sábado, 6 de janeiro de 2007
10 Livros Portugueses de 2006
1. Obra Breve (Fiama Hasse Pais Brandão, Assírio & Alvim)
2. Casa das Sementes (António Osório, Assírio & Alvim)
3. O Livro do Meio (Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, Caminho)
4. Entre Deuses e Césares - Secularização, Laicidade e Religião Civil (Fernando Catroga, Almedina)
5. Poesia e Alguma Prosa (Mário Saa, notas João R. Sousa, INCM))
6. A Moeda do Tempo (Gastão Cruz, Assírio & Alvim)
7. Camilo Broca (Mário Cláudio, Dom Quixote)
8. O Último Negreiro (Miguel Real, Quidnovi)
9. Analogia e Dedos (Pedro Tamen, Oceanos)
10. O Valor do Livro Antigo em Portugal/The Value of the Old Book in Portugal (João F. Pereira & José F. Vicente, Vol. I, Séc. XV e XVI)
Almocreve das Petas
[Almocreve das Petas: Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário, ferros curtos, livros, antiqualhas, poesias, textos malditos, maledicências - Três anos a sorrir aos indígenas]
[Almocreve das Petas: Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário, ferros curtos, livros, antiqualhas, poesias, textos malditos, maledicências - Três anos a sorrir aos indígenas]
10 Livros de Autores Estrangeiros de 2006
1. A Divina Comédia (Dante, trad. V. G. Moura/des. J. Pomar, Bertrand)
2. Bíblia Ilustrada (C. Leitores/Assírio & Alvim)
3. Amores (Ovídio, trad. Carlos Ascenso André, Cotovia)
4. Quatro Visões Memoráveis (William Blake, Antígona)
5. A História Natural da Destruição (W. G. Sebald, Teorema)
6. Rio de Janeiro - Carnaval no Fogo (Ruy de Castro, Asa)
7. O Livro dos Rios (José Luandino Vieira, Caminho)
8. Com Borges (Alberto Manguel, Âmbar)
9. Estaline, a Corte do Czar Vermelho (S. Sebag M., Alêtheia)
10. Tratado de Arquitectura (Vitrúvio, IST Press)
Livros ... eu & tu
"Na realidade só existem os livros" [Bruno Shultz]
"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido ..."
[Nadine Stair (?)]
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
10 Álbuns de 2006
1. Modern Times - Bob Dylan
2. Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards - Tom Waits
3. Living With War - Neil Young
4. Begin To Hope - Regina Spektor
5. Ys - Joanna Newsom
6. The Life Pursuit - Belle & Sebastian
7. Bande à Part - Nouvelle Vague
8. Phases: a Nonesuch Retrospective - Steve Reich
9. The Execution of Stepan Razin - Shostakovich
10. Navega - Mayra Andrade
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
In-Libris - 10º Aniversário
Na Comemoração do 10º Aniversário, a In-Libris (Porto) sai com um curioso Catálogo, com 50% de desconto sobre o preço de capa. Algumas peças são raras e estimadas, muito procuradas outras, algumas cobiçam-se pela singularidade e o apuro gráfico. Da poesia à bibliografia, da Botânica à monografia de terras portuguesas, passando pela culinária, romance e ensaio, existe de tudo (atenção ao "O Portugal Vinícola", ó poetas do desporto líquido). É de aproveitar.
Parabéns e muitas felicidades para a In Libris.
A consultar on line
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Analistas & colunistas - Best off 2006
"mostrem-nos a vida" [Dziga Vertov]
São irreverentes, adoram escrever, são brutais de fruição. De discurso sério quanto malicioso, dissertam com um sorriso nos lábios. Deslumbram. Dão consultas ao longo da semana. Ao Domingo, lá estão na missa contra o tédio. Não se cansam da vida. Os porfiados exercícios, ora livres de amarras, ora ardilosamente tempestuosos, quase sempre espantam. Por vezes caem em diatribes (próprio da idade), à cautela da reputação e da liberdade, mas o remanso regressa de seguida. Lavram excelentes croniquetas, que se lêem com prazer, mesmo que delas se discorde. E que acontece quase sempre. Mas é sempre impossível substitui-los. São o nosso armazém político-literário. Originais, não se trocam contra reclamações. E sabem disso. Gracias!
