segunda-feira, 16 de abril de 2007


Gustave-Henri Jossot (ou Abdul Karim Jossot) [n. 16 Abril 1866–1951]

Nascido em França, Gustave-Henri Jossot foi um ilustrador famoso, caricaturista virulento e escritor. Ideologicamente perto do anarquismo, participou em importantes revistas satíricas (como L'Assiette au beurre, 1900) e libertárias do seu tempo. Vai para a Tunísia e aí converte-se (1913) ao Islão, [adoptando o nome de Abdul Karim, no que foi entendido como «une réaction de l’âme contre la civilisation mécaniste»] tendo mais tarde (1923), e como resultado do seu individualismo contemplativo, seguido a corrente sufista (mística). Morre na Tunísia em 1951.

Locais: Gustave-Henri Jossot / Gustave-Henri Jossot (1866-1951) / Islamic Anarchism

A biblioteca particular de Calouste Gulbenkian

"Como se sabe, não sou um bibliófilo especializado, e nunca me aventuraria a comparar a minha aptidão e os meus conhecimentos aos seus, mas sou infalivelmente atraído por toda e qualquer expressão de arte e beleza, e esta atracção sempre me inspirou relativamente a todas as secções da minha colecção"

[Calouste Gulbenkian, Carta ao antiquário Marinis (Florença), Junho de 1948, in Retrato do bibliófilo, Expresso-Actual, 14/04/2007]

No dia 19 de Abril, o site da Biblioteca Particular de Calouste Gulbenkian será inaugurado. Ler aqui.

sábado, 14 de abril de 2007


Uma questão de Carácter

"O político tem como o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a caça" [L. A. Palmeirim]

A laboriosa carreira política do eng. Sócrates, pelo que se ouve e lê, estaria, segundo alguns iluminados, para continuar. A delicada questão da sua putativa via académica, inevitavelmente nunca existiu. É o que redizem por aí, em santa harmonia, modestos comentadores, o esculápio Menezes, dois ou três puristas de estratégia, o dr. Coelho e o cintilante spin doctor Luís Paixão Martins. Aliás o eng. Sócrates está aqui para nos salvar do mal, que como se sabe é impetuoso e infame. É assim no martírio da educação ou no festim do choque tecnológico, com ou sem OTA e TGV, entre o enrugado SNS do altíssimo dr. Campos ou no virote do castigado défice. Os aplausos do raminho afamado de politólogos do reino, em trechos enturvados de emoção, são o melhor momento deste Portugal perfeito.

Portanto, os amotinados da coisa pública, entre uns petiscos vulgares para correr o fastio da iteração do dizer político, regressam rápido, de régua e esquadro na mão, aos cenários masturbatórios da análise estadística. Não espanta, provavelmente, que nenhuma barrela política, que muitos com excessiva ingenuidade aguardam há muito, tenha lugar. Os sábios colunistas não o permitiriam, o indizível júbilo da canalha não consente e, mesmo, a PGR parece que não engendra desacato algum em toda esta história. Deste modo, questões como o "carácter", a "credibilidade" e a "confiança" do primeiro-ministro de um país europeu, não vêm ao caso. Há é que governar!

Este curioso prenúncio atesta bem como Portugal - o país mais atrasado de todas as Europas - está sujeito não só às epidémicas palavras do conciliábulo da classe dirigente ou dos seus patronos, como ainda se solidariza com o ludíbrio dos profissionais da política. A civilização nativa é uma lamúria episódica. Como o carácter ou a sua falta. O resto, sim o resto, é que nunca é uma perda de tempo. Salvé nobres cidadãos!

quarta-feira, 11 de abril de 2007


In-Libris - Catálogo Extra Ecologias Abril 2007

Curioso Catálogo da In-Libris (Porto), todo ele dedicado à temática da terra e da vida, com estimados e há muito esgotados livros de agricultura, botânica, zoologia, medicina tradicional, ciências naturais, alimentação e receitas caseiras, etc.

A consultar on line.

segunda-feira, 9 de abril de 2007


Mariano Gago e o caso Unigate

Um animado Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada) conferência de imprensa com factos confusos quando não obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório encerramento compulsivo da Universidade Independente. A vexatória questão Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.

Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a Universidade nos tempos idos de 1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar, permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E, aqui, reside a questão central em todo este caso Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.

