quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


EDUCAÇÃO: dias amargos, gente inútil (II Parte)

Eis, a partir daqui, como poderia ser seriamente discutida a profissão docente, a sua problemática, o enquadramento regulamentar e a sua avaliação institucional. Mas sem qualquer seriedade, o ministério e o governo com o apoio de um grupo, quase sempre apoiado na ourivesaria do regime (o ISCTE, curiosamente agora fundação, com o justificado lente Rui Pena Pires à cabeça), com muita prosápia e pouca modéstia prefere instalar o caos na Escola que pensar ou ponderar tudo. A saturação é, actualmente, de rara revolta e a licenciosidade das medidas tomadas e a tomar, é um study case para a teoria política e o sistema das organizações.

O governo, com a meritíssima graça da Presidência da República, ou não tivesse por lá o senhor David Justino e não fosse ouvidor escolar do dr. Cavaco esse inefável Marçal Grilo (o póstumo Moreira Baptista da Gulbenkian), com igual alistamento de ex-Presidentes (Sampaio e Soares), com a hipócrita cavalaria universitária (novos lentes) que ao longo de anos formatou o ensino e a educação indígena (caso sinistro é da Maria do Céu Roldão & outras luminárias do eduquês doméstico), não consente qualquer tipo de reformulação.

A digestão opinativa de alguns levianos indígenas nesse mister renderá decerto muito emprego (próprio & alheio), mas para além da arruaça e calúnia que todos os dias proferem, nada consente que se esteja presente uma autónoma e séria reflexão sobre o sistema educativo e os docentes, assunto que nunca publicitaram. No invés, a chateza é sim estudar, reflectir, avaliar, argumentar. Cansa muito ser cidadão íntegro, nesta paróquia enternecedora do eng. Sócrates & amigos. Não legitima ninguém e apenas vergasta os seus preclaros obreiros. Ao que parece, a receita para obter a licença de uso e porte de opinião é estar a sebenta política validada (avaliada) pelo sarapatel da actual União Nacional, a coberto dos amestrados & afectuosos do eng. Sócrates. Coisa de fazer inveja ao clássico prof. Marcelo Caetano.

E se assim não for, ninguém está a salvo das ameaças do regente do reyno e do seu pontificado. Siga-se, para demonstração, a ladainha e apure-se o vício desses ridículos vassalos: reparem no rigor dogmático do indigente José Lello, durante os seus estapafúrdios televisivos; pondere-se na paródia que é seguir o pensamento e saber educativo do ex-sindicalista João Pedreira, nessa sua tournée diária nas TV’s; leia-se as empasteladas croniquetas da inconsolável beata socrática Fernanda Câncio sobre a infalibilidade do Papa Sócrates (matéria de fé) e da doutrina ensinada quase sempre de uma religiosidade analítica irresponsável e provocadora; tenha-se em atenção esse farejador de tragédias históricas, mas sempre remansoso no seu emprego doméstico, o limpo e delicado Rui Ramos, oriundo da plumitiva e militante universidade onde, presumidamente, além de "cursos de apontamentos e fotocópias" nada se passa de substantivo, interessante ou reformador; complete-se a comédia com os triviais escritos de António Ribeiro Ferreira (em tempos com vindimadas "estórias" no jornalismo de Coimbra), onde na vexata question da educação segue (em regular ignorância) o reboliço épico & ternurento da obra (nunca por si exposta) da sra. Lurdes Rodrigues.

Para esse curioso grupo farcista, bem como para os neófitos professos da "nova esquerda" (velha direita, entenda-se), a "defesa" de Lurdes Rodrigues é uma questão de emprego, de orfandade, de requinte fradesco, de azedume romântico, de ociosidade, de copiosa ignorância. Não há nada de ingénuo e íntegro, por ali. Apenas gente inútil e de vida amarga.

EDUCAÇÃO: dias amargos, gente inútil (I Parte)

É fácil a oratória & o palanfrório contra as "corporações", o funcionalismo público ou a canalha. Está – sempre esteve – na moda. Nos dias d’hoje, a sabatina calha aos professores e educadores, aliás conforme a tradição em tempos de crise (económica, social e de valores). O professorado regularmente foi perseguido, injuriado e humilhado, sempre a despeito do seu único "crime": o ter investido no estudo, nas suas qualificações e no trabalho socialmente honesto. Foi assim na Monarquia, continuou covardemente na I República e a investida definitiva e repressiva dá-se já durante o Salazarismo. Hoje regressa concludentemente com o governo do eng. Sócrates.

