terça-feira, 23 de junho de 2009


SOPHIA DE MELLO BREYNER - 5 ANOS DEPOIS

"Oiço a voz subir os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha
" [Sophia]

"O meu pai [Francisco Sousa Tavares] participou na Revolta da Sé. E a minha mãe disse: "Hoje vamos fazer uma brincadeira muito engraçada". Era irem dormir para a cave de uma amiga. "Então a cave estava cheia de colchões, porque nessa noite ia rebentar a revolta e podiam ir a nossa casa à procura do meu pai. Vi o meu pai de uniforme! Os civis que aderiam também deviam estar de uniforme para entrarem nos quartéis. O meu pai era extraordinário. Era um cavaleiro andante. E a minha mãe era uma pasionária despertada por ele. 'Sou casada com o Dom Quixote', escreveu ela ao Jorge de Sena. E a Luísa lá na cave: 'Ó menina, os seus pais são doidos varridos. O que é que a gente está aqui a fazer?"

"As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso
" [Sophia, Granja, 31 Agosto 1943]

"De repente ouvia-se uma voz: Onde está a Sophia? Não havia Sophia, mas o ar era fresco como se atravessássemos uma alameda de tílias." [Eugénio de Andrade]

"Não há dúvida que os deuses gostam de si, pelo menos tanto como os mortais." [Miguel Torga]

in No Mundo de Sophia, jornal Público, P2, 21 de Junho 2009