andorinho, S. Salvador de Valadares, Santo Tirso, os Pescadores da Murtosa de Joaquim Leitão], diversos livros de arqueologia, livros de Pedro Alvim, o raro Compendio de Botânica (1788) de Avelar Brotero, o estimado Da Vida e da Morte dos Bichos (Henrique Galvão & outros), uma edição dos Tempos de Coimbra de António Cabral, o esgotado livro e raro já das edições Ribeiro de Mello "Aventuras de Alice no País das Maravilhas", 2 obras estimadas de Natália Correia, a edição rara da "Fysiognomia, e varios segredos da natureza" de Jerónimo Cortez (1706), a edição fac-similada do "Tratado Practico de Fotografia" de Davanne, uma imperdivel câmara de espionagem disfarçada em relógio de bolso da "Expo Pocketwatch Camera" de Nova Iorque, a procurada peça de Ana Hatherly "A Reinvenção da Leitura" e, ainda, "63 Tisanas", a História da Cidade do Porto (III vols), uma gravura de Hogan, uma "Câmara fotográfica de Baquelite fabricada pela Kodak entre 1939 e 1954", o raro livro de João Ferreira Lapa "Artes Chimicas Agrícolas e Florestais ou Tecnologia Rural" (1871, III vols), a estimada e rara "Flora Cochinchinensis" de João Loureiro (1790, II vols), a revista Presença (fac-similada), um valioso manuscrito de José Régio destinado à revista Presença e nunca publicado, um desenho original de Cruzeiro Seixas, e muito mais.

A consultar on line.

Questions For Gore Vidal

And what about Mr. McCain?

- Disaster. Who started this rumor that he was a war hero? Where does that come from, aside from himself? About his suffering in the prison war camp?

Everyone knows he was a prisoner of war in North Vietnam.

- That’s what he tells us.

[Gore Vidal, entrevista via The New York Times Magazine]

terça-feira, 17 de junho de 2008


Bilderberger 2008 ou récita conspirativa

Dizem por que o "Clube de Bilderberg" ou "Senhores do Mundo" [títulos caprichados do livro de Daniel Estulin] ainda respiram. Ao que consta a reunião deste ano foi em Chantilly (curioso nome!), Virginia, em terras do sr. Bush. Grupo económico ou corporação de interesses, é o "Bilderberg Group" alvo de várias teorias da conspiração. Esse "fórum de elites", presuntivamente a nata da estratégia politico-económica ocidental (a Trilateral – dizem – seria mais globalizante, mas do mesmo rito ou ceia cardinalícia), suscita sempre exageros e intrigas de espírito, de permeio com achaques histriónicos de alguns capelões por esta blogosfera fora.

Seja como for, desde que espreitaram por – decerto pouco aborrecido – o invulgar Santana Lopes (2004), o sr. Sócrates (2004) e o mordomo do dr. Balsemão, o para-economista Nicolau Santos (1999), que já passámos a acreditar em tudo. Como diria o divino Marquês: "Tu não conhecerás nunca nada se não conheceste tudo". É o nosso caso! Mais para mais quando este ano, em Chantilly e para a posteridade, fizeram o devido investimento a dupla maravilha: o Rui Rio e o António Costa. Sorriram!?

Locais: BILDERBERG 2008 ATTENDEE LIST / Bilderberg 2008 – Eyes Wide Open (video no Youtube – há vários videos) / Bilderberg 2008 Postscript / Bilderberg 2008: Chantilly, Virginia near Washington DC, June 5th-8th / Bilderberg Group Organization / Bilderberg Org / Bilderberg o plano oculto de dominação mundial / Hillary & Obama In Secret Bilderberg Rendezvous / Le Group Bilderberg / Todos os portugueses de Bilderberg / The Bilderberg Group and the project of European unification / The world in the palm of their hands: Bilderberg 2005, Part II / Transnational Corporate Ties: A Synopsis of Theories and Empirical Findings

sábado, 14 de junho de 2008


Leilão - parte da Biblioteca Dr. Guilherme Goldegel de Oliveira Santos

"Parafraseando Roberto Browning: O que é difícil não é escrever um livro; é saber ler um livro.

Por um livro único, o bibliómano 'rejeitaria a coroa das Índias, o Papado, todos os museus da Itália e da Holanda, se os houvesse de trocar por esse único exemplar'
[Machado de Assis]


DUAS PALAVRAS

Estou muito velho e já não tenho espaço para os livros.
Resolvi, por isso desfazer-me de parte da minha biblioteca.

Muitos lotes são não só interessantes como invulgares. Chamo a atenção, entre outros, para o Cancioneiro da Ajuda, para as Ordenações e vários volumes que respeitam ao antigo direito, para Kant, para Sade, para a edição de 1808 da sentença da revisão do processo dos Távoras e uma cópia manuscrita, provavelmente de fins do século XVIII, para uma colecção de periódicos do tempo da Maria da Fonte e onde figura o primeiro artigo de Camilo Castelo Branco, para um atado com folhetos de literatura de cordel, para Eça de Queirós, para o Orfeu e alguns modernistas; e, em especial, para uma Cervantina fora do comum e que conta espécimes preciosos e raríssimos - por exemplo, uma edição do D. Quixote publicada em Lisboa em 1605 e saída da oficina de Pedro Crasbeeck e que é, talvez, exemplar único, como provei numa comunicação que proferi em 1999 na Associação dos Arqueólogos Portugueses e que tem separata e entra também neste leilão (lote nº 259).

Quando vi levarem os livros, acudiu-me ao espírito o episódio d'A Morgadinha dos Canaviais em que o herbanário assiste com o coração apertado ao corte das suas árvores.

É com uma saudade imensa que me despeço de amigos de todas as minhas horas, mas espero que quem adquirir as obras - sejam ou não as mais cotadas comercialmente - as estimem tanto como eu as estimei.

Lisboa, Fevereiro de 2008

Guilherme Goldegel de Oliveira Santos" [aqui, sublinhados nossos]

O leilão de parte da Biblioteca do ilustre escritor e bibliófilo, sob a responsabilidade da Leiloeira Renascimento, decorre nos próximos dias 16 e 17 de Junho - na Rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro) 20 C, Lisboa - pelas 21.30 horas.

O Catálogo do leilão, que esteve a cargo de José F. Vicente, pode ser consultado on line.

A não perder.

sexta-feira, 13 de junho de 2008


Porreiro, pá!

Os irlandeses disseram não ao Tratado de Lisboa. Infelizmente! Mas mesmo se a comédia do processo de ratificação do Tratado de Lisboa, totalmente forjado dentro das boticas partidárias e via as alcovas parlamentares, tinha os seus dias contados, não era de esperar tamanha magnitude da vitória do Não nesta estranha Irlanda. Sabe-se – agora – pela demagogia e trapaça usada pelos partidários do Não, que a presumida iluminação intelectual dos irlandeses não é bem diferente da nossa. Que lá como cá, a opinião pública não é documentada nem se esclarece, não tem voz e portanto não existe. E que a transparência e a democracia, assuntos sempre na boca dos políticos mas que curiosamente não praticam, é hoje (como sempre assim foi e será) condição necessária e urgente para um projecto comum de construção da Europa. Mais até que qualquer Tratado de Lisboa, com ou sem a bênção desse inefável par Barroso-Sócrates. Ou dos seus amigos europeus.