Não nos ocupamos, pois, do caso da credibilidade (ou não) do senhor primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por Mariano Gago não é rigoroso nem justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o controle por parte da Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.

Assim, o facto de a UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar normalmente para registar, depois, um "calamitoso" e "lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma Inspecção Geral de Ensino que está dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia, não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo, exigem e aspiram. Saber que na velha Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do compadrio partidário e da caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga Mariano Gago, se para tal estiver interessado.

Homenagem a Adriano Correia de Oliveira [n. 9 Abril 1942 -1982]

"Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema ...
"



Hoje, dia 9 de Abril, na data de nascimento de Adriano Correia de Oliveira e em sua homenagem, a Câmara Municipal da Marinha Grande promove uma sessão, exposição e espectáculo musical à sua memória. Ao cantor e, principalmente, ao excelente homem que foi, e hoje muito injustamente esquecido, será feito o devido e justo reparo. Finalmente.

Leilão Amadeo - fotografias, livros, etc

Sob direcção de Luís & Bernardo Trindade (Lisboa) irá decorrer no dia 12 de Maio, pelas 16 Horas - no Centro Cultural de Belém - um Leilão de Fotografias, Livros e Equipamentos vários, sob o nome de Amadeo [de Souza Cardoso], com peças de grande valor e estimação. A não perder.

Pode consultar aqui, dentro de dias, o belíssimo e esmerado catálogo do leilão, que não pode passar despercebido. Um encanto, por demais. Tome nota.

Luiz Pacheco: entrevista ao Correio da Manhã

"Os óculos pesam nos olhos que cegaram. À cabeceira, o jornal 'Avante' e um livro de José Gomes Ferreira não são bibelôs, mas companhias. Luiz Pacheco, criatura de inteligência rigorosa, de lucidez sobrenatural, um livre pensador que disse e diz coisas que não são fáceis de serem ditas, está preso a um cadeirão, tem o robe vestido, o aquecedor ligado e uma manta para o frio não lhe magoar o esqueleto. Nasceu em Lisboa, na Rua da Estefânea, a 7 de Maio de 1925, pai de oito filhos - frutos de muitos amores, na vida escolhida, que foi dura por prazer, só fez o que bem entendeu (...)

- Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. (…)

[O melhor aluno do Liceu Camões gosta de velhadas...] - Não me faça rir. Mas fui o melhor daquela malta toda. Entrei em 1936 e fiquei lá oito anos. Sentava-me sempre na carteira da frente, porque os meus olhos já eram dois sacanas. O avô desse tipo chamado Eduardo Prado Coelho foi meu professor. Nós cagávamo-nos no gajo.

[Quando é que funda a editora Contraponto?] - A editora começou a funcionar em 1951, logo depois do primeiro número da revista. Nasceu no ensaio de uma terceira via e só tinha um critério: os gajos do Estado Novo não podiam entrar. Vivia um bocado à mercê do facto de eu e o Jaime Salazar sermos amigos. Quando foi publicado o 'Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano', de Mário Cesariny, o Jaime ficou f. Pensava que a editora era só para ele. Mais tarde, o mesmo aconteceu com Cesariny, quando Herberto apareceu. Razão tinha o Gaspar Simões em chamar-me 'O sacristão do Surrealismo', por publicar aquela gajada. Não faz muito tempo, vendi a editora à irmã do Manuel Alegre por um preço de m..

[Era amigo de Cesariny?] - Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.

[É autor de muitos livros, mas nunca escreveu romances] - Porque é preciso ter disciplina. Mas não é como escritor que posso ser importante. Se me perguntarem da minha importância é como editor. Editei muitos livros que eram muito baratos. Tinha bons autores, Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny. Jamais editaria, por exemplo, o Fernando Namora. Ele era um aldrabão. Ou o José Agualusa, que não escreve nada. É um pateta alegre.

[O que nos diz dos políticos?] - São uns m. Comparados com eles próprios. Aquela que foi ministra das Finanças era uma tipa séria, mas era cá um camafeu.

[Gosta do José Sócrates?] - Quem é? Não o conheço.

[Mas gosta de Pedro Santana Lopes?] - É um 'bom vivan'. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho. Eu deixei de beber há uma semana. Ao almoço bebia vinho - tinto, pois está claro. Quando se fala em vinho fala-se em tinto.

