sábado, 28 de fevereiro de 2009
OS AMIGOS DO SR. SÓCRATES
"A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer" [Stig Dagerman]
A curiosa romagem a Espinho (este fim-de-semana) dos amigos do sr. Sócrates – a que chamaram graciosamente Congresso – é notícia, desde logo porque é um sério abalo ao ex-partido socialista português. Marca o desânimo e a confusão da gente socialista, que algures existe e ainda resiste. Em Espinho, nunca tantos patrulheiros políticos reaccionários, se nos esquecermos da dita "esquerda" punheteira que habita na blogosfera, estiveram juntos. Tais próceres neo-populistas ofertaram um show business terrorista: ora inocentemente assomadiços contra a imprensa ou sempre de olho na reputação do Chefe.
Nem uma só ideia política consistente deu à luz, em Espinho. Frivolidades inúteis, calúnias tenebrosas (vide o regresso da "campanha negra"), chibatadas à esquerda (o BE agradece), eis a originalidade dos amigos do sr. Sócrates. A crise social, económica e financeira foi definitivamente escorchada: simplesmente não existe! Os "problemas dos portugueses" não interessam, em demasia, para tais sujeitos. Bem pode António José Seguro pregar tal deficit no debate: a ausência é total. Naquele manicómio de engajados do sr. Sócrates, o beija-mão está primeiro e as suas vidinhas & dos amigos, a seguir. Os vagabundos da vida são sempre a canalha. Ou algum desabrido jornalista.
De facto, não surpreende que o mundo à volta do patrulheiro Augusto Santos Silva seja um circo, a exigir as suas suspirosas tiradas "sociológicas"; e que o pavor político do inútil presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, se transforme numa agitada e miserável comédia discursiva; ou que o ridículo José Lello, assanhado porteiro do sr. Sócrates, ainda tenha alguma coisa para dizer. Esta gente, que nada aprendeu nestes seus quatro anos de terror autoritário e despotismo pacóvio, é parte do problema que a crise (económica, financeira, mas principalmente ética e de cidadania) autoriza. Jamais tais professos podem envolver as pessoas num esforço colectivo nacional (à boa maneira do que Obama um dia referiu), porque, além do bom senso, lhes falta um simples e único pingo de democracia. E de liberdade. Como um dia – já muito longínquo – um senhor chamado Mário Soares teve a ousadia de proclamar. Adiante!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
SPORTING: O ATREVIMENTO
Paulo Bento é o maior folgazão dos treinadores de futebol. Um perfeito sobrevivente carnavalesco. E, curiosamente, não há assessor político que não o corteje e estude. Não por ser uma perfeita nulidade no seu mister (o que seria tranquilamente normal) ou pelo patético vocabulário usado em cada flash interview, mas pela faina assombrosa de nunca assumir tropeçar na sua própria miséria. Daí os arrufos da rapaziada dos governos & dos think tank indígenas, pela singular personagem. Na verdade, Paulo Bento está para a teoria política como o eng. Sócrates para o palanfrório futebolístico da Assembleia Nacional. No futebol a máxima de ambos é que o "crítico é um privilegiado que só começa a jogar quando o jogo termina: por isso ganha sempre". E, dizem, não há combate mais limpo que esse. Até o Santos Silva – se lhe soletrarem docemente – entende. Deo gratias!
Hoje, porém, o Paulo Bento está livre desse admirável raminho de críticos. Até mesmo dos que, de peito generoso, dizem:"A bola rola para todos, mas só dá bola para alguns". Paulo Bento, mesmo que não tenha memória, deixou jogar. A derrota contra os boches foi uma liberalidade. Arriscada! O atrevimento dos seus jogadores foi pensar que depois da viciosa correria contra o nosso Glorioso (2ª parte, no sábado passado) tinham pernas, coração e ânimo para o jogo do Bayern. Paga-se caro a tolice, a aventura e a intrujice. Esqueceram-se, há três dias, que num jogo de futebol "quem corre é a bola, senão era só fazer um time de batedores de carteiras". Hoje viu-se no que isso dá. Muito atrevimento.
