sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS E ANO NOVO FRATERNO!



Faz da tua vida em frente à luz
Um lúcido terraço exacto e branco,
Docemente cortado
Pelo rio das noites.

Alheio o passo em tão perdida estrada
Vive, sem seres ele, o teu destino.
Inflexível assiste
À tua própria ausência.


Sophia de Mello Breyner, in Dual

PRESIDENCIAIS – O LENTE IRACUNDO


"Tudo se paga nesta terra, o bem e o mal. O mal é mais caro, naturalmente" [Céline]

A paróquia, arrefecida na sonolência pela crise da crise, está definitivamente vítima de um mestre-escola. O educador presidencial Cavaco Silva, em requintado e alucinante mascar de palavras, largou (de vez) à desfilada verbal pelas charnecas indígenas, soqueando o espantado nativo televisivo com o incipit da velha gritaria de ser lente. Em econômico-financeiras, repete o sábio dr. Cavaco.

Como o lente chibata as suas próprias palavras - que só muito depois são vertidas tecnicamente em politiquês pelo gentio manso dos jornais e, em especial, traduzidas pela soutachée imaginativa da sra. Maria João Avillez -, enquanto vai acasalando a função de ex-governante com a de presidente e ex-lente, a rosariada do ululante candidato e futuro presidente não se entende nem se pode avaliar. O dr. Cavaco é o três em um, resfolegando manuais & pasmos de adolescente.

O dr. Cavaco era em tempos aquele que nunca se enganava e jamé tinha dúvidas. Algarviadas, evidentemente! Agora, em refutação do folheto BPN & em resposta ao apoio fúnebre dado ao (des)governo do sr. Sócrates, acrescentou-lhe literariamente o catecismo moral: "é preciso nascerem duas vezes para ser mais honestos do que eu". Ao dito, o sr. Dias Loureiro deu o seu último suspiro. Amém!

Nada disto diz respeito às cabrioladas do sr. Defensor de Moura, que já se viu o que anda por ali a mitigar ao governo e o frete que faz a outros candidatos. É que o sr. Sócrates tem agentes em todas as paróquias. Tal como as despicientes agências de rating na taramelada zona Euro. Não há, portanto, qualquer acaso ou substância bizarra a recompor pelos debates. Que, aliás, ninguém de boa fé acompanha ou reverencia.

Por que o fundo da questão, a saber, será sempre perceber como é que a laboriosa providência indígena nos foi, uma vez mais, madraça & vassala. Explicar como, num único momento, decerto por um formidável e raro prodígio do éter universal, se encontraram essas duas almas gêmeas – o sr. Sócrates & o dr. Cavaco -, será sempre um fenômeno pouco luminoso, mesmo que passional seja.

Nada há mais pacífico que reservar o momento em que, vindo dos tempos de canga do antigo "oásis" do dr. Cavaco - alucinação desovada pelo economista sr. Silva -, a nossa mísera fazenda se esticou até aos nossos dias e, no seu estro, espinoteou nesta paródia (amargurada) da governação do sr. Sócrates & amigos. O resultado esteve sempre à vista, mesmo se os argumentos dos publicistas eram esforçados. O resultado está, particularmente, á vista, mesmo se o lente dr. Cavaco, pessoalmente, faça unguentos ou consulte os astros & os compadres. Toca a andar!

domingo, 19 de dezembro de 2010

O POLÍTICO


"A noite é quando uma pessoa está cansada do dia"

Aos ledores instruídos nos recatos nocturnos, aos novos que adengam na blogosfera, às meninas discretas e (im)prudentes, aos presumidos pastores dos jornais, a criados desatentos, à confraria dos snrs. Silvas, aos ilustres adegueiros Lellos & V. Lemos, aos pitorescos escrivães Sousas Tavares & J. Manuel Fernandes, à caprichosa toilette chez Helena Matos, ao sereníssimo D. Emídio Rangel, à Venerável Casa do Largo do Rato, aos discípulos do beato Augusto Santos Silva (vulgo S.S.) ... oferece-se as máximas escriptas de mestre Palmeirim, obra muy bem acabada sobre cousas notáveis do reyno de Portugal e da União.

"Quando um homem qualquer não tem de fazer, e receia por um resto de pudor passar por vadio, mete-se a político.

Ser político, em Portugal, significa falar no orçamento e não o ler; na Carta Constitucional, e não saber onde ela se vende; no poder executivo, e confundi-lo com todos os outros poderes, menos com o próprio poder executivo.

Para se ser político, precisa-se: primeiro, audácia; segundo, ignorância; terceiro, ociosidade. Com estes três predicados, a leitura de alguma folha periódica, e o conhecimento pessoal de dois ou três homens que já fossem ministros, está o político feito.

