domingo, 19 de dezembro de 2004


Prémio EDP 2004, Artes Plásticas - Álvaro Lapa

'... carácter de «últimas» vontades, de última-vontade, de vontade extrema, tensa, sobreavisada, que tornam as obras para o futuro (=doravante). A obra como sinal premonitório, a imaginação como actividade receptiva (seu carácter dominante), captadora do sinal-mensagem «que vem do futuro»: uma gigantesca central-receptora, a imaginação da «arte moderna». Trata-se de preservar o essencial - donde as minha «legendas proféticas», as minhas «caixas-relicário-pessoal», as minhas «alegorias», os meus «cânones», os meus «dogmas», os meus «abrigos», os meus «auto-auto-retratos», os meus «estímulos», os meus «flagrantes eróticos» ...'

[Álvaro Lapa, in Raso como o Chão, Estampa, 1977]

sábado, 18 de dezembro de 2004



Antonio Stradivari [m. 18 Dezembro 1737]

Locais: Antonio Stradivari. His Life and Work (1644-1737) / Antonio Stradivari / Antonio Stradivari / Sonatas Barrocas

[Livros & Arrumações]

Temos da "Annona ou mixto-curioso folheto semanal que ensina o methodo de cosinha e copa, com um artigo de Recreação", Lisboa, Imprensa de C. A. S. Carvalho, fim da Calçada do Garcia nº 42, nº 1 ao nº 36, 1836-1837, curiosas observações e dizeres vários. Algumas anotações:

"Doce - Manjar branco de peros. Ponham-se a coser em meia canada de leite meia dusia de peros grandes, limpos, apurados, e sem pevide, estando meio cosidos, deitem-se em um tacho, desfasem-se com a colher, e deitam-se-lhe duas canadas de leite, dois arrateis de assucar, e um arrátel de farinha de arroz, ponham-se a coser; e em quanto se cosem, refrescam-se com meia camada de leite, deitando-se-lhe pouco a pouco, e depois de cosido, deita-se-lhe agua de flor, tira-se do lume, e põe-se nos pratos" [nº20]

"Detalhes sobre a vida de Milton - Milton levantava-se da cama às quatro horas da manha no verão, e as cinco no Inverno. Trazia sempre uma borjaca de pano ordinário de mescla, estudava até ao meio dia, jantava frugalmente, e dava o seu passeio com o seu conductor, cantava pela tarde, tocando qualquer instrumento, conhecia as regras da harmonia, e tinha uma voz agradável. Sabia a arte da esgrima. E quem ler com attenção o seu Paraíso Perdido, verá que amava apaixonadamente a musica, e o cheiro das flores; ceava cinco, ou seis azeitonas, e uma pouca de agua, deitava-se às nove horas da noute, e alli compunha algumas obras; quando compunha alguns versos, repetia-os a sua mulher, ou a seus filhos; em dias de sol, sentava-se em um banco à sua porta ..." [idem]

"Poesia - Dois sujeitos, e ambos muito feios, andavam continuamente motejando-se um ao outro; um deles entrando certo dia no quarto do outro, a tempo que este fazia a barba, com grande trejeitos, que ainda o tornavam mais horrendo, lhe improvisou o seguinte soneto

"Boca, e mais boca de letrinea casta!
Penca, e mais penca té ao cu descida;
Horrenda, e sempre eterna prosseguida,
Carranca enorme a quem eu cedo, e basta!

Mal haja o sabonete que se gasta,
Em lavar-se essa tez ennegrecida;
Mal haja essa navalha envillecida,
Que a barba hirsuta do cartão te affasta!

Oh! quem pudera da fealdade excesso.
Arrumar-te em logar de banho morno,
Dois peidos nessas ventas d?arremesso:

Oh! quem te dera para teu adorno,
Por agua escarros, por espelho o cesso,
Por sabão merda, e por navalha um corno.
" [nº 21]


The most beautiful sleeves of 2004

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004


Olavo Bilac [n. 16 Dezembro de 1865-1918]

"Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
- Mais abaixo, meu bem! - num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
- Mais abaixo, meu bem! - disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci..."