DA INSTRUÇÃO DA MULHER
Em petição & provimento a S. Exa., o Sr. Rui Pereira, Ministro dos Costumes do Reyno:
"... Madre D. Ana Máxima de Mota e Silva, religiosa do mosteiro de Santa Ana, pelo qual, tendo sido autorizada a sair de clausura para uso de banhos, se obriga a ir directamente para casa do seu irmão, Dr. ..., e dahi para os banhos, levando sempre o rsoto coberto, e portando se com aquella modéstia, e cautela devida às virgens dedicadas a Deos, co o tão bem na ida, estada e regresso para convento ser sempre na companhia do dito seo sobrinho e da creada, indo em carruage, ou liteira, e se sujeitava a não conversar com pessoas estranhas (…); e que sucedendo anoitecer lhe alguma vez pelo caminho, ou sendo lhe necessário tomar algumas refeiçoens corporaes, prometteo de não fazer em estalajaes publicas ..." [1784, Julho, 1, Coimbra (Mosteiro de Santa Ana) – in Câmara Eclesiástica de Coimbra, mc 35, Arquivo de Coimbra]
"Inquirição de Isidoro de Abreu Cardoso, como testemunha da devassa que teve lugar após visitação à igreja de santo Isidoro de Melo. A referida testemunha revelou que Antónia da Costa, da freguesia de Nogueira, viera àquela vila infamada de mensinheira e fizera varias curas andando pellas casas dos enfermos ... não usava de palavras, mas pondo hua galinha preta no estomago ..." [1712, Setembro, 16, Melo (c. Gouveia) – in Livros de Devassas - Vouga, lv. 72, fl. 21, Arquivo de Coimbra]
"Inquirição de Maria, solteira, filha de ..., moradora em Ançã, na sequência da devassa que teve lugar após visita pastoral à igreja de Ançã. A testemunha referiu que Ana Bagulha era mulher de mau procedimento e costumada a desinquietar as mulheres honradas desencaminhando as para ellas se desonestarem e dá conta do que lhe contara uma moça solteira chamada Páscoa que com muitas lágrimas chorando lhe dicera que a dita Ana Bagulha fora a cauza da sua perdissão ..." [Livros de Devasssas – Vouga, 1725, lv. 72, fl. 21, Arquivo de Coimbra]
reprodução do Catálogo da Exposição, "Os direitos da mulher e da criança (séculos XVI-XIX)", org. Arquivo da Universidade de Coimbra, 2007
TEMOS ANDADO POR AÍ ...
... a guardar o ouro dos emolumentos, que a coisa está preta. O cartório do sr. Teixeira dos Santos é tão vibrante como a novela do BPP, mas mais cobrada que a contribuição aos melhoramentos do BPN. Este último, porto franco das sinecuras tem, como se sabe, "mais laranja" & mais "rosa". Os motivos de precaução & a sensatez de uma pausa bloguista, estão explicados. No resto, catrapiscámos em todo o lado curiosos papéis pintados (e autografados) e, ingenuamente, pecámos em húmidas paisagens espirituaes. Evidentemente nada comparáveis com aquela outra com que a nova polícia dos costumes do sr. Rui Pereira afugentou da paróquia de Braga. Mas estivemos bem perto! Pelo meio da vernissage do caos, que se pressente e que não tem remédio, ainda tivemos tempo para ir ao horto d’Alvalade, cumprir promessa. Aqueles rapazes das riscas verdes têm uma boa passada. Trotaram muito bem depois do intervalo. Uns cavalões! Levá-los para o atletismo era de bom proveito pátrio. Quanto ao futebol, confesso que não vi. Estarei com problemas de visão como o Manuel Pinho? Credo! Valha-me S. Sócrates!
Saúde e fraternidade.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Leilão ex-Colecção Ernesto Vilhena, Biblioteca Jorge de Brito III parte – 17 e 18 de Fevereiro
No próximo dia 17 e 18 de Fevereiro (21,30h) na Rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro), 20 C, Lisboa, vai à praça 955 lotes, parte proveniente da Biblioteca Jorge de Brito (ex-Colecção Comandante Ernesto Vilhena). A leiloeira é a Renscimento e o excelente Catálogo foi elaboado pelo livreiro José Vicente.