Com o Não ao Tratado de Lisboa, perderam a arrogância aqueles que tem sempre razão e nunca se enganam. Perderam aqueles que usam e abusam da manipulação e de promessas aos cidadãos, alarvemente. Perderam todos os que julgam a Europa uma quintarola sua e que os eleitores se compram ou se deixam comprar como qualquer artigo de uso e deito fora. Perdeu o fala-barato sr. Barroso, que não entende – mas devia – o significado de democracia participativa. Perdeu o sr. Sócrates, mas também o inqualificável Gordon Brown. E vai perder o sr. Brian Cowen, se tentar mentir aos seus concidadãos, avançando com novo referendo, como o inenarrável Barroso pretende. Não aprenderam a lição. Até quando?

O governo da Crise

O demónio da Crise que as empresas de camionagem celebrizaram toda a semana, ao que parece inexplicável para as mentes colegiais do grupo Socrático, lançou aprimoradas opiniões, quase sempre de palmatória em punho. Da mão esquerda castrada (o silêncio foi d’oiro) à sempre tradicional devassa da mão direita, todos e cada um trilharam caminhos e pronunciamentos severos, observações espirituosas e "cantilenas" intelectuais curiosas.

A direita etnográfica desenterrou l’esprit du vieux maître Salazar e entre fantasias jurídicas e colecções de impropérios musculados (o invocado cassetete do dr. Rui Pereira foi proverbial) exigiu a lei e a ordem perante as actividades contra a segurança do Estado. Desde o putativo lockout (?) chorado pela direita da esquerda (onde pontifica angustiosamente o dr. Vital Moreira) e deliberado pela centelha intelectual da gente da superstição liberal (em que o irreconhecível Gabriel Silva foi seu lídimo representante) até ao pressuposto de uma arbitrária greve (?), a coisa a diligenciar seria sempre o recurso à "democrática" bastonada. Simples, pesada e sem rastos.

O governo, porém, não lhes fez a vontade. À revelia, já se vê, da vontade e animo forte do dr. Pacheco Pereira, que em esforço de cidadania exigia umas fortes bengaladas nesses instigadores da desordem pública, ademais seus correligionários de partido. Por seu lado, a sra. Ferreira Leite, sem perceber o que estava a acontecer - decerto porque estava em estudos para o formoso défice - desapareceu da ribalta. E ao que se presume, para voltar num dia qualquer de nevoeiro, falando baixinho aos ouvidos selados dos seus companheiros. A coisa promete! Por outro lado, o cada vez mais presidente Américo Tomás, que num rasgo de modéstia assina com raça, Cavaco Silva, não se quer meter em novos fadários. Basta-lhe para a sua vidinha, umas passeatas, uma mão cheia de emigrantes, um rancho folclórico, algumas condecorações e outros tantos almoços. A vida está difícil para todos!

E que dizemos nós, perguntais vocemessês, de cassetete em punho? Pois ... não temos nada a declarar! Estamos muito para além desta indigestão da crise do petróleo, quer das causas quer dos remédios avulsos recomendados. E mesmo se o debate sobre a alta dos preços das commodities, a crise financeira ou as pressões inflacionárias, os efeitos da taxa de juro ou a presumida credibilização os sábios do BCE (ou FED) seja, por si só estimulante, acaba sempre por ser demasiado masturbatório. Preferimos não perder a floresta (como heterodoxos que somos) e por isso não confundimos a dose com o remédio em si. Isto é (por exemplo): não confundimos a causa da inflação com os seus sintomas. E que tem resultado entre nós – via BCE – à utilização da taxa de juro como vulgar e único instrumento anti-inflacionário. Até mesmo porque causas da inflação existem muitas, tais como as crises e, especialmente, as crises das crises. E, bem melhor que a curiosa masturbação a que temos direito, aí estão as taxas de crescimento, a alta de desemprego e perda do poder de compra para evidenciar a pouca inocência em tudo isso. Nada a declarar, portanto!

Enfim ... dizemos apenas que as esperanças ou as suas sucessivas trocas, definitivamente morreram e a utopia, coisa imaginosa d’antanho, é cada vez mais um simples "género literário". Ou como diria o Vasco Pulido Valente: "a vida é como um funil que se vai estreitando de possibilidades". Nada a declarar!

terça-feira, 3 de junho de 2008


LXXXVII Catálogo de Livros Raros e Esgotados

Acaba de sair o "87º Catálogo de Livros Raros e Esgotados Apresentados para Venda pela Livraria Manuel Ferreira" [Rua dr. Alves da Veiga, 89, Porto]. Como sempre, o Catálogo que acompanha o comércio do livro de Manuel Ferreira – um dos mais ilustres alfarrabistas deste Portugal – é um precioso guia bibliográfico para os amadores de livros. Esta colecção contém apreciados Álvaras, raros trabalhos de Arquitectura, livros de Arte, uma Brasiliana, peças de Caça, uma Camiliana e uma outra Camoneana, outras de interesse Conimbricense [ex: A Gíria dos Estudantes de Coimbra, 1947], livros de Direito, temas estimados sobre os Descobrimentos, de Filologia, de Genealogia, obras de História [Invasões Francesas, Miguelismo, Monarquia, Setembrismo, ...], curiosos Livros de Cordel, importantes Monografias e Manuscritos, obras de interesse Queirosiano, Surrealismo [via ed. Fund. Cupertino Miranda], Teatro, uma Ultramarina (ou Colonial).

Algumas referências: Arregenos que fez Gregorio Affonso, Criado do Bispo de Évora ..., Lisboa, 1649 [rara literatura de cordel] / obras importantes de Luís de Albuquerque / Almanach de la Chasse Illustre pour 1900-1902, Paris, VI vols / diferentes Alvarás [um curioso destinado a "levantar da grande decadência a que tem chegado as Pescarias", 1787] e Cartas de Leis [ex: Censura Literária, 1787] / obras de Fernando Amado [de cariz monárquico] / Autobiografia. Notas e alguns contos e alegações proferidas no Tribunal Plenário do Porto ..., por Alexandre Babo [refª. ao MUD Juvenil], Porto, 1957 / Fotografia Original e Recortes de Jornais do Marquês de Sá da Bandeira [noticias da morte do Marquês "ocorrida em 6 de Janeiro de 1876", com diferentes colaborações], coleccionadas por Manuel Pinheiro d’Oliveira Chaves / Exame da Constituição de D. Pedro e dos Direitos de D. Miguel, por José Pedro Cardoso Beja, 1829 / o "monumental" Dictionary of Artists, de Benezit, Paris, 2006 / várias obras de Raul Brandão / ... de Maria Amália Vaz de Carvalho / ... de Camilo Castelo Branco / um conjunto valioso de documentos [Decretos] sobre as Invasões Francesas / Douro. Convento de Serém ["valioso tombo de inúmeros doc. Para a história do Convento dos Capuchos de Santo António de Serem", datados de 1725, 1803], II vols / Póvoa do Varzim. Livro Costumeiro da Misericórdia da ..., 1758 / Estatutos da Sê Metropolitana da Cidade de Évora pertencentes ao Bacharel ..., 1773 [peça caligrafada da impressão de 1635] / Estrada Larga [nºs especiais do supl. d'O Comercio do Porto], III vols / [Judaica. Dicionário de Sobrenomes Sefardis], Rio de Janeiro, 2003 / Índice Geral de O Tripeiro, por Carmo Ferreira, 2007 / Guia do Viajante em Portugal e suas Colónias em Africa, Lisboa, 1907 / A Igreja e o Estado, por Joaquim Saldanha Marinho [de interesse maçónico], Rio e Janeiro, 1874-75 / História da Maçonaria em Portugal, de Oliveira Marques, III vols [e únicos publ.] / Portugal um Salto no Escuro [refª 25 de Abril], de Sebastião Nery, Rio de Janeiro, 1975 / Seara Nova, revista, Lisboa, 1921-1999, 1604+64 numrs.

