sexta-feira, 14 de maio de 2004


A Greve [nº 1, 18 de Março de 1908]

A corrente anarquista em volta d'O Pensamento Social estava ligada teoricamente às doutrinas difundidas no "Revolté", de Reclus e Kropotkine [cf. "A Evolução Anarquista em Portugal", J. M. Gonçalves Viana, Seara Nova, 1975]. Supõe-se que a ligação foi estabelecida pela presença de "refugiados espanhóis, membros da «Mano Negra» em Lisboa e no Porto" [ibidem]. Uma polémica em torno de "um manifesto abstencionista dos anarquistas de Barcelona", levado a cabo pelo Protesto Operário (socialista) faz participar no debate Gonçalves Viana e Cardoso [ibidem], contando ainda com a própria participação de Reclus, influenciando decisivamente o desenvolvimento da corrente anarquista portuguesa. Depois do aparecimento da Revolução Social, outros grupos, mais ou menos de características comunistas-anarquistas se formam, como a Centelha, O Primeiro de Maio, Os Agitadores, Sempre Avante, Estudos Sociais, Mundo Novo, A Propaganda, A Revolta, etc, com as suas respectivas publicações.

"...A dois anos da implantação da Republica, pouco tempo depois de ter terminado a ditadura monárquica de João Franco, no ano de regicídio, os sindicalistas revolucionários decidiram concretizar, com o apoio dos anarquistas, um projecto que, tendo por certo germinado na cabeça dos mais antigos promotores do movimento operário, era impensável alguns anos antes: a publicação de um jornal diário operário, essencialmente sindical. Estava criado esse facto notável e surpreendente que foi o diário operário «A Greve» (...)
«A Greve» era propriedade do Grupo de Propaganda Social, tinha como gerente principal Evaristo Vieira e como redactor principal Alexandre Vieira [ver "Para a História do Sindicalismo em Portugal", Alexandre Vieira, Seara Nova, 1974 e Subsidios para a Hitória do movimento sindicalista em Portugal]. O jornal era redigido e composto por um colectivo de redactores e tipógrafos que trabalhavam gratuitamente e em condições praticamente artesanais e distribuído nas ruas de Lisboa, também, por operários e estudantes os quais, entretanto, haviam acabado de participar na primeira greve de estudantes, em 1907. Curiosamente o seu primeiro numero tem a data de 18 de Março (aniversário da Comuna de Paris) ..." [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: José Fernandes Alves, Ladislau Batalha, César Nogueira, Césa dos Santos (todos socialistas); António José de Ávila, Pinto Quartim, Hilário Marques, João Pedro dos Santos, Francisco Cristo, José Benedi. E além de Alexandre Vieira, participou ainda, o escritor Luís Calvet de Magalhães, bem como Deolinda Lopes Vieira, Rosalina Ferreira e Lucinda Tavares. [in, Alexandre Vieira, ibidem]