1. Vasco Pulido Valente (Público)
2. Nuno Brederode dos Santos (D.N.)
3. Baptista-Bastos (Jornal Negócios) / João Bénard da Costa (Público)
4. Augusto M. Seabra (ex-Público) / Jorge Silva Melo (Público)
5. Manuel Villaverde Cabral (R.T.P.N.) / Mário Mesquita (Público) / Vicente Jorge Silva (D.N.) / José Quitério (Actual)
6. José Medeiros Ferreira (D.N.) / José Pacheco Pereira (Público) / Miguel Cadilhe (Expresso)
7. António Guerreiro (Actual) / Eduardo Pitta (Mil Folhas) / Helena Barbas (Actual) / Joaquim Manuel Magalhães (Actual) / Torcato Sepúlveda (Sábado)
8. Fernando Alves (T.S.F.) / Frei Bento Domingues (Público) / João Vieira Pereira (Expresso)
9. Pedro Mexia (D.N.) / Rui Tavares (Público) / São José Almeida (Público)
10. João Bonifácio (Y) / João Lisboa (Actual) / João Lopes (D.N.) / Luís Guerra (Blitz)
Analistas & colunistas - Os Piores de 2006
"O que ler ensina, a vida sobre a terra esquece" [M. G. Llansol]
Não há artigalhos grátis, nem luvas limpas. Todos o sabem. O trilho de analista é uma interminável transcrição de encómios ao poder. Quando arrufam (o que acontece) é para iludir o defeito da prosa. Os governos passam, os colunistas ficam. O frete político tem de continuar. Deve continuar. Alguns deles estão há longos anos nessa egolatria. Enfatuados, com a vassalagem em dia, dizem sempre o que qualquer indígena espera que digam. Nunca ninguém errou nesse curioso jogo. Todos sabem de cor a maviosidade do inefável analista. A encomenda, essa, recebe-se sempre de véspera. O engodo, quando calha, vai de folia. Para que serve, então, um colunista? Para diversão! A mão oblige.
No entanto, há algumas encomendas, que de tão riscadas estão pela bajulice e a sem vergonha, que aparvoam o casto indígena. Não por maldade infausta, mas por simples desaforo. O cronista, anos a fio sem "acertar uma", no seu divertimento buliçoso, insiste em cenários rendilhados. Indecorosamente fatais. Pura depravação.
Alguns serviçais partidários obram a velha melodia afadistada do "desgraçadinho". Outros, bem mais caceteiros e iletrados, nem sequer dissimulam. Julgam que têm talento. Os lambe-botas, esses, apresentam-se por todo o lado, ao público. A indigestão do raminho de colunista & escribas enfastia. Não há decência. Apenas fantasia, hipocrisia e decadência.
Eis, portanto, para documentação aos vindouros ... o raminho que mais caprichou neste 2006. Ano da graça do eng. Sócrates e do dr. Cavaco. Actum est.