Jaime Silva em trabalho ... de mato!

O martírio de Jaime Silva (como se sabe) audaz técnico made in UE e a fazer estágio na paróquia, parece não ter fim. Andava o precário ministro da agricultura em Vale do Covo, em galas e demais louçanias com os confrades caçadores, apanhando lixos terrenos & outros estragos inumanos, quando perante um raro & alegre grupo de pescadores (ancorados, pelo que se percebe, nos pinhais do reyno) teve que fugir por entre mimosas moitas.

Sabe-se, pela prosápia Jaime Silvista, que a natureza e o campo lhe não são estranhos. O ministro põe sempre a mão sobre a terra quando fala nos agricultores ou lavradores. O que, como é sabido, indispõe quase sempre esse amador da horta celestial, de nome Paulo Portas. Adiante! O que é mais curioso, nesta sementeira à Jaime Silva, é o que ele diz sobre a excursão dos pescadores: "... Esses senhores não pediram para fazer uma manifestação nem para os receber". Certeiro o dito e que ganha auditório.

Fica-se portanto a saber que na sua fantasia de ministro, quando o sr. Jaime Silva andar a pavonear-se eleitoralmente nas ruelas da paróquia, com ou sem caçadores de votos, importunando os indígenas e dificultando a vidinha nativa, estes têm não só o direito mas a obrigação de lhe responder do mesmo modo. Lá diz o povo: "quem muito abarca, pouco aperta".

Biblioteca Gaston Gradis

Hoje, em Paris-França, decorre um leilão de uma curiosa Biblioteca – de Gaston Gradis [1889-1968], homem de negócios, industrial, viticultor -, de farta opulência, ilustrações encantadoras, encadernações sumptuosas e outros "pecados" mil, pelo que se pode observar aqui. Peças magníficas de colecção.

Ah! Paris! Paris! ... "divers douceurs diverses couleurs / tu ne m’es jamais étranger mon couer" [Eluard ... evidentemente]

segunda-feira, 2 de junho de 2008


Catálogo Promocional da Livraria Moreira da Costa

Saiu um Catálogo promocional da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto), com evidentes peças estimadas, esgotadas e raras.

Algumas referências: Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, II vols / Mea Villa de Gaya, de António Arroyo et al, 1909 / Cem cartas de Camilo, por L. Xavier Barbosa, s.d. / Bibliographie Instructive ou Traité de la Connoissance des Livres Rares et Singuliers, de Guillaume-François de Bure, 1764 / Camilo (Livro comemorativo do Centenário), 1925 / O Mosteiro de São Marcos, de J. M. Teixeira de Carvalho, 1922 / Obras diversas de Camilo Castelo Branco / Os Ratos da Inquisição, por António Serrão de Castro, 1883 / Civilização, Coimbra, 1869-70, XIV vols / Constituição Política da Monarchia Portugueza, 1822 / Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, de Natália Correia, Afrodite, 1981 / Economia Politica Feita em 1795 por M.J.R. Negociante da Praça de Lisboa, dada à luz em 1821 por L.S., Lisboa / A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra ao País, 1919 / Feira da Ladra (revista), dir. Cardoso Martha, 1929-30, IV vols / Magnum Lexicon Novissimum Latinum et Lusitanum ad..., por Manuel José Ferreira, s.d. / Conta-Corrente, de Vergílio Ferreira, V vols / Manual dos Consulados de Portugal, por Pedro Afonso de Figueiredo [Visconde de Wildik], 1907-10, II vols / A Restauração de Portugal, por Faustino da Fonseca, 1902-03, III vols / Notas a Lápis ..., por Sanches Frias, 1886 / Pátria, de Guerra Junqueiro, 1896 / Tecnologia Rural ..., de J. I. Ferreira Lapa, 1885 / Cale ou a Fundação da Cidade do Porto (poema), de João Peixoto de Miranda, 1850 / Primeira Conferência Económica do Império Colonial Português, Lisboa, 1936, II vols / Memorias do Bussaco e uma Viagem à Louzã, por Adrião Pereira Forjaz de Sampaio, Coimbra, 1850 (2ª ed.).

A consultar on line.

domingo, 1 de junho de 2008


Manuela Ferreira Leite

"Fui-me confessar e disse / Que não tinha amor nenhum
De penitência me deram / Que tivesse ao menos um ...
" [popular]

Manuel Ferreira Leite venceu as directas no PSD. Como ordinariamente se esperava e a infecta colegiada dos "ilustres" do partido pretendia. No final, a exaltação nas hostes do PSD parecia uma novena ao "glorioso" passado cavaquista, enquanto as diatribes nas hostes do PPD atestam que o serviço por ora feito é prenúncio de aparatoso divórcio. A coisa promete, faça o que fizer o eng. Sócrates, tenha ou não a senhora Ferreira Leite a credibilidade que tiver. O ofício fúnebre da senhora chegará em 2009. Tragicamente!

Manuela Ferreira Leite, nesta sua comédia doméstica, não foi mais que um Sócrates em "tailler" e sob medida. Não tendo uma única ideia sobre a crise económica em curso (que aliás não entende nem pode entender), esquivando-se a qualquer proposta de estratégia política (assunto que sempre lhe tolheu a mente), sem fazer circular qualquer ideologia (social-democrata ou liberal) que agregue espíritos e vontades, Ferreira Leite apresentou o pregão eleitoral que as corporações e os interesses instalados no seu partido esperavam: discurso claro para chegar às "migalhas" que o poder político (por ora socialista) generosamente distribui entre os seus. O "bloco central" (clientela PS+PSD) dos interesses corporativos foi bem ensaiado e está a chegar. Até mesmo o sábio Cavaco, em ânsia inédita, a isso se referiu em doce pastiche. Ao que parece a profecia de Sá Carneiro está prestes a cumprir-se: "uma maioria, um governo e um presidente".