Conjunto estimado (e raro) de Serigrafias, Arte, Arqueologia, Bibliografia (Diccionario Bibliographico Portuguez), uma Camiliana (ver a "A Infanta Capellista", 1872), Comoneana (vide Lusíadas, ed. III Centenário), Colonial, Culinária, Descobrimentos, Direito, Equitação, Gravuras, História Antiga, Jornalismo, Literatura, Literatura Modernista, Litografias (ver Costumes de Portugal, Lisboa, 1865), Livros de interesse para a I República, Manuscritos, Monografias, Ourivesaria, um livro raro de Fernando Pessoa ("35 Sonnets", Lisbon, 1918), Sermões, Tauromaquia (ver Gran Biblioteca de Selecciones del Museo Torino Espanol, 1977), Revistas, Almanaques e Periódicos (vide Almanach de Trancozo; Almanach Portuguez, 1826; Revista Portuguesa de História, Coimbra; Terra da Beira, Castelo Branco). Algumas peças com dedicatória dos autores ao comandante Vilhena.
Pode-se consultar o Catálogo online, AQUI.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
PARECER preliminar de Garcia Pereira – versão completa
Toda a alucinação dos normativos em torno do concebido ECD, a "avaliação de docentes" & demais ferretes do M.E. contra a Escola Pública e os professores, têm aqui o seu contraditório jurídico.
É muito importante (e reconfortante) esta apreciação de Garcia Pereira, mesmo sabendo-se anteriormente que o construído jurídico-administrativo de Lurdes Rodrigues (seguindo outras muitas leis do governo) era claramente inconstitucional. Por isso, nada de novo, tal a inabilidade laboratorial dessa palavrosa gente. Só peca este receituário jurídico por ser tardio e não ter sido considerada no tempo (como devia) como um decisivo mecanismo colectivo de acção (e de cidadania) pelas estruturas sindicais. Como sempre, tais cantadores de feira vieram, agora, apregoar tal forma de luta associativa. É tarde! Demasiado tarde para quem ministra sindicatos e associações de classe. Foi necessário um grupo de docentes independentes (nada desprevenidos pelo sentido que a luta adoptava) avançar para tal embargo, para que muitos entendam (no futuro) que a luta política tem tantas vertentes quantas as que quisermos e a imaginação permita. E, seguramente, que a luta jurídica, a par do marketing político em defesa da classe (que, aliás, a imagem pública dos docentes consente), têm aqui o maior sentido nesta contenda. Afinal, para que servem os sindicatos?
Leia o PARECER preliminar de Garcia Pereira (versão completa) - via Educar
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
In-Libris – Livros de Fevereiro 2009
A In-Libris (Porto) apresenta um lote de 100 livros usados e antigos de temática variada - poesia, literatura, história, zoologia, Botânica, História Natural, Agricultura, Política, Fotografia, etc.
Referências: Actas do 1º Congresso de Etnografia e Folclore, Braga de 22 a 25 de Junho de 1956. Biblioteca Social e Corporativa. Lisboa. 1963, III vols / Álbum de Costumes Portuguezes, Lisboa, David Corazzi, 1888 / O Minho Rural e a Agricultura Moderna, de Veloso de Araújo, Braga, 1928 / A Filosofia Portuguesa 1720-1820. História da Revolução Portuguesa de 1820, por José d’Arriaga, 1980, IV vols / História Natural dos Pinheiros, Larices e Abetos remettida à Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, de Félix Avelar Brotero, 1827 / A Sciencia e a Industria em nossas casas, por Bento Carqueja, Lisboa, 1912 / Diccionario Portuguez das Plantas, Arbustos, Matas, Arvores, Animaes, ..., por José Monteiro de Carvalho, Lisboa, Offic. de J. F. M. de Campos, 1817 / Os Ciganos em Portugal, por F. Adolfo Coelho, Lisboa, 1892 / História do Regime Republicano (publ. Luís de Montalvor), Lisboa, 1930-32, II vols / Discursos de Oliveira Salazar, 1935-67, VI vols / Ensaios Etnográficos, de Fernando de C. Pires de Lima, 1969, II vols / Obras de Jorge Amado, Sophia de Mello Breyner, Agostinho da Silva, Antero de Quental, António Botto, Adolfo Casais Monteiro, Branquinho da Fonseca, Celestino Gomes, Ferreira de Castro, João Grave, José Augusto Seabra, José Rodrigues Miguéis, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Maria Lamas, Sant’Ana Dionísio, Tomaz da Fonseca, Wenceslau de Moraes.
