segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
Presidenciais: o fim da "coisa" & o "santinho" de Boliqueime
Hoje o país, por um fenómeno curioso de explicar - mas que o prof. de eduquês David Justino & outras luminárias cavaquistas, como o pessoano Francisco José Viegas, de dedos espetados e em vaidade lambuzada certamente enxergarão - acordará inquieto, sobressaltado, desconfiado. A sensação que transparecerá em (quase) metade do eleitorado indígena será a de um enorme vazio. Na maioria que apoiou e deu o tom festivo ao ungido sr. Silva, pelo que ouviram na lenga-lenga da noite eleitoral sobre o seu presumido convívio político com o governo, perpassa já a perplexidade. Assim nos revelou o guarda-nocturno, posteriormente confirmado pela criada de quarto, ao serem contraditados nesse "obscuro objecto do desejo" de não querem sustentar o eng. Sócrates até aos tempos findos de 2009. E que o novel Presidente demoliu na sua cassete de agradecimento pátrio. Pobres desalentados.
É certo que haverá um brilho "celestial" nalguns (raros e sinceros) eleitores do "santinho" de Boliqueime, para quem a ideia de "empatia pessoal" e de "contrapeso" adjacente, explica tudo. O caso da guinada cavaquista do comovente Paulo Gorjão, recostado ao seu Bloguítica, é elucidativo. Embora careça de autópsia futura. É que ladrilhar promessas sempre foi fácil. O ex-governante Cavaco Silva aí está para o confirmar, em tempos idos. Haverá dúvidas!?
Sabemos, no entanto, que a terra prometida tem sempre encantos na hora do vencimento. E de facto, ao que julgamos, o dr. Cavaco impressionou pelas promessas aventadas aos seus ridentes crentes. O "santo" de Boliqueime, homem modesto e simples (como suspira a tradição e não só o prof. Marcelo), triunfa pelo assombro com que afiançou "defender o futuro dos portugueses", correr com a crise mental e económica que avassala o reino, salvar a pátria. Administrando com espírito de sábio a "coisa", a partir de Belém. Em suma ... governar! Não há outra razão mais. Eis como se compreende a angústia do nosso guarda-nocturno. Ou a tragédia da reforma da nossa criada de quarto. E de outros, perante as medidas impopulares de Sócrates. É bom de ver a tragédia que os (nos) espera de toda essa excitação pré-eleitoral. P'rá mais tarde recordar. Porque lhe serão, decerto, cobradas as promessas.
A ecologia dos afectos, presente no "quadro de estabilidade" governativa, tão suplicantemente reafirmada pelo candidato Aníbal foi bem envasada. 10 anos de irredutível silêncio. Nem um embaraço, nem uma fervorosa reprimenda à canalha que nos governou (aqui, na Europa e no mundo). Nem um furtivo desagravo. Habilidosamente o "santinho" de Boliqueime escondeu a bengala político-partidária & desenvolvimentista. O país e o mundo derivavam em requintadas "modas" e o "mestre" abalizado para a matéria mudo e quedo. A sombra do dr. Aníbal nem se via. Ninguém, evidentemente esclarecido, o ouviu harpejar o que quer que fosse. Eis a cegueira colectiva ou o milagre do "santinho" de Boliqueime. Nada de mais.
Por isso, sem um candidato credível (à populaça, entenda-se) que o contrariasse, sem a amargura da acareação, a oração declamada pelo dr. Aníbal nunca podia deixar de ganhar. Passe a tentativa nobre e corajosa de Soares, Louçã e Jerónimo, que, com mais ou menos erros cometidos logo entenderam a teatralidade da "coisa", a "comédia" eleitoral do dr. Aníbal era triunfante. Como foi. Grandiosa e burlesca. Até ver!
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
Ary dos Santos [1937 - m. 18 Janeiro de 1984]
"... Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura" [A. dos Santos, in Auto-Retrato
"... O jardim das palavras é o cio
o pólen a cantata o desvario
puta capaz de endoidecer um homem.
