quarta-feira, 24 de junho de 2009
OS 28 SÁBIOS
"Que alguém se atreva a dizer a sombra de uma verdade e será condenado. Que alguém se lembre de bulir num qualquer dos ídolos do tempo, e será apedrejado – liberalmente!
Por isso a liberdade que provém da apatia parece ao crítico o sintoma do contrário da vida: da verdadeira liberdade forte, independente, na concorrência de opiniões conscientes e sábias. Por isso nós apresentamos caracteres singulares. Leiam-se os jornais, ouçam-se os discursos. Ninguém fala mais de papo, desculpem a expressão. De quê?
De tudo. Os Pico de Mirândola, senhores de si, anafados, satisfeitos, sempre na rua, sempre verbosos, com as cabecinhas alerta, a resposta pronta, a fórmula breve, um andar miudinho de pedante, um livrinho azul debaixo do braço se não são janotas, nos miolos a consciência do seu saber, da verdade definitiva da 'ciência moderna', uma grande prosápia ingénua, uma grande segurança e entono: os Pico de Mirândola, que sejam conservadores ou demagogos, deputados da direita ou rabiscadores de jornais esquerdos, têm uma fisionomia comum. A Pátria são eles; a ciência sabem-na toda, a moderna. Somente uns acham que é moderna a que já governa, outros fóssil a de hoje: só verdadeira a de amanhã, quando eles derem a lei!
Pecos frutos de uma árvore contaminada, se dão um passo caem. Um dos fenómenos curiosos em Portugal é o devorar dos homens pelo Governo. Hoje sobem, amanhã somem-se, corridos, desprezados. Porquê? Porque a árvore, seca, apenas tem vida para reconhecer o seu definhador, para desprezar os que no seu pedantismo ingénuo, mais ainda do que na sua corrupção, sucessivamente se lhe seguram aos ramos".
[J. P. Oliveira Martins, in Portugal Contemporâneo, 1981]
terça-feira, 23 de junho de 2009
SOPHIA DE MELLO BREYNER - 5 ANOS DEPOIS
"Oiço a voz subir os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha" [Sophia]
"O meu pai [Francisco Sousa Tavares] participou na Revolta da Sé. E a minha mãe disse: "Hoje vamos fazer uma brincadeira muito engraçada". Era irem dormir para a cave de uma amiga. "Então a cave estava cheia de colchões, porque nessa noite ia rebentar a revolta e podiam ir a nossa casa à procura do meu pai. Vi o meu pai de uniforme! Os civis que aderiam também deviam estar de uniforme para entrarem nos quartéis. O meu pai era extraordinário. Era um cavaleiro andante. E a minha mãe era uma pasionária despertada por ele. 'Sou casada com o Dom Quixote', escreveu ela ao Jorge de Sena. E a Luísa lá na cave: 'Ó menina, os seus pais são doidos varridos. O que é que a gente está aqui a fazer?"
"As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso" [Sophia, Granja, 31 Agosto 1943]
"De repente ouvia-se uma voz: Onde está a Sophia? Não havia Sophia, mas o ar era fresco como se atravessássemos uma alameda de tílias." [Eugénio de Andrade]
"Não há dúvida que os deuses gostam de si, pelo menos tanto como os mortais." [Miguel Torga]
in No Mundo de Sophia, jornal Público, P2, 21 de Junho 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
CE QUE LIRE VEUT DIRE
UMBERTO ECO: We don’t have read all the books we pretend to know. But, we know them pretty well. I want to—I have a small library of no more than 50,000 books and only 30,000 in my main apartment in Milan. And it happens to everybody when an idiot comes there, he say, "How many books have you read, all of them?" So there are three standard answers. One was a friend of mine who said, "Many more, sir, many more." (laughter) And the second is, "No. Why otherwise I should keep them here?" (laughter) The third is, "No. The ones I have read are at the public library. Those the ones I have to read the next week." (laughter) So they are distraught that—okay. But, but. The second answer is the most, the most serious. Why otherwise I would keep them there. A library is a guarantee for your memory, huh? If you need something, you know it’s there. But you are continuously ravaged by remorse. I have not read that, I have not read that. Then, one day in your life, you pick up a book you’ve had there since thirty years, and you were convinced not to have read it. You open it, and you realize that you know it perfectly.