[O País reconhece as pessoas?] - Não podemos falar de um só País. De Lisboa ao Porto existem dois países ou, talvez, existam quatro países em Portugal. Por exemplo, o Mário Soares, quando era Presidente da República, deu-me 650 contos. Uma vez, no Chiado pedi-lhe 20 paus emprestados. E ele deu-mos. Este presidente, o actual, que tem aquela cara, não me deu nada.

[Vive de alguma pensão?] - Tenho um subsídio de 120 contos, graças ao Alçada Batista. E também ao Balsemão, que teve a feliz ideia de inventar o decreto do mérito cultural. O Santana despachou um decreto que favorece pessoas que estão na minha situação. Mas não é por isso que gosto do rapaz. O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau"

[Luiz Pacheco entrevistado por Miriam Assor, in Correio da Manhã, 8/04/2007 - sublinhados nossos]

sábado, 7 de abril de 2007


Momento de vacationes

Andamos em trovas, antigas e modernas, de forma dialogal e sem apetites doutrinários. O nosso affaire é semear o olhar e a depravação. Entre um tinto barroca, bem feminino por sinal, que é uma intemperança de malvadez, copiosas livrarias de uso beneditino, os jogos do Glorioso superiormente temperados por receitas que nenhuma pragmática pode castigar, duas ou três postas no Almanaque, eis que a nossa vidinha é esta: "sem ter pátria, nem lei". O vate Gomes Leal sabia-o bem! São, pois, os nossos exercícios pascoaes de imensa validade, ou não fôssemos "um profissional de velhas gerações" [Nelson Rodrigues dixit]. A coisa, de tão admirável se descobre, faz-nos revigorar.

Estamos assim afastados das confecções levadas a cabo pelo ilustríssimo dr. Santos Silva, o novel evangelizador socrático e do escarcéu da Universidade Independente (ou, do mesmo modo, da converseta do falso lento Zé Mariano). E embora nos custe conferir o que em tempos foi o legítimo Santos Silva (idem para o Mariano) e descobri-lo, agora, arrastando-se em lastimoso dever de obediência censória e de notório mau gosto, recusamos, por ora, produzir qualquer prancha. As nossas transacções, como se nota, são inocentemente limpas. Porque, afinal, "o mais do azar / É Salazar / que sabe de palavrinhas mansas / e não consta que faça hipoteca" [mestre Vespeira, ele-même]

Terminamos, enviando ao futuro Ilustríssimo Senhor Director da Divisão de Censura & Diversões Públicas do Governo, com a devida vénia, e para os nossos prudentes ledores

Tom Zé - Requerimento à Censura

In-Libris – Catálogo de Abril 2007

Catálogo da In-Libris (Porto), de novo com um conjunto de peças curiosas e estimadas, entre as quais obras de Álvaro Lapa, Alves Redol, Ana Hatherly, António Sérgio, Bento Carqueja, Campos Lima, Carlos Queiroz, D. Leite de Castro (Folk-Lore Vimaranense), Eugénio de Andrade, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário), Joaquim Costa, Luís Augusto Palmeirim, Luiz F. Gomes (Jornalistas do Porto), Mariana Alcoforado (trad. Eugénio de Andrade), Melo e Castro, Mons. J. Augusto Ferreira (sobre Vila do Conde), Viriato Barbosa (monografia da Povoa de Varzim), Visconde de Vila-Maior (O Douro Illustrado), Wenceslau de Moraes.

Um bom Catálogo. A consultar on line.

Semanada

Esta semana ... estivemos assim. Oh! Hum! "nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovídio]

Foto - Adega da Quinta do Noval, in Catálogo da In-Libris

sexta-feira, 30 de março de 2007


Leilão de Livros e Manuscritos - 3 e 4 de Abril de 2007

O Palácio do Correio Velho realiza nos próximos dias 3 e 4 de Abril - Calçada do Combro, 38 A, pelas 15 horas - um importante Leilão de Livros e Manuscritos. A não perder. Catálogo on line.