Sejamos simpáticos: um grupo de curiosos "educadores" ligados à União Nacional dos interesses & corporações instalados na paróquia implodiu – de vez – com o ensino, a educação e a Escola Pública e, no acto, desembestou publicamente contra a classe docente, essa putativa "massa igualitária e anónima". Já – AQUI, AQUI, AQUI ou AQUI – apresentámos a redacção contra tal afadistada investida, portanto não voltaremos a tal moléstia.

Com a sra. Lurdes Rodrigues e os seus dois gnomos à cabeça, presumivelmente sustentados numa "imaculada" teoria de pronto-a-vestir educativo nunca enunciada (ex-ante) eleitoralmente ou conhecida na razão superior da sua operacionalidade entre os países civilizados, surgiu uma brigada trauliteira de gente inútil, habilidosa na encenação e provocação política, generosos na ignorância, moralmente irresponsáveis. Que entre o apoio a tal gente se encontrem sinceros "reformadores" do sistema de ensino e educação, insatisfeitos com o modelo existente na Escola, não é inédito nem impossível. Porém é cansativa a esfarrapada argumentação sobre a avaliação e o seu dogma, deixando de fora todos os aspectos críticos sobre a Escola (como p.ex., os objectivos educacionais, a administração e gestão escolar, a matriz curricular, o trabalho pedagógico, a formação de professores, etc.), dogma esse onde tudo e todos têm de ser avaliados, crença irracional presente na tirania do ter que ser aprovado sempre pelo outro a cada momento (A. Ellis, 1971). Até porque o modelo que sustém a doutrina é insustentável, quer do ponto de vista de uma escola de qualidade quer como organização institucional.

A literatura sobre o tema "avaliação de desempenho dos professores" não permite argumentar positivamente o construído actual do modelo de Lurdes Rodrigues & João Freire. Muito pelo contrário, conforme os vários conflitos organizacionais patentes e que dia-a-dia ocorrem e teimam em desocultar. Mesmo o arrazoado conceito teórico de "profissão e profissionalidade docente" aplicado (uma justificação constante para a miséria do modelo) não permite inferir qual o perfil do professor (até pelo processo de fragmentação em curso) a avaliar e a sua regulação, apenas justifica os motivos da desqualificação e proletarização da profissão, por ora encetada. De facto, tal ideologia do profissionalismo (conforme, e bem, Lurdes Rodrigues critica no seu livro Sociologia das Profissões, Celta, 2002), que curiosamente mais parece ter saído de uma velha e desadequada "sociologia das ocupações", pelo modelo a implementar pretende apenas legitimar e efectuar a desprofissionalização docente, em tempos de emagrecimento do Estado (assunto que o pouco escrupuloso Mário Soares não relaciona com o actual ataque feito aos docentes, passe a sua intenção e graça política de combate ao insidioso neoliberalismo) e onde, via ECD, a avaliação tem lugar central.

[ver a propósito da questão da profissionalização docente, entre outros: A. Nóvoa, C. De Lella, C. Dubar, C. Gauthier & M. Mellouki, C. Maroy, Contreras, E. O. Shiroma, K. Densmore, L. Kreutz, Lortie, M. F. Enguita, M. Ludke, M. T. Estrela, M. Tardif, P. Bourdieu, P. Perrenoud, Pochmann, R. Bourdoncle, R. Canário, V. Isambert-Jamati]

[continua]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008


ESTA NOUTE ... ESTAMOS ASSIM!

"sou eu que te abro pela boca,
boca com boca,
metido em ti o sôpro até raiar-te a cara
"

Herberto Helder

LIVRARIA POESIA INCOMPLETA

"O ar confunde os hálitos das mais apetitosas bocas" [A. Breton]

No mister de não ter pressa, nesta quintarola do eng. Sócrates, convém "arranhar" muitas "peles delicadas" e tactear por aí. O verbo, a boca e a semente, dispõem sempre sentimentos d’alma. Na rua Cecílio de Sousa, curiosamente ele mesmo livre-pensador, o triângulo luminoso do canto da "Livraria Poesia Incompleta" amassa a métrica, a sonoridade e a obra dos primeiros e únicos versos. Com golpes docemente furtivos, que "a poesia é a distância mais curta entre duas pessoas". Uma livraria portuguesa de poesia e só poesia, com Mestre Changuito à V. mercê.