So there three theories. One is a sort of awkward theory. There is a sort of transfiguration, (laughter) what you’ve touched, you’ve touched it and the animal spirits of the book—yes. The second is that you believe not to have read it, but in the course of thirty years you have picked up, you know, the….you have opened it, you have read two pages. The third is that in the course of those thirty years you have read many, many books who spoke, talked about that. And so, at the final end, you discover that you know the book very well. So that is a way by which we know the content of many books we have not read. And that is a guarantee of knowledge and of advancement of learning.
in, "How To Talk About Books You Haven’t Read", Pierre Bayard & Umberto Eco with Paul Holddengraber, The New York Public Library, 17 de Novembro de 2007 - reproduzido (parcialmente) na revista francesa (Junho 2009), Magazine Littéraire [p. 12-15].
"CE QUE LIRE VEUT DIRE" – DA ESCOLA
"Ce que peut-être l’école n’enseigne pas, c’est non pas le programme de lecture ou de non-lecture, mais celui de la vie avec les livres. Ce n’est pas exactement la même chose : parfois vous ne lisez pas l’ouvrage, ou vous le commencez sans le finir, mais vous savez qu’il est là et qu’en cas de besoin vous pouvez le consulter comme un compagnon. L’école devrait enseigner la différence entre lire et vivre avec les livres. Très souvent, elle nous apprend une seule et unique façon de lire – de la première à la dernière ligne – alors qu’il y en a beaucoup d’autres." [Pierre Bayard, in Le Magazine Littéraire, Juin 2009, p.13]
"L'école devrait enseigner que la culture ne signifie pas savoir par couer la date de la mort de Napoléon onaparte, mais être capable de la trouver en quelques secondes!" [Umberto Eco, ibidem]
in Débat Pierre Bayard et Umberto Eco – "Ce que lire veut dire" -, Le Magazine Littéraire, Juin 2009, nº 487, aliás, "How To Talk About Books You Haven’t Read", Pierre Bayard & Umberto Eco with Paul Holddengraber, The New York Public Library, 17 de Novembro de 2007
quinta-feira, 18 de junho de 2009
HABERMAS 80 ANOS
"De acordo com a visão republicana, a formação política da vontade e da opinião dos cidadãos cria o meio pelo qual a sociedade se constitui como um todo político. A sociedade é, desde sempre, uma sociedade política - societas civilis. Daí o fato de a democracia tornar-se equivalente à auto-organização política da sociedade como um todo, o que leva a uma polémica compreensão da política voltada contra o aparato estatal. Nos escritos políticos de Hannah Arendt pode-se ver para onde a argumentação republicana dirige sua pontaria: em oposição ao privatismo de uma população despolitizada e em oposição à aquisição de legitimidade por meio de partidos entrincheirados, a esfera pública deveria ser revitalizada até o ponto em que o conjunto regenerado dos cidadãos pudesse, sob a forma de um autogoverno descentralizado, (uma vez mais) apropriar-se do poder das agências estatais pseudo-independentes. A partir dessa perspectiva, a sociedade finalmente se desenvolveria para uma totalidade política". [ler AQUI]
"Submeter a educação a um sistema legal produz um agrupamento abstracto daqueles envolvidos no processo educacional e sujeitos individualizados em um sistema de mérito (achievement) e competição. O carácter ‘abstracto’ consiste nas normas da lei escolar, aplicada sem consideração pelas necessidades e interesses das pessoas a ela submetidas, ignorando suas experiências e relações sociais. Isso ameaça a liberdade pedagógica. A compulsividade plea certeza do litígio-prova das notas e a sobre-regulação do currículo causaram este fenómeno caracterizado pela impessoalidade, inibição da inovação, quebra da responsabilidade, imobilidade ..." [ler AQUI]
NUM PRATO A CABEÇA DO SR. SOCRÁTES!