"... curioso lote de livros sobre arte, história, ensaios e literatura portuguesa e francesa, clássicos dos sécs. XVII ao XX e outros de grande interesse e temática vária. Para além disso, vão também à praça quatro valiosos acervos de documentação histórico - politica e literária dos sécs. XVIII ao XX, destacando-se os seguintes conjuntos:

- Espólio do General Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho Póvoas (1773-1852), constituído por milhares de documentos da maior importância para a história politico-militar de Portugal no século XIX, com relevo para a génese da legião portuguesa ao serviço de Napoleão, história das invasões francesas, operações e movimentação de tropas, e guerra civil portuguesa (...)

- Espólio de António Bernardo da Costa Cabral, 1º Conde e 1º Marquês de Tomar (1803-1899). Este acervo é riquíssimo nos aspectos políticos e militares, com centenas de cartas de personalidades importantes da época, mas também sobre Tomar, onde Costa Cabral adquiriu muitas propriedades na zona do Convento de Cristo, havendo algumas cartas ou documentos referentes aos freires e à Ordem, para além de outras respeitantes ao Museu(zinho) de História Natural, em Évora, ou à Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro (...)

- Espólio do Morgado da Quinta de Pancas, sita em Alenquer, formado por centenas de documentos dos finais do séculos XVIII ao XIX, respeitantes à administração dos bens do Morgadio, cartas de natureza pessoal e familiar (...)

- Cartas inéditas de Ramalho Ortigão (1836-1915) a Henrique Resende Dias de Oliveira, enviadas de Lisboa, Foz do Porto, Paris e Suiça, datadas de 1910 a 1915 e nas quais retrata com grande sagacidade a vida politica, social e cultural portuguesa da época conturbada vivida depois da implantação da República, em 1910 (...)”

nota: leia-se a curiosa Introdução de Isabel Maiorca sobre este conjunto de cartas de Ramalho Ortigão

[Isabel Maiorca, in A Memória das Coisas, Catálogo do Leilão, 19 de Março de 2007]

quinta-feira, 29 de março de 2007


Mariano Gago - o mudo

O governador do Ensino Superior, Mariano Gago, apresenta-se ao público como um ministro, envergonhadamente, mudo. Até agora, várias semanas passadas, nenhuma alma indígena sabe o que Mariano Gago abriga na sua sábia cabeça sobre o descrédito e a imoralidade que reina na Universidade Independente. Espera-se pelas 18.30 da tarde - hora a seguir ao chá - para se saber do ofício do Ministro do Ensino Superior e, talvez, acompanhar a descompostura do outrora vigário do IST, Zé Mariano. Veremos se a rebaldaria, o grosseirismo e a promiscuidade na gestão privada da UI, perfumada com a mais desorientada das pedagogias, é severamente punida.

Em toda esta questão, em todo este montão de lixo que se tornou a "guerra" na UI, nunca se intrometeu o senhor Ministro da tutela. Mudo e quedo, Mariano Gago deixou seguir a repugnante "estória", não se sabendo se o fez por simples ingenuidade ou por excesso de pura estratégia política. Por causa disso mesmo, a devassa caiu sobre todas as instituições de ensino privado. Nenhuma está, doravante, fora de torpíssimos olhares. E, nem todas o mereciam. Até porque a função do ministro não é de dar açoites nas nádegas aos prevaricadores da lei ou a delinquentes feridos, mas no invés, acompanhar a gestão financeira, curricular e pedagógica dos estabelecimentos de ensino privados (e públicos), a todo o momento.

A demissão dos diferentes ministérios da tutela, a promiscuidade entre a classe politico-partidária e o corpo docente, é caso para investigação judicial. E para que o "tribunal público do riso" não dite a sua sentença. Que o ministro afaste, de vez, esse anátema, é o que se espera. Aguardemos.

terça-feira, 27 de março de 2007


Jogos de sábios

O programa da D. Elisa na TV indígena, a que com muita piada chamou "Os Grandes Portugueses", ao que se sabe, sobressaltou a nação, incomodou uns castiços democratas e fez furor entre os neo-fascistas & aparentados. A coisa da D. Elisa era de génio: uns tantos sábios em comunhão de adquiridos - como o inenarrável António Costa Pinto, alvorado a historiador do reyno, o sagaz Portas, o salazarista Jaime N. Pinto, a D. Odete, o recauchutado Júdice, o agricultor Rosado Fernandes - bem embebidos em meia dúzia de instruídos doutores & com umas tantas avis raras de permeio e já estava a novena feita. D. Elisa, a musa do ardentíssimo entretimento, de freio na mão, sorria.

