quinta-feira, 20 de maio de 2004


Ex-Libris

"Ex-Libris é um indicativo de propriedade, uma marca de posse bibliográfica, que vai desde o nome do possuidor, manuscrito na capa, na folha-de-guarda ou primeiras folhas do volume, até folha solta de papel, pano ou pele, de mais ou menos reduzidas dimensões, onde estão manuscritos ou impressos desenhos ou dizeres e que aparecem apostos geralmente no ante rosto do volume encadernado ou brochado (quando não é intercalado na encadernação, antes da primeira folha); abrangendo ainda desenhos e dizeres gravados a oiro ou a seco, nas pastas e lombadas das encadernações, ou pintados em pele ou marfim, ou ainda abertos a buril em chapas de metal, e que são apostos na parte anterior do volume, nos locais indicados." [Armando de Mattos, in Bibliomanias]

O Sindicalista [nº 1, 13 de Novembro de 1910- 1915]

"... os dezasseis anos de República democrática constituem uma fase durante a qual se vai destacar uma imprensa operária de cariz fundamentalmente sindical, claramente inserida nas estruturas sindicais e orientadas para os problemas centrais do movimento sindical(...)
«O Sindicalista» foi um semanário que claramente se inseriu na linha de orientação que se exprimiu, pela primeira vez, no diário «A Greve». Predominantemente sindicalista revolucionário este semanário vai cumprir, com êxito, uma dupla função: acompanhar muito atentamente o poderoso movimento reivindicativo dos trabalhadores portugueses que se desencadeia logo após a implantação da República e servir de suporte ao grande esforço organizativo que se segue a Outubro de 1910 e que se materializa na realização em 1911 do Congresso Sindical e em 1914 no Congresso Operário de Tomar que funda a União Operária Nacional(...)
Neste semanário, habitualmente em quatro páginas, deve assinalar-se a atenção como que são acompanhados os problemas das várias profissões, o cuidado que é posto na divulgação das suas aspirações e das suas lutas, o vigor que caracteriza a denúncia da repressão que a novel república fez abater sobre a actividade sindical e, sobretudo, sobre os trabalhadores em greve" [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: Bernardo de Sá (condutor de obras públicas), Severino de Carvalho (ajudante de notário), Francisco Cristo, João Pedro dos Santos, Alexandre Vieira, Augusto Machado, António Evaristo, Manuel Ribeiro (escritor de A Catedral, O Deserto, a Ressurreição, foi colaborador d'O Sindicalista, A Batalha, membro do Partido Comunista e redactor da Bandeira Vermelha, etc.) [cf, Alexandre Vieira]

quarta-feira, 19 de maio de 2004


Agradecimentos

Agradecemos as amabilidades que nos foram endereçadas. Gratos, por isso.

Ao Analiticamente Incorrecto, A Natureza do Mal, A Tasca, Avatares, Aviz, Blasfémias, Bomba Inteligente, Cabo Raso, Causa Nossa, Contra a Corrente, Eclético, Fórum Comunitário, Mar Salgado, Memória Virtual, Nova Floresta, Placard, Quartzo, Feldspato & Mica, Retórica e Persuasão, Rua da Judiaria, Terras do Nunca, Tugir, Um Blog sobre Kleist, e àqueles outros que em privado nos enviaram carinhosos suplementos de alma, um muito obrigado.

De outro modo, daqui encaminhamos as maiores felicitações ao Critico Musical, Modus Vivendi e Os Tempos que Correm, que comemoraram o seu aniversário de muita e merecida estimação.


Vladimir Mayakovsky

Catálogo XLVI da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) acaba de publicar o seu Boletim bibliográfico de livros seleccionados, Catálogo XLVI, referente ao mês de Maio, de interesse monográfico e etnográfico.