[Delírio, por Olavo Bilac]

Locais: Biografia / Olavo Bilac / O. Bilac / Poesia / Bilac / Aviso aos pais ou Bilac Erótico

Geração Rasca

Os episódios políticos, a crise laudatória e a cacofonia destes dias não têm nada de empolgante, nem de virtuoso. A estratégia política foi há muito exumada e nem a língua de trapos, destas semanas, pode servir de paródia a quem quer que seja. Os disparates em série de um conjunto de homenzinhos da classe política, et pour cause seguido de chacota bem humorada, evidencia o que muitos referem sem mistério: estamos perante uma classe política rasca, que sem se saber porquê veste a farda da governação e usurpa o poder. Não há memória de tamanha obscenidade. Custa acreditar em tão desabridos acontecimentos.

A singular arribação destes novíssimos gestores governamentais tem de ter alguma explicação sob pena de estarmos decisivamente condenados. Sabia-se que a invasão do aparelho político era prometedor para quem tem da administração a vaidade de subir de vida, sem aborrecimento pelo trabalho, com um perfil e preparação técnica tacanha e grotesca, sem esforço intelectual ou ético visível. Sabia-se que quase todos lá chegam, unicamente, via benesses político-partidárias. Mas ninguém pensou, decerto, que estávamos a assistir à sua massificação, no meio de uma algazarra extravagante e perturbadora.

O desaire do exercício presidencial do dr. Sampaio; a declaração conjunta de Lopes & Portas em bom estilo pimba, embuçados em juras d'amor até ao espinote final daqui a dias; as atabalhoadas e vergonhosas afirmações do santanista Paulo Pereira Coelho, em excelente prosápia do que foi a atmosfera destes anos de jogos florais em terras figueirenses; as fantasias desafinadas de Bagão Feliz quanto ao deficit, aos agentes financeiros e ao pessoal indígena; as maquinações condimentadas de Morais Sarmento; as lamúrias improvisadas de Dias Loureiro; as tiradas vazias e torpes do afadistado Pires de Lima Filho ou as cogitações de Nuno Thomaz; são apenas a ponta do iceberg. Porque o aparecimento deste rebanho de novos políticos na pista governamental é o mais singular testemunho do desastre nacional. E que irá perdurar por tempos intermináveis. Como alguém já disse, "a ignorância é muito atrevida". O abismo aí está.
[Dezembro]

"O entendimento foi concebido de molde a guiar o coração; desgraçadamente, tanto neste mês como nos seguintes, os homens deixar-se hão arrastar pelo sentimento, cavalo fogoso e sem vista.
É costume cada um gravar as injúrias em bronze e os benefícios e finezas na areia ou na onde fugidia. As belas almas têm uma só lápide: a das boas obras recebidas.
Há povos infortunados hoje, ora e sempre. São os que fazem depender a fé e suas acções resultantes da decisão dos homens (...)
A ambição é um golfo em que só há escolhos e penas. Àqueles que se mantenham no cairel, os aplausos do mundo fá-los hão esquecer que podem escorregar ... e escorregam (...)"

[Cavaleiro de Oliveira, in Recreação Periódica, vol II, 1922]


Philip K. Dick [n. 16 Dezembro 1928-1982]

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

[Amôre]

"O Amôre, graça de mau gosto,
muitas vezes na boca, sempre no sentimento,
veio, trota trotando, ter comigo.

Trazia a língua de fora, tropeçava nela,
fazia-se cansado, era apenas piegas.

Por que volta a bestiúncula
a rondar-me o terreiro?

É camaradagem
ou aragem de cama?

Desapossados é que estamos livres para caminhar."