A consultar on line.
Witches, Wizards and Magic
"Witches, Wizards and Magic from the Middle Ages to the Early Modern Period
Our upcoming issue will be devoted to representations and interpretations of witches, wizards, and magic in art, chronicles, letters, literature, and music from the Middle Ages to the Early Modern period"
in Hortulus - Call for Papers
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Regressar à teoria
Banho de bola no campo das Antas. Marcando em cima dos rapazes do prof. Jesualdo, o Glorioso – de "gravata vermelha" – foi brilhante, genial até. Apagaram as luzes do bairro. Jogaram de ouvido e gozaram! O descanso dado aos andrades (toda a semana), que o reaccionarismo do prof. Jesualdo felizmente estimulou, foi infrutuoso. Uma anedota! Os jogadores são para jogar – os que o sabem fazer, evidentemente – e terem intimidade com a bola. A rapaziada das Antas arrastando-se pelo campo, sem malícia nem jogo de bola, foram objecto de troça de Aimar e seus camaradas. O improviso da velha táctica do chuveirinho, em direcção a jogadores com mais de 2 metros & uma solidez à moda de Luisão e Sidnei, é armar a intelectual. Vem no manual, mas é para gente talentosa. Pingar a bola, nessas condições, é ser "idiota de objectividade" (Nelson Rodrigues). Uma miséria!
A lavagem de bola do Glorioso foi só excedida pela lavagem ao jogo feita pelo soprador de apito, o jovem Pedro Proença. Curioso nome que lembra, e muito, o travestido sindicalista João. Aos 71 m de jogo, Proença, viu um falso penalty contra o Glorioso. É moda (para citar o eng. Sócrates) que os “polícias” de serviço, quando se enganam contra o Glorioso, sejam adeptos confessos do próprio clube. Ladrão de bola contra o Glorioso foi, é, ou será sempre associado do clube. Mestre Pinto da Costa não brinca aos Freeport’s!
A "vitória doce e santa" (ainda, N. R.) que (não) obtivemos fizeram regressar, entre os correligionários das Antas e os veraneantes d’Alvalade, a teoria da "intensidade do lance". Na época, Pôncio Monteiro filosofava sobre esse apurado e raro estudo. Pedro Proença tem aqui um papel principal na sua reconstituição. É, de novo, o futebol a regressar às suas origens. Mestre Pinto da Costa (sabe-se) não brinca em serviço!
domingo, 8 de fevereiro de 2009
CARTA a uma Universidade Perdida
"Carta a uma Universidade perdida - Decisões de semestre novo - de Miguel Vale de Almeida".
Para ler e reler. E guardar para os vindouros! Para que - quando a incomodidade não seja apenas um correio de saudade - ninguém diga que não houve testemunhos que um dia honraram a Instituição e os docentes.
via A Terceira Noite, com a devida vénia.
CATÁLOGO 44 – Livraria Olisipo
Acaba de sair o Catálogo de Fevereiro da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente, com um conjunto estimado de livros esgotados (e raros) de Literatura, Monografias, Ultramarina, Brasiliana, História, Biografias, Revistas, etc.