E, para nos desafogarmos em cantos e amores “doudos”:

"é sempre o mesmo dia, é sempre a mesma noite,
o tempo, não o inventaram ainda,
o sol não envelheceu,
é idêntica a esta e outra neve,
sempre e nunca é o mesmo,
aqui nunca choveu ou chove sempre,
tudo está sendo sem ter sido nunca …
" [Octávio Paz]

Livraria Poesia IncompletaRua Cecílio de Sousa, nº11 [entre o Príncipe Real e a Praça das Flores] à V. espera.

domingo, 7 de dezembro de 2008


António Alçada Baptista (1927-2008)

"Viajante, ensaísta, memorialista (Peregrinação Interior), editor (na Moraes), ficcionista (O Riso de Deus) – o António Alçada era sobretudo um conversador e um sedutor. Ele seduzia as pessoas com quem se cruzava ao longo da vida, e seduzia os seus leitores com aquele tom suave, como é a inocência da sua obra. Estabeleceu uma ponte entre os dois regimes, em 1974 (as suas Conversas com Marcelo Caetano foram uma última tentativa de ler o regime e O Tempo e o Modo uma forma de o mudar). Tinha uma inteligência muito intuitiva, o que o levava a pensar com leveza sobre coisas profundas. E chegava antes dos outros a conclusões que poucos hoje lhe atribuem. Isso fazia dele um homem generoso de quem era difícil não gostar. Muita gente lhe deve muita coisa".

F.J.V., in A Origem das Espécies

sábado, 6 de dezembro de 2008


In-Libris – Montra de Natal

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de bons livros antigos e estimados de poesia, literatura, culinária, botânica, etnografia, artes, monografias, etc.

Referências: Actas do Colóquio de Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos, 1958 / Equitação e Hippologia, pelo Conde de Fornos d’Algodres, 1903 / o Jardim. Manual do Jardineiro-Amador, de Joaquim Casimiro Barbosa, 1892-3, III vols / O Novo Tratamento Naturalista, de F. E. Bilz, s.d., II vols / Curiosidades Estéticas, de António Botto, 1924 / Authentic Memoirs Concerning the Portuguese Inquisition, por Archibald Bower, 1761 / Da Vida e Morte dos Bichos, s.d., V vols / Os Lusíadas de Luiz de Camões, Ed. III Centenário, Porto, 1880 / Os Ciganos de Portugal, por F. Adolfo Coelho, 1892 / Historia da Prostituição em todos os Povos do Mundo, de Pedro Dufour, 1885-7, V vols / Historia das Inquisições de Itália, Hespanha e Portugal, 1822 (2ª ed.) / História da Cidade do Porto, 1962-5, III vols / História da Tauromaquia, Lisboa, 1951-3, II vols / A Formosa Lusitania, versos de Lady Jackson (Catarina Carlota) [camiliano e raro], 1877 / Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa, IV vols / Historia Natural Ilustrada, por Júlio de Matos, 1880, VI vols / Caravela ao Mar, de Pedro Homem de Melo, 1933 / O Rapaz da Camisola Verde, de Pedro Homem de Melo, 1954 / Despedidas, de António Nobre, 1902 / As Paróquias Rurais Portuguesas. Sua Origem e Formação, pelo P. Miguel de Oliveira, 1950 / Cancioneiro de Lisboa (sec. XIII-XX), por João de Castro Osório (intr. e notas), 1956 / À Memória do Presidente-Rei Sidónio Paes, por Fernando Pessoa e outros letrados, Porto, Ed. Petrus, s.d. / Últimos Echos de um Violino Partido, de Alfredo Pimenta, 1941 / Portucale. Revista Ilustrada de Cultura Literária, Porto, 1928-66, XIII vols / Operas. Dir. de Mário de Sampaio Rieiro, IX vols (80 fasc.)

A consultar on line.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


COM OS PROFESSORES – DIA DE GREVE NACIONAL

Em apoio & mantimento à luta dos Professores; em defesa da Escola Pública e contra o despotismo iluminado dos que têm sempre razão e nunca se enganam; em defesa do Ensino sério, de qualidade e rigor, contra a proletarização da docência; em defesa da Educação, pelo exercício da cidadania plena (sem medo) e contra a calúnia dos rebanhos muito ajeitadinhos ao poder; em defesa da honra e dignidade contra as ameaças dos eternos vendilhões com assento nas corporações de interesses. Pela santa liberdade.

Nós moralmente limpos ...!

 Lopes Graça - Clamor

LIVRARIA ARTES & LETRAS – livros de temática Açoriana

A sempre única livraria Artes & Letras, sitiada no Largo Trindade Coelho, nº3-4 (Lisboa) e quasi pegadiça da Olisipo, frequentada por gente amante dos livros & curiosos bibliófilos, tem neste momento à venda uma AÇORIANA muito estimada. Ocasião para, num restinho de passeio, lá passarem, descansar e cobiçarem as peças raras e esgotadas sobre os Açores.