Poesia. Não amargo: Doce rio
conchego das palavras contra o frio
de todos que resistem porque as comem" [A. dos Santos, O Sangue das Palavras]
"Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
O cerne do silêncio" [A. dos Sandos, in A Luxúria]
Ary dos Santos - Brevissima Antologia da Poesia Com Certeza Castpost
Locais: Ary dos Santos / Ary dos Santos (1937-84) / Biografia / A Máquina Fotográfica / Queixa e imprecações dum condenado à morte / Poemas / Aqui Jaz Ary dos Santos sentado no muro do cemitério a ver passar a classe operária
A "Cavalaria" das Presidenciais
"Declaro que, no título meio quadrúpede, meio literário d'este folheto, não disfarço alguma subtil malícia zoologicamente hostil a alguém. O meu naturalismo não vai tão longe ..." [Camilo Castelo Branco, in a Cavallaria da Sebenta, 1883]
"... A crer nos reaccionários, o interesse dos governados seria, por assim dizer, o de serem governados o mais possível. O Rei hereditário possuiria, por uma espécie de virtude de posição (e porque não por um estado de graça?), não só o privilegio de conhecer as necessidades do país a que preside como o de não poder deixar de servir os interesses nacionais. O Rei seria, numa palavra, o indivíduo, o único indivíduo da Nação, em que o interesse geral e o interesse individual coincidem (...). Ora se existe um ser tão singular que goza da propriedade de servir o bem comum quando mais não faz que procurar o seu próprio bem, nada parece mais razoável do que confiar-lhe cegamente os nossos interesses, sem limitação e sem controle. Dando-lhe carta branca, teremos feito um bom negócio.
A tese é admiravelmente simples. Quem pensa, porém, iludir com ela? ..." [Raul Proença, Seara Nova, 1930]
"Hoje as histórias fazem-se aos pulinhos,
Sobre o joelho, ou mesmo sobre o vento ..." [Pedro Dinis?]
"Antigamente como vegetação constitucional tínhamos apenas uma árvore - a bem conhecida árvore da liberdade regada com o sangue de tantos mártires. Presentemente o constitucionalismo botou horta.
Foi depois de se ver como a árvore medrava neste abençoado torrão, que a pouco e pouco se foi plantando o resto.
Vieram os folhudos repolhos, as saborosas couves penca e lombarda, a bela abóbora, os frescos espinafres, as diferentes alfaces, e os variados cheiros, a pimpinela, a salsa, o coentro - tudo da liberdade.
Pôs-se a mesa rústica debaixo do parreiral, e fundou-se a reinação moderna ..." [Ramalho Ortigão, As Farpas, IV)
"...E um poeta cantava uma ária"
"Basta
O público está fatigado
Mas não serei eu quem favorecerá esse desejo
Porque se o público adormece
Não há feijão verde este ano
Nem tartarugas a vaguear sobre secretárias ministro
Nem poeira nas engrenagens dos relógios
Nem sequer jactos de saliva na cara dos padres" [Péret, trad. Ernesto Sampaio]
domingo, 15 de janeiro de 2006
Paul Lafargue [n. 15 Janeiro 1842 - 1911]
"Preguicemos em tudo, excepto no amar e no beber, excepto no preguiçar" [Lessing]
"Em regime de preguiça, para matar o tempo que nos vai matando segundo a segundo, haverá espectáculos e representações teatrais sem fim; aqui está um trabalho bem achado para os nossos burgueses legisladores. Serão organizados em grupos, que correrão as feiras e as aldeias, oferecendo representações legislativas. Os generais, com botas à amazona, e o peito enfeitado de alfinetes, crachás e cruzes da Legião de Honra, irão pelas ruas e pelas praças, desafiando as pessoas de bem.
(...) A abrir os festejos assistir-se-à à Farsa Eleitoral.
Diante dos eleitores, com máscaras e orelhas de burro, os candidatos burgueses, vestidos de palhaços, dançarão a dança das liberdades políticas, limpando a cara e a testa com os seus programas eleitorais de múltiplas promessas, e discursando com lágrimas nos olhos sobre as misérias do povo e com voz metálica sobre as glórias da França; após o que todos os eleitores bradarão solidamente e em coro: hi ho! hi ho!..." [Paul Lafargue, in O Direito à Preguiça, Campo de Letras]
Locais: Paul Lafargue Internet Archive / La religion du capital / O Direito à Preguiça
quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Falemos alto
"Falemos alto. Os peixes ignoram as estações e nadam.