Algumas referências: Alta Cultura Colonial. Discurso inaugural e conferências, 1936 [Discurso inaugural de Vieira Machado e conferências por Agostinho de Campos, Alfredo Pimenta, Manuel Múrias, Quirino da Fonseca, Reinaldo dos Santos ...] / Elucidiario do Viajante no Porto, de Francisco F. Barbosa, Coimbra, 1864 / 100 Annos de Vida . A expansão da imprensa brazileira no primeiro seculo da sua existencia Subsidios para trabalho de maior fôlego por Alberto Bessa, 1929 / Poetas e Prosadores. À margem dos livros, de Júlio Brandão, s/d / Novíssimos ou Últimos fins do Homem, pelo Barão do Castelo de Paiva, Lisboa, Typographia Universal, 1866, II vols / Contemporâneos Illustres. D. Fernando II de Portugal, de F. J. Pinto Coelho, Lisboa, 1878 / Colecção Camoneana de José do Canto, Lisboa, Imprensa Nacional, 1972 / Camões e as Artes Plásticas. Subsídios para a Iconografia Camoneana, de B. Xavier Coutinho, Porto, 1946-1948, II vols / A Ourivesaria em Portugal, por João Couto & António Gonçalves, 1960 / Mouzinho. Acção. Pensamento. A Época, de Amadeu Cunha, 1956 / A Antiga Freguesia dos Olivais, por Ralph Delgado, Lisboa, 1969 / Julgareis qual é mais excelente - No Tricentenário da Restauração de Angola, de Gastão Sousa Dias, 1948 [ref. A figuras dominantes da história de Angola] / Estudo sobre o Absentismo e a Instabilidade da Mão-de-Obra Africana, Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigações do Ultramar, 1959, III vols / Primeira Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934 [XXI opúsculos diversos] / Ronda de Africa. Outras Terras, Outras Gentes, por Henrique Galvão / A Pátria a Luiz de Quillianan, Porto, 1884 [conjunto de reacções e homenagens prestadas ao Major Quillinan, pela reacção deste aos insultos proferidos no Parlamento Inglez, pelo deputado Jacob Bright, contra Portugal] / Exórdio em Prol da Filantropia & da Educação Física, por Fernando Pessoa, Editorial Cultura, Porto / Filosofia Tradicional dos Cabindas, de José Martins Vaz, 1969-70, II vols

terça-feira, 18 de maio de 2004


Feliz Primavera - Director!

Oferecemos hoje aos leedores caprichosos d'O Almocreve uma entrevista exclusiva com o nosso Director. Assim com D grande, que com devotos amigos e sem administração míope, a linguagem nunca é expiação.
O nosso estimado director recebe-nos no seu castelo altaneiro, nos doces campos do Mondego e, enquanto fala pausadamente em quieto jogo, vai devassando as tropelias d'O Almocreve das Petas ou não fosse um director um "decorador de interiores". A caminho da livraria, nota-se-lhe o sorriso travesso, o respeito ou paixão por coisas simples, o infortúnio da modéstia, o misticismo do olhar, o gosto e a luxúria. Diz-nos: "só é livre quem é digno da liberdade", enquanto vai afogueando o amor cívico no olhar desse vale eternamente sacro do Mondego. O rio já corre ...

[Diz-nos:] - O Almocreve das Petas é um desvelado mineiro das letras. Blog de impressões, escritos do pitoresco, que se pretendem elegantes e cuidados, uma oração ou moral disfarçada da vida para profanos sensatos. Principiou com fadigas literárias mas não pretende estacionar em isolamento suspicaz. Porque o que é assombroso e extraordinário é a tabuada politica lusitana. Assim como, as dulcíssimas palavras proclamadas em abundância pelas sentinelas liberais, o mais boçal dos dogmatismos. O rastro e soberba de alguns "infinitamente pequenos", apregoadores da "seara comum" desenvolvimentista, são meramente um agitprop "ad captandus vulgus". Virgílio Correia tinha razão quando dizia que "é mais difícil ser livre que puxar uma carroça".