Em tudo isto - fora as futilidades do jovem Ângelo Correia encarnado na figura de Passos Coelho (que fez a delícia aos ouvidos dos adeptos da superstição liberal: leia-se a prosa cariciosa de Lomba & Mexia, no DN de ontem), o esforço cénico desse original que é Santana Lopes ou os impropérios rústicos de Menezes a JPP – só ficou entre "boca e louca" uma curiosa afoiteza da senhora do défice: a sua putativa credibilidade e a ostentosa conversão à "questão social". A chacota política disso tudo virá de seguida.

É só esperar para ver o que Ferreira Leite dirá das avultadas medidas anti-sociais que o eng. Sócrates e os seus boys tomam na economia, na saúde, na educação, na justiça, para ver a hipocrisia disso tudo. Até se entender que, mais que fazer frente a uma situação económica e social caótica (que seria um exercício académico respeitável), se promove a guarda do "rebanho" para o futuro e pavoroso bloco central em 2009. Até lá, não há milagre que nos salve. Que vos salve!

segunda-feira, 26 de maio de 2008


Leilão Biblioteca Particular – 27, 28 e 29 de Maio

Nos próximos dias 27, 28 e 29 de Maio (21h) na Sala Veneza do Hotel Roma (Lisboa), Luís Burnay irá colocar em praça 1049 peças de uma curiosa e rica livraria particular. Os lotes são de relevante estimação, percorrendo temas variados desde: Arqueologia, Arte, Bibliografia, Biografias, Brasiliana, Camoneana, Conimbricense, Descobrimentos, Direito, Etnografia, Genealogia, Guerra Peninsular, Heráldica, História, Inquisição, Literatura, Memórias, Monografias, Olisiponense, Periódicos, Regionalismo, Queirosiana, Republicanismo, Ultramar (ou livros coloniais), etc.

Algumas referências do 1º dia: Academia Portuguesa de História (com relevância as publicações comemorativas do duplo centenário da Fundação e Restauração) / Álbum das Glórias, 1880-83 / L’Album de la Guerre [publicação da revista L’Illustration] / História de Portugal de Fortunato de Almeida, 1922-29, VI vols / Anais das Bibliotecas e Arquivos, 78 numrs / Anathema (camiliano), 1890 / Memórias sobre chafarizes, bicas, fontes ... de Lisboa, Belém ..., de José S. Veloso de Andrade, 1851 / Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, por Manuel Carlos de Andrade, 1790 / Archivo Pitoresco, 1857-1868 / O Arqueólogo Português, 1895-1938 / História da Revolução de Setembro, por José d’Arriaga, III vols / Lotes diversos sobre Arte (livros, publicações, ...) / Chronica do muito alto, ..., D. Sebastião ..., por José Pereira Baião, 1730 / As cidades e Villas da Monarchia Portugueza ..., de Inácio de Vilhena Barbosa, 1860-62, III vols / Noticia Histórica do Corpo Académico de Coimbra (1808-1811), de Fernando Barreiros / Corvos, de J. Abel Manta e João de Barros, s.d., II vols / Os Judeus do Velho Porto, de Barros Basto, 1929 / Chorografia Moderna do Reino de Portugal, por João Maria Batista, 1874-79, VII, vols / Olivença Ilustrada pela vida e morte da ..., de Fr. Jerónimo de Belém, 1747 (imp. hist. local Olivença) / Da Vida e Morte dos Bichos, Henrique Galvão ..., V vols / Congresso do Mundo Português, 1940, XIX vols / Banditismo Político. A Anarchia em Portugal, de Homem Christo, 1912 (raro livro, dado a sua apreensão e inutilização à ordem do governo. Curioso livro de H. Christo, ainda anarquista)

Consultar catálogo, aqui.

domingo, 25 de maio de 2008


Leilão Victor Palla - II

Capas de livros, com o punho de Victor Palla.

Além dos acima apresentados [Vergílio Ferreira, Erskine Caldwell e o "The Black Cat"], estará presente a leilão vários lotes de livros (todos com a assinatura de V. Palla), como o estimado "Histórias de Amor", de Cardoso Pires; "Alcateia" de Carlos de Oliveira; vários obras inseridas na colecção "Arcádia", de autores como Tomaz Ribas, Luís Cajão, Vasco Branco, Artur Portela filho, Alfredo Margarido, Urbano Tavares Rodrigues, Garibaldi de Andrade, Manuel do Nascimento, João Gaspar Simões [Elói].

Leilão Victor Palla

A leiloeira P4photography no próximo dia 29 de Maio, pelas 21.30, na Rua dos Navegantes, 16, em Lisboa, vai colocar em praça parte do espólio de Victor Palla, em especial um conjunto apreciável de fotografias, livros e pintura.

Victor Palla [1922-2006] foi uma personagem de múltiplas facetas – arquitecto, fotógrafo, "pintor, ceramista, designer gráfico, editor, tradutor, galerista [co-fundador da galeria Prisma], agitador de ideias e animador de muitas iniciativas" [Alexandre Pomar, in Biografia de Victor Palla].

Deve-se a ele [e a Cardoso Pires] a estimada colecção de bolso "Os Livros das Três Abelhas" e as edições Folio, e "fundou com Orlando da Costa, o Círculo do Livro e, entre outras actividades de editor, autor, tradutor e capista, realizou o plano gráfico da editorial Arcádia" [idem].

Ver, aqui, as peças a leilão e o primoroso catálogo apresentado.

sábado, 24 de maio de 2008


Agradecimentos

Nós, em solene gratidão pela rememoração do aniversário do nosso estabelecimento - que imprime letras tradicionais & modernas, cuida com enlevo daqueles que "fazem mijar a caneta para cima do papel do jornal" [Péret] e tricota tapeçarias musicais – agradecemos ao Blasfémias, Bomba Inteligente, Desnorte, Ferrão, Fumaças, L & E, Miss Pearls, Nova Floresta, O Amigo do Povo, O Insurgente, Pisca de Gente, Prosas Vadias, Retorta, Tomar Partido & a outras missivas pessoalmente enviadas ... a V. luz e o V. acolhimento. Graças, pois!

Vale!