O político é geralmente um homem enfastiado e fastidioso, a quem correm mal os negócios públicos e pior ainda os domésticos (...)

A primeira cor da bandeira do político é a liberdade. Outras, conforme os tempos, crismam-se de – progresso – melhoramentos materiais - economias e moralidade. Como pedir custa pouco, o político pede tudo, até tributos bem pesados ... que não pesem a ninguém.

Por via de regra o político, no exercício das suas tendências e faculdades, corre todos os partidos, defende todas as teorias, abraça todas as opiniões, e tem a habilidade de se confessar ainda por cima coerente com as doutrinas de todos os publicistas, o que é um absurdo.

O político incorrigível é uma espécie de tabuada cronológica, indica com exactidão as datas, mas poupa-se ao incómodo de filosofar sobre a significação dos números (...)

O político tem com o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a caça. Notícia sem fundamento, ou boato sem verosimilhança, nasce exclusivamente do político. É ele que justifica mais do que ninguém a frase popular fazer de um argueiro um cavaleiro. O que os franceses chamam canard e nós dizemos galga é de ordinário invenção do homem dado às evoluções e artimanhas da política. Não podendo ajeitar o mundo à sua feição e desejos, compraz-se em pôr em circulação a mentira que, correndo de boca em boca, chega a ganhar foros de verdade averiguada como tal (...)

O político endurecido nos vícios da sua profissão tem de ordinário uma roda de papalvos que o ouvem com respeito, e aplaudem com entusiasmo ...


Luís Augusto Palmeirim, Galeria de Figuras Portuguesas, P&R, 1989, pp 117-119

Boa noute ... que pretium laborum non vile.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

BOLETIM BIBLIOGRÁFICO 48 DA LIVRARIA LUIS BURNAY


Está online o Boletim 48 da Livraria de Luis Burnay [Calçada do Combro, 43-47, Lisboa], que apresenta 441 peças estimadas, procuradas e raras.

Algumas referências: Almanaque [uma das revistas culturais mais curiosas, c/ colab. de Stau Monteiro, Alexandre O’Neill, Augusto Abelaira, Vasco Pulido Valente, Aquilino Ribeiro, Manuel Mendes, etc..], 1959-61, 18 numrs / Contos Exemplares (1962), de Sophia Melo Breyner / Antologia de Poesia Erótica e Satírica [rara ed. dita do Rio de Janeiro, de contrafacção, sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas que a acompanha], c/ pref. Natália Correia / Monografia de Paredes, por José do Barreiro, 1922 / Biographia de Remechido o celebre guerrilheiro do Algarve …, Tavira, 1892 / A Ideia de Deus, de Sampaio Bruno, 1902 / Camiliana & Varia [rev. do Circulo Camiliano], 1951-54 (compl.) / The Lusiad, por Luis de Camões [é a primeira ed. publicada em Inglaterra], 1776 / Diário de um condenado político, por João Chagas, 1894 / Os Ciganos de Portugal, por António José Coelho, 1892 / Manual Político do Cidadão Portuguez, por Trindade Coelho, 1908 / Anoiteceu no Bairro, de Natália Correia [2º livro da autora], 1946 / A Maçonaria em Portugal [obra antimaçónica], por Da Cunha Dias, 1930 / Edit de sa Majesté três-fidele le Roi de Portugal par lequel Elle abolit les Ecoles d’Hmanites des Jesuites …, Amsterdam, 1760 / Submundo, Mundo, Supramundo, pelo Visconde de Figanière [obra estimada e rara da literatura teosófica ou esotérica portuguesa, nesta sua primitiva ed. com os quadros correspondentes; Figanière fez parte da Sociedade Teosófica], 1889 / Fundação da Ordem da Visitação em Portugal [Ordem nascida para o “combate às heresias”], 1782 / Gazeta Litteraria do Porto [camiliano], 1868 / Índices Ideográfico e Onomástico d’O Instituto [import. revista de Coimbra], por J. Pinto Loureiro, 1937 / Reino Submarino, de Rui Knopfli, 1962 / A Leitura: Magazine Litterario [revista literária – completa], 1894-96, XVIII vols / Da Monarquia para a Republica, por Bernardino Machado, 1905 / Maio: International Poetry Magazine, London, 1973 [nº único desta rara revista poética, dir. Alberto de Serpa] / Mákua: Antologia Poética, 1963-64, V vols [da estimada publicações Imbondeiro] / Pierrot e Arlequim, por Almada Negreiros, 1924 / Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, sd. (1944, 1ª ed.) / Palheiros do Litoral Centro Português, por Ernesto Veiga e Oliveira & F. Galhano, 1964 / As Mouras Encantadas …, de F. Xavier d’Ataíde, 1898 / O Barreiro Antigo e Moderno, por Armando da Silva Pais, 1963 / Portugalia (rev. Cultura …), 1925-26, VI numrs / Revista Filosófica (dir. Joaquim de Carvalho), 1951-59, XXII numrs / A Filosofia na Alcova, pelo Marquês de Sade, Afrodite, 1966 / Fidelidade (poemas), de Jorge de Sena, 1958 / Para a História da Revolução, por Teixeira de Sousa, 1912, II vols /A Tradição [rev. única publ], Coimbra, 1920 / [Manuscritos]: António Pedro [As Casas da Areia], Manuel de Arriaga, Agostinho de Campos, Joaquim Martins de Carvalho, João Chagas, Sebastião Magalhães Lima, Dom Miguel, Ramalho Ortigão, Luís Pacheco, Rafael Bordalo Pinheiro, Eça Queiroz, Oliveira Salazar.

