terça-feira, 4 de agosto de 2009
DELFIM GUIMARÃES [N. 4 DE AGOSTO DE 1872]
Delfim de Brito Guimarães [Porto, 1872 – Amadora, 6 de Julho 1933] foi poeta, ensaísta, tradutor, bibliófilo [ver o curioso Catálogo do leilão da sua livraria], editor, republicano e maçon [iniciado em 1907 na Loja "O Futuro", de Lisboa].
Fundou a preciosa editora "Guimarães, Libânio e C.ª" [1899] onde foram editados livros de Cervantes, Tolstoi, Baudelaire, Victor Hugo, Zola, Alexandre Dumas, Goethe, Balzac, Gorki, Nietzsche ou Marx.
Locais: Delfim Guimarães / Guimarães Editores / Amadora [de F. Piteira Santos]
domingo, 2 de agosto de 2009
IN MEMORIAM DE M.S.LOURENÇO (1936-2009)
"O seu corpo, durante o banho, revelou para a posteridade o segredo da sua natureza genética: M. S. Lourenço era uma truta. As suas escamas caíram uma a uma e foram finalmente engolidas pelos esgotos do condado. Jaz no estrume de Dorchester com a esperança de se tornar num cacto" [in Pássaro Paradípsico]
"Quem dirá o numero dos meus dias?
Como será então o som da minha boca?
...
Quando encontrares o lugar do justo
Os campos cobrir-se-ão de trigo ..." [in Desenvolvimento, Wytham Abbey]
"Ainda ontem, que era dia santo, os homens andaram toda a tarde para trás e para a frente por causa dum motivo bem fútil: extinguir a concupiscência do mundo
...
Ontem sim, que era dia santo. Ontem é que toda a gente sabia da coisa. Esteve lá o Senhor Presidente do município ..." [in Imitação da Cruz, O Desequilibrista]
"Que espécie de palavras é esperança
É da cor da cinza
Sabe a feno antigo depois da chuva
Opaca ao tacto como o muro alto e branco
Cheira a traineiras
À corda húmida depois da pesca
O ritmo oscila na clave
O acento entre sílabas que conspiram átonas ..." [in Gama, Arte Combinatória]
"... A poética de M. S. Lourenço parte, quanto a mim, deste princípio: a poesia não tem que ser. A poesia é. Assim, não obedece a regras ou escolas, nem, tão pouco, a modas ou conveniências, sejam elas políticas, sociais ou religiosas. A poesia, pela sua essência e pela sua natureza, está permanentemente no estado amoroso de não alinhada, na exclusão do ordenamento, na perfeição de todas as imperfeições, na procura do indizível, na ausência de qualquer procedimento determinado. A poesia é e o poeta é um visionário ..." [Liberto Cruz, in M. S. Lourenço: O Desequilibrista Defenitivo]
LOCAIS: M. S. Lourenço / M.S. Lourenço [página pessoal] Uma Entrevista a M.S. Lourenço [Miguel Tamen] / Recordar M. S. Lourenço [Desidério Murcho] / Lourenço, M. S. [Colóquio Letras]
sábado, 1 de agosto de 2009
SACRIFICE – PORQUE HÁ NOUTES ASSIM
"As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente ..."