Algumas referências: Almanaque Açores para 1955 [coord. Manuel Joaquim de Andrade com colaboração obsequiosa de distintos escritores e poetas açorianos e continentais], 40º ano, Angra do Heroísmo, 1955 / Silhuetas biográficas e históricas, de A. Virgínio Baptista, Angra do Heroísmo, 1931 / Carta Constitucional da Monarchia Portugueza, decretada e dada pelo Rei de Portugal e Algarves D. Pedro, Imperador do Brasil, aos 29 de Abril de 1826, Angra, Imprensa do Governo, 1830 [um dos primeiros impressos dos Açores, provavelmente o primeiro. A primeira tipografia dos Açores foi iniciada em 1830, durante o Governo da Regência na ilha Terceira, com a designação de "Imprensa da Prefeitura" ou "Imprensa do Governo"] / Colecção Camoniana de José do Canto [pref. Hernâni Cidade], Imprensa Nacional, 1972 / Annaes da Ilha Terceira, de Francisco Ferreira Drummond, Angra do Heroísmo, Imprensa do Governo, 1850, IV vols / O dia 11 d'Agosto de 1829 ou a victoria da Villa da Praia. Poema heroico offerecido ao illustrissimo e excellentissimo senhor Duque da Terceira por António Luiz Gentil, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844 / A Fenix das Tempestades, renascida na de 15 de Outubro de 1732. Com hum discurso sobre a origem dos ventos, composta, e ordenada por hum anonymo [António Correia de Lemos, 1680-1747]. Lisboa Occidental, Officina de Joseph Antonio da Sylva, Impressor da Academia Real, 1732 (raro) / Cruzada Nova. Revista nacionalista de arte & doutrina [revista integralista, com dir. de Correia de Melo e Dutra Faria], Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade, 1928. 8 Fascículos / Marienses (Trovas açoreanas), por Mendo Bem [pseud. Francisco Joaquim Moniz de Bettencourt], Lisboa, 1899 / A casa fechada. Novelas, por Vitorino Nemésio, Coimbra, 1937 / O pão e a culpa. Poemas seguidos de uma versão do Dies Irae, de Vitorino Nemésio, Lisboa, Bertrand, 1955 / La voyelle promise. Poëmes, de Vitorino Nemésio, Lisboa-Paris, Edições Presença-Éditions R.-A. Corrêa, 1935 / Folhinha da Terceira para o anno de 1832, de Luz Soriano, Angra, Imprensa do Governo, 1832

A consultar [se o site estiver conforme], AQUI

COLECÇÃO ESCARAVELHO DE OURO

... A sua [Joaquim Figueiredo Magalhães] juventude impressionou-se com os intelectuais, esses seres 'flamejantes'. Queixavam-se todos de que tinham obra mas não quem os editasse. Ele ouviu-os e aventurou-se. Começou por edições soltas, entre elas O Barão de Branquinho da Fonseca. Com dinheiro de família, funda em 1950 a primeira editora, a Édipo, lançando a colecção Escaravelho d'Ouro. "Os nossos intelectuais, na altura, entendiam que a literatura policial era secundária, de fancaria. Mas há livros notáveis: o Chandler, o Dashiel Hammet, a Agatha Christie, o Simenon, o Maurice Leblanc, fui eu que os editei ...

in jornal Público (01/12/08): "Joaquim Figueiredo Magalhães. O último livro da Ulisseia s.f.f.", por Catarina Portas.

Joaquim Figueiredo Magalhães (1916-2008)

Nasceu no Porto a 5 de Agosto de 1916 o fundador da incontornável editora Ulisseia (1948). E são (ainda) dias preciosos aqueles que os seus livros (e o tempo através deles) nos recordam.

Estamos todos gratos por ter tido Steinbeck, Céline, Beckett, Durrell, Vailland, Hemingway, Yourcenar, Greene, Henry Miller, Kerouac, Mircea Eliade, Evelyn Waugh, Ezra Pound, Apollinaire, Pasolini, Boris Vian, Morávia, Mailer, Dashiel Hammett e, evidentemente, os portugueses Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Herberto Hélder, Fiama Hasse Pais Brandäo, Manuel de Lima, José Blanc de Portugal, Cardoso Pires, Alexandre O’Neill, Vergílio Correia, Raul de Carvalho, António Ramos Rosa, Sttau Monteiro, Melo e Castro, Carlos de Oliveira, José Marmelo e Silva, Manuel da Fonseca, Faure da Rosa, Eduardo Lourenço, na boa e saudosa colheita de livros da Ulisseia. E que nós, em pecado bibliófilo, possuímos e não libertamos. Bem como a revista Almanaque, de muita memória, como AQUI nos referimos.

Um bonito texto de Catarina Portas sobre essa admirável figura que foi Joaquim Figueiredo Magalhães, foi publicado pelo jornal Público (1/12/2008) e pode AQUI ser lido.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008


JOSÉ MANUEL SILVA e o Conflito na Educação

"O Governo está completamente equivocado na forma como está a gerir o conflito com os docentes. Na verdade, o entendimento necessário não é com os sindicatos, mas com os professores. Bem pode o presidente da FENPROF acentuar que são os sindicatos que representam os professores, é verdade, mas só representam alguns e já há muito tempo que a dinâmica de rejeição das políticas e da atitude do ME para com toda a classe ultrapassa largamente a acção dos sindicatos.