A consultar online

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

LIU XIAOBO – "I HAVE NO ENEMIES …"


"... My dear, with your love I can calmly face my impending trial, having no regrets about the choices I’ve made and optimistically awaiting tomorrow. I look forward to [the day] when my country is a land with freedom of expression, where the speech of every citizen will be treated equally well; where different values, ideas, beliefs, and political views . . . can both compete with each other and peacefully coexist; where both majority and minority views will be equally guaranteed, and where the political views that differ from those currently in power, in particular, will be fully respected and protected; where all political views will spread out under the sun for people to choose from, where every citizen can state political views without fear, and where no one can under any circumstances suffer political persecution for voicing divergent political views. I hope that I will be the last victim of China’s endless literary inquisitions and that from now on no one will be incriminated because of speech.

Freedom of expression is the foundation of human rights, the source of humanity, and the mother of truth. To strangle freedom of speech is to trample on human rights, stifle humanity, and suppress truth ..."

in I have No Enemies: My Final Statement

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

WIKILEAKS - ROTEIRO


Mass-mirroring Wikileaks / Wikileaks - the salient point / How Wikileaks has woken up journalism [Emily Bell] / Julian Assange and the Wikileaks agenda / WikiLeaks: substituto do jornalismo investigativo? / O Homem Mais Perigoso do Ciberespaço [Rolling Stone] / Suspicions abound that Wikileaks is part of U.S. cyber-warfare operations / Wikileaks e liberdade de informação [Blasfémias Blog] / Estudantes são advertidos sobre WikiLeaks / State Department To Columbia University Students: DO NOT Discuss WikiLeaks On Facebook, Twitter / Revealed: Assange ‘rape’ accuser linked to notorious CIA operative / Julian Assange’s EgoLeaks [Victor Davis Hanson – National Review] / Piratas vingadores e espiões em diligência [Umberto Eco - Liberation] / Natalia Viana [Blog] / Hackers derrubam sites que atuaram contra o WikiLeaks [Último Segundo] / Wikileaks: Stop Us? You'll Have to Shut Down the Web [ABCNews] / Após prisão do criador do site, hackers atacam "inimigos" do WikiLeaks [Folha] / Operation Payback cripples MasterCard site in revenge for WikiLeaks ban [Guardian] / WikiLeaks: Who are the hackers behind Operation Payback? [Guardian] / Amazon and WikiLeaks - Online Speech is Only as Strong as the Weakest Intermediary / Operation Payback [Twitter] / Anonymous (group) / Behind The Scenes at Anonymous’ Operation Payback / Dark forces at work to take Julian Assange to US, says lawyer [London Evening] / US embassy cables: browse the database [Guardian] / Why WikiLeaks Is Good for America [Wired] / A revolução será digitalizada [Altamiro Borges] / Attack and Counter-Attack [Lachlan's Rambling] / WikiLeaks: Parem a Perseguição [Petição]

WikiLeaks: A INSUBMISSÃO


"Nós vivemos do eco das coisas e neste mundo de pernas para o ar, é ele que suscita o grito" [Karl Kraus]

O jornalismo, para exorcizar "os seus fantasmas", sempre viveu numa curiosa actividade, ou eco, de construção de uma realidade "plantada" pelos agentes do poder económico, político, cultural ou institucional. A vidinha cá fora, porém, é sempre outra. Quando prevarica, arregalando os olhos do indígena, retrocede e estagna de seguida. Sempre conformista! A manjedoura fatal, a isso obriga. O seu putativo esplendor, a existir, nunca foi mais que um elixir pingado pelo talentoso comprometimento que assume, de quando em vez, nesse administrado comércio do mensageiro e das fontes. E excita-se! A "grande prostituta" é assim, mesmo que o serviço público seja bom!