Herberto Helder, in A Faca não corta o fogo, 2008
A MINISTRA DE MIGUEL REAL – já nas LIVRARIAS
Conforme aqui dissemos está já nas livrarias o último livro de Miguel Real, "A Ministra". Faz parte de uma tetralogia de novelas dedicadas à mulher. Esta refere-se "a uma mulher maquiavélica, calculista, feia e má, que reduz a realidade ao cálculo dos seus interesses". Eis alguns extractos:
"Foi meu sonho como assistente universitária escrever um manual de construção e manipulação de números, tabelas e estatísticas, evidenciando ser a sua natureza um meio ao serviço de todos os fins, defensor de todas as teses, mesmo as mais contrárias e contraditórias; se era isto que Estaline praticava com o nome de «engenharia social», são estalinistas todas as instituições ou organizações sociais que trabalham com estatísticas, e fazem bem, é dever das elites não perturbar com hesitações, verdades problemáticas e indecisões a consciência ignorante e estupidificante das populações, mas iluminar-lhes o caminho através de uma certeza certeira, exposta com clareza aos olhos do vulgo, e, de facto, os números - pau para toda a obra, grão para todo o bico - servem para solidificar e cristalizar estas certezas certeiras. Como professora, as minhas aulas são objectivas, manipulo números e índices ensinando os alunos a inclinar as perguntas dos questionários de modo que não seja frustrada a previsão dos resultados, sei que os alunos me presumem fria e racional, é exactamente como me sinto, imune à emoções." [pp-28-29]
"Corre para o lado da direcção do vento, foi o conselho que o tio-pai me deu antes de morrer, assim mesmo, mal dito, mas de sentido verdadeiro, eu, pequenina, não percebi, mas fixei a frase na memória infantil e hoje não penso noutra coisa, aliás, desde que entrei na Faculdade e me casei que não penso noutra coisa, por isso fui, sem pudor nem convicção, marxista à seguir a revolução do 25 de Abril de 1974, uns breves meses, logo percebi que a inteligência e a riqueza se encontravam em outro lado, depois, assumi-me à frente dos alunos como social-democrata, e hoje sei-me qualquer coisa vaga como neoliberal, não sei o que serei amanhã, mas, se preciso for (...) afirmar-me-ei defensora de uma ditadura burocrática, administrativa, securitária e electrónica (...)" [p. 36]
"Há sete anos, na manhã da véspera de Natal, entreguei o meu primeiro relatório sobre o ensino secundário e a passagem dos alunos à vida activa ao então Ministério a Educação (…); escrevera no relatório que o estado da educação exigia uma revolução radical, trinta anos depois da revolução popular do 25 de Abril faltava fazer o 25 de Abril na educação, acabar de vez com a reprodução de um ensino de elites para elites e fazer o povo entrar na escola, não o povo em si, que já lá estava, a escola de massas era bem visível, os filhos dos trabalhadores possuíam frequência escolar, mas o espírito vulgar do povo, o espírito comum, banal; os programas e as matérias têm permanecido iluministas (fora a palavra que escrevera), visando fazer de cada aluno um pequeno sábio, matérias curriculares extensíssimas para regalo dos teóricos da educação, todo o ensino se destina à memorização de teorias ou, ao contrário, à aprendizagem de competências vazias, como o «saber fazer» ou o «saber aprender a aprender», inúteis na vida profissional, umas e outras, o ensino académico prevalece e esmaga o ensino técnico e tecnológico, originando uma alta taxa de reprovações, um ensino aristocrático para um povo ignorante dava como resultado o abandono em massa da escola pelos estudantes, é forçoso inverter este estado de coisas; em primeiro lugar, escrevia no relatório, facilitar tudo, simplificar todos os procedimentos, elaborar programas minúsculos com o essencial – só o essencial – das matérias, apresentadas do modo mais ligeiro possível (hesitei em escrever «do modo mais fácil possível»); depois, testes e exames exclusivamente sobre as questões essenciais, previamente marteladas em aulas sobre aulas, até à exaustão e o mais ingente dos alunos as compreender, passando de ano; em terceiro lugar, estabelecer como objectivo a passagem de 99% dos alunos, forçar os professores a eliminarem conceitos abstractos e explicações complexas, resumir, resumir, resumir, seria a nova palavra de ordem pedagógica, com a consequente eliminação de todo o conhecimento supérfluo: história de um conceito, eliminar; nomes de autores de invenções, de teorias, de descobertas, eliminar; questões filosóficas, eliminar; problematização de matérias, eliminar; levantamento de mais do que duas hipóteses de solução para a compreensão de uma questão, eliminar; raciocínios com mais do que três premissas, eliminar; matérias que exigem memorização para além da memória de trabalho, eliminar; em quarto lugar, responsabilizar os professores pelos resultados dos alunos, «como se responsabiliza o mecânico pelo arranjo do nosso carro», assim escrevera, considerando-o um óptimo exemplo; em quinto lugar, introduzir maciçamente o ensino profissional, eliminando deste, totalmente, matérias históricas, filosóficas e estéticas, os alunos deveriam aprender apenas o sumo dos sumos, nada mais, o mínimo que se exige para o início de uma profissão, nada mais; este era o espírito do povo que deveria presidir à nova reforma educativa, que se evidencia, acrescentara, como uma autêntica revolução pedagógica; num «P. 5.» esclarecedor, que registara num memorando confidencial para ser lido apenas pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro da Educação, considerara que esta revolução teria de ser feita contra os técnicos da educação das universidades e os professores das escolas públicas (...)" [pp. 40-42]
sexta-feira, 31 de julho de 2009
LIBERDADE RESPEITOSA
Paulo Querido organizou uma joeirada conferência – le dernier cri de idolatria ao poder – que mostrou arrumados bloggers à volta do sr. primeiro-ministro, radiantes do prodígio e mimados pelo agasalho. Tão inolvidável evento foi curioso de seguir, evidentemente ex-post, dada a natureza do choque tecnológico em curso.
