quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

WikiLeaks: A INSUBMISSÃO


"Nós vivemos do eco das coisas e neste mundo de pernas para o ar, é ele que suscita o grito" [Karl Kraus]

O jornalismo, para exorcizar "os seus fantasmas", sempre viveu numa curiosa actividade, ou eco, de construção de uma realidade "plantada" pelos agentes do poder económico, político, cultural ou institucional. A vidinha cá fora, porém, é sempre outra. Quando prevarica, arregalando os olhos do indígena, retrocede e estagna de seguida. Sempre conformista! A manjedoura fatal, a isso obriga. O seu putativo esplendor, a existir, nunca foi mais que um elixir pingado pelo talentoso comprometimento que assume, de quando em vez, nesse administrado comércio do mensageiro e das fontes. E excita-se! A "grande prostituta" é assim, mesmo que o serviço público seja bom!

A vaidade jornalística sobre a política de informação – é certo – de vez em quando sucumbe às "gargantas fundas", numa "liberdade da inimizade" cúmplice porque direccionada. O jornalismo parecia (ou parece?) ser uma serviçal com todo o respeito. A audaciosa indisciplina está, porém, a ganhar a sua áurea, nesta curiosa "bolha ideológica" que por aí vem. Fala-se, evidentemente, da sociedade de informação global, aberta e democrática que o mundo mediático e civilizado da internet descodifica e dinamiza. Poderá ser o fenómeno da WikiLeaks o anúncio do seu começo?

Não há maior ameaça á segurança que a oficiosa insegurança transmitida pelos verdades "plantadas" pelos governos aos media e jornalistas, com base na manipulação, na mentira e do piedoso expediente à suscitação do medo colectivo, sempre à revelia da lei e dos bons costumes. Os factos imorais que levaram à invasão do Iraque, ainda estão recentes. O sr. Bush, o sr. Blair e o sr. Barroso, estão de boa saúde e, ao que parece, são sujeitos recomendáveis. As responsabilidades sobre os negócios obscuros dos bancos financeiros com instituições de regulação e os poderes públicos, que em parte conduziram à miseranda situação contra os valores da sociabilidade e da ética de estar na economia, nos governos e na vida colectiva, tardam ou nunca virão. Então, porque razão o WikiLeaks poderá ser rotulado de inimigo nº 1 pelas boticas do manual do "perfeito" cidadão, ao fornecer documentos seguros e credíveis?

Quer dizer: a imprensa de referência – NYT, Guardian, El País -, que tem feito o trabalho jornalístico de publicitação de documentos com base das fugas de informações divulgadas pelo WikiLeaks, viola presuntivamente a lei (caso do N.Y.T.) e o refractário é Julian Assange. Ameaçado como foragido, perseguido como terrorista, preso. E que dizer de algumas organizações & outros tantos serviçais que, no imprudentíssimo zelo de tudo vigiar e controlar, ostensivamente tentam bloquear a plataforma WikiLeaks, atacando a liberdade de expressão na internet, a essência da própria rede? Será que chegou a hora da "esperada" legislação para o controlo totalitário da rede?

Até lá - para não sair da paróquia -, mesmo que os nossos jornais sejam de um provincianismo admirável e de um servilismo manhoso; apesar das palavras escolásticas, feitas de um reaccionarismo comovente, por um qualquer José Manuel Fernandes; ou da singularidade interrogativa deste nerd das ideologias ou resfolegado profile das tecnologias, a rede de activistas em defesa da liberdade de expressão e contra a censura da internet, esse o movimento global contra a submissão, manter-se-á. A batalha começou! Assim seja!