[Alexandre O'Neill]

Bom dia Jane. Faço ideia do alvoroço que vai por aí. Uma Avé Maria por cada olhar, um pecadilho por ouvido. O ideal seria cantares sob protecção divina. O fruto ainda não caiu ... de vez.

Naquele tempo "uma mulher passou quando eu dormia ou acordava" [H.H.]. Não sei bem. Ter apenas memória que a vida es sueno. Feliz aniversário.


[DOWNLOADS]

The Clash - Discography [via KingBlind]

Meus senhores é entrar e downloadar para afastar o tédio aqui na lusa Pátria acanhada à espera de toda essa gente coligada que o Bettencourt já botou faladura o Delgado cultiva ideias ad-curativas e o sismo Lopes pode ocorrer que ninguém consegue escapar ao destino nem à pachorra destas noites sem entrarmos em alvoroço poético. Vivam as brigadas Clash recauchutadas. Tenha um bom dia.

"Ninguém entra em pânico / Todos se prostituem / e tudo canta minha gente / por dentro do gaiolame / Os modelos morais cobrem os muros / ... / A rádio diz-me o que devo dizer / a rádio os jornais e a televisão todos mo dizem / ... / E como é pá pra veres o teu tempo interior / na TV? / ..." [Ninguém entra em pânico, The Clash, in Pravda nº1, 1982]

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004


Heinrich Heine [n. 13 Dezembro 1797 - 1856]

"Põe sempre os nomes aos bois
Nas histórias que contares.
Ou logo os burros depois
Se queixam de os retratares:
«Mas são as minhas orelhas!
Este azurrar é o meu!
Se estas são minhas guedelhas!
Ai este burro sou eu!
Nâo me nomeie ele embora,
Toda a Pátria vai agora
Saber-me por burro, hin-hã!
Ai que eu, hin-hã, hin-hã!»
- Quiseste a um burro poupar
Logo doze hão-de zurrar."

[Heinrich Heine, in Bom Conselho, trad. Jorge de Sena]
Futebol - Reservado o direito de admissão

"Quando nasci já trazia um «deficit» de dois whiskies" [Charles Montague]

Toda a idade tem beleza. O SLBGlorioso» para os fidalgos da bola) tem um século respeitável, um encanto opulento. Qualquer manifestação de retórica rústica, com atropelos à civilidade e à etiqueta, é um desperdício de trabalho. Assim se obram compêndios para cidadãos. Álbuns de glórias. Para que conste.

Porém, a garden-party do Restelo foi um quieto jogo para desenganos dos néscios. Estamos numa canseira bizarra. Os nossos nem num pastel de Belém se chegam à frente. Os modos finos e adamados desta equipa de Vieira & Veiga, Lda são uma curiosa demência histórica. Aquela equipa de mendigos extenuados, saltitando em alegre rincharia sobre a relva, babando-se à perfídia dos cavaleiros de Cristo, é uma afronta.

As massas desditosas queriam castigar uns pastéis de Bélem. Saiu-lhes um vulgar jesuíta. Ninguém nos convence que não há mão Presidencial nisto tudo.

[PS: Ao que parece, ninguém esclareceu o respeitável público qual a equipa que perdeu aos penaltys com aqueloutra das Antas. Está mal! Depois de não se saber o que sucedeu de Segunda para Terça-feira passada em Bélem, era o que faltava que, agora, nem uma simples informação se dê sobre essa notável equipa que perdeu, algures no Japão. A ignorância nunca é de louvar. Seja como for, aplaudimos aquele rapaz de nome Maniche, outrora muito honrado, nas Antas, com interjeições à moda da Ribeira quando vestia o fato de gala do Benfica. Bem-haja.]