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Torcato Sepúlveda (1951-2008)

"Era um grande libertário e um grande liberal" [cf. Francisco José Viegas, in JN, 22/05/2008]

"Nunca se devia dizer nada, nunca se devia chorar desta maneira. Torcato Sepúlveda, amigo de muitas horas, de muitas conversas, meu companheiro de tanta literatura gasta e por gastar, a voz, a fúria, a zanga, os livros, a memória de muitas páginas, o leitor amável, o leitor furioso, o céptico entusiasta, os bancos de jardim, o Jardim da Parada logo de manhã, os jornais, as estantes, os bares, as varandas sobre a planície. Nunca se devia chorar desta maneira a quem nunca se dirá adeus, adeus, adeus, mesmo que essa palavra exista, mesmo que essa palavra não exista lá, para onde vais." [Francisco José Viegas, Despedidas]

"Pacheco [Luiz] nunca escreveu romances porque a sua literatura era de urgência: a de matar a fome, de zurzir os bonzos que mandavam nas letras, de atacar o salazarismo a golpes de impropérios e gargalhadas” Palavras de Torcato Sepúlveda ... na sequência da morte do escritor Luiz Pacheco, e que poderiam servir-lhe quase de auto-retrato ... [Ana Marques Gastão, DN, 22/05/2008, p. 57]

Torcato Sepúlveda, aliás, João Torcato Macedo Duarte Sepúlveda, nasce em Braga a 27 de Fevereiro de 1951. Filho de professores [cf. Gastão, ibidem], começa as suas leituras (com a imensa paixão que sempre o acompanhou) pela biblioteca de casa. Camilo, Eça, Júlio Dinis, Alexandre Herculano, e muitos mais autores lhe encheram a alma e vida, marcando-lhe o prazer da leitura, o gozo da escrita ou o apuro da conversa. Em Braga, ainda, frequenta a vasta biblioteca do pai do seu amigo Américo Barbosa [cf. entrevista à Rádio Universitária do Minho] e toma conhecimento com as obras de escritores estrangeiros. Colabora, então, num jornal de escola. Depois de findo o liceu vai para Coimbra, cursar Filologia Românica. Os tempos de Coimbra, com as tempestades políticas de então (crise 69), trazem-lhe outras leituras, diferentes realidades, novas combatividades e o mesmo ardor pelos livros. Participa nas lutas académicas, conhece os escritos de surrealistas portugueses (António Maria Lisboa, Cesariny, ...), lê Debord e outros situacionistas [Internacional Situacionista (IS)].

[Coimbra teve um núcleo curioso de pró-situacionistas e publicações ligadas à IS – diga-se que em 1972, foi publicado em Coimbra "Banalidades de Base”, de Raoul Vaneigem e (segundo Torcato) foram publicados no Diário de Coimbra alguns textos, sob pseudónimo. Em 1971, os pró-situacionistas de Coimbra interrompem uma sessão de Julien Gracq, na Alliance Française, com ruidosas palavras de ordem. Na altura participa Carlos Amaral Dias, que pouco depois é preso. Outros pró-situacionistas, como Francisco Alves (tradutor da "Sociedade de Espectáculo" e que em finais de 1964 foge do país) ou Américo Nunes da Silva (antropólogo), são citados no "Leituras", do Jornal Público, 6 de Maio de 1995, p.2]

Parte para o exílio (discordando da guerra colonial) na Bélgica, onde vive entre 1971-1974 trabalhando como operário. Entra em contacto, na época, com os situacionistas belgas e franceses. Nunca se dizendo pró-situacionista, curiosamente, escreve anonimamente [Anónimo do Seculo XX] "Reflexão sobre a estratégia da luta de classes em Portugal", Braga, 1976, e outros textos sob pseudónimo, que marcam a literatura da IS em versão portuguesa. Decerto, Torcato Sepúlveda era quem mais sabia, entre nós, sobre a influência do movimento da IS em Portugal, matéria aliás nunca devidamente recenseada.

Regressa depois de 25 de Abril de 1974, trabalha no serviço de fronteiras em Vila Real de Santa António e a convite de Vicente Jorge Silva entra para o Expresso, colaborando na crítica literária [assinando João Macedo]. É co-fundador do jornal Público, editando o estimado suplemento literário "Leituras", saindo em 1997 para ingressar no Semanário. Colaborou ainda no Independente, na revista Invista, no jornal A Capital e na Grande Reportagem. Trabalhava actualmente na NS (Diário de Notícias). Fez crítica literária e traduções [como a "Historia desenvolta do Surrealismo", Antígona, 2000] e sob pseudónimo como: Silva de Viseu, Buíça, D. Luís da Cunha.

Torcato Sepúlveda, que morreu no dia 21 de Maio de 2008, era "homem de tantas histórias, de muitos amigos, de outros inimigos (...) era um redactor de estilo inconfundível, ora virulento ora comovente, na quase extinta linha de fronteiras entre jornalismo e literatura ..." [Ana Marques Gastão, ibidem]. Uma perda terrível.

segunda-feira, 19 de maio de 2008


The Happy Birthday

"Já não basta o refúgio dos pássaros ...
As sombras que tu crias não têm direito à noite
" [Paul Éluard]

Trata-se do sopro deste corpo – Almocreve das Petas -, ocultamente sustentado pela noite. De modo passional, de secura temperamentada, de lábios sem dor. O Almocreve, nascido sob o signo do Touro – nocturno e feminino, paixão ardente e rebelde – é a casa de Vénus. Curioso! Vénus é a sensualidade e mistério da arte. Quente, caminhando "pesadamente" & com graça, o Touro vive no abandono da calma. Com o sol a crescer dia-a-dia e apesar disso, não muda de opinião. "Por toda a noite bebida" [Éluard], toca, apalpa com devoção, capricha na libertinagem. O Almocreve não é um "murmúrio casual", é a sombra da memória. Da nossa!

O nosso amparo, a nossa presença e a V. piedade, descrevem o círculo: livros, estampilhas em letras publicadas, lugares santos, sentenças que os "ferros curtos" assombram, ardentes desejos como "língua do céu", cocktails bibliófilos, romagens literárias, poemas clínicos.

Para V. - que tal como mestre Almada a "liberdade é uma palavra que sobe" – reunimos o nosso fresco sonhar, tocamos a rebate os nosso moinhos de lux e V. apresentamos o nosso manual de trabalho.



Saúde e fraternidade

Leilão de Livros & Manuscritos - Hoje e amanhã

O amador de livros tem hoje (dia 19) e amanhã (dia 20) uma curiosa e importante livraria a ser leiloada na Amazónia Lisboa Hotel [ao Jardim das Amoreiras], pelas 21.00h. A cargo do livreiro-leiloeiro Pedro de Azevedo, as peças a leilão, pela sua variedade e raridade, são voluptuosas.

Refira-se, para além de espécies que "abordam a temática do final da Monarquia e da implantação da República", uma valiosa e estimada colecção de periódicos, almanaques e revistas – jóias cada vez mais procuradas e valiosas – e um conjunto surpreendente de manuscritos (do sec. XVIII ao séc. XX) e parte de um espólio de Luiz Forjaz Trigueiro, com documentos de merecido valor.

A não perder.

Aniversário – 5 anos no V. aconchego

"Que a espada ou o dente cortem enquanto o chumbo arder ..." [Alfred Jarry]

Sessenta meses depois – entre sombra de desilusão e a janela sempre esquiva, mas muito mais felizes que os pastores do eng. Sócrates – prosseguimos o Almocreve das Petas. 5 anos a incendiar corações. 5 anos de sonho nocturno, mas (descansem!) em doce opulência e copioso luxo. 5 anos a suspirar por uma brisa pátria, neste quase silencioso degredo. 5 anos! Corpo fatigado, poeira nos olhos, tinta morta pelo passar do tempo, mas ainda não nos cansaram do voo. Uma questão de assédio poético. Um repouso de alma. E porque nos apetece! 5 anos no V. aconchego.