Nós, caminhamos entre árvores. Quando é verão, os druidas,
curvados, recolhem as ervas novas.
Falemos alto,
os milagres são poucos.
As águas reflectem os cabelos, as blusas dos viajantes.
Os risos, claros, detrás do ar. Os pássaros voam em silêncio ..."
[Ferreira Gullar, Toda a Poesia 1950-1980]
"Falemos alto. Os peixes ignoram as estações e nadam.
Nós, caminhamos entre árvores. Quando é verão, os druidas,
curvados, recolhem as ervas novas.
Falemos alto,
os milagres são poucos.
As águas reflectem os cabelos, as blusas dos viajantes.
Os risos, claros, detrás do ar. Os pássaros voam em silêncio ..."
[Ferreira Gullar, Toda a Poesia 1950-1980]
Notícias domésticas & a histeria à porta da Segurança Social
O mordomo da administração do eng. Sócrates, Fernando Teixeira dos Santos, economista por fervor académico e ministro por ofício, veio em declarações seráficas contar aos indígenas que "em 2015 o fundo de estabilização financeira da Segurança Social deixará de ter dinheiro para pagar as reformas". Tal episódio público, assim patenteado pelo douto ministro, provocou uma ponderosa jericada na populaça lusa - na altura em recolhimento & consolo agradecido sobre a futura prosperidade cavaquista (que vem já a seguir ... evidentemente) - logo seguida de pânico. Não houve um só nativo que, piedosamente, não fizesse a sua genuflexão patriota. Por um momento, e no mais concorrido preito jamais feito aos vários ministros das Finanças do reyno, cidadãos exemplares, em remorso financeiro, desocuparam o enérgico debate das noviciadas contratações do Glorioso SLB, saíram em mansidão do putativo casamento de César Peixoto contra Isabel Figueira e desbastaram três poesias gnómicas de Manuel Alegre. Muito bem! O povo, como se sabe, é sereno.
Ébrios de informação presidencial, os indígenas seguiram imediatamente a desejada explicação do candidato Cavaco Silva sobre tão notável questão. Debalde! Como se sabe, a opiniosa protestação do futuro presidente é tarefa espinhosa de se sintetizar. As mazelas financeiras não pertencem ao seu universo presidencial. Na sua falta (a autoridade do senhor Silva, ao fim de 10 anos, tem agora outras sonoridades), os mestres de fé da cartilha liberal (hayekiana ou não nem por isso) aguçaram as esferográficas. Não saiu nada. A tinta enrugou, de pasmo e vergonha. E lá correram os nossos liberais indígenas, apressados, de regresso à bicha cavaquista para o dia 22 de Janeiro. Entretanto a multidão obscura, em estratégia de sobrevivência ao pavoroso Socratismo, sopra impaciente. E evidentemente, os sindicatos, quais rouxinóis em primavera farta, ensaiam o conhecido "no pasa nada". Vaticínio espantoso. Um must.
Ao que parece, ninguém se lembrou que a peripécia sobre o défice da Segurança Social há muito era referida nos círculos académicos e em trabalhos económicos. E, pasme-se, houve mesmo um candidato há poucas semanas - o Francisco Louçã - que não só reconheceu tal possibilidade como elegeu tal problema como questão principal nos próximos anos. Onde estavam, na altura, a rapaziada dos jornais e das TV's? Os preclaros descendentes liberais de Hayek? Quem homenageavam? Quem louvavam, com hipócrita obsequiosidade? Evidentemente ... os fundilhos miraculosos do senhor Silva. A bem da Nação e da Pátria. Como sempre foi. E continuará a ser.