"Boa é a fazenda, quando não sobe à cabeça" [Provérbio]
O ex-estranho sr. Sócrates, arruinado completamente pelos cadernos eleitorais, apareceu no mercado da SIC (diante da doce Ana) com uma naturalidade humilíssima (estilisticamente falando), uma castidade na oratória política afinada, numa elegante comédia farcista. O libelo do sr. Sócrates esta noite foi desarmonizar com o sr. Santos Silva, Vitalino Canas & Cia, Lda. Não fora o atrevimento de "censurar" a mediocridade da política de instrução e ensino da sra. Lurdes Rodrigues (agora, vilmente desprezada); não obstante descobrir muito tarde a licenciosa kultura do sr. António Pinto Ribeiro (no que foi de uma crueldade obscena) e a sua absurda, quanto ridícula, inspiração de comparar (a ignorância é mesmo muito atrevida) o construído do autor da General Theory of Employment, Interest and Money à edificação económica em Oliveira Salazar, quase que o conseguia!
O sr. Sócrates foi durante quatro anos o inimigo principal do Partido Socialista de Soares, Guterres e Ferro Rodrigues. Tomando como empréstimo (ou mesmo, superando) a linha política da 3ª via de Blair e Schroeder (leia-se o texto no Público de Ana Benavente) - e o que isso significou no alinhamento da politica doméstica com a ilusão neoliberal -, cedendo à fascinação deste tempo de desassossego, incompetência e decomposição das liberdades, o sr. Sócrates conduziu o país (com um grupo inqualificável de idiotas úteis) à quase ruína. Está o país numa decadência económica e social (e espiritual) sem precedentes, e não tem gente nem ânimo, nem alma para a sua própria refundação. Nunca foi tão acertado dizer que o eterno problema de Portugal é as suas próprias elites. Estas, sim, a necessitarem de uma verdadeira reforma democrática, económica, cultural e cívica. Mas tal trânsito tarda!
O sr. Sócrates foi durante quatro anos rancoroso com os adversários, grosseiro no contraditório, ignorante nos argumentos, afrontoso com as classes profissionais. O seu cabriolar, pouco subtil e sem escrúpulos, o seu (por ora) putativo desagravo à canalha, a sua autoridade ou carta de democrata tem uma reduzidíssima dignidade. Ninguém que foi caluniado tanto tempo, ninguém que foi tão rudemente maltratado, esquecerá o que foram estes anos de cárcere governamental do sr. Sócrates & amigos. Para tal mudança exige-se a cabeça do sr. Sócrates e daqueles que com ele (e foram muitos, de políticos a colunistas, de empresários a jornaleiros) semearam tais infaustos ventos. Não será qualquer desculpa feita por um "explicador de província" (prof. Maltez, dixit) que tudo mudará. Talis vita, finis ita.
terça-feira, 16 de junho de 2009
IRVING PENN [n. 16 de Junho de 1917]
"Irving Penn revolucionou um sem-número de gêneros fotográficos; no entanto, o campo da fotografia de moda é um daqueles em que sua marca foi impressa de forma mais profunda. De fato, é difícil imaginar o que seria da foto de moda contemporânea sem a seminal influência da estética de Penn - criador de uma beleza elegante e simples, mas construída com um rígido formalismo e uma sensibilidade incomum ..."