A vaidade jornalística sobre a política de informação – é certo – de vez em quando sucumbe às "gargantas fundas", numa "liberdade da inimizade" cúmplice porque direccionada. O jornalismo parecia (ou parece?) ser uma serviçal com todo o respeito. A audaciosa indisciplina está, porém, a ganhar a sua áurea, nesta curiosa "bolha ideológica" que por aí vem. Fala-se, evidentemente, da sociedade de informação global, aberta e democrática que o mundo mediático e civilizado da internet descodifica e dinamiza. Poderá ser o fenómeno da WikiLeaks o anúncio do seu começo?

Não há maior ameaça á segurança que a oficiosa insegurança transmitida pelos verdades "plantadas" pelos governos aos media e jornalistas, com base na manipulação, na mentira e do piedoso expediente à suscitação do medo colectivo, sempre à revelia da lei e dos bons costumes. Os factos imorais que levaram à invasão do Iraque, ainda estão recentes. O sr. Bush, o sr. Blair e o sr. Barroso, estão de boa saúde e, ao que parece, são sujeitos recomendáveis. As responsabilidades sobre os negócios obscuros dos bancos financeiros com instituições de regulação e os poderes públicos, que em parte conduziram à miseranda situação contra os valores da sociabilidade e da ética de estar na economia, nos governos e na vida colectiva, tardam ou nunca virão. Então, porque razão o WikiLeaks poderá ser rotulado de inimigo nº 1 pelas boticas do manual do "perfeito" cidadão, ao fornecer documentos seguros e credíveis?

Quer dizer: a imprensa de referência – NYT, Guardian, El País -, que tem feito o trabalho jornalístico de publicitação de documentos com base das fugas de informações divulgadas pelo WikiLeaks, viola presuntivamente a lei (caso do N.Y.T.) e o refractário é Julian Assange. Ameaçado como foragido, perseguido como terrorista, preso. E que dizer de algumas organizações & outros tantos serviçais que, no imprudentíssimo zelo de tudo vigiar e controlar, ostensivamente tentam bloquear a plataforma WikiLeaks, atacando a liberdade de expressão na internet, a essência da própria rede? Será que chegou a hora da "esperada" legislação para o controlo totalitário da rede?

Até lá - para não sair da paróquia -, mesmo que os nossos jornais sejam de um provincianismo admirável e de um servilismo manhoso; apesar das palavras escolásticas, feitas de um reaccionarismo comovente, por um qualquer José Manuel Fernandes; ou da singularidade interrogativa deste nerd das ideologias ou resfolegado profile das tecnologias, a rede de activistas em defesa da liberdade de expressão e contra a censura da internet, esse o movimento global contra a submissão, manter-se-á. A batalha começou! Assim seja!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FERNANDO PESSOA – “HERE LIES THE OTHER PART”



"Atapetemos a vida / Contra nós e contra o mundo ..."

"Todos nós, que sonhamos e pensamos, somos ajudantes e guarda-livros num armazém de fazendas, ou de outra qualquer fazenda em uma Baixa qualquer. Escrituramos e perdemos; somamos e passamos; fechamos o balanço e o saldo invisível é sempre contra nós"

"A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos"

"Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah!, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto"

"O drama da civilização na Europa – o conflito entre a Inteligência e a Ordem, entre o Espírito e a Matéria, entre a Grécia e Roma"

"O que é misterioso é individual. Basta para o ser que não haja palavras para o dizer; é incomunicável, portanto. Gorgias já dizia: não se pode, por sua natureza, comunicar ..."

"Os esotéricos percebem a origem das coisas segundo a sua representabilidade do mistério para a alma humana. Os herméticos fora já de toda a compreensibilidade. Vêem não já os símbolos mas as coisas. Para os gnósticos ainda a verdade aparece no seu símbolo vivo, não morto (como para os exotéricos). Para os herméticos é a verdade pura que é revelada"

"Esta frase é para quem a entende: a sublimação é pelo mercúrio. Toda a iniciação está nisto
Vertical, vontade
Horizontal, inteligência
Círculo, emoção"

"Para todos, quantos queiram mais da vida que o que ela é em si mesma, a regra é aquela que, em um dos seus modos, os três graus maçónicos simbolizam. Entramos aprendizes pelo sofrimento, passamos companheiros pelo propósito, somos levantados Mestres pelo sacrifício. De outro modo se não chega, na arte como na vida, à Cadeira, que é o Trono, de Salomão"

"A forma régia ‘saber é poder’ não deve ser entendida relativa, senão absolutamente. Conhecer uma coisa, é, de facto, possuí-la”