ANÚNCIOS completamente grátis

* Primeiro-Ministro, idóneo, bem parecido, com inimigos à perna, em excelente situação financeira, procura companhia para coligações futuras. Absoluto sigilo. * Prof. universitário, grande capacidade de trabalho, com carro e cruzeta, resmas de livros para ler, em crise de comentários, marca encontra na TV. Urgência. * Presidente de clube, por motivo de saída, troca posição. Indicar curriculum * Bloguista, 20 anos incompletos, óptimo aspecto, possante, deseja conhecer jornalistas para almoços na Bica do Sapato. Assunto sério * Palácio de Belém, um lugar de sonho a seus pés. Mostra o próprio no local * A Quem Achou ministro em bom estado, completamente fatela, totalmente azeiteiro, agradeço a esmola de o não devolver. Dão-se alvíssaras

[FILMES] * Natal Radical - comédia para governantes e drama para os eleitores. Uma família coligada "farta da comunidade reaccionária em que vive" corre atrás do "bom rebanho". História encantadora, radical, repleta de amigos e inimigos, que ora ressuscitam o messias Cavaco, ora clamam pelo santo Guterres. Realização de Jorge Sampaio. A não perder. * Ligações de Alto Risco - um thriller apaixonante, pleno de chuis do Fisco a mando de Bagão Félix. Kim Basinger, no papel de Ferreira Leite, vê fugir o deficit porque não sabe a tabuada, encontra Santana Lopes num jantar com Portas a debater os aumentos de ordenado, enquanto Rui Gomes da Silva aparece como empregado de copa. Inolvidável. Especialmente dedicado a funcionários públicos.

[Pechinchas]

"... Perguntar a um bibliófilo quanto ele pagou por um livro é uma indiscrição, mas perguntar quanto vale é pedir uma informação. Não se chame novo-rico àquele que lhe disse logo quanto pagou por um belo exemplar. Geralmente, é porque pagou barato e tem vaidade de ter feito uma pechincha. Os pechincheiros muito vaidosos chegam até a diminuir o preço que pagaram. Há, também, os que pensam valorizar seus livros, aumentando o custo. São os vaidosos espertos que só enganam os leigos.

É curioso notar como, ente os bibliófilos, há muita gente sovina. São, geralmente, os mais ricos. Talvez haja no coleccionador um instinto de posse mais agudo que no comum dos mortais. Talvez, até a bibliofilia seja uma forma de avareza. Mas, é uma forma especial: o coleccionador apaixonado não dá valor ao dinheiro, mas ao objecto. É, talvez, por isso que todo o bibliófilo goza duplamente um livro, quando o compra barato. A ambição de muito bibliófilo é fazer pechincha. É unir o prazer de possuir, de entesourar, com o instinto recalcado de gastar o menos possível. Esse prazer é tanto maior quanto mais difícil está se tornando essa realidade. É muito difícil fazer reais pechinchas hoje em dia. Os livreiros estão ficando muito sabidos ..."

[Rubens Borba de Moraes, in O Bibliófilo Aprendiz, 1975 (2ª ed.)]

sábado, 11 de dezembro de 2004

[O Segredo]

"O segredo
está em não deixar o tempo devorar-me,
mas devorá-lo eu
com dentes de terra
e medo

Mastigar tudo,
as sombras, as bocas,
as pedras,
o céu,
os ossos pendentes das caras
e as deusas a cavalo
- patas nas searas,
crina de faúlhas ao vento ..."

[José Gomes Ferreira]

Averroes [m. em Marrakesh a 11 Dezembro 1198]

"Averroes (Abu al-Walid Mohammed Ibn Rushd, 1126-1198), chamado de "il commenttattore" devido ao seu comentário às obras de Aristóteles. Averroes admitia a existência de duas verdades contraditórias: a da ciência e a da revelação. Sua filosofia colocava as leis da natureza acima das crenças muçulmanas e cristãs. Propôs que não havia uma alma imortal e individual, que distinguisse os homens dos outros animais, mas que o intelecto era função exclusiva do cérebro, que deixava de existir após a morte. Sua tese foi contestada por Tomás de Aquino"