E o que se passou nesse alpendre modernista? Ao que nos dizem, supõe-se que o sr. Sócrates se deixou folhear (docemente) numa sala (cantina da LX Factory), sóbria e à moda antiga, por consagrados génios da política indígena e outras tantas intelectivas eminências da bloguística paroquial. Nesse armazém de sabedoria ou sessão de esclarecimento o mistério para nós era saber o que fariam ali tão pasmados bloggers, como se de expositores de tratassem, fora do mau génio do seu teclado ou affaire tecnológico. Temos para nós (salvo veneráveis excepções) que se aos bloggers lhe tirarem o habitat natural, a costumada convicção ou erudição do blogger deixa de o atormentar e o seu reportório torna-se manso e sombrio. O que se verificou, piedosamente.
Depois, se a cenografia era fechada se bem que envolvente, os detalhes épicos desse inolvidável espectáculo foram esclarecedores. Um curioso grupo de delegados, que desconhecíamos que existissem fora das sedes partidárias ou do governo, apadrinhou a redacção do sr. Sócrates com prosa migada e palavras sem dor. Desses, que entrados na vida pública capricham no serviço, registe-se, pelo assombro do nervosismo e comicidade teatral, o marçano do ministério da educação de Lurdes Rodrigues, o jovem Hugo Santos Mendes (seguir todo o enredo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Se na sua obra na Sociologia da Educação, onde o rapaz está matriculado, nada consta de excitante, já a inteligência do moço para dar recados ou conselhos ao sr. Presidente do Conselho é total. Curiosamente, Paulo Querido, o mestre-de-cerimónias, pelo que aqui se lê, conhece o intelecto do jovem Hugo tão bem como perfilha a ignorância do sr. Sócrates nos assuntos da governação. Só por tal audácia Paulo Querido pode dizer que a acção de propaganda foi um sucesso. Subscrevemos.
Em minúcia, o que se viu foi uma peça de fancaria governamental, um arraial saloio de meninas e meninos bem comportados a interpelar o admirável leader. Todos em "liberdade respeitosa". Todos dispostos à excitante ventura de fazer uma pergunta ao sr. presidente do conselho. Mas que se tratasse de uma, soi-disant, blog conferência é puro arroto semântico. Que nos desculpem.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
ECOS PARA O BLOGUISTA INSTRUÍDO
Da Ópera Bufa: comprai e dai a ler aos V. rebentos o novo guia do admirável leader, abreviado & escrito num serão da blogosfera, com diálogos entre o sábio aio e seus discípulos, composto em latim twittado e traduzido por Paulo Querido, mestre-de-cerimónias. Á venda nas filiais do Largo do Rato.
Do Discurso Inaugural: vai sair brevemente a novíssima epístola aos "Novos" bloguistas sobre a vida doméstica da paróquia nos próximos anos, posta a correr pela gloriosa patriarca laranja, Ferreira Leite, com sátiras, epigramas e anedotas eleitorais. Experimentado em laboratório. Verdadeiro tesouro contra a relaxação da moral económica e financeira da charneca lusitana. Pedidos à Rua de São Caetano à Lapa, nº 9.