A tribo de sábios, em animada pesporrência, aspergiu o negócio do Estado Novo e desfolhou bizarras estórias pátrias, que mil louçãos não desdenhariam. A missa pelo defunto, ao cair da noite, prometia. Com o fim alcançado e antes de anunciar "O Grande Português", D. Elisa em preliminar de erotismo intelectual, filtrou por entre deleitosos lábios, e à cautela de mimosos favores, um impolítico aviso que o galardão corrente era de puro entretenimento. Depois, mais aliviada, lá brandiu o troféu para o Botas de S. Comba, o estimulante Oliveira Salazar. A pateada, curiosamente, veio no dia seguinte. Sabe-se como é lerdo o bom indígena luso.

Agora, depois de embrulhados os capotes, o raminho de sábios irá publicar farta e copiosa obra sobre o espírito desse Grande Português. Já começou, aliás, quando Dom Costa Pinto apareceu no bucólico programa da Sic-Notícias, enchendo de lirismo o programa preferido da canalha. O revisionismo histórico está, ainda, nos seus alicerces, mas promete muita papeleta aos paroquianos. Curiosamente, a vanguarda operária bloguista, em velocidade perturbante, explorou a civilizada pista que deixa sem dormir o bom povo português: afinal o dr. Oliveira Salazar era fascista, um demo-liberal pacífico (como assegura o moderno Arroja), um autoritário avozinho saloio ou um antepassado do eng. Sócrates? Ninguém sabe. Um dia, D. Elisa e os validos revisionistas explicarão. Até lá, tratemos de fazer as malas. Adiante!

Leilão de Antiguidades, Pintura Moderna e Contemporânea

A Leiria e Nascimento realiza hoje - no Palácio das Exposições da Tapada da Ajuda, às 15 h e às 21,30 horas - um leilão de "Antiguidades, Pintura Moderna e Contemporânea, Objectos de Arte e Jóias".

Excelentes peças de Alzira de Barros, António Carneiro, António Soares, Arménio Anjos, Carlos Botelho, Carlos Lança, Cutileiro, Falcão Trigoso, Francisco Simões, João Penalva, Joaquim Costa, Joaquim Ramos, Jorge Barradas, Jorge Vieira, José Júlio Teixeira Bastos, Júlio Resende, Mário Silva, Nicolas Berchen, Thomaz de Mello (Tom), Noronha da Costa, Nuno Siqueira, Oskar Pinto Lobo, Roque Gameiro, Sá Nogueira, Stuart Carvalhais, Victor Bélem, pinturas do séc. XVIII, etc.

sexta-feira, 23 de março de 2007


O jornal Público e o Eng. Sócrates

O orgulho de "campeão" desvelado do jornalisticamente correcto, tomado aqui na sua visão romântica de formação da opinião pública, foi abraçado hoje pelo jornal Público na notícia mais artificiosa que nos foi dado ler: o caso da licenciatura do eng. Sócrates. Como "alma falante" do serviço militar dos escribas indígenas, a direcção do jornal Público aproximou-se, sem piedade alguma, da causa fatal de um qualquer panfleto. Pode a sua direcção, ofegante por carência de notícias, publicar os editoriais (duvidosos, como o de hoje) que entender em sua defesa, que o fait-divers é tremendo. Expliquemos.

O caso da licenciatura (ou não) de Sócrates não é festividade para o contraditório e a luta política. Sócrates, licenciado ou não, jamais deixará de ser arrogante, manipulador ou um exímio dissimulado. Não pode haver qualquer equívoco, sobre esta questão. Do mesmo modo que o presuntivo rumor que o senhor José Manuel Fernandes está, generosamente, regougando a soldo do patrão Belmiro é pura especulação, senão palavrório ignóbil. Os boatos não são meros superlativos para a opinião pública. Apenas uma infame comédia, aliás pouco original.

O propósito da direcção do Público ir a reboque da oratória presente na blogosfera doméstica, por muito reveladas que sejam (e geralmente, são) as suas verdades, mostra o estado e a (des)legitimação do serviço público vulgarizado nos jornais, mesmo os de referência. A bondade de policiar a blogosfera não exorciza a falta de trabalho de "casa", a exigência de uma deontologia fora da miséria do espectáculo jornalístico e a missão integral do escriba. Tão só suporta a sua narrativa enquanto "meros executores" de comunicações indirectas. De facto, a "bulimia" da investigação jornalística foi "chão que já deu uvas". Desapareceu, de vez, presumimos sem saudades das direcções de jornais.