Não espanta, pois, que em curioso artigalho no jornal Público (ontem), o papa neocon luso José Manuel Fernandes revele andar embaciado por esse desgraçado "magna pastoso onde todos cabem" e, insidiosamente, pretenda amestrar os indígenas e outros bichos para a necessidade do contraditório e da separação ideológica das águas. O pranto do José Manuel Fernandes é conhecido, por demais. Apenas não se compreende como, na sua qualidade de director de jornal, não debateu tal copioso assunto na redacção, para tratamento formativo e informativo autêntico, confrontando partidos e candidatos com autoridade e seriedade. Em vez disso, preferiu alinhar no maior branqueamento ideológico que uma eleição permitiu e em socorro do indigente senhor Silva. Não superou, é certo, a vil direcção da SIC mas sabe-se que "optar pelo trapo / é topar o prato / na porta". Lá dizia O'Neill. Acertadamente.
Minha querida I...
A encomenda feita já foi despachada. Vai no correio o "meu querido Canalha", para que saibas que "nenhuma mulher está livre de se apaixonar por um cafajeste de boa linhagem". A história profana diz-nos isso mesmo. Lembra-me sempre aquela frase de Durrell: "não posso apaixonar-me porque pertenço a uma antiga corporação secreta: a dos bobos". Convenhamos que a ideia que não há combates contra o outro (o amor é sempre "um combate" lá dizia Giorgio Cesarano ... lembras-te!?) mas sim "contra si próprio", tem todo o sentido. Tantos cansaços devem valer alguma coisa. Tanta batalha assim ganha, custa a descobrir. Tanto quanto a corporeidade autoriza e a gramática possibilita.
Eis um testemunho do (teu) "Canalha":
"Todo o homem que é homem já teve seu dia de canalha. Pelo menos um belíssimo dia de canalha. A parte de um dia, que seja, uma tarde deliciosamente cafajeste. As pessoas costumam se enganar com facilidade, parecem pedir que isso aconteça, e o canalha não é do tipo que nega fogo. Aliás, não negarás fogo é o mandamento numero um desta boa linhagem de cafajestes.
Adoráveis canalhas, é o que são, sobretudo se apenas por um dia. No momento em que se dedicam à arte de seduzir, sejam quais forem os fins, eles serão irresistíveis. Como definiu Aldir Blanc, os 'canalhas cálidos' são ternos, compreensivos e com apurado senso de justiça. No caso de um cafajeste com altíssimo poder de atracção, a esta afabilidade se associa um amor genuíno pelas mulheres - os bons canalhas realmente gostam de mulheres, no sentido amplo.
São capazes de ouvir uma mulher como quem realmente está do lado dela, sem qualquer preconceito ou censura, prestando absoluta atenção ao que ela diz - só os dois parecem existir e é nela que o bom cafajeste está pensando. Mesmo assaltado de sonhos, ele saberá dissimular, esperando a hora certa para o ataque. Um canalha de boa estirpe jamais será vencido pela presa ..."
[Ruy Castro, Carlos Heitor Cony, Aldir Blanc, Marcelo Madureira, Bráulio Pedroso & Geraldo Carneiro, in Meu Querido Canalha, Objectiva, 2004]
domingo, 8 de janeiro de 2006
Kenneth Patchen [1911 - m. 8 janeiro 1972]
"Dear God, I don't want to go to bed tonight. There should be a lock on what I have to think" [K.P.]
"Let us have madness openly.
0 men Of my generation.
Let us follow
The footsteps of this slaughtered age:
See it trail across Time's dim land
Into the closed house of eternity
With the noise that dying has,
With the face that dead things wear--
nor ever say
We wanted more; we looked to find
An open door, an utter deed of love,
Transforming day's evil darkness;
but We found extended hell and fog Upon the earth,
and within the head
A rotting bog of lean huge graves" [K.P., Let Us Have Madness]
Locais: Kenneth Patchen Home Page / Kenneth Patchen / Kenneth Patchen Wonderings / Patchen: Man of Anger & Light by Henry Miller - A Letter to God by Kenneth Patchen / Sleepers Awake by Kenneth Patchen / Tributes to Kenneth Patchen and Miriam Patchen
Notícias breves do reyno lusitano & outras moléstias
"Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo" [Oswald de Andrade]
Passada a navegação natalícia em luxo ostentoso, de novo arribamos. Ainda cansados do laborioso "trabalho para o bronze" (condição de estarmos vivos) & irrequietos pelo trabalho de cata d'alfarrábios (a nossa desgraça), cedo fomos agraciados (via Fernando Pinto ... ui ... ui) por novas da administração do reyno. Ainda não tínhamos observado território indígena já o eng. Sócrates nos assomava com ar de anjo, avessado que estava por duas muletas curiosas. Na nossa inocência deslumbrada, logo cuidámos que o caso tinha sido fruto da agitação alegrista ou de alguma inspiração estimável do interino senhor Silva. A vivacidade na cantada do "Grândola Vila Morena", pelo piedoso democrata de Boliqueime, não é decerto despiciendo. Poderia ter sido influência de algum encontro de notáveis orçamentistas (olá Medina Carreira!) sobre a neve BESiana do Marquês de Pombal ou, até, efeito duma plangente manif. dos Pina Moras & Mexias, Inc. Poderia! A gerência domesticada tem sempre essas ousadias.
