quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Tertúlias no Casino
A Figueira da Foz tem destas coisas. Terra simples e de gente boa, isolada da civilização (que há muito a esqueceu), onde pouco ocorre e nada nasce, volve por vezes à vida. Os senhores locais, à falta de missão elevada e estima própria, animam-se sempre com os obséquios aos notáveis. Por vezes, os seus indígenas, são mesmo grotescos - como o desengano do dr. Santana Lopes, agora, revela. Noutras ocasiões são tão respeitáveis, entusiastas e festivos, que a todos comove. Que a todos enobrece.
Foi esse o caso, ontem (dia 16), na inauguração das Tertúlias no Casino, com a participação do dr. Mário Soares. Com o salão nobre do Casino da Figueira pleno de tertúlios, de virtudes ilustradas e estima ardente, a reunião celebrou o gosto pelo debate (ainda possível no país), caprichou no brilho e esplendor com que sabe receber, festejou o convidado. Merecidamente!
É certo que Mário Soares cedo assumiu que não argumentaria sobre questões de política interna. O que não deixa de ser curioso face ao estado calamitoso do país. Compreende-se. Mas bastou o que disse sobre Blair, Bush e a UE, para se entender o que lhe alumia o espírito. Ao dr. Soares, como se sabe, tudo se perdoa. Porém, há ocasiões onde a palavra, mesmo que de prata seja, não resulta em silêncio de oiro. A generosidade não vai a tanto. Nem o país.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
"As elites em Portugal ..."
«... quando se estuda a cultura portuguesa e a história de Portugal e depois se ouve os políticos actuais, vê-se que eles não estão senão a repetir um conjunto de circunstâncias que vêm sendo repetidas desde a decadência do império, em D. João III. É quando o império se transforma em empório comercial (...) Desde então, com excepção de 50 anos do ouro do Brasil, Portugal estará continuadamente com uma divida externa acumulada; de quando em vez, por 'virtudes milagrosas', diz Eduardo Lourenço, a mão de Deus faz com que normalizemos as contas do Estado para rapidamente voltarmos ao mesmo. Fazemos sempre a mesmo coisa desde esse tempo. Agora, por exemplo, o Governo orgulha-se de ter feito um contrato com o MIT. D. João III mandou 50 estudantes justamente para Paris e Bordéus e trouxe os mais altos intelectuais destas duas cidades para Portugal para fazerem a reforma da universidade. Dez, 15 anos depois, a maior parte ou estava presa pela Inquisição ou tinha regressado. Fernando Gil, o maior filósofo da segunda metade do século XX em Portugal, morreu em Paris; o professor Damásio está nos EUA, Eduardo Lourenço continua a viver em França, mesmo depois de reformado (...)
... nostalgia de uma normalização de Portugal, na qual as elites assumam definitivamente que Portugal não tem que ser uma Irlanda, uma Finlândia, uma América, uma Alemanha. Assumir que Portugal se encontra num meio termo entre países, esses sim de facto atrasados e países de facto adiantados. Nós não precisamos de estar no pelotão da frente, ao contrário do mito de Sócrates e Cavaco continuam a alimentar. A que propósito? (...) Quando o professor Cavaco se for embora, estaremos exactamente na mesma posição do tempo de D. João III: nem os mais avançados, nem os mais atrasados (...)
O grande problema de Portugal é a modernização nunca passar das elites para baixo. Corte gorda, povo magro (...) A elite hoje tem vergonha do povo e, à força, quer transformar o povo de burro em cavalo a correr para estar no pelotão da frente. Mas cortando nas maternidades, nas escolas»
[Miguel Real, entrevista a Adelino Gomes, Mil Folhas, 12/01/2007 - sublinhados nossos. Foto: os "Vencidos da Vida", ibidem]
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
"O que se há-de fazer!?"