Se o Governo quer pacificar o campo educativo, e só admito que o faça pelo diálogo, tem de perceber que o obstáculo não são os sindicatos nem os professores, mas a própria equipa do ME. Se o Primeiro Ministro quiser ser parte da solução e não do problema tem de demitir rapidamente a equipa que dirige o ME, por uma razão simples e que é do domínio das teorias da liderança e se fundamenta nos princípios da inteligência emocional.

Quebrou-se totalmente o vínculo emocional que liga os professores ao Ministério e o que devia ser ressonância (Goleman et al, 2003) tornou-se dissonância, o que impede qualquer entendimento ou colaboração. As emoções tóxicas tornaram-se dominantes e inviabilizam o restabelecimento da confiança e do diálogo.

Tal como na Saúde Correia de Campos percebeu isso e o Primeiro Ministro também, é forçoso que no conflito da Educação se entenda que não há saída para o problema sem mudança de caras e de procedimentos. Os professores perderam, há muito, a confiança em quem supostamente os devia liderar, e quando os líderes perdem a confiança dos liderados, deixam de o ser.

Espero, sinceramente, que não se caia na tentação de fazer da anunciada greve do dia 3 uma forma de tentar partir a espinha ao movimento de contestação docente, e que haja a iniciativa política suficiente para encontrar uma solução que resolva o problema de fundo e não qualquer cosmética de ocasião ..."

[José Manuel Silva, in Campo Lavrado]

Nota: o Dr. José Manuel Silva é militante do PS, foi presidente da Comissão Concelhia do PS em Leiria e candidato à sua Câmara Municipal. Ex- Director Regional de Educação do Centro (DREC), é professor e director da Escola Superior de Educação de Leiria [onde está a ultimar o seu projecto de investigação em liderança escolar, sendo um estudioso de questões sobre a gestão e administração privada e pública].

domingo, 30 de novembro de 2008


MONEY

"Nada de nosso temos senão o tempo, de que gozam justamente aqueles que não têm paradeiro" [Baltasar Gracián]

Aos herdeiros do tempo-mercadoria, lamúria justamente marxiana, sem o poeta Groucho comungando, suave de poesis em língua saburrosa, pelo lado errado e conformista das coisas, que o antigo pregador das barbas registou. Ao dr. Cavaco Silva, jaculatório de êxtase económico, descerrando o urbi et orbi da crise indígena, pois famosos eram os tempos do oásis passa-montanhas. Ao dr. José Lelo, habilidoso naturalista, disfarçado de economista que a RTPN nos envia em doses regulamentares, pela calada da noute, que o serão está frio. Ao sugestivo Correia de Campos, acarinhando um qualquer Outubro em frémitos anedóticos e com zelo de empregado do regime, com sede no Largo do Rato e presépio no ISCTE. Ao dr. Dias Loureiro – evidentemente – pela muita impressionante mágica da teoria financeira permanente, que Trotsky está ali (fatigadamente) à espreita, evidenciada pelo referencial de competência respectiva, apesar da cor do dinheiro enganar a ortografia, o rosto e o génio.

A moi-même, que vamos tão longe quanto o Domingo engana.

Bom dia!

Ensino, mentiras e videotape

"O jornalismo é uma operação a prazo em que o trigo também não existe em ideia, mas em que, realmente, há grande debulha de farelo" [Karl Kraus]

1. O aparecimento em carrossel de membros do Ministério da Educação & os seus habituais apparatchiks nos media, gotejando incentivos à desvairada "reforma" de ensino com que nos brindaram estes quase 4 anos, transformaram a semana finda num espectáculo de informação, desinformação e ocultação, invejável. De tal modo as articuladas benzeduras postas a correr por essa curiosa gente foram ridículas – tão assombrosa foi a fantasia, a confusão e o desnorte – que a náusea tomou definitivamente lugar, mesmo entre os que, anteriormente, estampavam singulares "panfletos" em louvor e oração à obra de N. Sra. De Lurdes Rodrigues. Numa única semana, o reportório de gaffes, insolências & demais desvarios permitiram desvelar o carácter da gente que está à frente do ministério, dito de Educação. E justifica o tom trauliteiro dos seus apaniguados, alguns muito chorosos e saudosos do velho Botas de Santa Comba. É a vida!