De outro modo, a TV espacial do sr. Fernando Pinto em parceria com a cândida RTP informava que nuestros hermanos eram obrigados a abandonar os mantimentos do tabaco e la siesta. Tememos pela nossa saúde. O cerco mavioso dessa aurora imaculada de salubridade pública instalava-se. Pela janela antevimos, em suave triunfo cavaquista, a figura prodigiosa de Macário Correia. O rosto brilhante de Sir João Carlos Espada. A bandarilha de Albino Almeida. O terror foi total. Nem a destreza perfeita das microfilmagens de documentos do Ministério da Defesa pelo dr. Portas nos restituiu o viço e a inspiração costumeira. O nosso coração estava, decididamente, fraco.
Por infinita misericórdia, pedimos mais um whisky. As funcionárias (ou pombas do céu) do sr. Fernando Pinto toleram bem essas petições e, portanto, o trabalho corporal de esquecimento foi soberbo. Por isso, enquanto na TV o beato Pinto da Costa chorava qualquer coisa sobre um tal de Moretto, adormecemos generosamente. Não vimos, pois, o guarda Abel em saudade guerreira. A eternidade era já só em Lisboa. Eis-nos de chegada. E ao vosso serviço para o passeio público. Inter alia, evidentemente.
sábado, 7 de janeiro de 2006
In Memoriam de António Gancho [1940-m. 31 Dezembro 2005]
"Noite, vem noite sobre mim sobre nós / dá repouso absoluto de tudo / traz peixes e abismos para nos abismarmos / traz o sono traz a morte..."
"... Suponho que de tudo o que escrevi
só o amor
só o amor louco me disse
o que era a poesia
só o amor e os teus lábios
o teu sexo
a tua púbis incandescente
só isso canto e cantei
e cantarei ..." [A.G.]
quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
Os Melhores Blogs Portugueses de 2005
"Olhava-se ao espelho pelo buraco da fechadura" [O'Neill]
É sabido, como aqui e aqui dissemos, que temos esse "fado" continuado de dar brado aos letreiros sentenciosos, presente nesse m(in)istério venturoso da blogosfera lusa, tão tremenda na lisonja nativa e infecta de virtudes belas. Sabemos que a desgraça encantada de avaliar, mesmo que fina e delicada, conduz a amotinamentos deslumbrantes e a porfiados caminhos de esquecimento. Não ignoramos que para alguns "é melhor não tirar os olhos do umbigo". O seu próprio - tão amparado de notabilíssimas iluminações. Tão obediente a palmas e martírios. Tão devoto a ditos galantes e a estados opinativos. Mas reincidimos no inventário do exercício.
Importa pronunciar que a listagem, ali do lado esquerdo, vai alta de luzimento. São todos de merecida estimação e de sorrisos doces. Alguns, tão refulgentes que eram deixaram-nos. Eram autênticos. Prodigiosos. Incómodos. Estão repousando. Mas conserva-se a sua memória. A eles, o nosso murmúrio de reconhecimento. Aos outro, aos ausentes, "que a palidez os não atraiçoem".