[P: consta que não recebem muito bem, causam perplexidade e ...] - Meu caro, a cultura não tem preço. Não faltará n'O Almocreve atropelos à urbanidade, à etiqueta ou ofensas à gramática (Deleuze, é claro). Cada um prevarica conforme o estilo. Mas pensamos que modos finos e adamados são fadigas de desenganos, um padre-nosso liberal para ladrilhar discursos sobre a ordem do mundo. E para nós, que procuramos renascer em cada dia, o objecto da procura é mais o conhecimento do desejo do outro, daí que se deva mudar o jogo e não as peças do jogo. Não seguimos, por isso, a pastosa linguagem da chinfrineira do dia-a-dia da politika. Nessa fatwa dos escribas não desejamos cair. Como alternativa, preferimos ser mais "um cacto no cu da arte". A sugestão evocativa é mais expressiva e o rendez-vous mais malicioso.

segunda-feira, 17 de maio de 2004


[O Mar]

Era a minha vez de falar.
E disse que não somos nada.
Foi tão simples, fiquei mesmo

aliviado. E não custou nada.
Os apupos, esses, amplifiquei-os
no búzio que sempre trago

comigo. É o mar que me chama ...

[Helder Moura Pereira, Puxar ao Sentimento, in Relâmpago, nº 13]

Um Bom Português

José Mourinho é, apenas, o melhor treinador português. É um vencedor nato. Com esforço, talento, auxílio de amigos, sorte e trabalho. Como todos nós. Certamente a mãe pátria tem uma plêiade de indígenas de muita estimação, que olhamos embevecidos e puxando luminosas grandezas, para mais tarde recordar. Tanta gente feliz, por isso.

Ora, Mourinho é essa espécie de visionário à força, estudante sem cábula, valente e arrojado de tanto correr, mas enfastiado deste quintal oceânico tal a náusea que em cada testemunho nos dá conta. A bizarria assim manifestada, comum entre os altíssimos cidadãos lusitanos, dá-lhe sempre para a cantilena anedótica, para o desabafo trapaceiro, para o comentário hilariante, para a acusação gratuita. José Mourinho é o Alberto João do futebol. Uma Helena Matos de saias. Se Mourinho fosse americano estava sentado à direita de Donald Runsfeld. Como não é possível, por sadismo do futebol, passeia-se no expositor das vaidades lusas. Nem procura disfarçar. A arrogância nem bem-humorada é servida. A adoração de si mesmo é uma banalidade que tresanda a caprichos de pouca originalidade. Percebe-se porquê. Por isso, Mourinho é um bom português.

[Hoje, sem brilhantismo algum, o meu Benfica venceu. Com felicidade, mas sem favores. Lutando como podia, com o tormento de tanto tempo como praga, surpreendeu. E a imprevidente brincadeira de mau gosto e mau perder de Mourinho, documentará a história deste jogo. Para os benfiquistas é o fim do sufoco. Que nunca se duvidou.]

domingo, 16 de maio de 2004


17 de Maio - Aniversário do Almocreve


"Em forma de responso, de absolvição e de legenda"

Faz-se saber ao público, que fará amanhã um ano quando chegou o Almocreve com as petas da sua papeleira, do país e do mundo. Com dissertações úteis para criados de servir desatentos, folhetos para venda a vinagreiros lamentosos, escritos declamatórios contra a indigestão literária ou composições prudentes, já com letras, de método fácil de fazer calar as crianças quando choram, recebe na sua estalagem costumada. A festa será assombrosa. A ladainha também. A lista de mazelas não terá fim. Saúde e fraternidade.

sexta-feira, 14 de maio de 2004

Poema

"... e o sacerdote à esquerda levantou-se
e cantou
a culpa é uma carpa deserdada

e as gentes responderam o mar
apagou das nossas praias os ventos
mais amáveis que tínhamos inventado
..." [Manuel Gusmão]

A Greve [nº 1, 18 de Março de 1908]