2. Depois da semana anterior, Maria de Lurdes Rodrigues (perigosa anarquista, em dormência) nos ter entrada pela casa dentro, via TV, em oráculos didácticos e cantos épicos sobre assuntos que não conhece nem sabe (trata-se de educação e ensino, evidentemente), esta semana os jornais (D.N. e Público) auxiliaram a "festa" com um animado perfil da senhora, simples e pleno de fogo "revolucionário". Para os profanos da revolução, colher a pregação & a epopeia de Lurdes Rodrigues é, certamente, uma curiosa aventura jornalística para assombrar e dar a conhecer aos meninos dos Magalhães, mas para iniciados um simples arcaísmo de juventude, sem mais.

De entre os escribas que conduziram o perfil da extinta ministra da educação, pelo esplendor romântico e vigor varonil, está a prestante Fernanda Câncio [DN, 22/11/2008]. A bela e curiosa trovadora do regime – uma descoberta que a tipografia indígena espalhou e a blogosfera anichou – viu em Lurdes Rodrigues uma "estóica mas sensível, dura mas suave, distante mas sedutora" senhora. Talvez por isso mesmo resolveu enriquecer a croniqueta, grifando-a com um sólido e urbano título: "Os bons vencem sempre". A linguagem pitoresca e formosa da doce Câncio não merecia tão generoso letreiro.

Seja como for, a lista de mazelas e rimas forçadas, deram a conhecer uma caridosa quanto divertida anarquista, que o seu compadre João Freire um dia desenganou na militância, mas que se pode consultar (para quem for jornalista e cultive escritos prosaicos) na expiada revista A Ideia, procurando uma sua qualquer reflexão ou contributo sobre as ideias libertárias ou o anarquismo em geral. Não vale – já se sabe – o esforço crepitante de receber e enviar cartas ou o hercúleo trabalho de cintar o periódico. Isso, não!

Fica, porém, por ensaiar a um jornalista sério – talvez quando a Lurdes Rodrigues sair definitivamente do palco do ministério – a vexata question de se saber, o seguinte: quanto custou aos contribuintes a atabalhoada reforma educativa, com o ECD à cabeça? se os seus encantadores e sábios autores fazem parte do pessoal do Ministério da Educação ou se foi uma encomenda em outsourcing? e se foi comissionado, quem assinou? Agradecia-se a presença de um jornalista, s.f.f.!

sábado, 22 de novembro de 2008


O Livreiro Coleccionador

"O coleccionador, o livreiro e o leiloeiro disputam e povoam o alfarrabista José Vicente. O aficcionado colecciona obras sobre o concelho de Oeiras, o livreiro possui quatro estantes de dicionários bibliográficos e o leiloeiro esmera-se com os catálogos. Negociou por três anos uma gravura de Paço d'Arcos, pela qual pagou uma "fortuna". Debruça-se sobre obras de referência antes de comprar o que vende na Olisipo. Realizou-se por ter em mãos a segunda edição dos Lusíadas, que leiloou. "Não se faz livreiro quem não gosta de livros", sentencia aos 61 anos, 48 dedicados à profissão.

Os dicionários bibliográficos são auxiliares fiéis de José Vicente. O Inocêncio Francisco da Silva para a literatura portuguesa, o Palau para a ibérica e o Brunet para a francesa. "A maioria dos livros chegam através das famílias dos coleccionares, que desejam desfazer-se das bibliotecas depois da sua morte. É preciso investigar as obras para avaliá-las. Há livros antigos que não têm valor. Quando os compro, introduzo no sistema informático não só as características da obra, mas também um verbete criado por mim".

Livros de viagem, astronomia, genealogia e descobrimentos moram nas prateleiras da livraria Olisipo – homenagem à editora de Fernando Pessoa e António Botto. Os coleccionadores que a frequentam são leais, alguns diários. "Há coleccionadores em bruto e por temática. Todos valorizam o cheiro a velho, que sabe melhor, a textura do papel, o tipo da encadernação e o que é difícil de encontrar". Fechados numa cristaleira, como prata da casa, exemplares únicos como Viagem pela Arábia, obra holandesa de 1774, a venda por 2.500 euros, e um Comentário ao Direito Espanhol de 1585 por 800 euros. Neste ano já editou três catálogos com as obras da Olisipo, com tiragem média de mil exemplares.