continuar a ler AQUI - in O Século Prodigioso
IRÃO – DESOBEDIÊNCIA CIVIL
25 Khordad Protests in Iran [fotos] / Activistas derrubam sites do governo e de agências de notícias / Algo se mueve en Irán / Ayatollah Montazeri’s letter / Batalla por el poder entre ayatolás / CNNfail: Twitter Blasts CNN Over Iran Election / Cyberwar guide for Iran elections [boingboing] / Dear CNN, Please Check Twitter for News About Iran / From Iran to the world / In Iran, rival factions rally after days of unrest / Iran clamps down on foreign media / Iran: Inspiring Revolts And Western Hypocrisy / iranelection [fotos no flickr] / iran.twazzup.com / Iran plays the blame game / The Back Story in Iran / Twitter delays maintenance to support Iranian protests / Voice of Balatarin
segunda-feira, 15 de junho de 2009
In-Libris – Livros de Junho 2009
A In-Libris (Porto) apresenta um lote de livros antigos e estimados de temática variada (poesia, literatura, história, política, etnografia, filosofia, ensaio, teatro, agricultura, judaica, etc)
Referências: Lavrador Moderno ou Tratado de Agricultura e Jardinagem [obra anónima], Lisboa, 1854 / As Confissões, de Santo Agostinho, 1955 / Restauração de Portugal Prodigiosa, por D. Gregório de Almeida, 1939-40, IV vols / História de Portugal, de João de Ameal, 1958 / Garrett. Memórias Biographicas, por Francisco Gomes de Amorim, 1881-4, III vols / Daqui Houve Nome de Portugal, org. Eugénio de Andrade, 1968 / O Phisionomista das Damas, ou a Arte de conhecer as pessoas pelas feições do rosto ..., de Luiz de Araújo, 1872 / Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica, por Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, 1937 / O Decameron, por Giovanni Boccaccio [esmerada edição, com ilustrações valiosas], Lisboa, 1964, II vols / Almanaque dos Palcos e Sala para 1926 / Ao Sereníssimo, Piíssimo, Felicíssimo Príncipe Regente de Portugal D. João ..., de José Francisco Cardoso [trad. do latim por Bocage], Off. Arco do Cego, 1800 / O Capitalismo Moderno e suas Origens em Portugal, por Bento Carqueja, 1908 / As Melhores Forragens, por A. M. Lopes de Carvalho, 1898 / Almeida. Subsídios para a sua História, de José Vilhena de Carvalho, 1973, II vols / Centenário de Gil Vicente (1537-1937) / O Cozinheiro Completo, ou Nova Arte de Cozinheiro e de Copeiro, ..., Lisboa, 1849 / No Alto Minho. Paredes de Coura, de Narciso C. Alves da Cunha, 1909 (aliás 2001) / História da Prostituição em Todos os Povos do Mundo, de Pedro Dufour, 1885-87, V vols / Grifo [Antologia de inéditos organizada e editada pelos autores], 1970 / As Estradas de Portugal [9 opúsculos], s.d. / História da Tauromaquia, 1951-53, II vols / Obras de (sobre) Alberto de Serpa, Alexandre Herculano, Alfredo Pimenta, Álvaro Cunhal, Antero de Quental, António Corrêa de Oliveira, António Ramos Rosa, António de Sousa, Bernardim Ribeiro, César da Silva, Conde de Monsaraz, Eça de Queiroz, Eduardo Frias, Eduardo Noronha, Eugénio de Andrade, Fernanda de Castro, Fernando Echevarria, Fernando Pessoa, Gaspar Simões, Gastão Cruz, Gomes Leal, J. Leite de Vasconcelos, Jaime Cortesão, João Penha, Joaquim Manuel Magalhães, Joel Serrão, Luiza Neto Jorge, Manuel Ribeiro, Mário Braga, Mário Cláudio, Maria Teresa Horta, Nuno Júdice, Pedro Homem de Melo, Pedro Veiga (Petrus), Salazar, Sant’Ana Dionísio, Soeiro Pereira Gomes, Vasco Graça Moura, Vergílio Ferreira / Revista Filosófica (dir. Joaquim de Carvalho), 1951-59, XII numrs / Dicionário Universal de Literatura, por Henrique Perdigão, 1940 / Mensagem (1ª ed.) de Fernando Pessoa, Parceria AMP, 1934.