Um cidadão, residente no concelho de Odemira, foi "colhido por um automóvel" quando seguia - na sua vida - de bicicleta. O seu nome, António José Oliveira. Eram 7.30 da manhã, tinha 57 anos e muitos de trabalho e, sem sorte nenhuma, estava no local errado e na hora errada. Era, do mesmo modo, um cidadão obscuro. Não tinha cunhas, não era conhecido dos jornais, não era doutor nem escrevia em blogs e consta que nunca foi ao Plateau, ou ao Lux. Nada o poderia salvar, portanto. E assim foi. Há momentos, fatais, na nossa vida. Inimagináveis.
O nosso cidadão, foi levado para o SAP de Odemira, que não "dispõe", esclarece, de meios assistenciais, para tamanha gravidade. Passavam 3 horas, entretanto, desde o incidente
[Correia de Campos, algures andava em trabalhos ministeriais, com agarrado séquito emplumado. O trabalho governamental é uma canseira afamada. Uma escravidão solene.]
Ao António José Oliveira, cidadão residente no concelho de Odemira, foi-lhe concedido uma "viatura de emergência e reanimação do INEM", vinda de Beja. Mais 1 hora na espera. Outra, ainda, para "estabilizar a vítima". O padecente era, evidentemente, o próprio cidadão e a putativa "estabilização" - 5 horas passadas - era para "evacuar o ferido por helicóptero", para o Santa Maria. Em Lisboa, capital do império.
Não chegou em vida, o nosso cidadão, ao Hospital de todos os enfermos. 7 horas se passaram. Azar, como se percebe, existir uma única viatura "com apoio médico" em todo o distrito. Infelicidade chamar-se António ... José Oliveira. Infortúnio habitar no distrito de Beja. Viver em Portugal. Ser cidadão europeu.
Entretanto, em fugidia observação à TVI, Correia de Campos, o perturbado político, diz não ter "disponibilidade na agenda para fazer comentários" ao sucedido. O trabalho, afinado, da destruição do SNS assim o exige e (sabe-se) a agenda política nunca acaba. Depois, rezam as croniquetas, ficou curioso para saber se "alguma coisa de errado funcionou". Perfeito de humor, este ministro.
Do mesmo modo, convidado a pronunciar-se sobre o infeliz facto e o apoio assistencial dado, um irmão do nosso cidadão disse à TVI: "O que se há-de fazer!??". E, na verdade, está tudo dito. Que podemos fazer com este ministro, este Ministério, este País? Pode-se saber? Ou já não há salvação?
domingo, 14 de janeiro de 2007
Em trabalhos profanos
"Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela [afeição
e ficar lá sempre, sempre criança e sempre [contente" [F. P.]
Nesta semana, de antiguidades sacras e trabalhos ternos, fomos peregrinos. Não houve cadeira imperfeita ou passadio exausto. Tudo atendemos, em supremo consolo. Fomos bem alumiados. Não desaparecemos, não nos resignámos, nem sequer dormimos. Fomos, somente, viciosos. Confiamos em zelo antiquíssimo. Aproveitámos o tempo. E rejuvenescemos, apenas.
Nesta semana, entrámos em festivos folhetos & enternecidos recortes de jornais. Não houve verso solto que não esmolássemos. Nem capa que não abríssemos. A receita foi generosa, por demais.
Esta semana, não cuidámos de salvar o país, como o ponderoso dr. Cavaco sustenta, o professo eng. Sócrates reclama & alguns bloggers amamentam. Não mendigámos novas & velhas teorias salvíficas, nem aderimos a jogos de cativeiros. Evitámos, mesmo, os olhares dos sapientíssimos escribas periódicos. E, quase, resistimos à blogosfera. Que, convenhamos, está uma merda. Fomos quase perfeitos. Hoje regressámos. Com soidade e sentimentos mui pelejados. Não carece, pois, de agradecimentos, ó gente! Agradecido.