As bibliotecas são um contínuo, garante José Vicente."Se algumas estão a rarear outras estão a formar-se por novos coleccionadores, mas estão escondidas", ressalva. O último leilão que organizou, como consultor de livros e manuscritos, tinha entre suas pérolas Os Lusíadas, edição de 1584. e uma Bíblia de 1539, com encadernação de época em carneira com fechos. Em 2005 publicou O Valor do Livro Antigo em Portugal, onde constam os livros aqui leiloados nos séculos XV e XVI. Para o ano está prevista a publicação do segundo volume, a abordar o século XVII. "Sentir-me-ei completo se conseguir publicar esta obra até os dias de hoje, é um contributo para a informação sobre livros antigos", orgulha-se José Vicente"

In REPORTAGEM: "O Amor de Papel dos Alfarrabistas", DN Gente, DN, 22/11/2008, p. 5. Inclui, ainda, a reportagem (com alguns erros tipográficos) do DN, textos de Isadora Ataíde e fotos de Orlando Ribeiro, sobre o oficio dos estimados livreiros-alfarrabistas, João Lopes Holtreman, Nuno Gonçalves e José Manuel Rodrigues.

NOTA: dispusemos online no BIBLIOMANIAS, 3 (três) textos produzidos em memória de JOSÉ MARIA ALMARJÃO [1920-2008], para consulta futura e em gratidão ao Homem e ao Alfarrabista. Consultar, AQUI.

E depois da maré vazar?

texto de São José Almeida, Público, 22 de Novembro de 2008, p. 46

PATÉTICO

Duas almas penadas – Dias Loureiro e Judite de Sousa - mostraram, ontem na RTP1, o talento dos "bons" tempos do governo do dr. Cavaco Silva. Tivemos a sorte de ouvir a voz poderosa de Dias Loureiro sobraçando a pele de um administrador de importantes empresas, e em especial da SLN, mas que mais sugeria estarmos perante a doutrina curiosa do meu merceeiro (que o amigo Joaquim de facto tem, e muita) sobre as suas mercadorias do que face a uma autoridade (e génio) no métier empresarial.

Dias Loureiro, trémulo e escandalosamente assustadiço, brindou os ouvintes com uma máscara (já muito conhecida) de ignorância em todos os assuntos que lhe diziam respeito, perante a deferência piegas da sua colega Judite de Sousa. Foi patético seguir a excelência do método loureiriano de administração de empresas, onde ninguém entendeu o que ele por lá fazia senão que tinha encontros espapaçados (e a sós) com o inefável Oliveira e Costa - "brilhante, muito inteligente, um trabalhador incansável", ainda segundo a propaganda do amigo e conselheiro de Cavaco Silva – e que num qualquer tempo assinava as contas da mercearia (o singular BPN), muito à boa maneira do que o meu distinto amigo Joaquim faz. E assim vai a Banca indígena!

O deprimente esclarecimento público de Dias Loureiro, ao que parece, estimulou a memória desses (também) curiosos António Marta e Miguel Beleza. Os amigos do sr. Cavaco Silva são bem estranhos e decerto não ficará por aqui a converseta. Resta saber como é que o politicamente "aprisionado" Presidente da República responde a este "oportuno" episódio que lhe caiu no regaço. Responderá na mesma moeda ao sr. Sócrates!? Ou passa!

ESTA NOUTE ... ESTAMOS ASSIM!

"se alguém respirasse e cantasse uma palavra,
e súbito fosse respirado por ela, fosse
cantado assim
de puro júbilo ou, quem sabe? de medo puro,
poria no termo o selo de si mesmo?
quem é que sabe onde fica o mundo?
"

Herberto Helder

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


O NOBRE DEPUTADO

"O Sr. Fernando de Sousa (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Lei de Bases do Sistema Educativo, que, em 1986, estabeleceu o quadro de referência da Reforma do Sistema Educativo, foi objecto de um consenso social e político graças a um processo de elaboração e formulação que o Partido Socialista assume e do qual se orgulha. Ao longo dos anos que se seguiram, apesar dos avisos e chamadas de atenção feitos pelos diversos partidos, sindicatos e outros órgãos representativos, aquele consenso inicial foi-se progressivamente perdendo até se atingir a situação actual de desconfiança, descrédito e conflito generalizados (…)

... em vez de planificação global e faseada, de concertação política e envolvimento dos parceiros educativos, assistiu-se durante os últimos anos à produção de um edifício legislativo e normativo abundante, mas incaracterístico, contraditório e sem um mínimo de coerência temporal (...) Por outro lado, a ausência de diálogo, amplo e sistemático, que seria exigível para o sucesso da execução da reforma, mas que se instalou como estratégia de actuação, conduziu-a a ziguezagues ditados por razões de conjuntura, de oportunidade política, de conveniência técnica e, não raras vezes, de mero interesse partidário.

O Sr. Laurentino Dias (PS): - Muito bem!

O Orador: - O cumprimento mínimo do dever de consulta às instituições representativas do tecido social ou dos parceiros educativos, a recolha de opiniões e a realização de algumas reuniões de debate após a publicação de normativos legais serviu apenas para tentar legitimar uma visão e um estilo de actuação tecnocráticos, que mais não pretendeu senão afastar a sociedade do debate e das decisões sobre as questões de fundo (...)