A consultar on line.
domingo, 14 de junho de 2009
MANUEL DE LIMA - O REBELDE
Manuel de Lima [1918-1976] está de regresso com "O Rebelde", obra póstuma publicada pela Edium Editores. Manuel de Lima foi um notável ficcionista [quase sempre ignorado pela gentinha intelectual da paróquia] que faz parte daqueles que Maria de Fátima Marinho [autora do mais importante estudo sobre "O Surrealismo em Portugal", INCM, 1987] apoda de "surrealistas sem escola" ou de autores com "traços surrealizantes".
Manuel de Lima ou o "Mestre do non-sense português", como Luiz Pacheco o intitulou [ver a dedicatória ao texto de Pacheco, "O Caso das Salsichas Inimigas" – ref. Maria de Fátima Marinho], nasceu em Lisboa em 1918. Foi violinista profissional em várias orquestras sinfónicas [o "seu sonho era a orquestra sem maestro" – in Luiz Pacheco, "Figuras, Figurantes e Figurões", O Independente, 2004. Leia-se esse espantoso texto de Pacheco sobre Manuel de Lima, "O careca evidente retratado pelo caixa de óculos", pp. 130-135, aliás reprodução da "Ler", nº31, 1995], crítico musical [no estimado Jornal de Letras e Artes, na Arte Musical, Século e Século Ilustrado, Diário de Lisboa, Diário Popular] e autor dramático. A sua narrativa "inverosímil", o nonsense e a densidade das situações recriadas, o ambiente fantástico das suas personagens, a sua escrita de uma riqueza irónica e o seu refinado "humor negro", fazem de Manuel de Lima uma personagem, ela própria, insólita e de assinalar no quadro novelístico português.
Não deixa de ser curioso que o primeiro livro de Manuel de Lima, onde pontifica uma "impossibilidade realista" e um curioso "ambiente fantástico", seja datado de 1944 ["Um Homem de Barbas", ed. de autor, com desenhos de Bernardo Marques e prefácio de Almada Negreiros], pois até 1945, entre nós, o espírito neo-realista entre os intelectuais era ainda enorme respeitabilidade. Note-se que Pedro Oom, em Outubro desse ano, escreve [ref. Maria de Fátima Marinho, ibidem] um artigo no jornal "A Tarde", do Porto, justamente intitulado "Nota sobre o neo-realismo nas Artes Plásticas em Portugal", onde critica o denominado surrealismo; e do mesmo modo, ainda no jornal "A Tarde", Mário Cesariny [ibidem] no artigo "Futurismo e Cubismo" não acede à critica fácil ao neo-realismo, fazendo-o apenas, e indelevelmente só a partir do fim desse ano.
Manuel de Lima integra-se no grupo [entre eles, Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, Herberto Helder, João Rodrigues, Manuel Castro] que se reunia em 1955 no Café Gelo [quase todos eles vinham de igual tertúlia no Café Royal], de que tanto se fala. Publicou, antes, em 1953, uma importante obra, "Malaquias ou a História de um Homem Barbaramente Agredido" [ed. Contraponto], com um prefácio de António Maria Lisboa [republicado, depois, n’A Intervenção Surrealista e na "Poesia", do mesmo A.M.L.]. Em 1958, Manuel de Lima, Luiz Pacheco e Natália Correia [amiga muito "especial" de Manuel de Lima], escrevem "Caca, Cuspo & Ramela", uma paródia insolente ou diatribe contra Mário Cesariny e o seu grupo [ver, "Pacheco versus Cesariny", de Luiz Pacheco, Estampa, 1974, e onde são transcritas "deliciosas" cartas de Manuel de Lima para Luiz Pacheco]. Em 1965 publica Manuel de Lima uma peça teatral, "O Clube dos Antropófagos" [reedição pela Estampa em 1973, aliás como toda a sua obra]. Por último, na Estampa (1972) sai "A Pata do Pássaro Desenhou uma Nova Paisagem".