1. João Carlos Espada (Expresso) / João César das Neves (D.N.)
2. Fernando Madrinha (Expresso) / José António Lima (Sol) / Nicolau Santos (Expresso)
3. Eurico Barros (D.N.) / Luís Delgado (D.D.) / Vasco Rato (S.I.C.)
4. Helena Matos (Público) / Jorge Coelho (S.I.C.)
5. António Perez Metelo(T.V.I.) / Daniel Bessa(Expresso) / João Cândido da Silva(Dia D)
6. Mário Pinto (Público) / Mário Bettencourt Resendes (S.I.C.)
7. Henrique Monteiro (Expresso) / Manuel Carvalho (Público)
8. Nuno Rogeiro (S.I.C.) / Teresa de Sousa (Público)
9. Inês Pedrosa (Expresso) / Vítor Rainho (Expresso)
10. António Tadeia (C.M.) / Bruno Prata (Público) / Rui Santos (S.I.C.)
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
Figuras & Factos - O Pior de 2006
"Quem tem algo a dizer que dê um passo adiante e permaneça em silêncio" [Karl Kraus]
Eis a memória anunciativa ou o bom resumo das qualidades dos indígenas (ou factos por eles medicados) que neste ano da (des)graça de 2006 pudemos observar. O pior que neste annus de 2006 a astúcia social e política pariu. Estouvadamente. E que, se (ainda) é permitido, declinamos. Certo é que o espelho das putativas inquietações não fica aqui provado. A nossa vida sóbria não o permite. Nem sequer é essa a missão que aqui damos guarida. Mas deixamos este testemunho para o estudo futuro da derrocada. Que a paróquia, um dia fará. Disse.
1. Socratismo - a doença narcísica do indígena luso. A autoridade despeitada da arrogância. A charanga autoritária da nova união patriótica, a lembrar as vitualhas da antiga União Nacional. Nessa rosariada tudo é cinzento, por demais. Não deixa de ser curioso como essa comunhão filosofante de respeitáveis votantes, braço-no-braço com os seus putativos sequestradores, é tão enternecedora!? Os destroços e a choradeira, que qualquer dia aí vêm, serão bem dramáticos.
2. Bushistas - a caridade guerreira dos novíssimos democratas de sofá. A religião oficial do sr. José Manuel Fernandes e uns quantos mais. A arrulhada de escritos & os afectos, ao locatário da Casa Branca, atiçados nos jornais (e blogs) é um caso sério de paixão varonil. Mas demasiado comichoso, para nós. Seguir a invulgar movida dos (ex)bushistas, é um caso de pura paranóia.
3. Manuel Pinho & Correia de Campos - a incompetência profissional que ilumina a nação. Dois perturbados da política, sempre muito bem assessorados pelos media. A vaidade provinciana a desfilar ministerialmente entre ovações académicas. Ambos cinzentos e mui rabiosos, não têm vocação nem se dão ao respeito. Não deixam, por isso, de revelar a nossa própria caricatura.
4. José Lello - o rato do Largo do Rato. O delírio incarnado de um Dutra Faria, mas com menos classe e inteligência. Megalómano e inflamado de vassalagem, está em todas as esquinas, sobe todos os degraus. É o merceeiro ou bardo de serviço ao Socratismo. Desdenha os seus camaradas, exuberantemente, com arremedilhos imodestos. Típico indígena alcoviteiro. Uma nódoa.
5. Jornal Sol - o semanário das mulheres-a-dias, com o secundário feito. A vitória da andropausa do trovador José António Saraiva. Ou não fosse a escrita andromaníaca do seu director um must, apetecível em cabeleireiros, casa de fados e ministérios. Dizem-nos que a vaidade dos jornalistas da casa é caprichosa. Pura laudatória. É uma simples paródia. Uma chacota.
6. Garotada do PP - a linguagem de velhos trapos, agora em farda liberal. Uns pegadiços garotos a brincarem ao sério. Esta gaitada liberal anda muito tramontana, vazia de ideias, obscena. A ternura intelectual dum Nuno Melo com Ribeiro e Castro lembra as hienas a merendar. O coval dos garotos do PP, com Paulo Portas à ilharga, é imortalizado por figurantes da estatura de Diogo Feio, João Rebelo, Mota Soares, Telmo Correia. Tudo gente erudita. Como se sabe.
7. Carmona Rodrigues & Rui Rio - a presunção do primeiro suplanta a monomania do segundo. Estes birrentos governantes são veteranos na gargalhada pública. Estão dispostos a destruir cidades, por despeito e vingança. Uns bons & excelentes mariolas. Tudo gente de chinelo no pé, mirrados pelo fastio da inabilidade. Esbanjadores do erário público, recebem na Câmara com impertinência. São amigos do seu amigo. Apenas!
8. PT/TV Cabo/CP/CTT - a vingança da democracia, a maldição das privatizações. Os clientes, utentes ou simples cidadãos, são deliciosamente enganados, maltratados, espoliados ... sempre com um sorriso tecnológico nos lábios. Nada funciona: os posto, a velocidade de acesso à Internet, as estações de TV, uma simples carta de amor. Sinal do choque tecnológico do eng. Sócrates. Uma prosápia estes serviços públicos. Um ardil para os consumidores. Uma puta de vida!