De Lisboa: diatribes contra a timonice acerca da história geral das dívidas da vereação, novena ou exercício devoto desses dias originalíssimos, colegialmente coligidos pelo seráfico Lopes da D. Ferreira Leite e o comendador Costa, da colectividade "Amigos Socráticos". Com todo o género de materiais de desengano de erros comuns sobre bicas, fontes, praças públicas, S. Bento e outros lugares do termo. Brinde aos leitores do bloco central com o utilíssimo ecos da alma do escriba virtual Bettencourt Resendes. Tip. Diário de Noticias.
Do Troféu: curioso reportório dos tempos esquerdistas do sr. Vale de Almeida ou aventuranças de um homem de qualidade na pré-modernidade, recolhidas em todos os blogs da praça por um independente do mundo e da fortuna, com avisos e reflexões sobre o que deve obrar um gay para satisfação pessoal e conversa futura casamenteira. Passeios e digressões, com ou em estampas, nas vielas modernistas do sr. Sócrates. Dedicado à saudosa memória da classe operária.
Do Volteio: corre por aí, que o SIMPLEX, que se tornou um blog reputadamente honrado e esforçadamente socrático, acaba de publicar o primeiro fascículo do 25 de Abril de 1974. Aceita fotos de Valter Lemos ou na alternativa de José Miguel Júdice. Utilíssimo para postar a pregadores desenganados.
Do Passo de Escola: Irene Pimentel, mui atenta ao movimento "utopia” 1917, subscreve sem reservas a necessária avaliação de desempenho para os professores e investigadores do ensino universitário, da qual é hóspede. Para o efeito alugou o bar da Universidade Nova de Lisboa, para os chás dançantes.
Do Almocreve: colecção de miscelâneas, narrativas & folhetos para uso do vulgo contra o profundo sono do esquecimento, publicada com todas as licenças necessárias, a Occidente de Coimbra. Secção especial contra o antídoto celestial do sr. Sócrates e a profissão de fé de D. Ferreira Leite. Á venda nas boas livrarias e casas de passe.
DE ABALADA
"Já não há malhadas nem cantigas, não há desfolhadas nem beijos às raparigas"
De regresso ao Centro que a lida chama por nós. Deixámos terras encantadas, intimidades aconchegadas, conversas à tardinha. Os aromas vieram connosco. E os melhores ares que o tempo tece. Os campos e os sabores deixam soidade. Como a ternura dessa gente séria. Da serra bravia (como é dito no "Alentejo não tem sombra") não há qualquer monotonia, mesmo que a “solidão e o silêncio” só raramente se quebre. Por isso o cansaço não existe.
A pedido de várias "famílias" (via mail), pela paciência fugidia de não conseguirem ouvir (ali em baixo) o G.A.C., aqui V. postamos o cante desses homens de trabalho duro e mão suave. Que se o sonho morreu, a vida dos homens é eterna.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
ALENTEJO - SEMANA GASTRONÓMICA DO GASPACHO E DA TOMATADA
De 25 a 31 de Julho, de Almodôvar a Nisa e de Grândola a Elvas - V. Excia terá ocasião de se servir de pézinhos de tomatada, gaspacho pobre ou rico, gaspacho com jaquinzinhos fritos, gaspacho em cama de bacalhau fumado, sopa de tomate com ovos escalfados, galinha de campo de tomatada, migas de tomate com carapaus fritos, marinada de sardinhas fritas com migas de tomate, bochechas de porco de tomatada, cação frito com migas de tomate ou tamboril de tomatada e, evidentemente, terá oportunidade do prémio da doçaria conventual ... que o doce nunca amargou!
Ah! e seja competente e bravo no beber. À Vossa Saúde!
Locais: lista a consultar, AQUI.
HÁ DIAS ... ASSIM!
"Esta gente parece ter alma
porque a música está a tocar" [J.G.Ferreira]
Estamos entre a solidão da planície, histórias de ganhões, o cante sempre entoado e a protecção das belas letras. Estamos extravagantes! Recolhemos de madrugada por montados de sobro e veredas de estevas. A noute, a calma inspirada, a caça rude e as moças boas, matam-nos de desejo. De modos que a largada daqui é um desperdício de festa.