"O REBELDE" (Obra póstuma), de Manuel de Lima, recolha e coordenação de Susana Custódio e Isabel Fontes, Edium Editores, 2009.
sábado, 13 de junho de 2009
O RESSAIBADO
"Ninguém tem mais peso que o seu canto" [Herberto Helder]
Leonel Moura (o "artista"), em texto de rara crueldade testicular, introduziu uma architectonicé avisada sobre o futuro da paróquia pós-eleitoral. Obedecendo a um rigoroso espectáculo paródico in adjecto e banalizando o discurso do seu maître à penser Augusto Santos Silva, o artista Leonel, numa elegia erótica irresistível considera que o "PCP, Bloco, PSD e CDS irão juntos formar o próximo governo de Portugal".
A emulação neo-modernista que deu ao seu ocioso pensamento, bem ao estylo da sacristia do sr. Sócrates, enclausurou-o na galeria dos vassalos não arrependidos da governação. O artista dos 45 "jardins portáteis" passou a sua bula projectual directamente do Jornal de Negócios – o seu "habitar poético" (Heidegger) – para a estreiteza dos muros do casebre do Largo do Rato. A guia de marcha (versão kitsch) dispôs de uma construtividade decorativa meta-artificial curiosa e dava um bom candeeiro para o pesiché da D. Câncio.
As obrinhas que o artista Leonel esfiapa nos jornais, os seus esquisses de engenharia social reaccionária e o seu tédio contra a "construção da aventura" [I.S., claro!] da dissidência (leia-se a sua vulgata contra os professores) ou a "circulação dos homens com base da vida autêntica" [Guy Debord], têm expertise à medida que as encomendas artísticas do poder lhe caem no regaço. O rendering exposto do sr. Leonel Moura tem apenas a utilidade (objecto de uso) que a mercadoria do regime prescreve. A sua obediência perinde ac cadaver pela Obra do Governo, robótica à parte, diz-nos que o abuso das políticas do sr. Sócrates não prejudica a saúde dos indígenas. O que Henrique Garcia Pereira dirá da matéria e método do sr. Leonel Moura é assunto para este "tempo consumível" de homens livres. Vamos esperar!
quinta-feira, 11 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
ENFIM ... "OS VOTOZINHOS"!!!
"Maria não me mates, que sou teu pai" [José Sócrates, perdão, Camilo C. Branco]
As eleições d’hoje acabaram (supõe-se de vez) com o cárcere imposto pelo sr. Sócrates. Contra o pensamento único, contra o autoritarismo e a delação, contra a soldadesca que tomou de assalto o Largo do Rato, contra a espuma dos interesses instalados, contra o medo derramado, contra as marionettes a soldo deste governo, contra os caluniadores das classes profissionais (os docentes, em especial), contra o jornalismo manipulativo (Habermas), contra o putedo intelectual, os eleitores que deram a vassourada impiedosa nessa gentinha do sr. Sócartes & amigos bradaram alto o direito à discordância. A rua – essa admirável prostituta – tinha razão!
A sra. D. Lurdes Rodrigues queria contar os "votozinhos" e os eleitores, por uma vez (sem exemplo), fizeram-lhe a vontade. Um beijo, Ana Drago! O sr. Santos Silva (vulgo S.S.), oficioso publicista da governação, "morreu" de boca. Graças, senhor! O paternal sr. José Lello, oráculo do regime, desapareceu em combate. Discretamente! O sr. Vitalino Canas, apóstolo da superstição socrática e sua testada, não se recomenda doravante a ninguém. Felizmente! O sr. Silva Pereira, animador de imposturas e orquestras únicas, foi esmagado. Estupendíssimo! O sr. Alberto Martins, reluzente de "democracia" interminável, lacrimejou. Inaudito! O gentio - farto do colégio interno do sr. Sócrates – fulminou-os. Inteligentemente!