9. o novo S.N.I. - o guarda-portão Santos Silva e a bandeirinha vermelha do sr. Azeredo Lopes, ao serviço da grande pátria. A ERC exquisita, rameira do antigo SNI. Um clássico da censura a passar perto de si. Sem engenho & arte, sem mistério ou ocultação, fazem o que sempre se fez: dilatar o túnel do silêncio ao debate político. A sarabanda destes senhores é simples formalidade. O que virá depois é inimaginável.
10. Eduardo Prado Coelho - o suspeito do costume. Não soube, sabiamente, envelhecer. Afinal, o ocioso tempo de mestre E.P.C. tinha prazo de validade. A nossa memória, nem por isso. A escrita maliciosa de antanho teve uma derrocada. A rapsódia socrática que celebra foi um final sem glória. A hermenêutica do E.P.C. "está-se desmanchando sozinha". E não havia necessidade.
sábado, 30 de dezembro de 2006
O melhor e o pior de 2006
"No princípio era a imprensa e depois apareceu o Mundo" [Karl Kraus]
Somos, como diria Eugénio de Andrade, "folhas enormes onde dormem/aves de silêncio e solidão". Por vezes pregamos de nós para nós, outras para todos. Quebrar o silêncio do ano, eis o nosso ruído. Acostumamo-nos, bem demais diga-se, quer ao teatro do mal quer ao outro que nos vai ocupando a torrente da alma. Pura maledicência de espírito. Podem crer!
O testemunho que em cada final de ano (annus horribilis, por sinal o de 2006), o Almocreve das Petas regista em oratória profana, vem por aí. Embaraçando algum orvalho mais nocturno, avistamos o que soubemos contemplar. E foi tanto que nos enrubesceu de zelo e gratidão. Mas (oh! horror!) o ancien régime está de volta. Dá para ver a lama que traz. Temos foto, a comprovar.
Neste espantoso annnus horribilis não existe, por isso, indulgência para ninguém. Listamos os melhores colunistas, bloggers, blogs nacionais e internacionais. Chamamos à pedra os que na literatura & na música foram brilhantes e virtuosos. Mas também, a bem dos atavios da não-lisonja (a que alguns, com piada, chamam intolerância) arrolamos os piores colunistas, atascados agora no Socratismo melífluo, os vendilhões de papel, os novos censores. É a hora! Cansados que estamos de tanto gorjeio aos indígenas, não caímos no tédio ou na agonia. Ripostamos e tocamos os sinos. Para que conste.
Boa noute
Almanaque Republicano - Actualização
No Almanaque Republicano, cada vez mais farto & prendado, temos em sortido de final de ano e para ledores estimados, curiosos e pouco suspeitosos:
a revista Alma Nova (Publicação mensal ilustrada de Moral, Critica e Literatura); retrato de João Chagas; biobibliografia de Elias Garcia; uma (terna) recordação de D. Manuel II; noticias, novas & lugares de publicações periódicas digitais on line; a capa da Constituição Política da República Portuguesa votada em 21 de Agosto de 1911 pela Assembleia Nacional Constituinte; continuação do registo de bibliotecas digitais on line; foto da Árvore de Costado d'El Rei D. Manuel II - linha paterna (Braganças); post sobre a Imprensa Periódica Portuguesa - notas bibliográficas I e II; gravura do Projecto de Bandeira de Portugal, por Guerra Junqueiro; um curioso Diploma de Sócio da Associação de Socorros Mutuos dos Artistas de Coimbra, de 1930; post sobre a escolha a fazer (segundo a tradição blogosférica) dos melhores Livros sobre História Contemporânea de Portugal saídos neste ano; fotografia da Livraria Sá da Costa, em 1913; a escolha do Almanaque Republicano dos 10 Livros da Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2006; a justificação das escolhas feitas.
A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!