Algumas referências: Olivença e Marvão, de Ventura Lendesma Abrantes, Barcelos, 1934 / Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos. VI vols, 1961 / um valioso Álbum Henriquino [obras e jornais] referente ao V Centenário do Infante D. Henrique. (1394-1894) Conjunto das seguintes obras e jornais: 1394-1894 / o Almanach Perpetuum Celestium Motuum (Radix 1473) - reproduction fac-similé de l'exemplaire appartenant a la Bibliothèque d'Evora. Édition 1496. Leiria. Genève. Société Sadag, s.d. / Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, pelo General João de Almeida, III vols, 1945 / A Arte Popular em Portugal, sob direcção de Fernando Castro Pires de Lima, Editorial Verbo, III vols, s.d. / O Bardo. Jornal de Poesias Inéditas (red. F. X. de Novaes, A. P. Caldas), Porto – apenas o II vol (Março 1952-Março 1953) / Bodas de Oiro de António Cabreira e o VI Centenário da Tomada de Tavira, 1942 / Cadernos de Literatura, Coimbra, 1978, XXV numrs / Obras de Luiz de Camões (pref. notas do, Visconde de Juromenha), Lisboa, 1860-69, VII vols / Cancioneiro da Biblioteca Nacional. Antigo Colocci-Brancuti, 1949, VIII vols / Bragança e Miranda (Bispado), pelo Pe José de Castro, Porto, 1946 (51) IV vols / A Questão Académica de 1907, de Natália Correia, 1962 / Cortes de Lisboa dos Annos de 1697 e 1698. Congresso da Nobreza, 1824 / Os Meus Cavalos, de Arthur Ervideira, 1958 / História Económica-Financeira da Índia Portuguesa (1910 a 1947), II vols / Instituto Vasco da Gama (per. Impresso na Índia), 1872 a 1874, III vols / Primeiro Volume (e Segundo Volume) da 18ª parte da "Monarchia Lusitana" (ms. Original, publicado por M. Lopes de Almeida, Damião Peres, César pegado), Coimbra, 1940 (a 1958), IV vols / Lisboa de Lés-a-Lés, de Luis Pastor de Macedo, Lisboa, V vols / Os Grandes Vultos da Restauração de Portugal, de Rocha Martins, 1940 / Leitos e Camilhas Portugueses, por J. F. da Silva Nascimento, 1950 / Oceanos. Ed. da Com. Nacional Comem. Descobrimentos Port., Lisboa, 1989-2002, 49 fólios / As Farpas, de Ramalho Ortigão (mais Farpas Esquecidas, II vol. e Ultimas Farpas), 1942 (a 1946), XVIII vols / Cadeiras Portuguesas, por Cardoso Pinto & Silva Nascimento, 1932 / Recordações de Jacome Ratton (2ª ed.), Coimbra, 1920 / Oito Séculos de Arte Portuguesa, de Reynaldo dos Santos, 1970, III vols / Do Ultimatum ao 31 de Janeiro, de Bazilio Telles, Porto, 1905.
ver Catálogo online.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
BENÇÃO DE ANO NOVO
A fraternal Livraria Letra Livre, que vende copiosos papéis pintados & confeccionadas letras de salvação pós-moderna, conhecendo os efeitos que a crise da crise recolhe entre os ledores da coisa literária, deixa-nos neste garrotilho de annus horribilis – evidentemente para além de noviciadas composições e demais desportos para conter o fastio –, um postal de crença (e liberdade ... pois canté) para observar e fugir à Grande Dor. Lá em cima, seguramente sob protecção da Santa Wiborade, o postal alumia-nos.
Saúde e Fraternidade.
O LOBO DE WALL STREET ou o apóstolo Nicolau
A comissão promotora do bem-estar económico indígena teve outrora na autorizada pessoa de mestre Nicolau Santos sempre um judicioso parecer. O apóstolo Nicolau jogava (e, pelo que se sabe, ainda prevarica) no jogo do Expresso, compondo baralhos micro & macro económicos, adivinhando os sinais da abastança que por aí vinha, seguindo sempre o seu tacto financeiro e a chave ministerial do (qualquer) governo.
Para que o efeito do ruído tivesse aplausos, pois o seu dom de profeta do open-market se alevantava entre os neófitos, o sábio Nicolau rodeou-se de outros atinentes maníacos. Os Bessas, um qualquer respigado moço neoliberal da faculdade, dois ou três párocos empresariais de sucesso, um raminho de viciosos redactores da divina bolsa, o prof. Cavaco & equipa antes do atoleiro do oásis, oradores liberais cultivados em sementes reaganianas, todos deram no jornal fartos testemunhos. A coisa era inqualificável, petulante, fantasiosa e divertida, mas vendia. Nicolau estava feliz. Balsemão (e o BPP) agradecia.