Perdedores: o sr. Sócrates e os seus idiotas úteis; Vital Moreira, mais a sua trovoada de argumentos indecorosos; a sra. Lurdes Rodrigues e o seu rosário educativo; a Eurosondagem e a sua proverbial açorda estatística; o folião dr. Mário Lino; o sr. Vieira da Silva e o seu engenho social demagógico; o desconexo e brejeiro sr. Manuel Pinho; o sr. Carlos César; o sr. cavernoso Almeida Santos; os vassalos jornaleiros do DN; o nosso querido e jovem Mário Soares; o amestrado sr. José Miguel Júdice; o sr. Emídio Rangel e a sua neurose indiscreta; a incrível comissária Câncio; o sr. Miguel Sousa Tavares e a sua rincharia afamada; a sempre sorridente Edite Estrela; o indescritível sr. Bettencourt Resendes; os suspeitosos escribas do JN; o autorizado funcionário (cheio de graça), o escriba Miguel Abrantes; aquele rapaz da mui "esquerda" alta, o doutrinal Pedro Adão e Silva; a gentinha escolástica dos blogs ou boudoir do sr. engenheiro.
Vencedores: o curioso e notável Paulo Rangel; a sra. Manuela F. Leite, pela sua arte de recato; o Bloco de Esquerda e a sua direcção; o PCP, pela sua resistência; o sr. Paulo Portas, pela sua arte de sobreviver; os professores e as suas associações ou grupos; o sempre fraterno Manuel Alegre e os socialistas honrados; as classes profissionais; o jornal Público e o seu director; o inteligente e imprescindível Rui Tavares; a TVI; a blogosfera livre, cívica e democrata; os homens dignos e os livres-pensadores.
Boa noute!
sábado, 6 de junho de 2009
V FESTIVAL INTERNACIONAL DE BD DE BEJA
De 30 de Maio a 14 de Junho, decorre o V Festival Internacional de BD de Beja: Exposições e Mercado do Livro de BD, Workshops, Conferências, Sessões de Cinema - na Casa da Cultura (Bedeteca), Biblioteca Municipal, Museu Jorge Vieira Casa das Artes e Museu Regional de Beja.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
ELEIÇÕES NA PARÓQUIA!
"O incrível país da minha tia, / trémulo de bondade e de aletria" [Alexandre O’Neill]
Domingo há as voltinhas das eleições domésticas. As regras da "arte de eleitorar", animadas pelas boticas partidárias & pasmosas nas suas incursões europeias, foram tormentosas. As investidas e as trapalhadas que as acompanharam foram tão extenuante que o silêncio ruidoso sobre essa Europa (sem corpo e espírito) só é comparável com estes anos de cárcere do sr. Sócrates. Domingo, o "sapatinho está na chaminé". Mesmo que o ruído, a agitação e as palmadinhas nas costas sejam frenéticas, a admoestação será de boa nutrição. As lamentações não podem ficar em casa! Mesmo que este país, engasgado & sem remendo possível seja uma deliciosa balbúrdia, a ("petit") vassourada virá por bem. Assim o queiram Vossas Mercês!
Sobre o movimento dos candidatos & suas novenas:
Vital Moreira: redactor das mais extraordinárias diatribes (palavrosas) publicadas. O lente engasgado, o irritado professo do sr. Sócrates em remanso europês, fez o que se esperava. Muito pouco lhe saiu perfeito, nessa lide que não é a sua. A sua estatura de académico foi liquidada, coisa que Vital não tinha pensado. Mesmo que ganhe, o desastre virá por si. O que disse sobre as classes profissionais, nos quatro anos de terror governamental, desqualificam-no. Ninguém esquece!
Paulo Rangel: vaidoso, arguto q.b., este curioso liberal debruçado no regaço da dra. Manuela, à falta de apoio caminhou sozinho. Ganhou em respeito, o que perdeu em propostas. O pântano de ideias que é esta Europa salpicou-lhe os efeitos decorativos caseiros. Durão Barroso (ou o que ele representa) fez-lhe perder a autoridade e a pronúncia anti-governo. Ganhou-se um deputado europeu, perdeu-se um excelente leader parlamentar. A incompetente dra. Manuela está salva!