Saúde e fraternidade
Discípulos do horror
"Não se pode estar e ter estado. Mas é possível ter sido um imbecil e continuar a sê-lo" [Léon Bloy]
O esforço de meia dúzia de pulhas internacionais louvando publicamente o assassinato de um homem execrável, é o sinal dos tempos que aí vêm. E que nos condena a todos, espectadores obrigados. O insulto desses sádicos animais de duas patas - que coabitam entre nós tricotando o dernier cri civilizacional & a última moda de abraço democrático (como as nauseabundas figuras ali em cima) - enlameia a (ainda) existente humanidade e é de uma gravidade sem precedentes.
Higienicamente deviam, dado a pungentíssima dor que exibem com as vítimas do criminoso Saddam Hussein, entregarem-se todos à justiça (dos homens e não só divina) porque o ditador não esteve sozinho nessa monstruosidade.
Faça um esforço, caro leitor: quem estava na administração americana, que em 1963 apoiou e fomentou o partido Baas no golpe de estado feito no Iraque, no que resultou o assassinato de milhares de cidadãos? Que fez correr Carter e os acólitos europeus ao terem dado "luz verde" para a carnificina de um milhão de pessoas, na guerra Irão-Iraque? E depois quem vetou (pst! ó amigos do adorado Ronald Reagan) o bloqueio e a condenação do criminoso Saddam, quando da chacina dos curdos em 1988, afirmando, de modo infame, que tinham sido os iranianos? E que disse o governo francês na altura? Afinal, quem queria proteger o inefável sr. Rocard, quando a opinião pública tecia horrores sobre esse acontecimento? Onde estavam vocês todos, ó engenhosos democratas? E vós também, ó pudicos cidadãos que trazem Bush na lapela, onde estavam? Ainda sabem!?
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
CONVERTA-SE!
LETREIRO À MANA DO RIO
"Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo" [Barão de Itararé]
Não temos esclarecimentos maiores a confiar, mana. Esta que aqui vai, ao jeito de Sô [Machado] Assis, só quer "fazer apetite para o chá". Agora que a noute por aqui se esvai, de tão assoprada foi de malandragem, ficamos sem ordem, sem pranto e, acontece mesmo, sem "chopes". Bem sabes mana que sobrenascemos aqui, desconsolados, a ver-o-mar morrer. Este ano a alma perdeu-nos o corpo, não fizemos travessia. Este ano, não!
Por isso, em martírio por privação de encantamento, te mandamos saudades e esta foto da feira do livro do Carioca, desse Rio sensual, secreto de vida e de amores curtos, devasso de boémia, ditado que nos foi desdoidar na velha Lapa (ainda sussurra o Édipo-Rei? me manda um livro da Lapa ... mana! com chorinho e tudo). Me dá notícias, que a vida aqui é pouco mestra. E como te marquei no Ouvidor, em tarde de fundura e diabo no corpo ... a
"vida é sorte perigosa
passada na obrigação:
toda a noite é rio-abaixo,
todo dia é escuridão ..." [M. Assis]
Licença, mana! Me conta tudo para quebrar estes ferros de fim de tudo, eu que esbarrei no Leblon (eu ia) e fiquei logo sério a ouvir aquela fala misturada: "nasci devagar / sou é muito cauteloso" [G. Rosa]. Me dá alegria, mana. Me dá alegria!
Felicidades
FELIZ ...
sábado, 23 de dezembro de 2006
FELIZ NATAL
Feliz Natal
"Porque os caminhos são longos
E os carreiros que a eles vão dar são misteriosos
A razão atraiçoou-nos.
Pensámos que Deus dera o dever de desprezarmos:
A noite sem estelas cobriu-nos
Enquanto o Senhor se mostrava a cada esquina.
Misterioso como príncipe encantado"
[Ruy Cinatti, Nós não somos deste mundo, Ática, 1960 - desenho da Missa do Galo, Açores, in Alma Nova]
HOJE ... ANDAMOS ASSIM!
"Deixem-nos trabalhar" [Cavaco Silva]
"Do peru, está tudo dito. Elefante de aviário, o peru não aguenta mais apodos. Podemos, no entanto, garantir que o peru rupe, que não é mau com puré e que, embora prue, morre muito com urpe.