A corrente anarquista em volta d'O Pensamento Social estava ligada teoricamente às doutrinas difundidas no "Revolté", de Reclus e Kropotkine [cf. "A Evolução Anarquista em Portugal", J. M. Gonçalves Viana, Seara Nova, 1975]. Supõe-se que a ligação foi estabelecida pela presença de "refugiados espanhóis, membros da «Mano Negra» em Lisboa e no Porto" [ibidem]. Uma polémica em torno de "um manifesto abstencionista dos anarquistas de Barcelona", levado a cabo pelo Protesto Operário (socialista) faz participar no debate Gonçalves Viana e Cardoso [ibidem], contando ainda com a própria participação de Reclus, influenciando decisivamente o desenvolvimento da corrente anarquista portuguesa. Depois do aparecimento da Revolução Social, outros grupos, mais ou menos de características comunistas-anarquistas se formam, como a Centelha, O Primeiro de Maio, Os Agitadores, Sempre Avante, Estudos Sociais, Mundo Novo, A Propaganda, A Revolta, etc, com as suas respectivas publicações.

"...A dois anos da implantação da Republica, pouco tempo depois de ter terminado a ditadura monárquica de João Franco, no ano de regicídio, os sindicalistas revolucionários decidiram concretizar, com o apoio dos anarquistas, um projecto que, tendo por certo germinado na cabeça dos mais antigos promotores do movimento operário, era impensável alguns anos antes: a publicação de um jornal diário operário, essencialmente sindical. Estava criado esse facto notável e surpreendente que foi o diário operário «A Greve» (...)
«A Greve» era propriedade do Grupo de Propaganda Social, tinha como gerente principal Evaristo Vieira e como redactor principal Alexandre Vieira [ver "Para a História do Sindicalismo em Portugal", Alexandre Vieira, Seara Nova, 1974 e Subsidios para a Hitória do movimento sindicalista em Portugal]. O jornal era redigido e composto por um colectivo de redactores e tipógrafos que trabalhavam gratuitamente e em condições praticamente artesanais e distribuído nas ruas de Lisboa, também, por operários e estudantes os quais, entretanto, haviam acabado de participar na primeira greve de estudantes, em 1907. Curiosamente o seu primeiro numero tem a data de 18 de Março (aniversário da Comuna de Paris) ..." [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: José Fernandes Alves, Ladislau Batalha, César Nogueira, Césa dos Santos (todos socialistas); António José de Ávila, Pinto Quartim, Hilário Marques, João Pedro dos Santos, Francisco Cristo, José Benedi. E além de Alexandre Vieira, participou ainda, o escritor Luís Calvet de Magalhães, bem como Deolinda Lopes Vieira, Rosalina Ferreira e Lucinda Tavares. [in, Alexandre Vieira, ibidem]

quarta-feira, 12 de maio de 2004

Hoje há Expresso

Na sequência de uma noticia, amplamente citada pela blogosfera lusitana, publicada no Expresso on line de uma pretensa intenção, por parte da ANACOM, em "acabar com os blogs", parece haver vários equívocos.
Em primeiro lugar, não se vê como tal poderia ser feito tecnicamente, mesmo havendo disposições regulamentares para o efeito. É verdade que a tentação de controlar a Internet tem o seu terreno aberto há já algum tempo e várias tentativas são ou estão a ser feitas para legislar sobre essa matéria. Mas a peregrina ideia de começar pelos blogs parece ser um devaneio gratuito e grosseiro. Depois existe alguma contradição entre o que é registado n'O Expresso e o que é adiantado pelo suposto "ciberpolícia" Pedro Amorim em sua defesa, conforme se pode ler num post de Vital Moreira e noutro de José Magalhães. Não sendo totalmente credível que o "institucional" Expresso ceda ao fascínio da invocação da notícia sem fundamentação alguma, e como a própria ANACOM nada nos diz no seu site sobre o assunto, conforme seria de esperar (o que desvela o tipo de sociedade de informação que pretende difundir), ficamos sem saber o que pensar.

Dito isto, reconheça-se que o que verdadeiramente está em causa, mesmo nestas condições, é esse manifesto intento de regulamentar um território, ainda não contaminada pelo(s) poder(es). O que nos faz ficar bem vigilantes. E desconfiados.