Anos depois, o bom do Nicolau Santos, com o "estouro" do sistema financeiro & demais estabelecimentos entre mãos, foi ler e estudar. No último Expresso (à pagina 5) obteve uma revelação, à qual sobreviveu, que denominou: "a loucura que criou a crise". Está explicado, portanto, o sacrifício dos trabalhadores e cidadãos, todos estes anos de luxúria económica. Graças Nicolau! Estás desculpado!
Diz Nicolau: "... Na verdade, Belfort colocava acções de empresas no mercado, cujo valor depois controlava usando a sala de corretagem. Se depois o dono da empresa não colaborasse, Belfort utilizava o seu poder para derrubar o preço das acções até chegarem aos centavos. Colaborando, fazia subir o preço das acções através de vendas maciças. E em novas emissões garantia para si uma parte que comprava abaixo do preço do mercado, vendendo depois as acções com um lucro enorme. Além disso, utilizava testas-de-ferro para comprar mais acções do que a legislação lhe permitia.
Contudo, o dinheiro ganho ilegalmente tinha de ser colocado em local seguro, onde as autoridades americanas não começassem a fazer perguntas acerca da sua proveniência. E assim Belfort lá abriu uma conta num banco suíço, em nome de uma tia da sua mulher, bem como duas empresas fictícias nas Ilhas Virgens britânicas, onde não se paga impostos nem há regulamentos a seguir. Pelo meio, havia documentos falsificados e pessoas que serviam de correio para transportar dinheiro para fora dos Estados Unidos.
Tudo foi correndo bem, até que morre a referida tia e um dos correios é detido e dá com a língua nos dentes. Belfort é obrigado a negociar com as autoridades o seu afastamento da presidência da Stratton e a empresa acaba por encerrar ao fim de oito anos. 0 seu passado profissional, contudo, continua a persegui-lo. E assim em 1999, Jordan Belfort, "O Lobo de Wall Street", é finalmente preso por fraude mobiliária, lavagem de dinheiro e outros crimes e acaba por cumprir uma pena de 22 meses numa prisão federal.
Foram pessoas como esta, brilhantes financeiramente mas gananciosas, amorais e que sempre desprezaram as empresas produtivas, que durante duas décadas fizeram girar triliões em Wall Street, inventaram todo o tipo de veículos financeiros sem que ninguém soubesse exactamente que risco continham e alavancaram a economia mundial a um ponto que já nada tinha a ver com a economia real. 0 resultado é a devastadora crise em que caímos”.
[escriba Nicolau Santos, in Expresso-Economia, 31/01/2009]
domingo, 1 de fevereiro de 2009
LIVRARIA (PARCERIA) ANTÓNIO MARIA PEREIRA
Na morte de António Maria Pereira [1924-2008], advogado e político, ocorrida no dia 28 de Dezembro de 2008, de imediato surge à lembrança a antiga Livraria António Maria Pereira, que tantos e estimados livros publicou. A mítica editora teve uma actividade editorial notável, patrocinando os melhores escritores portugueses.
O ofício de livreiro de António Maria Pereira, um desconhecido com 23 anos de idade que tinha sido aprendiz de oficio na Casa dos Vinte e Quatro [corporação extinta por D. Pedro a 7 de Maio de 1834] e depois caixeiro na estimada Casa Marques, começa a partir do dia 18 de Agosto de 1848 quando se instala no nº188 da Rua Augusta. O mester de livreiro [a este propósito é indispensável o livro de Fernando Guedes, "Os Livreiros em Portugal e as suas associações desde o século XV até aos nossos dias", Verbo, 1993] lê-se na tabuleta da porta que indicava:"Estabelecimento para venda e encadernação de livros" [cf. Crónica de uma Dinastia Livreira, de António Maria Pereira, Pandora, 1998].
Editando os melhores escritores da época, a par de literatura popular, torna-se uma importante editora e a partir da administração do 2º António Maria Pereira ("um homem de letras", segunda Eça) muda o nome para Parceria António Maria Pereira. Curiosamente na primeira direcção da (denominada) Associação dos Livreiros de Lisboa (13 de Fevereiro de 1924), o secretário da direcção estava atribuída à Parceria. Como, aliás, virá a suceder em 1927, quando aparece entre os livreiros que fundam a Associação de Classe dos Livreiros de Portugal [cf. Guedes, 1993]. Foi esta Associação que em 1930 promove a Feira do Livro.