Esta vida estirada e longe da ralé que corre nos jornais - e pelo que parece o infausto cavaquismo está de volta, enquanto os amigos do sr. Sócrates rebolam em corrupio de prebendas – arrastam-nos de felicidade. Graças a S. Pedro – santo dos pastores -, umas malgas de sopas, comeres de gente e conduto farto, nos braços de aurora vamos lá seguindo. O nosso rafeiro está de atalaia. Não há engano: depois de um ensopado de carneiro e um requeijão a condizer estamos a coberto.
Boa noute!
sábado, 18 de julho de 2009
HUNTER S. THOMPSON [n.18 Julho 1937-2005]
"Winston Churchill said "The first casualty of War is always Truth." Churchill also said "In wartime, the Truth is so precious that it should always be surrounded by a bodyguard of Lies."
"Quando as coisas ficam estranhas, o estranho vira profissional."
"... The eye of the journalist would be functioning as a camera. The writing would be selective and necessarily interpretative but once the image was written, the words would be final; in the same way that a Cartier-Bresson photograph is always (he says) the full-frame negative. No alterations in the darkroom, no cutting or cropping, no spotting... No editing ."
Locais: Hunter S. Thompson Biography / Hunter S. Thompson / The Great Thompson Hunt (Books) / Hunter S. Thompson [Salon] / Hunter S. Thompson Dies at 67 [WP] / Security by Hunter S. Thompson (1955) / Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson [NYT]
sexta-feira, 17 de julho de 2009
IN MEMORIAM HERMÍNIO PALMA INÁCIO - AQUI
O Almanaque Republicano publicou (por enquanto) 2 (dois) posts para um In Memoriam a Hermínio da Palma Inácio – AQUI e AQUI.
Num tempo de frescas tintas revisionistas da história, em que nem o sarcasmo satisfaz os desejos dos mais jubilosos, faz bem - ao pesquisar, ler, escrever e encontrar tanta vida nessas vidas - acreditar num tempo outro dos Homens e na importância outrora da Palavra. Neste tempo abusado de "arrotos comoventes" à governação (qualquer uma), nesta "feira cabisbaixa" que é a paróquia, a "viver sem projecto" ou alma nacional, é bom mergulhar – sem veneração, mas com narrativas abraçadas contra esse "respeitinho" a modos de ser preciso (O’Neil, sempre!) – na nossa história contemporânea recente.
Quando num só dia se ouve uma sra., que é Ministra da Educação de um país dito civilizado, pregar o ódio contra os educadores, pincelando enormidades educacionais incompreensíveis – pelo menos, para quem estuda há dezenas e dezenas de anos esses assuntos – e cegamente desvairadas na sua pequenez intelectual; quando é dado assistir ao provinciano e reaccionário Alberto João, sempre desbragado quanto saudosista do rapé autoritário, expelindo as suas sandwiches ou circulares aos indígenas; e quando numa madrugada, para acabar a praga, se assiste na TV – "Directo ao Assunto", RTPN - a uma série de disparates, acompanhados de um imprevisto espumar de raiva por um rapazinho - masquée com monóculo de "esquerda" - contra homens dignos, contra trabalhadores da educação, contra sindicalistas e a instrução pública, percebe-se porque razão Salazar governou o que governou e este país é o que é.
Não é uma simples sonoridade pós-moderna, uma sandice ideológica ou mera fúria geracional, como alguns exprimem em imprudência: é a exibição de uma descarada falta de estudo, de esforço intelectual e de trabalho profano, à mistura com uma irritabilidade e vaidade paranóica. Tudo bem regado – que o arraial promete sempre prebendas –, entre muita ignorância e falsificação histórica, de afadigadas loas à governação.
Contra isso, faz bem à alma acompanhar homens assim.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
A ARTE DE CONVERSAR E A INSTRUÇÃO À MOCIDADE
Pelo que é dado ver/ouvir, a sábia governança anda a precisar de plano de acompanhamento. Pelo que acabámos de assistir, parece que o plano de recuperação do sr. Miguel Vale de Almeida - distinto lente do ISCTE em expertise de pecados ideológicos -, na sua memorável acareação entre a "deriva neo-liberal" e o "centrão" ou movida social-democrata, não desconstruiu paternalmente as competências e a quietação intelectual dessa gente. Em rigor, o sr. Vale de Almeida caiu no regaço dessa sopa caseira, algures entre o PSD e o grupo do sr. Sócrates, mas o seu exercício de civilidade excitou pouco o gentio para o seu novo projecto "fracturante". Adivinham-se novos e fantásticos sebenteiros (o ISCTE é um alfobre deles) para a recuperação da revolução conservadora.