Leilão de Importante Biblioteca Particular

Algumas referências [conclusão]: A Ordem de Cristo, por Vieira Guimarães, 1936 / História da Cidade do Porto (dir. Damião Peres), 1962-65, III vols / História da Tauromaquia (coord. Jaime Duarte de Almeida), 1951, II vols / História da Arte em Portugal, por Aarão de Lacerda, 1942-53, III vols / Historia Geral de España, de Modesto Lafuente, 1877-82, VI vols / Istoria do cativeiro dos prezos d?estado na Torre de S. Julão da Barra de Lisboa ..., de João Baptista Lopes, 1833-34, IV vols / Lusitânia: revista estudos portugueses (dir. de Carolina Michaelis de Vasconcellos, 1924-27, X nums / A Idade Maçonica, por Lusol, 1943 / Cartas de José Agostinho de Macedo a seu amigo J.J.P.L., 1827, 32 cartas / Refutação dos Princípios methafysicos, e moraes dos Pedreiros Livres Illuminados, por José Agostinho de Macedo, 1816 / Obras de Rocha Martins (entre elas: D. Carlos; Episódios da Guerra Peninsular e Europa em Guerra) / Memorias em defesa da maçonaria por hum maçon portuguez, fiel ao Rei e à Pátria, por António Gregório de Freitas [s/ Inocêncio], 1861-62, 12 vols / Historia do Regime Republicano em Portugal, de Luís de Montalvor, 1930-35, II vols / Guerra da Sucessão em Portugal pelo Almirante Carlos Napier, 1836 / O Barreiro Contemporâneo, de Armando da Silva Pais, 1965-71, III vols / Bureau de Tabac, por Fernando Pessoa, Editorial Inquérito, 1952 (raro) / A Extremadura portugueza, por Alberto Pimentel, 1908 / Revista de Portugal, direc. de Eça de Queiroz, 1889-92, IV vol. (compl) / O Paço de Sintra, pelo Conde de Sabugosa, 1903 / Discursos de Salazar, 1946-67, VI vols / O Móvel Pintado em Portugal, por Artur de Sandão, 1973 / Depois do Terramoto: subsídios para a historia dos Bairros Occidentais de Lisboa, de Gustavo de Matos Sequeira, 1967, IV vols / Dicionário Bibliográfico Portuguez, de Inocêncio Francisco da Silva, 1858-1923, 22 vols / A Talha em Portugal, de Robert Smith, 1962 / Historia Genealógica da Casa Real Portuguesa, de D. António Caetano de Sousa (nova ed. revista.), 1946-55, 13 vols / Os Judeus em Portugal no século XV, por Maria José Pimenta Farro Tavares, 1982-84 / A Sé Velha de Coimbra, de António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, 1930-35, II vols

terça-feira, 11 de maio de 2004

Desafio

Passeava a formosa Laurentina
Pelos domínios do Marquês de Angeja,
E despontava a lua alabastrina
Por cima dos telhados da Igreja.

Com receio de que a mãe suponha, ou veja,
O que entre o par rebelde se maquina,
Dá-lhe ele a ela um frasco de morfina
E ela a ele um copásio de cerveja:

Toma! lhe diz, três vezes repetindo
A clara frase e paternal de - toma! -
Toma! lhe diz, e estende o braço lindo.

Mas ele, que três vezes foi a Roma,
Julgando que no frasco há fel, sorrindo:
- Duvido que haja puta que me coma!