Boas noutes!
domingo, 7 de janeiro de 2007
Gaspar Simões: 20 anos passados sobre a sua morte [1903-1987]
[via evocação de mestre Gaspar Simões, em post do dia 6 de Janeiro por João Gonçalves]
"A posição do crítico é difícil e a sua missão ingrata. Demais, num país como o nosso, pouco dado à disciplina intelectual e avesso a toda a espécie de critica, de tal modo se arreigou nos autores a ideia de que o critico é um inimigo que nenhum critico o pode ser lealmente sem que sobre ele pese a má-vontade e o ressentimento dos que escrevem ..."
[Gaspar Simões, in João Gaspar Simões 1903-2003 . Evocação de uma Presença, Catálogo bibliográfico da Biblioteca, Museu e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Maio 2003, p. 33]
"Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade"
[Gaspar Simões, carta (09/06/1936) a Adolfo Casais Monteiro, idem, ibidem]
[via evocação de mestre Gaspar Simões, em post do dia 6 de Janeiro por João Gonçalves]
"A posição do crítico é difícil e a sua missão ingrata. Demais, num país como o nosso, pouco dado à disciplina intelectual e avesso a toda a espécie de critica, de tal modo se arreigou nos autores a ideia de que o critico é um inimigo que nenhum critico o pode ser lealmente sem que sobre ele pese a má-vontade e o ressentimento dos que escrevem ..."
[Gaspar Simões, in João Gaspar Simões 1903-2003 . Evocação de uma Presença, Catálogo bibliográfico da Biblioteca, Museu e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Maio 2003, p. 33]
"Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade"
[Gaspar Simões, carta (09/06/1936) a Adolfo Casais Monteiro, idem, ibidem]
sábado, 6 de janeiro de 2007
10 Livros Portugueses de 2006
1. Obra Breve (Fiama Hasse Pais Brandão, Assírio & Alvim)
2. Casa das Sementes (António Osório, Assírio & Alvim)
3. O Livro do Meio (Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa, Caminho)
4. Entre Deuses e Césares - Secularização, Laicidade e Religião Civil (Fernando Catroga, Almedina)
5. Poesia e Alguma Prosa (Mário Saa, notas João R. Sousa, INCM))
6. A Moeda do Tempo (Gastão Cruz, Assírio & Alvim)
7. Camilo Broca (Mário Cláudio, Dom Quixote)
8. O Último Negreiro (Miguel Real, Quidnovi)
9. Analogia e Dedos (Pedro Tamen, Oceanos)
10. O Valor do Livro Antigo em Portugal/The Value of the Old Book in Portugal (João F. Pereira & José F. Vicente, Vol. I, Séc. XV e XVI)
Almocreve das Petas
[Almocreve das Petas: Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário, ferros curtos, livros, antiqualhas, poesias, textos malditos, maledicências - Três anos a sorrir aos indígenas]
[Almocreve das Petas: Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário, ferros curtos, livros, antiqualhas, poesias, textos malditos, maledicências - Três anos a sorrir aos indígenas]
10 Livros de Autores Estrangeiros de 2006
1. A Divina Comédia (Dante, trad. V. G. Moura/des. J. Pomar, Bertrand)
2. Bíblia Ilustrada (C. Leitores/Assírio & Alvim)
3. Amores (Ovídio, trad. Carlos Ascenso André, Cotovia)
4. Quatro Visões Memoráveis (William Blake, Antígona)
5. A História Natural da Destruição (W. G. Sebald, Teorema)
6. Rio de Janeiro - Carnaval no Fogo (Ruy de Castro, Asa)
7. O Livro dos Rios (José Luandino Vieira, Caminho)
8. Com Borges (Alberto Manguel, Âmbar)
9. Estaline, a Corte do Czar Vermelho (S. Sebag M., Alêtheia)
10. Tratado de Arquitectura (Vitrúvio, IST Press)
Livros ... eu & tu
"Na realidade só existem os livros" [Bruno Shultz]
"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido ..."
[Nadine Stair (?)]