A angústia do acto de falar daqueles três senhores, no vídeo acima, não é só a perversão libidinosa da língua – a remeter para a fala como objecto fálico de rara incestuosidade política – mas, o trompe-l’oeil a que se assiste na educação (e no resto da fazenda), deixa vestígios de uma curiosa embalagem dos muros do asilo (saudades de ler Gentis) que é a paróquia do sr. Sócrates & Cia.
O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena pela arreata, julga que tais atropelos domésticos estão definitivamente esquecidos e que o descalabro social e económico do país nunca existiu. O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena agora caída no boudoir do sr. Costa, julga que a humilhação destes anos de cárcere do sr. Sócrates - e que denomina, com muita graça, "projecto de modernização" - merece um voto sequer. O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena bisonha politicamente, julga que atrás do biombo reacionário do país só se esconde o sr. Santana Lopes ou a "velha" sra. Ferreira Leite. O sr. Vale de Almeida, recalcado da sua experiência corporal e política, está inteligentemente enganado. Estão muitos e entre eles espreita o grupo do sr. Sócrates.
O mundo da modernidade interior do sr. Vale só a ele e aos amigos (egoisticamente) lhes interessam. Por enquanto o gozo de cidadania ainda é o nosso. O vampirismo ideológico de outros não nos diz nada. Era o que faltava!
terça-feira, 14 de julho de 2009
LIVRARIA MANUEL SANTOS - CATÁLOGO TEMÁTICO
LIVRARIA MANUEL SANTOS - CATÁLOGO TEMÁTICO
Apresenta a Livraria Manuel Santos (Vila Nova de Gaia - Rua Prof. Urbano de Moura. C. C. Vilagaia - Lj. 18) um curioso Catálogo Temático de obras sobre maçonaria, teosofia, ocultismo, todas elas saídas do prelo da muito estimada Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira.
Refira-se as invulgares peças de João Antunes [ver nota bio-biográfica nossa AQUI e AQUI], que dirigiu para a editora a prestigiada "Colecção Teosófica e Esotérica"; obras de Annie Besant, de C. W. Leadbeater e o curioso (e raro) "Budhismo Esoterico", de A. P. Sinnett.
Consultar o Catálogo online.
CATÁLOGO de JULHO – Livraria Olisipo
Acaba de sair o Catálogo de Julho da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente.
Referências: Actas. Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, Lisboa. 1961, VIII vols / Toponímia Histórica da Guarda, por Virgílio Afonso, ed. CMG, 1984 / Subsídios para a História da Sociedade Rural no Concelho de Oleiros. Dissertação lic. Ciências Históricas e Filosóficas de Olga Antunes Alves,1951 / Promptuario analytico dos Carros Nobres da Casa Real Portuguesa e das Carruagens de Gala, por M. J.M.Pereira Botto, 1909, tomo I (único publ.) / Cancioneiro da Biblioteca Nacional (Antigo Colocci-Brancuti), Lisboa, VIII vols / Roteiro do Arquivo Municipal de Coimbra, por José Branquinho de Carvalho (sep. Arq. Coimbrão, com pref. F. Pinto Loureiro), 1947 / O Pelourinho. Critica da nossa história política desde 1817 a 1904, pró António Claro, Vol I (1817-1850) / Lendas da Índia, de Gaspar Correia, 1975, IV vols / A Democracia Nacional, por Paiva Couceiro, Coimbra, 1917 / Outras Terras Outras Gentes (Viagens em África), de Henrique Galvão, II vols / Grandes e Humildes na Epopeia Portuguesa do Oriente, pelo Visconde de Lagoa, 1942-43, II vols / A Entrevista. Sem Santo nem senha, por Joaquim Leitão (entrevistas célebres), 1913-14, XX numrs / Famílias de Portugal, por Jacinto Leitão Manso de Lima, Lisboa, 1925, XXVI vols / Livros Portugueses. 