[João de Deus, in Criptinas, ed. & ETC, 1981]

A Revolução Social [nº 1, 15 de Janeiro de 1888]

"... a corrente anarquista já presente embrionariamente em «O Pensamento Social» não cessou de desenvolver-se, enquadrando-se sobretudo nas associações de resistência operária e editando folhetos doutrinários de divulgação teórica. Em 1887 [?] começou a ser publicado o primeiro jornal anarquista, «A Revolução Social» que se definia como órgão dos grupos «comunista-anarquista». É um caso surpreendente este jornal. Surpreendente pela qualidade gráfica e de paginação, mas surpreendente também pela qualidade do seu conteúdo e pela tentativa de situar-se no quotidiano difícil dos trabalhadores portugueses (...) promoveu a sistemática divulgação do pensamento anarquista mais significativo do século XIX, fazendo inserir regularmente nas suas páginas artigos, traduções e «correspondência» de Malatesta, Cafiero, Reclus, S. Fuare, M. Netlau, J. Guillaume, etc ..."

[César de Oliveira, in Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Leilão de Importante Biblioteca Particular

Hotel Roma - Dias 17/18/19 e 20 de Maio, pelas 21 horas

Algumas referências [cont.]: Historia de Portugal popular e ilustrada, por Pinheiro Chagas, 1899-07 (3ª ed.), 14 vols / Cinéfilo: suplemento quinzenal de O Século, Ano I, nº 1 (2 de Junho 1928) a Ano XI, nº 578 (completo) / Circulo Camoniano: revista internacional, 1889-1892, II vol., 20 fasc. (completo e raro) / Questões histórico-coloniais, por Luciano Cordeiro, 1935-36, III vols / O Homúnculo, de Natália Correia, S/d, Ed. Contraponto (raro) / Cancioneiro chamado de D. Maria Henriques, por D. Francisco da Costa, 1956 [imp. para hist. descob., c/ bibliografia náutica port. até 1700] / Notas da Minha Vida e do meu Tempo, por Homem Christo, Lisboa, VII vols [notas do grande polemista aveirense] / Chronica de El-Rei D. Sebastião por Fr. Bernardo da Cruz, 1837 / O Diário de Notícias, a sua fundação e os seus fundadores - Alguns factos para a historia do jornalismo português, por Alfredo da Cunha, 1914 [expl. Nº 1, pertença de Maria Adelaide Coelho da Cunha, da edição especial comemorativa dos 50 anos do DN / Diálogos de Dom Frey Amador Arraiz, Bispo de Portalegre, 1846, nov. ed. / Discursos Parlamentares proferidos pelo Duque de Palmela nas Câmaras Legislatias desde 1834 até hoje, 1844, III vols / Documentos para a Historia das Cortes Geraes da Nação Portuguesa, Lisboa, 1883-89, VIII vols / Moçambique: relatório apresentado ao governo (1ª publ. 1893), 1946 (3ª ed.) / Memorias de Vila Viçosa, por Joaquim José da Rocha Espanca, 1983-86, 36 nums / O Espectro, de António Rodrigues Sampaio, nº 1 (16 de Dez 1846) a nº 63 (3 Jul 1847) [colec. completa, junto c/ "O Estado da Questão" e c/ 8 supl., deste celebre jornal clandestino português, panfletário e subversivo, de distribuição gratuita] / Pratica Criminal expendida na forma da praxe observada neste nosso Reyno de Portugal ..., por Manoel Lopes Ferreira, 1742, IV vols [considerada, na época, esta obra como "ídolo dos nossos forenses"] / As visões de um telhudo ou O Judeu Cosmopolita ..., de António José de Figueiredo, 1876 [obra polem. Anti-clerical] / Os costumes dos Israelitas, onde se vê o modelo de huma politica simples e ..., de Mons. Fleury, 1807 [trad. de Villalobos e Vasconcelos, raro] / A Folha: microcosmos literário, dir. de Faustino Sarmento, 5 séries (1868-1873), Coimbra, 54 nums [rara revista literária] / O Mistério dos Painéis, de António Belard da Fonseca, 1957-67, V vols (estimada)/ Outras Terras Outras Gentes (II vols) e Ronda de Africa (II vols), de Henrique Galvão / Império Ultramarino Português (monografia do império), por Carlos Selvagem e Henrique Galvão, 1950, IV vols / Catalogo Razonado biográfico e bibliográfico de los Autores portuguezes que escribieron en castellano, por D. Domingo Garcia Peres, Madrid, 1890 (raro) / Viagem na Minha Terra, de Almeida Garrett, 1846, II vols (1ª ed. em livro, raro)

[continua]

segunda-feira, 10 de maio de 2004

"Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa"

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Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada, com cães. Mas é impossível tirar-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro - nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.