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
10 Álbuns de 2006
1. Modern Times - Bob Dylan
2. Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards - Tom Waits
3. Living With War - Neil Young
4. Begin To Hope - Regina Spektor
5. Ys - Joanna Newsom
6. The Life Pursuit - Belle & Sebastian
7. Bande à Part - Nouvelle Vague
8. Phases: a Nonesuch Retrospective - Steve Reich
9. The Execution of Stepan Razin - Shostakovich
10. Navega - Mayra Andrade
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
In-Libris - 10º Aniversário
Na Comemoração do 10º Aniversário, a In-Libris (Porto) sai com um curioso Catálogo, com 50% de desconto sobre o preço de capa. Algumas peças são raras e estimadas, muito procuradas outras, algumas cobiçam-se pela singularidade e o apuro gráfico. Da poesia à bibliografia, da Botânica à monografia de terras portuguesas, passando pela culinária, romance e ensaio, existe de tudo (atenção ao "O Portugal Vinícola", ó poetas do desporto líquido). É de aproveitar.
Parabéns e muitas felicidades para a In Libris.
A consultar on line
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Analistas & colunistas - Best off 2006
"mostrem-nos a vida" [Dziga Vertov]
São irreverentes, adoram escrever, são brutais de fruição. De discurso sério quanto malicioso, dissertam com um sorriso nos lábios. Deslumbram. Dão consultas ao longo da semana. Ao Domingo, lá estão na missa contra o tédio. Não se cansam da vida. Os porfiados exercícios, ora livres de amarras, ora ardilosamente tempestuosos, quase sempre espantam. Por vezes caem em diatribes (próprio da idade), à cautela da reputação e da liberdade, mas o remanso regressa de seguida. Lavram excelentes croniquetas, que se lêem com prazer, mesmo que delas se discorde. E que acontece quase sempre. Mas é sempre impossível substitui-los. São o nosso armazém político-literário. Originais, não se trocam contra reclamações. E sabem disso. Gracias!
1. Vasco Pulido Valente (Público)
2. Nuno Brederode dos Santos (D.N.)
3. Baptista-Bastos (Jornal Negócios) / João Bénard da Costa (Público)
4. Augusto M. Seabra (ex-Público) / Jorge Silva Melo (Público)
5. Manuel Villaverde Cabral (R.T.P.N.) / Mário Mesquita (Público) / Vicente Jorge Silva (D.N.) / José Quitério (Actual)
6. José Medeiros Ferreira (D.N.) / José Pacheco Pereira (Público) / Miguel Cadilhe (Expresso)
7. António Guerreiro (Actual) / Eduardo Pitta (Mil Folhas) / Helena Barbas (Actual) / Joaquim Manuel Magalhães (Actual) / Torcato Sepúlveda (Sábado)
8. Fernando Alves (T.S.F.) / Frei Bento Domingues (Público) / João Vieira Pereira (Expresso)
9. Pedro Mexia (D.N.) / Rui Tavares (Público) / São José Almeida (Público)
10. João Bonifácio (Y) / João Lisboa (Actual) / João Lopes (D.N.) / Luís Guerra (Blitz)
Analistas & colunistas - Os Piores de 2006
"O que ler ensina, a vida sobre a terra esquece" [M. G. Llansol]
Não há artigalhos grátis, nem luvas limpas. Todos o sabem. O trilho de analista é uma interminável transcrição de encómios ao poder. Quando arrufam (o que acontece) é para iludir o defeito da prosa. Os governos passam, os colunistas ficam. O frete político tem de continuar. Deve continuar. Alguns deles estão há longos anos nessa egolatria. Enfatuados, com a vassalagem em dia, dizem sempre o que qualquer indígena espera que digam. Nunca ninguém errou nesse curioso jogo. Todos sabem de cor a maviosidade do inefável analista. A encomenda, essa, recebe-se sempre de véspera. O engodo, quando calha, vai de folia. Para que serve, então, um colunista? Para diversão! A mão oblige.