A administração da Parceria passa, de novo, para as mãos de um novo António Maria Pereira (o 3º), mas a crise, a má gestão e depois os conflitos laborais surgidos após o 25 de Abril, passa à denominação de Livraria do Arco e rapidamente se extingue. O dr. António Maria Pereira, filho do último administrador da Parceria e falecido em Dezembro último, em 2000 refunda a casa editora dos seus antepassados, a Parceria António Maria Pereira.
Náusea
"Nós vivemos do eco das coisas e neste mundo de pernas para o ar, é ele que suscita o grito" [Karl Kraus]
Perante uma das maiores crises económicas e sociais que há memória (e, já agora, de que se não vê remédio) nesta paróquia ou quintal desventurado, a choldra esquece tudo e mergulha definitivamente em convictos exercícios espirituais e, dado o jejum quebrado, em curiosas bênções ofertadas ao governante (genuflexão, respeitosa!). O caso Freeport dá o mote. Ele é insinuações de boca a boca, infamantes cabalas, guerras exuberantes, poderes ocultos, urdimentos conscienciosos e o que mais se verá. As personagens estão aí. Os factos, também. A justiça, nem por isso.
Os indígenas, sovados que foram estes anos de campanha negra Sócratista, abraçam a celeuma, avivando as mazelas políticas de todos estes anos, alimentando (ingenuamente) a fogueira dos media. A engenhosa governação, inçada pela fluidez da novela "presumidamente orquestrada" (Sócrates+Santos Silva, dixit) por duvidosa gente, adverte vergonhosamente, ameaça atrevidamente e engendra a vitimização. A democracia e o estado de direito estão a banhos, enquanto o sr. Presidente da República pratica o golf. A fazenda é, doravante, um depósito de gente sem civismo.
A miséria moral que resulta disto tudo - desta vez - não autoriza a deixar de fora o sr. P.G.R. e o Ministério Público (via entrevista de Cândida Almeida), tal foi a desastrada e provocatória intervenção com que nos distinguiram esta semana. Sem surpresa, o silêncio sobre este lamaçal que é o exercício da justiça em Portugal existe apenas por parte do entediante Alberto Costa, apenas o pior ministro de sempre. Tal vulto jamé se "molha", na sua preclara quanto insana ocupação de reformar (?) o sistema judicial.
Alguns reparos & outros pecadilhos:
1. O caso Freeport (muitos mais, decerto, existem na mesma situação) dormiu no regaço da investigação durante anos. A putativa explicação para tal aconchego nunca se entendeu. Uma explicação séria e sustentada (e só essa) sobre a inoperância da investigação deveria ter sido dada pela PGR ou, do mesmo modo, pela dra Cândida Almeida. Os cidadãos tinham esse direito. Debalde, foi. A desordem e a gravidade da coisa têm aqui a sua raiz. Manobras corporativas e apoios velados ao poder, não são admissíveis. Mais ainda quando há verdadeiras ameaças de quem governa, dadas as insinuações sobre forças "obscuras" pairando sobre a pátria e que ninguém entende.
2. O caso Freeport sendo um caso policial, também é político. De muito gravidade, face ao ponto onde chegou. Porém tal não permite que a informação e contra-informação se torne um lugar comum ou que de uma qualquer trincheira saia, inesperadamente, um soundbyte para recriar as audiências (reabertura do caso Siresp, ou melhor do surgimento de Santana Lopes, assunto que já cá faltava para entreter o gentio). Se vale tudo, haja decoro e investigue-se mesmo tudo. Exemplos não faltam na escola do bloco central dos interesses.
Por último, é curioso que o governo que mais propaganda faz – superiormente assessorado por desinquietos jornalistas (e que regressam depois ao "seu" jornal, como se nada se tivesse passado e sem que se conheça qualquer declaração de interesses) - seja, também, aquele que constrói as mais despudorados teorias conspirativas, que como tal só podem ter eco por gente dos jornais. Mas não vale a pena o incómodo disso tudo. É que a melhor propaganda anti-Sócrates é deixar o sr. Augusto Santos Silva falar. Simples e sem visco.
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