[Mário Cesariny, in As Mãos na Água a Cabeça no Mar, 1972]


Rumsfeld, torturas e absolvições

Alguns não estranham as sevícias feitas a prisioneiros iraquianos. Consideram que são genuínos acidentes de guerra. Que a violência sobre prisioneiros, as humilhações sexuais infringidas, a tortura repugnante como método de inquirição, a infâmia, sempre existiram e bastará um simples pedido de desculpa para que tudo regresse à normalidade. Não surpreende, por isso, que alguns desses próceros "democratas" observem com enfado a divulgação pública de tais desmandos, contestando a sua relevância. Não seria mais justificado apontar baterias a Cuba, China, Africa toda, Rússia, deixando de lado esse episódio, decerto deplorável e pouco patriótico, com os paladinos do "sol" do Mundo, berço e regaço da civilização, exclamam outros? O caso dá que pensar.

Mas, em todo este depurado argumento há um sintoma inquietante: o novo paradigma da interiorização da vulgarização do horror; a hipocrisia de um "exercício de paciência" de exportação da democracia, dita humanista; uma assumida concepção predadora à margem da probidade e firmeza de carácter; uma monstruosa manipulação dos passos em volta da guerra. Tudo à nossa volta vai muito além da "concepção substantiva do bem" (Berlin, evidentemente), pois assenta numa ideia estulta da negação do próprio homem. E essa dramática incapacidade de sermos dignos de nós próprios, paga-se sempre caro. Não há qualquer margem para dúvidas.

Leilão de Importante Biblioteca Particular

Hotel Roma - Dias 17/18/19 e 20 de Maio, pelas 21 horas

O Livreiro Antiquário Luís P. Burnay vai realizar um importante leilão de biblioteca particular, com (1500) obras compreendendo História, Memórias, Viagens, Romances, Monografias, Periódicos, Arte, Poesia, etc., muito estimadas e apreciadas. À atenção dos amantes dos livros.