Mas se o jornal Público, na insólita nota editorial, entende (como parece que entende) que "não deve ignorar que [os boatos] existem e que a melhor forma de acabar com eles é confirmá-los ou infirmá-los", então terá muito que obrar daqui para a frente. Porque há dezenas e dezenas de anos (a fio) de rumores que correm (alegremente) entre a classe politica, nos albergues de partidos e no cantar de cafés, sobre os inúmeros expedientes de enriquecimento académico, profissional e financeiro da classe politica nacional e local. Vai arregaçar as mangas, definitivamente, o senhor José Manuel Fernandes?

No fim, fica apenas o reconhecimento da balbúrdia e do porreirismo que habita nas instituições privadas de educação. Sem qualquer avaliação, este estupendo refúgio dos espoliados da política doméstica, navega com a total permissão do poder. Se nos lembrarmos da exaltação em sua defesa pela liberal direcção do Público, ao longo do tempo, e do silêncio ensurdecedor sobre o assunto, compreende-se o que temos pela frente. A falta de decoro da direcção do Público é, pois, total.

quarta-feira, 21 de março de 2007


Water is Life

"Para eles [tuaregues], a música é tão valiosa como a água, mas felizmente mais abundante, pois mesmo antes de começar a andar - diz-se - as crianças aprendem a bater em tambores para imitar o ritmo dos camelos" [Jorge Lima Alves, in Cartaz-Expresso].

Eis, para ledores ressequidos desta vidinha sem futuro acolhedor, mas mesmo assim venturosa na/pela sedição de cândidas noutes, que (ainda) não desesperámos de vencer

Tinariwen - Soixtante Trois


Boa noute!

Homenagem a Jaime Cortesão [Restaurante Tavares]

1º plano, da esquerda para a direita, João Pedro de Andrade, António Lobo Vilela, Jaime Cortesão, Luís da Câmara Reys, Ferreira de Castro, Adolfo Casais Monteiro.

2º plano, da esquerda para a direita, Alexandre Vieira, Adriano de Gusmão, Gaspar de Almeida, Sant'Ana Dionísio, Augusto Casimiro, Roberto Nobre, Mário de Azevedo Gomes, João Dantas, David Mourão-Ferreira, David Ferreira, Jaime Mourão-Ferreira.

[foto, in David Mourão-Ferreira, s.l., s.d.]

In Memoriam Fernando Alvarenga [1930-2007]

"O poeta Fernando Alvarenga deixou-nos, no passado dia 19 de Fevereiro. Já debilitado de saúde, vivia desde há cerca de um ano, num lar da terceira idade, em Amarante, onde uma infecção respiratória o obrigou a internamento hospitalar e o vitimou.

O funeral teve lugar na cidade de Ermesinde, na manhã do dia de Carnaval, em altura que seria, por certo, do agrado do poeta.

Nascido em Ermesinde a 14 de Abril de 1930, e nos últimos anos da sua vida aqui radicado, viveu também em Angola, de 1969 até 1975, circunstância que contribuiu para uma das facetas mais marcantes da sua obra poética, que alguns críticos consideraram única pela originalidade de ter sido o primeiro criador de rimances africanos em língua portuguesa.

«Figura incontornável da Cultura da nossa cidade», como 'A Voz de Ermesinde' já antes o tinha apresentado, Fernando Alvarenga foi poeta e ensaísta, tendo a sua obra de ensaio ficado dispersa por numerosos jornais e revistas. Foi, aliás, colaborador de 'A Voz de Ermesinde', a quem ofereceu os direitos de autor de novas edições das suas obras, como noticiámos a 30 de Março de 2004. “A Voz de Ermesinde” dedicou-lhe uma série - 'Fernando Alvarenga' - com a publicação continuada de uma página apenas com ensaios e poemas seus, durante onze números (do n.º 704 ao n.º 714). Foi autor de uma obra consistente, presente em várias antologias ao lado de renomados nomes da Literatura e Ensaística portuguesa" [in A Voz de Ermesinde - ler mais aqui]

[via Lugar Efémero, com a devida vénia]