No entanto, há algumas encomendas, que de tão riscadas estão pela bajulice e a sem vergonha, que aparvoam o casto indígena. Não por maldade infausta, mas por simples desaforo. O cronista, anos a fio sem "acertar uma", no seu divertimento buliçoso, insiste em cenários rendilhados. Indecorosamente fatais. Pura depravação.
Alguns serviçais partidários obram a velha melodia afadistada do "desgraçadinho". Outros, bem mais caceteiros e iletrados, nem sequer dissimulam. Julgam que têm talento. Os lambe-botas, esses, apresentam-se por todo o lado, ao público. A indigestão do raminho de colunista & escribas enfastia. Não há decência. Apenas fantasia, hipocrisia e decadência.
Eis, portanto, para documentação aos vindouros ... o raminho que mais caprichou neste 2006. Ano da graça do eng. Sócrates e do dr. Cavaco. Actum est.
1. João Carlos Espada (Expresso) / João César das Neves (D.N.)
2. Fernando Madrinha (Expresso) / José António Lima (Sol) / Nicolau Santos (Expresso)
3. Eurico Barros (D.N.) / Luís Delgado (D.D.) / Vasco Rato (S.I.C.)
4. Helena Matos (Público) / Jorge Coelho (S.I.C.)
5. António Perez Metelo(T.V.I.) / Daniel Bessa(Expresso) / João Cândido da Silva(Dia D)
6. Mário Pinto (Público) / Mário Bettencourt Resendes (S.I.C.)
7. Henrique Monteiro (Expresso) / Manuel Carvalho (Público)
8. Nuno Rogeiro (S.I.C.) / Teresa de Sousa (Público)
9. Inês Pedrosa (Expresso) / Vítor Rainho (Expresso)
10. António Tadeia (C.M.) / Bruno Prata (Público) / Rui Santos (S.I.C.)
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
Figuras & Factos - O Pior de 2006
"Quem tem algo a dizer que dê um passo adiante e permaneça em silêncio" [Karl Kraus]
Eis a memória anunciativa ou o bom resumo das qualidades dos indígenas (ou factos por eles medicados) que neste ano da (des)graça de 2006 pudemos observar. O pior que neste annus de 2006 a astúcia social e política pariu. Estouvadamente. E que, se (ainda) é permitido, declinamos. Certo é que o espelho das putativas inquietações não fica aqui provado. A nossa vida sóbria não o permite. Nem sequer é essa a missão que aqui damos guarida. Mas deixamos este testemunho para o estudo futuro da derrocada. Que a paróquia, um dia fará. Disse.
1. Socratismo - a doença narcísica do indígena luso. A autoridade despeitada da arrogância. A charanga autoritária da nova união patriótica, a lembrar as vitualhas da antiga União Nacional. Nessa rosariada tudo é cinzento, por demais. Não deixa de ser curioso como essa comunhão filosofante de respeitáveis votantes, braço-no-braço com os seus putativos sequestradores, é tão enternecedora!? Os destroços e a choradeira, que qualquer dia aí vêm, serão bem dramáticos.
2. Bushistas - a caridade guerreira dos novíssimos democratas de sofá. A religião oficial do sr. José Manuel Fernandes e uns quantos mais. A arrulhada de escritos & os afectos, ao locatário da Casa Branca, atiçados nos jornais (e blogs) é um caso sério de paixão varonil. Mas demasiado comichoso, para nós. Seguir a invulgar movida dos (ex)bushistas, é um caso de pura paranóia.
3. Manuel Pinho & Correia de Campos - a incompetência profissional que ilumina a nação. Dois perturbados da política, sempre muito bem assessorados pelos media. A vaidade provinciana a desfilar ministerialmente entre ovações académicas. Ambos cinzentos e mui rabiosos, não têm vocação nem se dão ao respeito. Não deixam, por isso, de revelar a nossa própria caricatura.