O PS já manifestou, por mais de uma vez, sérias dúvidas e reservas sobre a implementação da reforma. A sua filosofia subjacente implicava que o Ministério da Educação interviesse de forma coerente, concertada e programada em três áreas fundamentais: nos currículo, definindo em simultâneo os planos de estudo e os objectivos necessários para cada nível de ensino; na formação de professores, que, sendo determinante para o êxito global da reforma, deveria responder prioritariamente às necessidades de natureza pedagógica e didáctica impostas pelos novos curricula e pelos novos programas e docentes na sua relação com os pais e com a comunidade; na gestão e organização das escolas, propondo modelos administrativos menos ambiciosos mas mais adaptados à realidade das nossas escolas (...)

No sector das condições subjectivas, culturais e sociológicas da reforma, a estratégia oficial, neste domínio, tem consistido em institucionalizar a ambiguidade, a incoerência e o sentido do oportunismo.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Institucionaliza a ambiguidade quando impõe, por via gravosa, administrativa e autoritária soluções para os parceiros educativos com os quais proclama ser depois indispensável trabalhar (...)

O Sr. António Braga (PS): - É bem verdade!

O Orador: - No entanto, exigiu a excepcionalidade da retenção, gerando um sem número de equívocos junto das escolas, dos professores, dos encarregados de educação e dos próprios alunos.

Na formação contínua de professores, o sistema de "créditos" para a progressão na carreira subverteu os seus principais objectivos. O Ministério da Educação, ao não dar prioridade à formação nas escolas e às necessidades pedagógicas e didácticas criadas por uma relação de ensino/aprendizagem de tipo novo, abriu a possibilidade de uso indiscriminado de fórmulas ultrapassadas de transmissão passiva de "conhecimentos". Pretendendo contribuir para o desenvolvimento de uma nova cultura de escola, necessária para o desempenho de novos papéis do professor, e para um associativismo de projectos e de recursos acabou por asfixiar as iniciativas autónomas das escolas através de processos burocráticos, que lhes exigiu.

Institucionaliza a incoerência e o oportunismo quando faz dos professores, individualmente e como classe, o bode expiatório da sua própria falta de rigor e de capacidade política no cumprimento das finalidades da reforma.

(...) Se existem problemas, é porque "os professores não respeitam a identidade", "boicotam as claras orientações superiores em matéria de avaliação ou de assiduidade dos alunos".

Sr. Presidente, Srs. Deputados: o PS entende que chegou o momento de dizer "basta" a este estado de coisas. Entende que é urgente proceder-se a um balanço da reforma educativa, no quadro de uma análise independente das medidas e acções que têm vindo a ser implementadas. Entende também que é necessário reconhecer a dimensão política da insatisfação geral dos professores e das escolas façe à reforma.

Assim, o PS irá apresentar em breve, um conjunto de propostas necessárias para mudar a política educativa e salvar a ideia de reforma.

Aplausos do PS."

in Reunião Plenária de 22 de Junho de 1994, 3ª Sessão Legislativa (1993-1994), VI Legislatura.


BIBLIOTECAS

Joana Morais Varela

A directora da iluminada revista Cóloquio-Letras, edição da Gulbenkian, fertilizando a bela arte & a literatura indígena tantos anos a fio, numa sublime quanto apaixonada lealdade poética, foi dispensada do culto da obra e da qualidade do luxo, coisa que francamente o provincianismo da paróquia detesta. O portentoso duo Vilar & Grilo consentiu a ignomínia. E não satisfeitos com o tumulto instalado, nada incomodados com o desalento que resta entre os leitores da (singular) revista, avançaram para o "despedimento com justa causa" da Joana Morais Varela, a pretexto de susceptibilidades, presumidamente, mais ou menos prosaicas. O respeito e gratidão que se devem à directora da Colóquio – e que constituem a nobreza dos homens - não foram, decerto, contemplados. Mas não deixam de ser o genuíno sentimento dos seus leitores e admiradores. Obrigado, Joana!

"Cresce uma voz do nada para logo se calar. Suponho que o lugar de verdade para que somos remetidos é o ponto de silêncio, como se fala do ponto de fusão, como se fala do zero. Donde só é possível gritar: penso que gritas uma espécie de palavras ou de urros ou de silêncio, do silêncio mais escuro de que as vozes são capazes. Só pelo poço mais fundo da noite, na brecha última da última garganta a tua. Por isso essa história incrível.

(As histórias de amor são impossíveis: nunca se parte para nada e estamos sempre de volta à nossa perdição)"

[Joana Morais Varela, 19/11/1978, in revista Abril, nº 9, Novembro 1978, p.44]