1489-1600. Da Bibliotheca de Sua majestade Fidelíssima. Descrito por S. M. El-Rei D. Manuel II, 1929-35, III vols / Obras dos Príncipes de Avis. Livro da Montaria. Leal Conselheiro. Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela. O Livro da Virtuosa Benfeitoria. Livro dos Ofícios (intr. e revisão de M. Lopes de Almeida. Porto), 1981 / São Paulo, de Teixeira de Pascoaes, Porto, 1934 / Memória sobre a História e Administração do Município de Setúbal, de Alberto Pimentel, 1992, (2ªed.) / Ponte sobre o Tejo entre o Beato e o Montijo. Programa de Concurso. Caderno de encargos e estudo geológico. Lisboa. Ministério das Obras Públicas e Comunicações. 1934 / PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA ... [import e valiosa. Publ. por Alexandre Herculano, João Pedro da Costa Basto, Sousa Monteiro, Braamcamp Freire, Pedro de Azevedo e António Baião] / Historia dos Estabelecimentos Scientificos ..., por José Silvestre Ribeiro, 1871-93, XVIII tomos / Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomáticas de Portugal ..., pelo Visconde de Santarém, 1840-62, XIX vols / Trabalhos da Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 1934-43, VII vols.
Consultar o Catálogo online.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Homossexuais - Perseguidos no Estado Novo
A revista Pública [do jornal Público] apresentou neste Domingo (12/07), três curiosos artigos de São José Almeida sobre a questão/situação homossexual durante o Estado Novo:
"O Estado Novo dizia que não havia homossexuais, mas perseguia-os", texto com diversos testemunhos, referências pessoais e com utilidade bibliográfica dispersa
[refira-se: revista Lilás (sucessora da revista Organa); "O Estado Novo e os Seus Vadios" (Susana Pereira Bastos, D. Quixote, 1997); "Quotidianos Femininos 1900-1933" (tese de mestrado de Paulo Guinote); "Do Acto à Identidade: Orientação Sexual e Estruturação Social" (Octávio Gameiro, 1998).
NOTA: mesmo não se tratando de nenhum ensaio ou desconhecendo se existe uma verdadeira bibliografia geral homossexual por cá – o que sendo inexistente, revela o peso dessa "semitolerância envergonhada e claustrofóbica" herdada de todos esses anos - seria possível citar/incluir, ainda, "Fractura. A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea" (Eduardo Pitta, 2003), "A Homossexualidade Masculina" (António José Ferreira Afonso, 1995), "A Homossexualidade Feminina" (Teresa Castro d’Aire, 1996) ou os diversos trabalhos publicados de António Fernandes Cascais (como, por ex., "Dos estudos gays e lésbicos à teoria Queer", in Fenda, 2004), no próprio artigo]
mas [texto] algo confuso, aliás como bem nota Ademar Santos. Aliás, bem curioso é o facto que, sempre que se fala sobre a problemática da homossexualidade na paróquia, nos seus vários discursos ou na discriminação/repressão de personagens, surge de imediato o recurso a factos/situações ocorridos com militantes do PCP (repressão policial e sua marginalização partidária), num tolerante e aparente branqueamento da condição e produção homossexual em Portugal noutros registos ideológicos ao longo do tempo;
um segundo artigo, "Amor numa Cadeia da PIDE" [refª. à dirigente do PC Fernanda de Paiva Tomás]; e por último, "Guerra Colonial. Sim, havia maior liberdade sexual, mas um oficial matou-se na parada" [sobre as práticas homossexuais entre os militares na guerra colonial].
Adenda: ler os textos, AQUI (via Caminhos da Memória)
domingo, 12 de julho de 2009
D'OUTRO TEMPO - ACTUALIZAÇÃO
Adelino Pires apresenta, para ardentes e luminosos bibliófilos, novas peças de muita estimação.