4. José Lello - o rato do Largo do Rato. O delírio incarnado de um Dutra Faria, mas com menos classe e inteligência. Megalómano e inflamado de vassalagem, está em todas as esquinas, sobe todos os degraus. É o merceeiro ou bardo de serviço ao Socratismo. Desdenha os seus camaradas, exuberantemente, com arremedilhos imodestos. Típico indígena alcoviteiro. Uma nódoa.
5. Jornal Sol - o semanário das mulheres-a-dias, com o secundário feito. A vitória da andropausa do trovador José António Saraiva. Ou não fosse a escrita andromaníaca do seu director um must, apetecível em cabeleireiros, casa de fados e ministérios. Dizem-nos que a vaidade dos jornalistas da casa é caprichosa. Pura laudatória. É uma simples paródia. Uma chacota.
6. Garotada do PP - a linguagem de velhos trapos, agora em farda liberal. Uns pegadiços garotos a brincarem ao sério. Esta gaitada liberal anda muito tramontana, vazia de ideias, obscena. A ternura intelectual dum Nuno Melo com Ribeiro e Castro lembra as hienas a merendar. O coval dos garotos do PP, com Paulo Portas à ilharga, é imortalizado por figurantes da estatura de Diogo Feio, João Rebelo, Mota Soares, Telmo Correia. Tudo gente erudita. Como se sabe.
7. Carmona Rodrigues & Rui Rio - a presunção do primeiro suplanta a monomania do segundo. Estes birrentos governantes são veteranos na gargalhada pública. Estão dispostos a destruir cidades, por despeito e vingança. Uns bons & excelentes mariolas. Tudo gente de chinelo no pé, mirrados pelo fastio da inabilidade. Esbanjadores do erário público, recebem na Câmara com impertinência. São amigos do seu amigo. Apenas!
8. PT/TV Cabo/CP/CTT - a vingança da democracia, a maldição das privatizações. Os clientes, utentes ou simples cidadãos, são deliciosamente enganados, maltratados, espoliados ... sempre com um sorriso tecnológico nos lábios. Nada funciona: os posto, a velocidade de acesso à Internet, as estações de TV, uma simples carta de amor. Sinal do choque tecnológico do eng. Sócrates. Uma prosápia estes serviços públicos. Um ardil para os consumidores. Uma puta de vida!
9. o novo S.N.I. - o guarda-portão Santos Silva e a bandeirinha vermelha do sr. Azeredo Lopes, ao serviço da grande pátria. A ERC exquisita, rameira do antigo SNI. Um clássico da censura a passar perto de si. Sem engenho & arte, sem mistério ou ocultação, fazem o que sempre se fez: dilatar o túnel do silêncio ao debate político. A sarabanda destes senhores é simples formalidade. O que virá depois é inimaginável.
10. Eduardo Prado Coelho - o suspeito do costume. Não soube, sabiamente, envelhecer. Afinal, o ocioso tempo de mestre E.P.C. tinha prazo de validade. A nossa memória, nem por isso. A escrita maliciosa de antanho teve uma derrocada. A rapsódia socrática que celebra foi um final sem glória. A hermenêutica do E.P.C. "está-se desmanchando sozinha". E não havia necessidade.
sábado, 30 de dezembro de 2006
O melhor e o pior de 2006
"No princípio era a imprensa e depois apareceu o Mundo" [Karl Kraus]
Somos, como diria Eugénio de Andrade, "folhas enormes onde dormem/aves de silêncio e solidão". Por vezes pregamos de nós para nós, outras para todos. Quebrar o silêncio do ano, eis o nosso ruído. Acostumamo-nos, bem demais diga-se, quer ao teatro do mal quer ao outro que nos vai ocupando a torrente da alma. Pura maledicência de espírito. Podem crer!
O testemunho que em cada final de ano (annus horribilis, por sinal o de 2006), o Almocreve das Petas regista em oratória profana, vem por aí. Embaraçando algum orvalho mais nocturno, avistamos o que soubemos contemplar. E foi tanto que nos enrubesceu de zelo e gratidão. Mas (oh! horror!) o ancien régime está de volta. Dá para ver a lama que traz. Temos foto, a comprovar.