Locais: Averroes / Ibn Rushd (Averroes) / Averroes (filósofo) / Averroes / Islamic political philosophy / Abul-Waleed Muhammad Ibn Rushd (Averroes) / Ibn Rushd ( Averroës ) / "The Incoherence of the Incoherence" E-text Edition / Averroes-Database
[Pública Governação]

"... Aí temos o pórtico da pública governação com os seus ministros dentro.
- Truz truz truz!
- Quem é?
- Está em casa o Governo?
- Que lhe há-de querer? Se é peditório, pode entrar: se traz problema, S. Ex.ª saiu neste mesmíssimo instante para o palácio.
Ficamos sabendo (...) de uma boa vez para sempre, que o Governo se não ocupa das questões. É inútil sugerir-lhas, expender-lhas, propor-lhas, explicar-lhas, amenizar-lhas, impor-lhas na ponta de um cajado, ou mandar-lhas a casa numa travessa com ramos de salsa à roda e com limão em cima. O Governo o que não tem é tempo. Bem! Não se fala mais nisso. O tudo é haver quem explique as coisas! ..."

[Ramalho Ortigão, in As Farpas]

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

MÁRIO SOARES - 80 ANOS


Mário Soares é o "avô" que estimamos ter. Um luminoso e simpático cidadão que desperta episódios admiráveis, uma alegria na alma. Que bom ficar à lareira a ouvir histórias de antanho. A luz sempre lhe alumiou o caminho. Por isso, Soares é um vigilante. Um fiador da nossa liberdade, mesmo que ela só proceda de nós. E que nos enche o coração, em dias de amargura, em tempos de tormento. Republicano por nascimento, democrata por paixão, um lutador orgulhoso. Eis um percurso de virtude nestes dias tão cinzentos. Sempre de rosto levantado, soube aproveitar a idade. Fez 80 anos. Bem bonito rol.

Saúde e fraternidade, dr. Mário Soares.
 

Futebol & democratas-a-dias

É necessário muito desvelo e gratidão para encontrar um democrata em todas as horas. Nós incluídos. O desprazer que inunda as almas dos fanáticos do futebol indígena, lá para as bandas das Antas, torna-se afinal num incómodo civilizacional.

O modelo de virtudes que o patriarca Jorge Nuno Pinto da Costa provoca nos democratas-a-dias é um ornamento beato que anima as hostes azuis e brancas, principalmente nos intelectuais enérgicos e na populaça doméstica, uma idolatria obscena, uma golpada na cidadania. Que imaginação rica. É bom seguir as delicadas tiradas e atestados, ou os opiniosos protestatórios dos sempre assombrosos intelectuais lusos, sempre lestos a autopsiar os males da Nação e a compor hossanas ao bom governo, em defesa bem humorada, sem amargos de boca, da situação decorrente do caso Apito Dourado.

Sousa Tavares exibe o crachá de padroeiro das Antas, enquanto Lobo Xavier despeitado do seu tirocínio de fiscal da SAD faz figas ao mau-olhado. Os amotinados socialistas da cidade do Porto, com o avantajado Nuno Cardoso com vestes de honestidade à la mode, estão em todas. A rapaziada da direita, dita liberal, não aceita os regulamentos jurídicos, muito menos o intervencionismo do Magistério Público, que o Papa será sempre o delegado imaculado na Naçon.

As malfeitorias, evidentemente, estão sempre mais abaixo ou mais acima do território das Antas. A nossa cruz, é bom de ver, estará confinada aos casos de pedofilia, um ou outro aeroporto de Macau, dois ou três presidentes de Câmara com proficiência de empreiteiro, ao acompanhar da mão fatídica que desassossegou os financiamentos dos partidos, à comiseração dos que se esqueceram dos impostos, aos encantamentos reflexivos de Pires de Lima Filho, ao verbo de Nuno Thomaz, ao fato do Paulinho das Feiras, à inteligência cerrada de Guilherme Silva, à prosa de César das Neves e ao espírito em pessoa do boxeur Morais Sarmento. O resto, o resto ... são almas arrependidas.