O melhor peru é o do vale do Epru. Mas não paga a pena mandá-lo vir de lá. Chegaria a vossas casas sem aquele 'repu' que o caracteriza. Podeis, perum, supermercá-lo: vitaminado, vacinado, pesado, congelado, embalado, carimbado, comprovado.
Aproveitai, no presente de Natal, este superperu, que, para o ano, vendê-lo-ão já mastigado, em bisnagas cheias de préu."
[Alexandre O'Neill, Peru, 1981]
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
PRENDAS DE NATAL
V. Excia deseja um presente evocativo, que trespasse de pavor e frémito o seu amigo(a) ou familiar, sem pieguices e absolutamente expressivo de virtudes humanas? Pois, V. Excia, tem à sua disposição uma oferta única e desenganada: uma TV admirável de modernidade. Na compra leva inteiramente grátis o génio (e as faces) do ilustre bando dos quatro. Numa loja perto de si. Stock limitado.
PS: não dispensa o prazer da leitura do prospecto, com assinatura Luís Amado.
O CORAJOSO ENG. SÓCRATES
Hoje foi dia de exposição política. No cadeiral de S. Bento não houve tumulto nem sedição alguma. Não vimos isso, nem haveria arrojo para tanto. O anfiteatro dispensa tais delírios, aliás respeitáveis, quando se está de governo e se tem convivas já defuntos. Naquela casa de fadas, o eng. Sócrates, semeado de rosas pela bancada da União Nacional, celebrou, ex-ante, a missa natalícia.
Ao seu lado direito, a cópia estava sorridente, grato de assunto, mesurando o dever de escrivão. Impecável, Silva Pereira revela nos olhares a entusiástica admiração pelo governador da paróquia. A inclinação, astutamente para a esquerda, era encomendada pelo dr. Santos Silva. Do lado direito do engenhoso leader, disfarçado de ministro, estava a cabeça das corporações académicas, o senhor Mariano Gago. Reputado e saudável. Enquanto isso, a ala esquerda do partido rosa no governo, sem forças e sem verve, passeava cabisbaixa pelos Passos Perdidos. Entretanto, Marques Mendes não atinava com a prosápia do abominável Sócrates. O homem não se levanta, mesmo quando a agremiação do governo se deleita com inenarráveis salazarices. E lá correu a soirée, entre aclamações, vivas e olés.
Esta posta não ficaria sugestiva se, para nossa glória e bem à maneira do espiritualíssimo Bettencourt Resendes, não registássemos o memorial do eng. Sócrates. Este, em resposta a uma malvadez qualquer da canalha da oposição, e mal tomando a cadeira do discurso, logo avisou, com autoridade, ambição e insolência, que era corajoso. Muito corajoso. Retorcidamente corajoso. Bravo como um soldado. Era a primeira vez que um primeiro-ministro adulava e tomava por suas as palavras dos Bettencourts Resendes. Tal empréstimo será doravante a bula Socrática. Não há nenhuma ERC ou ERSE, qualquer ministro Manuel ou Pinho, ou até mesmo um simples secretário de estado, que faça cair a soberba lúcida & grotesca do eng. Sócrates. Coisa de pasmar!
BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!
O Almocreve das Petas
Cumprimenta e saúda os Seus Fornecedores e Amigos e anuncia-lhes que tem à sua mercê um estimado sortido de livralhadas para brindes de Natal e Ano Novo.
Aproveita a ocasião para desejar aos estimados Fornecedores votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo.
Saúde e fraternidade
PS: foto da Livraria Barateira (Lisboa), graças à qual temos vindo a construir uma vida farta, copiosa e saudável. Graças!
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
ANÚNICOS GRATUITOS
O rato de automóveis não se reforma como o rato de hotel
Ao volante do Supercarro, o rato Super-Homem espatifou-se. Antes de morrer, chamou pela mãe.
«Tira a pata!» disse um rato que encontrou outro rato a roubar o seu automóvel. Brigaram. A cem metros, um guarda-nocturno tilintava as suas chaves.