Neste espantoso annnus horribilis não existe, por isso, indulgência para ninguém. Listamos os melhores colunistas, bloggers, blogs nacionais e internacionais. Chamamos à pedra os que na literatura & na música foram brilhantes e virtuosos. Mas também, a bem dos atavios da não-lisonja (a que alguns, com piada, chamam intolerância) arrolamos os piores colunistas, atascados agora no Socratismo melífluo, os vendilhões de papel, os novos censores. É a hora! Cansados que estamos de tanto gorjeio aos indígenas, não caímos no tédio ou na agonia. Ripostamos e tocamos os sinos. Para que conste.
Boa noute
Almanaque Republicano - Actualização
No Almanaque Republicano, cada vez mais farto & prendado, temos em sortido de final de ano e para ledores estimados, curiosos e pouco suspeitosos:
a revista Alma Nova (Publicação mensal ilustrada de Moral, Critica e Literatura); retrato de João Chagas; biobibliografia de Elias Garcia; uma (terna) recordação de D. Manuel II; noticias, novas & lugares de publicações periódicas digitais on line; a capa da Constituição Política da República Portuguesa votada em 21 de Agosto de 1911 pela Assembleia Nacional Constituinte; continuação do registo de bibliotecas digitais on line; foto da Árvore de Costado d'El Rei D. Manuel II - linha paterna (Braganças); post sobre a Imprensa Periódica Portuguesa - notas bibliográficas I e II; gravura do Projecto de Bandeira de Portugal, por Guerra Junqueiro; um curioso Diploma de Sócio da Associação de Socorros Mutuos dos Artistas de Coimbra, de 1930; post sobre a escolha a fazer (segundo a tradição blogosférica) dos melhores Livros sobre História Contemporânea de Portugal saídos neste ano; fotografia da Livraria Sá da Costa, em 1913; a escolha do Almanaque Republicano dos 10 Livros da Historiografia Contemporânea Portuguesa de 2006; a justificação das escolhas feitas.
A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!
Saúde e fraternidade
Discípulos do horror
"Não se pode estar e ter estado. Mas é possível ter sido um imbecil e continuar a sê-lo" [Léon Bloy]
O esforço de meia dúzia de pulhas internacionais louvando publicamente o assassinato de um homem execrável, é o sinal dos tempos que aí vêm. E que nos condena a todos, espectadores obrigados. O insulto desses sádicos animais de duas patas - que coabitam entre nós tricotando o dernier cri civilizacional & a última moda de abraço democrático (como as nauseabundas figuras ali em cima) - enlameia a (ainda) existente humanidade e é de uma gravidade sem precedentes.
Higienicamente deviam, dado a pungentíssima dor que exibem com as vítimas do criminoso Saddam Hussein, entregarem-se todos à justiça (dos homens e não só divina) porque o ditador não esteve sozinho nessa monstruosidade.
Faça um esforço, caro leitor: quem estava na administração americana, que em 1963 apoiou e fomentou o partido Baas no golpe de estado feito no Iraque, no que resultou o assassinato de milhares de cidadãos? Que fez correr Carter e os acólitos europeus ao terem dado "luz verde" para a carnificina de um milhão de pessoas, na guerra Irão-Iraque? E depois quem vetou (pst! ó amigos do adorado Ronald Reagan) o bloqueio e a condenação do criminoso Saddam, quando da chacina dos curdos em 1988, afirmando, de modo infame, que tinham sido os iranianos? E que disse o governo francês na altura? Afinal, quem queria proteger o inefável sr. Rocard, quando a opinião pública tecia horrores sobre esse acontecimento? Onde estavam vocês todos, ó engenhosos democratas? E vós também, ó pudicos cidadãos que trazem Bush na lapela, onde estavam? Ainda sabem!?
Subscrever:
Mensagens (Atom)