Ilda Figueiredo: esforçada, séria, faz a autópsia da Europa com a ladainha costumeira. Seja em que media (ou palco) for, as artes discursivas nunca variam. É admirável como se sabe sempre o que vai dizer! Um cansaço, a sua agitação. Fez parte da maior (e única) arruada anti-governamental. Manteve, com apoio inestimável de Jerónimo Sousa, o eleitorado do seu partido. Sabia-se que seria assim, mas a dúvida era impiedosa.
Miguel Portas: mais solto, mais estudioso, mais esclarecido. Consente o debate e o contraditório (o que é raro), de modo informado e crítico. O único que disputou importantes (a crise financeira!) questões europeias, em termos globais. Esteve quase sempre bem. Fez subir a votação do seu partido, o que será sempre uma curiosa desinquietação para alguns iletrados de direita. Um vencedor, antecipado.
Nuno Melo: actor de feira, num palco de gente. Descabelado! A chateza e o palavrório dos seus putativos ataques a Vital (ou Rangel) destoam do (bom) trabalho parlamentar que faz. Sem lisura nem argumentos, mantêm (discretamente) essa curiosa espiritualidade anti-Europa. Uma grande incógnita, essa sua arremetida posição.
Boa reflexão!
quarta-feira, 3 de junho de 2009
PORTUGAL DOS PEQUENINOS
«Considero haver algumas analogias entre um pensador como o autor de «Esta grande época ainda tão pequena» [Karl Kraus] e o nosso João Gonçalves. Ambos convocam o escândalo do julgamento e a errância de caminhos. Ambos marcam a sua época em meios de expressão fora do «sistema». Um com uma folha de jornal, o Die Fackel, o outro com o seu blogue Portugal dos Pequeninos. Como escreve na ante-câmara deste livro:«Um blogue pode ser mais fidedigno do que uma notícia. E, seguramente, mais livre.» Ora a liberdade de espírito é a grande característica desta obra, como se fosse a sua verdadeira impressão digital.» [José Medeiros Ferreira, in prefácio ao livro "Portugal dos Pequeninos" - via João Gonçalves]
Hoje (dia 3), apresentação do livro de João Gonçalves - Livraria Bertrand (Chiado), pelas 18.30h - por José Pacheco Pereira.
terça-feira, 2 de junho de 2009
LEILÃO NO PALÁCIO DO CORREIO VELHO
Decorre entre o dia 3 (amanhã) e o dia 5 (sexta-feira), pelas 10.00h na Calçada do Combro, 38 A (Lisboa), um Leilão de Livros e Manuscritos:
"Arte, Autores Estrangeiros sobre Portugal, Geneologia, Heráldica, Literatura Portuguesa dos Séculos XIX e XX, com destaque para importantes obras de Camilo, Antero de Quental, Eça de Queiroz e Neo-Realismo Português. Notável Espólio Fotográfico do Marquês do Soveral" [in Palácio do Correio Velho]
Catálogo online AQUI.
domingo, 31 de maio de 2009
A MINISTRA – MIGUEL REAL
"Uma mulher seca, que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação; uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social; uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses; uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito, mas o medo em seu redor; uma mulher ensimesmada, arrogante, feia e triste, que ama a solidão e despreza os homens; uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância; uma mulher que ambiciona ser Ministra". [Miguel Real, A Ministra, Quid Novi - via LER]
Miguel Real (aliás, Luís Martins; n. 1953), professor de Filosofia [da Escola Secundária de Mem Martins] e Mestre [tese sobre Eduardo Lourenço], estudioso da cultura portuguesa e da tradição ou Alma Portuguesa [dizemos, nós], ficcionista [leia-se "O Último Minuto na Vida de S.", 2007], crítico literário, ensaísta [ver o notável, "Portugal – Ser e Representação", 1995; e o imprescindível, "A Morte de Portugal", 2007], amante da leitura e dos livros, publica já em Junho o seu novo livro, com o título "A Ministra" [edição da Quid Novi].
Nota: Miguel Real [ler entrevista] colabora no Blog, Prazeres Minúsculos.
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