"Era uma vez uma realidade
com as suas ovelhas de lã real
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam que linda que está
A re a re a realidade
" [Aragon]

5 anos tumultuosos, absolutamente memoráveis. Começámos - em 2003 - a gatinhar na corda da Mercearia Ferreira Leite. Estamos agora atolados pelo vício, neste Hipermercado Teixeira dos Santos. A vidinha está boa é para contabilistas. De lápis afiado sobre a orelha, é bom de ver. Hoje a galeria de técnicos & travestis de políticos que "trocaram de alma" [como diria R. Proença] é a recitação da nova paróquia. Escudados na protecção presidencial - por aquele que veio do oásis sem destino – e todos gemendo em nome da canalha, os governantes e a oposição, que os sustenta, são conversos mui liberais. Admirável os episódios e o talento destes rapazes! Não se vê a hora do livramento. Mas não curvamos a cabeça. É esse o nosso encontro fortuito. No V. aconchego.

Saúde e fraternidade

quinta-feira, 15 de maio de 2008


Pássaro solitário

"... As condições de um pássaro solitário são cinco:

que ele voe ao ponto mais alto;
que não anseie por companhia nem a da sua própria espécie;
que dirija o seu bico para os céus;
que não tenha cor definida;
que tenha um canto muito suave ..."

[San Juan de la Cruz]

In-Libris – Catálogo

A In-Libris (Porto) apresenta on line um Catálogo de livros estimados, entre os quais: Gravura Chimica nas Illustrações (de Marques Abreu), Equitação e Hippologia (pelo Conde de Fornos d’Algodres), uma edição especial do Cristo Cigano (de Sophia M. Breyner), peças de Al Berto, o procurado Curiosidades Estéticas de António Botto, o Quadro Elementar da Historia Natural dos Animais (Cuvier, trad. port.), os Esteiros (de Soeiro Pereira Gomes), a excelente e estimada Historia Completa das Inquisições de Itália, Espanha e Portugal; e muitos mais.

A consultar on line.

Os fumos de Bettencourt Resendes

Mário Bettencourt Resendes & Luís Delgado são dois comentadores com insígnias governamentais. Vigiam - quase sempre pela calada da noute - o corpo, o rosto e os lábios dos ministros e de outras obscenas figuras nativas. Na paróquia ninguém, com zelo, os bate. Quase sempre, o indígena, em prostração intelectual, fica confidente. E a canalha, fatigada na sábia leitura de Sousa Tavares filho, deslumbra-se. Por outro lado, os governantes domésticos – esses missionários da coisa pública - temem-nos. E o sermão político agradece, no seu estranhar.

Delgado & Resendes – por singular heresia - nunca aparecem desprevenidos. Uma declaração de Bettencourt sobre o fato ou toillette do primeiro-ministro é inatacável. Qualquer exposição do Luís sobre a almofada ou leito (político) de um ministro é a estupefacção geral. O País conhece-os, tal como os seus putativos punhos. E a descompostura, conforme a época festiva.

Delgado é da direita circunstancial. Resendes é da esquerda filológica. O Luís é frugal na palavra e no gesto. Bettencourt apresenta a melhor frase de ouvido e é mais etnográfico nos gestos. Delgado vende bagatelas. Resendes troca pedantismos. Excelentes pavões, exibem sempre aquele aspecto feliz, como se estivessem a iniciar um conselho de ministros. Não há anemia política ou indigestão fatídica, que não sejam diagnosticadas. A isto chamam: a arte de comentar.

Ontem, na SIC-N, o pastoreamento do fumo do eng. Sócrates e do casto dr. Pinho ficou para a posteridade. Disse o sr. Resendes, crente na virtude e no bom humor do sr. Sócrates, que o "passamento" tribal & governativo verificado e adaptado às notícias não está provado ser improcedente. E, pelo habitual desconhecimento legislativo dos governantes, é absolutamente normal. E gracioso, atrevemo-nos assinalar. O bentinho Resendes fez, a propósito das passas do eng. Sócrates e à maneira de introdução, o "histórico" da coisa. Aliás - pelo que nos diz – Bettencourt Resendes inicia sempre a prática da coisa, pelo histórico. Valente!

E o histórico - qual fresco cor-de-rosa - foi "bufar" que aquelas fumaradas eram absolutamente habituais em todas as viagens, quer sob patrocínio do governo quer da presidência da república. Como tal, tudo regular. Ficámos todos mais descansados. E agradecidos ao sr. Resendes. Bem-haja!

domingo, 11 de maio de 2008


Constança Cunha e Sá

"Um ministro é uma página de publicidade" [Seguèla]

Deixei de ouvir e ver a sra. Maria de Lurdes Rodrigues (MLR), por uma questão de sanidade intelectual, por imputação ideológica e em resguardo & exercício de graça sociológica. Falta-nos paciência e pudor, muito pudor. Confesso que ainda prevarico (mea culpa) nos dizeres do sr. João Freire, "anarquista" aposentado e tutor da senhora ministra MLR, dados os trabalhos domésticos em curso. Mas só por isso! Assim, as opiniões de MLR sobre o ensino, a educação ou querer saber (ou entender) dos seus novíssimos afazeres doutrinários contra a escola pública, o ensino e os professores, são matérias que tento evitar e faço desabrigar para os mais ditosos. Limito-me às redondilhas do eduquês, por evidente prudência.

Aconteceu, porém, que um pedido caridoso de visionamento da "entrevista" que MLR exercitou na TVI, com a "romântica" Constança Cunha e Sá, ingloriamente me levou a aceder ao presuntivo pastiche que esperava assistir. Sou dado a encher a alma de tédio, que querem!?

De facto, dispensaria tal perda de tempo, mas convenceram-nos da bondade e, já agora, do fôlego da entrevistadora. Aquela de "jornalista de combate", em plena ortodoxia socrática, não deixava de ser curioso. Debalde! A ex-professora (só podia) Constança, enfiada no politicamente e televisivamente correcto, não só reprimiu os seus putativos instintos (como nos confessou a nossa anfitriã) como foi uma lástima na sua energia jornalística. Não houve, nunca, "Cartas na Mesa". Simples simulacro. Nem uma "desobediência" mediática, daquelas plenas de realismo liberal, se viu. Nada!

A sra. MLR fez, portanto, uma entrevista-exibição, inútil decerto para nós, mas digna de nota. Nunca se tinha assistido à desordem de um actor político desdizer-se tão saudavelmente, em todas as matérias em debate. Não há memória de coisa assim. Para reconstrução da imagem, não foi nada mal. E até o conhecido acofiado António Ribeiro Ferreira, no seu proverbial disparate, atribuiu logo a coisa à pujante "personalidade" da ministra da educação. Personalidade é o que não tem o Ferreira. Curioso seria fazer a listagem das divas espirituais do dito A. R. Ferreira, onde – e não merece discussão – decerto se encontrará a Sra. Thatcher, a cariciosa Ferreira Leite & outras com os mesmos arrufos. Coisas para tratar no sofá do dr. Freud, sem dúvida.