"... Perdoe-me um silêncio que foi efeito do imenso trabalho que não vejo diminuir... Calcule que acabei uma tese de doutoramento sobre "Unamuno e Portugal".... Ainda bem que o meu convite para o "Pessanha" o tentou... Qual responsabilidade qual nada! E é V. desconhecido, despois do Oxford Book revised by You?..." [in Carta manuscrita de Jorge de Sena "dirigida a Bernardo Vidigal, 2 pag., assinada e datada (Assis,6/6/960). Com envelope selado". – ver AQUI]
"... Bom e justo seria destruir a afirmação gratuita daquele velho republicano, a quem Deus tenha perdoado, de que os poetas portugueses querem... a União Ibérica. Eu, o mais pequeno de todos, firmemente posso clamar que nenhum deles, - creio! - deseja a mais leve sombra sobre a independência pátria... Portugal é um Verso heróico e livre..." [carta manuscrita de António Corrêa d' Oliveira "de conteúdo patriótico, dirigida a G.M. (do Jornal A VOZ), 2 pag., assinada e datada (Quinta de Belinho, Espozende, 26 Fevereiro 1930)".]
Ainda: Carta manuscrita de Agustina Bessa-Luis, Pedro Homem de Mello; obras de Mário Dionísio, Vitorino Nemésio, Gervásio Lima e Manuel da Fonseca.
Consultar AQUI.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
MÁSCARAS DA UTOPIA: HISTÓRIA DO TEATRO UNIVERSITÁRIO EM PORTUGAL 1938-74
Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo apresentam HOJE (pelas 18,30 horas) no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian o livro "Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974", de José Oliveira Barata.
"... três décadas de actividade dos grupos de teatro académico, abrangendo o período de 1938 a 1974. Ao aprofundar os percursos de grupos como o TEUC(Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra), o TUP(Teatro Universitário do Porto), o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), o Grupo Cénico da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa ou o Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa, entre outros, o livro reenvia inevitavelmente para a vida cultural e política da época, em pleno Estado Novo, marcada por fortes restrições à expressão criativa e liberdade associativa ...
Ao longo de quase 400 páginas, reúne informação relevante sobre a vida destes grupos universitários, historiando o seu percurso e identificando, de um modo muito completo, os principais intervenientes. Ao mesmo tempo, procura responder a várias questões como, por exemplo, quem defendeu ou procurou impedir o projecto do Teatro Universitário, de que modo se articulavam os projectos dos vários grupos de teatro universitário com a oposição política do país ou que importância teve o teatro protagonizado por estudantes universitários no diálogo com o teatro profissional e com o teatro amador ..." [ler mais AQUI]
Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974 - de José Oliveira Barata, FCG, 2009
JOÃO GONÇALVES, SEM TÉDIO
"os homens se despedem, /.../ lançando ao mar os barcos de outra vida" [Jorge de Sena]
O Portugal dos Pequeninos, qual "espreitador do mundo novo", subiu numa tarde calmosa de Julho às terras da Figueira. Não cuidou sequer nas sábias palavras de Ramalho Ortigão, quando este confessa ao entrar na vila, "terror mesclado de tédio", em tempos de banhos. Não! João Gonçalves, em exercício espiritual, não tem desses abismos de alma. O mar, a foz do Mondego, a qualidade do manjar na Celeste Russa (que me perdoe a minha amiga Rosa Amélia pelo bordado culinário) e, principalmente, o pronunciamento nos dias do Festival de Cinema (saudade eterna), restabelecem-no na sua bem-aventurança. Até porque "hoje não tem importância que os versos estejam errados ou não" (Jorge de Sena, claro).
O Portugal dos Pequeninos, assim temperado, deu livre comunicação aos seus alevantados pensamentos, no encontro com os leitores. Foi cáustico na rebelião, casto nos arrochos, elegante nas informalidades. As admiráveis tiradas ou perturbações das ordens do regime, foram judiciosas. Pouco irritadiças! Quase ternas. João Gonçalves veio à Figueira, alumiou sentimentos, falou com sinceridade sobre a paróquia, pediu mentes esclarecidas e livres. Sem salvadores! Em troca ficou de continuar a dar-nos o prazer da sua letra, o luxo da sua ironia. E assim se espera que cumpra!
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