Atrevimento ... muito atrevimento!"
A onda de assaltos e crimes violentos é uma coisa muito séria" [
Cavaco Silva]
1. Com o maior dos despautérios, muito bem alapado no sofá de Belém, o dr.
Cavaco, decerto ainda a refulgir da doce cooperação institucional com o medíocre governo de
Sócrates,
comunicou ao país a sua preocupação com a onda de assaltos e crimes que acontece por todo o lado, o que, de facto,
qualquer cidadão já tinha entendido. Imediatamente um curioso grupo de jornalistas e analistas da paróquia se curvou no
espectáculo presidencial e professou as apreciações elogiosas do costume. Com as orelhas a arder pelos ditames dessas criaturas inteligentes, o eng.
Sócrates, esta madrugada, utilizando a poeira do costume, respondeu e mandou de imediato e com grande aparato a polícia cercar a
Quinta da Fonte e a
Quinta do Mocho. Decerto os "assaltos e crimes violentos" que percorrem todo o país, segundo a douta opinião do nobre primeiro-ministro e do sr.
Rui Pereira, têm lá os seus mentores e a sua sede, o que não deixa de ser espantoso pelo
atrevimento.
2. As palavras de
Cavaco Silva sobre a "
onda de assaltos", logo seguidas pelo pedido de "
estratégias adequadas para combater a criminalidade violenta", são de enorme
hipocrisia. São grotescas e de mau gosto. Não será preciso recuar aos tempos de inefável
Laborinho Lúcio e do pitoresco descalabro das medidas então tomadas. Basta saber que a esfíngica figura que hoje brama por tais medidas de combate à criminalidade foi a mesma que assinou de cruz, braço no braço com o eng.
Sócrates, as alterações ao novo
Código de Processo Penal, o mesmíssimo que recomendou o
Código Penal como feliz conquista conta o crime e aquele que considera que a nova
Lei de Segurança Interna é um instrumento importante e, por isso,
não encontra "
razões para [a] não promulgar". E é o mesmo senhor que não nada diz sobre o estado comatoso da polícia e da GNR, sem meios humanos, materiais e jurídicos e perante a total
degradação e
paralisia da sua autoridade. Eis o nosso homem! Maior
atrevimento não é possível.
3. Com a lista de mazelas denunciadas pelo dr.
Cavaco, na mão e no ouvido, acorrem sempre à acção mediática os rapazes do costume. Os despeitados do
PSD e a garotagem do
CDS desataram num alarido artificial e cómico, sem que
nunca se ouvisse uma única palavra de crítica ou
simples lamentação sobre a posição do senhor presidente da República no apoio dado ao construído jurídico arquitectado pelo governo e que, fora outras razões substanciais, são importantes em toda esta questão. E mesmo que, por puro exercício que fosse, se aceite estar presente uma sustentada estratégia política de desgaste e cerco ao governo, levado a cabo pelo dr.
Cavaco e seus anões - enquanto a D.
Ferreira Leite espera em silêncio no recesso do lar - tal experimentalismo
insano e
provocador, com evidentes reflexos na vida dos portugueses e no país, não o permite aceitar. Não estamos num vale tudo.
Haja decoro!