E assim vai a mediacracia, a que temos direito. Mas não havia necessidade de ser assim tão trauteada. Falta-nos frescura e libertinagem. Entre muitas outra coisas.

quinta-feira, 8 de maio de 2008


Livraria Histórica e Ultramarina

A estimada Livraria Histórica e Ultramarina (em Lisboa), do profundo conhecedor do livro antigo José Maria da Costa e Silva (Almarjão), até hoje sitiada ao Bairro Alto, mudou de instalações. Mantêm, porém, o costumeiro fascínio da sua abonada livraria, a par do bom gosto, profissionalismo e da inexcedível simpatia com que sabe receber. As novas instalações ficam na Rua José Lins do Rego, nº 2B, ali para os lados da Av. Brasil ao Campo Grande.

No seu site (simples mas de fácil leitura) apresenta catálogos temáticos, em especial uma curiosa Judaica, um conjunto interessante de Alvarás sobre o Brasil, folhetos e livros de Genealogia e Heráldica, um conjunto estimado de monografias e literatura das ex-colónias, entre muitos outros assuntos.

A consultar on line.

terça-feira, 6 de maio de 2008


Les fleurs du mal

"Toi, vêtue à moitié de mousselines frêles,
Frissonnante là-bas sous la neige et les grêles,
Comme tu pleurerais tes loisirs doux et francs,
Si, le corset brutal emprisonnant tes flancs,
Il te fallait glaner ton souper dans nos fanges
Et vendre le parfum de tes charmes étranges,
L'oeil pensif, et suivant, dans nos sales brouillards,
Des cocotiers absents les fantômes épars!"

[Charles Baudelaire]

Bibliofilia

"De loin vous en flairez l'arome avant-coureur;
Vous contemplez, ravi, sa date reculée;
Vous caressez du doigt sa marge immaculée,
Et de sa rareté vous pronez la valeur.

Vous en animez la tranche a la vive couleur,
La nervure du dos, ou svelte ou protelée,
La robe au blanc satin, d'um filet dentelée,
Le noir changrin, brodé par le fer du doreur"

[François Fertiault, in Sonetos de um bibliophilo, aliás, in Neves de Antanho (1918), do Conde de Sabugosa]

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Olha o 1º Maio ... ó freguês!

Para os nossos leitores de Maio, sem insónia ou fraqueza excessiva, e para promover a cura e combater o tédio - quanto possível -, expulsando a moléstia destes dias-a-dias de suores copiosos e palestras muito chãs e dissolvidas em cavaquês, temos o prazer de apresentar

L'Internazionale – Area



P.S.: Curiosamente a parte artística deste 1º de Maio, ou poesia dos trabalhadores (os que o são), teve as trovas & o lampejo do proleta da UGT, o sr. João Proença. Sabe-se que nós, por mero acaso, não somos de excursos suaves. Mas assistir ao folclore do sr. Proença neste 1º de Maio, enquanto nas vésperas (ou nos amanhãs que cantam) lambe liberalmente as mãos do patrão Sócrates (como antes do casto Bagão Félix), ou aos seus pomposos quanto hipócritas discursos, é demais mesmo se a pregação é mais do mesmo. Como diria o povo na sua sageza: "Um burro sobre um animal / à maneira de Portugal".

Voltámos em Maio!

"Em Mayo vai, e torna com recado" [popular]

Fomos de dar pousa ao bloganço. Obtivemos licenças & outras mercês. E, entretanto, fizemos o quê? Como nos dizem em Moncorvo:"Era uma vez um cesto e uma canastra /para conto já basta". Esclarecidos!? Nós também não.

Ao que nos dizem, corre por aí que a sra Ferreira Leite, economista arruinada pelo deficit e tremenda em moléstias políticas, abandonou as xícaras e o tricot dos barões do PSD e promete, com alguma gravidade, ser primeira-ministra num dia imaginário qualquer. Cruzes, canhoto! É, por demais evidente, que a sra Ferreira Leite não é remédio para coisa nenhuma e que a sua candidatura é tão só o resultado da enfermidade que reina por aqueles lados da rua de São Caetano à Lapa. Dizem-nos que irá, abundantemente, fornecer carácter e respeitabilidade ao PSD. Que é "credível", segundo a própria e irrepreensível conforme os comentadores. Ora, pois! Fazer da candidatura de Ferreira Leite uso e porte de respeitabilidade política é coisa que não lembra a ninguém. A senhora é tão respeitabilíssima como incompetente. E os dois dotes – como se sabe – são, por junto, demais. E o povo eleitor (se ainda existe) do PSD não vive de tais predicados e desses pasmos de fama. A palavra "respeitabilidade" nunca soube ser bem pronunciada pelos lábios da clientela laranja. Estão aí Santana Lopes, Marco António, Rui Gomes da Silva, Alberto João e outros tantos, para o provarem.

Por outro lado, o eng. Sócrates, em vigilância atenta aos media e sempre em arraial eleitoral, proporciona-nos uma variante curiosa de náusea, de que não é estranho aquela maneira esquisita de falar e a modo rasteiro que tem de tentar explicar aquilo que todos há já muito entenderam: o país vai de carrinho, mesmo antes de expirar. A paróquia para Sócrates é um comício constante. Uma escola à moda da dr. Lurdes Rodrigues. Começa a ser preocupante esta intromissão (quasi salazarenta) sem jeito nos negócios dos ministros. Não há dia de tragédia pátria que não nos venha vender um putativo plano caridoso para salvar o país. Cuida o dr. Sócrates que a sua solitária fronte é uma virtude de felicidade instantânea. Dura ilusão! Já não há paciência para o ouvir e ver. Para burlesco basta-nos o meu Benfica. Ó horror!

Boa noite!

segunda-feira, 21 de abril de 2008


Leilão de Livros, Manuscritos e Obra Gráfica - 22 e 23 de Abril

A novíssima Leiloeira "Renascimento" põe à venda – amanhã dia 23 de Abril, seguindo dia 24 – um estimadíssimo rol de livros, manuscritos e obras gráficas, de invulgar e rara oportunidade para bibliómanos. Do Catálogo, elaborado por José F. Vicente e que é composto por importantíssimos peças literárias, destacam-se um conjunto apreciável de revistas literárias e obras únicas (e raras) de quase todos os maiores e mais admirados escritores e poetas lusos.

Esta invulgar colecção que vai à praça – na rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), nº 20, pelas 21.30 horas -, pela sua riqueza literária, marca o aparecimento desta nova leiloeira e traz a felicidade dos amantes dos livros e obras raras.

A não perder. Ver Catálogo aqui.

Uma entrevista lamentável

O inefável António Ribeiro Ferreira [ARF], desocupado da lide informativa, entendeu apadrinhar uma entrevista zelosa à senhora Ministra da Educação. O sr. ARF deu à luz um conjunto de disparates, com o conúbio de Maria Lurdes Rodrigues [MLR], sobre o sistema educativo, a organização escolar e o trabalho de professores e alunos, inenarrável. A declaração de interesses final do senhor jornalista é elucidativa. Sem o mínimo estudo, instrução e percepção sobre o assunto, o sr. ARF faz mau jornalismo, como quase todos os que se metem nessa aventura de opinar sobre a educação e o ensino – e são já muitos, desde os putativos comentadores dos jornalecos indígenas àqueles que, largamente, militam fantasiosamente na blogosfera.

Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores que tricotam admiráveis prosas sobre o ensino, que os professores são meros funcionários administrativos - seres desprezáveis e de vida fácil – sem labor profissional, cultural ou intelectual. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores de testada altiva, que os cursos e diplomas que os professores (orgulhosamente) exibem e nos diversos ramos do saber, não lhes servem para nada. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem soluçar, jubilosamente, autorizadas apreciações sobre a docência, o ensino e a educação pública, sem nenhum contraditório. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os comentadores investidos de idiotas toleimas, que os professores são meros papagaios transmissores/reprodutores do conhecimento cientifico, sem discurso, exercício e acção pedagógica visível e que, na sua natureza educacional, só debitam aquilo que (presumidamente) na folclorização das faculdades aprenderam. E que qualquer ARF ou ministra da educação podem, em piramidal discursata e em aleluias de ruído gratuito, passar atestados de imbecilidade a docentes, que ao longo da sua profissão têm feito inúmeros (e, por vezes, inenarráveis) investimentos culturais, formativos e pedagógicos, conforme a tutela e a administração escolar muda de humores. Cuida o sr. ARF, e cuidam todos os ofegantes comentadores afectados pela "inteligência" ministerial, que o debate e o conflito que reina e persiste no ensino público e na educação não vai deixar sequelas insanáveis entre docentes (ofendidos e injuriados que estão a ser) e os seus grosseiros detractores. Cuidam – caso curioso -, mas enganam-se!

Da lamentável entrevista ficam aqui, apenas, duas singelas questões, que persistem no enrodilhar da argumentação ministerial. Dado o alvoroço revelado na entrevista e pela montra das adulterações feitas no que se disse, não tínhamos, nem espaço nem paciência para mais. Sobre a funcionalização da função docente e a verticalização da sua carreira, mecanicamente e abusivamente tomada de experiências teóricas de outras profissões e a que a professora MLR denomina, com imensa graça sociológica, de novo "paradigma", falaremos um dia.

A primeira questão é simples: a senhora ministra da educação, na sua cegueira teórica, considera que via o desditoso antigo ECD, a progressão da carreira fornecia professores "mais experientes, mais graduados e melhor remunerados mas [que] isso não correspondia a nenhuma responsabilidade", mas ao mesmo tempo no seu novo e santificado ECD coloca, justamente, tais docentes como professores-titulares, ao abrigo do que prosaicamente denomina "meritocracia", num concurso duvidoso e insano. Estamos conversados!

A segunda questão é tão simples como curiosa: a senhora ministra da educação entende (não por experiência própria, como se sabe) que as "nossas escolas tinham um défice dessa responsabilização individual, dessa exigência de trabalho de equipa" e assegura que com a nova organização da administração escolar, com a nova avaliação dos docentes, tal facto é superado. Ora está provado que o que existia, de facto, nas escolas era um trabalho colectivo e em equipa. Do processo ensino-aprendizagem, com as planificações feitas em grupo curricular e validadas em sede de Conselho Pedagógico, até ao trabalho na chamada Escola Cultural e/ou informal, era visível o esforço em equipa dos docentes. Evidentemente que a professora MLR desconhece o que é um projecto educativo, a dimensão organizativa da escola e a construção de uma escola democrática. Não era do seu tempo tais modernices. E que agora pense, com o processo avaliativo (e competitivo) que defende e face ao maior caos curricular que aprontou nas Escolas, que o trabalho pedagógico em equipa sairá reforçado, só revela desconhecimento e falta de consideração pelos professores. De facto, é preciso ter atrevimento. Muito atrevimento!

segunda-feira, 14 de abril de 2008


O Tribunal Constitucional ou o limite do elogio

"Não é sisudo o juiz que tem jeito no que diz e não acerta no que faz" [popular]

O espírito de cobrança política que, em curiosos Plenários, os ilustres conselheiros do Tribunal Constitucional [T.C.] coligem, via apreciação de pedidos de inconstitucionalidade requeridos por grupos de indígenas, não granjeia boa estimação. Que o dr. Cavaco, ou o cérebro do dr. Vitorino, entendam, seguindo com os olhos a beca e o colar dos ilustríssimos conselheiros, que o Palácio Ratton não se deixa "envolver na espuma conjuntural da conflitualidade político-partidária", não só não é boa doutrina como carece de fundamento.

Conhecendo-se o Acórdão nº184/2008 do T.C., onde surge fundamentada a improcedência do pedido de inconstitucionalidade do artigo 46.º, nº3 do ECD, assim como as normas contidas nos artigos 10.º, nº8 e 15.º, do DL nº15/2007, e atendendo, em tese, que o chorado dos conselheiros do Palácio Ratton pode, se devidamente confrontado, estar conforme os preceitos que o direito autoriza, fica sempre a dúvida, por força da redacção dada e face aos vícios materiais aí existentes e não considerados, que a garantia de constitucionalidade observa o "jogo político" ou "direito de estratégias" do receituário constitucional. As curiosas, excessivas e disparatadas (re)interpretações dos doutos conselheiros sobre "meritocracia" ou "cultura de excelência e qualidade", como constam no Acórdão, parecem sair directamente da boca do sr. Sócrates, tal o meticuloso ânimo aí revelado pelos dignos pares.

Não está em causa a legitimidade (por indirecta que seja), nem (talvez) o "modus de escolha" dos conselheiros, mas tão só a ideia que o sentido normativo da Constituição está (como no caso acima referido) ausente, havendo lugar apenas às estratégias políticas dos diversos clientes.

De facto, são tão evidentes as violações dos princípios constitucionais da proporcionalidade (porque excessiva e desproporcionada face aos resultados assumidos) no que o caso diz respeito ao artigo 46º., n.º3 do ECD; é de tal forma visível a arbitrariedade de diferenciações de situações (tomadas) iguais; é tão escandaloso a omissão de averiguações (ex officio) conducentes a entender o que os doutos conselheiros ex abundanti referem como a "avaliação externa das escolas" (sem nunca compreenderem do que se trata e como será feita) , tão só único e putativo referencial para a atribuição da percentagem máxima (de Muito Bom e Excelente) a atribuir aos docentes (que curiosamente os doutos conselheiros consideram de igual formatação aquela que ocorre à avaliação de desempenho dos demais trabalhadores da Função Pública, o que não sendo verdadeiro é demasiado grave para um Tribunal); que ilustra bem a insensatez de tão ilustrados juízes.

Com tudo isto, o precioso trabalho do Tribunal Constitucional embaraça, definitivamente, a jurisprudência nativa, por muitos que sejam os encómios e os discursos ataviados do dr. Cavaco e do sábio Vitorino. Vós o sabeis!