Algumas referências: Teatro Popular, de Azinhal Abelho, 1968-73, VI vols / Cantigas de Santa Maria (ed. de Walter Mettman, Coimbra), de Afonso X, O Sábio, 1959-72, IV vols / Cartas de Afonso de Albuquerque, seguidas de documentos que a elucidam, ..., Lisboa, 1884-85, VII vols / Almanach para o anno de 1794, Lisboa (raro) / 18 vols de obras de Fialho de Almeida / Historia da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida, 1967-171, IV vols (nova ed.) / Obras de Nicolau Tolentino, Estúdios Cor, 1968 (pref. de Alexandre O'Neill) / Os Judeus no Distrito de Bragança, pelo Abade de Baçal, 1925 / Garrett: Memorias Biographicas, por Francisco Gomes de Amorim, 1881-84, III vols / Luz da liberal, e nobre arte de cavalaria, offerecida ao Senhor D. João Príncipe do Brazil, por Manuel Carlos de Andrade, Lisboa, 1971 (ed. fac-similada) / Antologia do Humor Português (notas de Ernesto Sampaio e Vergilio Martinho, 1969, Ed. Afrodite / Antologia da Poesia Erótica e Satírica, s/d, Ed. Afrodite (selecção, pref. e notas de Natália Correia, ilustrações de Cruzeiro Seixas) / Livro de Oiro da Nobreza, por Domingos Araújo Afonso, 1932-34, III vols / Archivo Pittoresco: semanário ilustrado, Ano I (Julho de 1857) a Ano XI (1968), 11 vols + (junto c/) anuário do Archivo Pittoresco, 36 nums / Historia da Revolução Portuguesa de 1820, de José de Arriaga, 1886-89, IV vols / Atalaia contra os Pedreiros Livres ..., cujo autor seg. Inocêncio foi Joaquim José Pedro Lopes / Atlas de Fernão Vaz Dourado, c/ direc. do Visconde de Lagoa, 1948 / Inquisição em Goa ..., por António Baião, 1930-49, II vols / Arte Portuguesa, direc. de João Barreira, Ed. Excelsior, IV vols / A Maçonaria Seita Judaica: suas origens, sagacidades e finalidades anticristãs, por I. Bertrand (trad. Gustavo Barroso, c/ um apêndice s/ o Talmude e os Judeus), 1938 / O Jornalismo: esboço histórico da sua origem ..., por Alberto Bessa, 1904 / Poesias de Manuel Maria Barbosa du Bocage, 1853, VI vols / História da Universidade de Coimbra nas suas relações ..., por Teófilo Braga, 1892-1902, IV vols / Historia das Ordens Monásticas em Portugal, de Manuel Bernardes Branco, 1877-88, III vols / Branco e Negro: semanário ilustrado, ano I (5 de Abril de 1896) a ano II (27 Março de 1898), 104 nums em IV vols (colab. de R. Ortigão, Cesário Verde, Antero, Eça, Junqueiro, Fialho d'Almeida, Oliveira Martins, Bulhão Pato, António Nobre, Leite de Vasconcelos, Sousa Viterbo,... / Cadernos Coloniais, nº 1 ao nº 70, Editorial Cosmos (completa) / Cancioneiro da Biblioteca Nacional: antigo Colocci-Brancuti, 1949-64, VIII vols / Importantes Obras de Camilo Castelo Branco / A Morte Redimida, de Ferreira de Castro, 1925 (raro) e A Volta ao Mundo, 1944 / Catalogue de la Bibliotheque de M. Fernando Palha, 1896, IV vols (catalogo de uma das melhores bibliotecas portuguesas, vendida à Univ. de Harvard, com manifesto interesse Camoniano)

[Continua]

O Protesto Operário [nº 1, 5 de Março de 1882]

"Com a fundação do Partido Socialista a 10 de Janeiro de 1875 e desaparecido o «Pensamento Social» (...) dois novos jornais de carácter socialista foram, entretanto, criados: «O Protesto» e «O Operário», os quais mais tarde se haveriam de fundir para dar lugar ao «Protesto Operário», órgão do Partido Socialista e que mantinha uma redacção em Lisboa e outra no Porto.(...)
Algumas colaborações estrangeiras, obtidas por intermédio das relações internacionais mantidas pelo Partido Socialista ou devidas à permuta internacional entre jornais operários e socialistas, artigos e informações da actividade partidária e, destaque para os Documentos e decisões dos Congressos, etc..."

[César de Oliveira, in Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

"... Karl Marx acaba de falecer em Londres quase repentinamente em resultado de uma doença de peito, contraída há pouco mais de um ano junto de sua esposa moribunda.
Desapareceu o mais eminente dos socialistas contemporâneos e um dos mais profundos socialistas da nossa época. É a ele principalmente que se deve o carácter histórico e cientifico que assumiu o socialismo utopista e sentimental da primeira metade deste século. (...)
A grande obra deste ilustre pensador «O Capital» ficou por acabar. A primeira parte dela, A Produção das Riquezas produziu uma verdadeira revolução mesmo no sentido ex-cátedra da economia politica em toda a parte onde este ensino não está completamente mumificado. A segunda parte, A Circulação das Riquezas supõe-se ficou bastante adiantada, e a ponto de poder ser publicada por Frederico Engels, o amigo mais íntimo e mais digno intérprete de Marx.
O terceiro volume História da Teoria devia ser uma análise critica de toda a literatura e economia. É para recear que apenas existam fragmentos esboçados, porquanto Marx considerava esta parte como um trabalho ligeiro e fácil ..." [Karl Marx, in Protesto Operário, ano II, nº 3 de 25 de Março de 1883, ibidem]