[Alexandre O'Neill, Dos ratos e dos Carros]
CONSELHOS AO MORDOMO
"Se servir as bebidas, tenha maior cuidado em poupar trabalho, assim como a garrafeira e os copos de seu amo. Por isso, como se pressupõe serem amigos todos quanto jantam à mesma mesa, faça com que bebam pelo mesmo copo, sem o lavar, o que lhe evitará muita canseira, assim como a possibilidade de os partir (...)
Limpe as pratas, esfregue as facas e sacuda o que estiver na mesa com os guardanapos e as toalhas que tiverem servido, na altura, porque nem sempre é dia de lavagem, além disso poupará os esfregões e, como recompensa de tanta economia, acho que o mordomo pode, com toda a legitimidade, usar os mais lindos guardanapos como gorro de noite (...)
Mandam-lhe decantar uma garrafa suspeita? Quando estiver aí a meio, dê-lhe uma sacudidela a preceito e mostre, num copo, que o conteúdo começa já a aparecer turvo (...) [meta o dedo em todas os gargalos, para ver, se as garrafas estão cheias; é o método mais seguro, porque nada há como o tacto]
Quando, meu caro mordomo, um convidado se retira, tenha a preocupação de se pôr bem à vista e de o acompanhar até à porta, e, assim que tiver oportunidade para isso, fite-o bem na cara, com o que poderá ganhar um xelim (...)
Feche, todos os dias, um gato, no compartimento onde se guardam as porcelanas, não se dê o caso de os ratos se meterem lá dentro e escaqueirarem a louça toda (...)
Amole as costas das facas de modo que cortem tanto como o gume; isto terá a vantagem de os convidados poderem experimentar o outro lado se lhes parecerem embotadas; e para mostrar que se não poupa a afiar facas, passe-as tanto que gaste boa parte da lâmina e até mesmo o punho de prata. Isto aumentará o bom nome de seu amo, como indício de casa bem governada, e o ourives poderá, algum dia, ter consigo uma lembrança
[Jonathan Swift, in Preceitos para uso do pessoal doméstico, Estampa, 1979. Nota: sublinhados nossos]
REVISTA PRELO
"pensar no presente, na certeza de que nenhum passado chegará para redimir a sua eventual omissão ou incapacidade, mas convictos também de que aquilo que foi antes interroga e de algum modo responsabiliza o que é hoje"
[Prelo nº1, Outubro, 1983]
Estimada revista (trimestral) da INCM, publicada a partir de 1983 (agora na sua III série), sob direcção inicial de Diogo Pires Aurélio.
domingo, 17 de dezembro de 2006
ANÚNCIO
Aviso totalmente gratutito:
Informam-se os nossos estimados Leitores e as nossas Ledoras (de paixão) que o ab(uso) do Governo faz mal à saúde e provoca impotência. Havendo o propósito de andanças mui alevantadas ou de entretimentos mui destemperados, é mister que tudo o que seja "sotto coperte" o seja pouco suspeitoso. Eis a boa doutrina.
Boa noute!
sábado, 16 de dezembro de 2006
CATÁLOGO DE LIVROS
Catálogo LVI da Livraria Moreira da Costa
Saiu o Catálogo LVI da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30 - Porto). Peças esgotadas, algumas raras. Pode ser consultado on line.
Algumas referências: Os Intelectuais Galegos e Teixeira de Pascoaes. Epistolário, por Eloisa Alvarez, 1999 / Annaes da Sociedade Promotora da Industria Nacional (contém listagem dos seus membros, em 16 de Maio de 1823), Impr. Nacional, 1822 / A Arte Popular em Portugal (dir. de Fernando de Castro Pires e Lima), Verbo, VI vols / Estudo de Clínica Therapeutica das Aguas d'Entre-Os-Rios, de A. M. Sousa Baptista, Porto, 1915 / O Rancho de Carqueja, de António Francisco Barata, Coimbra, 1864 / Diccionario Chorographico de Portugal ..., por E. A. de Bettencourt, Lisboa, 1874 / Boletim do Instituto de Angola, 1953 (nº1, Jul-Ag-Set. 1953) a 1960 (nº 14, Jul-Dez) / Bulletim des Campagnes Scientifiques, de D. Carlos de Bragança, 1902 / Os Lusíadas (com pref. Hernâni Cidade), Artis, 1956 / Leitura para letrados, pelo Visconde de Carnaxide ("compreende a presente colectania determinadas teses juridicas"), Coimbra, 1925 / Tratado da Propriedade Literária e Artística, pelo Visconde de Carnaxide, Porto, 1918 / O Dólmen da Barroza, pelo General Mesquita Carvalho, Porto, 1898 / Dispersos de Camillo, por C.C.Branco, 1848-1852, V vols / A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre, de Leonardo Coimbra, 1935 /Problemas da Economia Nacional, de Constâncio Roque da Costa, 1909 / Questões Económicas, Financeiras, Sociaes e Coloniaes, por C. Roque da Costa, 1916 / O Anno Politico (1896), de Fernandes Costa, 1897 / In Memoriam de Ferreira de Castro, Braga, 1976 / L'Hypnotisme, por Gilles de La Tourette, 1887 / "Livro das Communas" [trilogia: o parocho (com pref. Camilo), o mestre-escola e o administrador], por Roselly de Lorgues, 1868 / Diccionario Geographico Abreviado de Portugal e suas Possessões Ultramarinas, por Fr. Francisco Dos Prazeres Maranhão, 1852 / Promptuarium Juridicum, P. Bento Pereira, 1664 / Código Pharmaceutico Lusitano, de Agostinho Albano da Silveira Pinto, 1858 / Carta Directiva, por Affonso dos Prazeres, Coimbra, 1765 / A Velha Casa, por José Régio, 1945-1966, V vols+1 vol (Vidas são Vidas, rascunho do 6º romance)
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
ALMANAQUE REPUBLICANO
Almanaque Republicano - Actualização
A demanda da Alma Republicana renova-se, cada vez mais vigorosa e alevantada. Para ledores que o tempo habitou, para aqueles que as dissoluções passadas são ainda o temp(l)o educativo, para todos os grémios que resistem, temos a modos que argumento:
O Mundo Fascinante de Lima de Freitas; bibliografia e artigos da revista Vértice de Flausino Torres; Efemérides Republicanas do mês de Dezembro; biobibliografia de António de Oliveira Marreca; extractos de textos de Flausino Torres; anotação sobre o falecimento de Alfredo Pereira Gomes (1909-2006); novas Efemérides Republicanas para Dezembro (em continuação); leituras sobre Capitão Barros Basto; biobibliografia de Albano Coutinho (membro fundador do Partido Republicano); biobibliografia de José Caetano de Amorim Benevides (jurista natural de Loulé); foto da redacção do jornal O Mundo, no funeral do seu director França Borges (por Joshua Benoliel); um post-nota sobre o descerramento da lápide em nome da vítimas dos tribunais plenários (que alguns pretendem branquear), organizado pelo Movimento Cívico 'Não Apaguem a Memória'.
Eis o Almanaque Republicano. Ao V. inteiro dispor!
Saúde e fraternidade
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
COLISEU & O FANTÁSTICO CHANG
Vem este acrescento a propósito de cativas reminiscências que ditosas preces & freguesias viciosas nos elevaram no dia d'hoje. Basta recordar-nos dos "mundos dos impossíveis" ou poder louvado que, felicidade nossa, fizeram luz (ou Lux, conforme as criaturas) na nossa fabulosa vetustez. Coisa antiquíssima essa - a ida ao Coliseu. Diabólicos magos, a celebre mulher das barbas, a civilização por num dia, o palhaço pobre, os animais amestrados, o malabarista prodigioso (versão Teixeira Santos), o domador bíblico, o faminto leão (d'Alvalade, é claro!), a bailarina sequiosa. Tal como hoje, um mundo de vitalidade. Basta acompanhar o martírio dos colunistas, os textos obscuros do Azeredo Lopes, via comissão de exame prévio ou dita ERC, a languidez do dr. Cavaco ou a doutrina caseira do fenómeno Sócrates, a letra sensorial de João Miranda & as pinochadas d'O Insurgente. Abençoado Coliseu.
PS: em prece social(izante) enviamos os votos de Boas Festas à gerência.
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