1. Abrupto
2. Da Literatura
3. A Montanha Mágica / Cocanha / Educação Sentimental / Triciclo Feliz
4. A Estrada / A Natureza do Mal / Estado Civil
5.Rua da Judiaria / Indústrias Culturais / There's Only Alice
6. Avatares de um Desejo / A Memória Inventada / Bombyx-Mori / Welcome to Elsinore
7. Sound-Vision / Dias com Árvores / Cartas Portuguesas / Forum Comunitário
8. Portugal dos Pequeninos / Grande Loja / Bloguitica / Causa Nossa / Blasfémias / Mar Salgado / Bicho Carpinteiro / Tugir
9. Voz do Deserto / Ma-Schamba / Bomba Inteligente
10. A Mão Invisível / Causa Liberal
Os Melhores Blogs de Autores Estrangeiros de 2005
1. Alexandre Soares Filho
2. Prosa Caótica / Letteri Café / Neurastenia / Cipango
3. Arts & Letters Daily / Wood S Lot / Romanzieri / Bookslut
4. Inmaculada Decepcion / Post Secret / Wimbledon / Plep
5. Andrew Sullivan / Body and Soul / Instapundit / The Rittenhouse Review
6. Incomimg Signals / Art Nudes
7. The Agonist / Talking Points Memo / The Huffington Post
8. eCuaderno
9. Largehearted Boy / Chromewaves
10.Smart Shade of Blue
quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
10 Livros Portugueses de 2005
1. Sol a Sol (Armando Silva Carvalho, Assírio & Alvim)
2. Finita (Maria Gabriela Llansol, Assírio & Alvim, 2ª ed.)
3. Diário Remendado (1971-1975) (Luiz Pacheco, Dom Quixote)
4. Mútuo Consentimento (Helder Moura Pereira, Assírio & Alvim)
5. A Morte de Colombo. Metamorfose e Fim do Ocidente como Mito (Eduardo Lourenço, Gradiva
6. As Intermitências da Morte (José Saramago, Caminho)
7. Livro das Quedas (Casimiro de Brito, Roma Editora)
8. Álvaro Cunhal. Uma Biografia Politica. O Prisioneiro (1949-1960), III vol (José Pacheco Pereira, Temas e Debates)
9. O Pequeno Livro do Grande Terramoto (Rui Tavares, Tinta da China)
10. O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa (Miguel Real, Quidnovi)
[Corrigenda: um erro injustificável fez-nos colocar o belíssimo livro de Gastão Cruz, Repercussão - que aqui anotámos, ano transacto - na listagem deste ano. Fomos chamados à pedra e bem. O livro pertence à felicidade de 2004. Uma boa colheita, diga-se. Reescrevemos a lista que nos alumiou este ano de graça de 2005. As nossas devidas desculpas]
10 Livros de Autores Estrangeiros de 2005
1. Ilíada (Homero, trad. Frederico Lourenço, Cotovia)
2. Sete Livros Iluminados (William Blake, trad. Manuel Portela, Antígona)
3. Os Pré-Rafaelitas (pref. e trad. Helena Barbas, Assírio & Alvim)
4. Os Cantos (Ezra Pound, Assírio & Alvim)
5. Poemas (Óscar Wilde, Relógio d'Água)
6. Seria uma rima, não seria uma solução: a poesia modernista (org. Abel Barros Baptista & Osvaldo Silvestre, Cotovia)
7. Dom Quixote de La Mancha (Miguel Cervantes, trad. José Bento, Relógio d'Água)
8. Paris Nunca se Acaba (Enrique Vila-Matas, Teorema)
9. Memórias das Minhas Putas Tristes (Gabriel García Márquez, D. Quixote)
10. A Conspiração contra a América (Philip Roth, D. Quixote)
10 Álbums de 2005
1. Illinoise - Sufjan Stevens
2. I Am A Bird Now - Antony And The Johnsons
3. Z - My Morning Jacket
4. Let It Die - Feist
5. Live at Carnegie Hall - Thelonious Monk Quartet with John Coltrane
6. Aerial - Kate Bush
7. Tanglewood Numbers - Silver Jews
8. Cripple Crow - Devendra Banhart
9. Veneer - Jose Gonzalez
10. Formative - Toothfairy
domingo, 18 de dezembro de 2005
Os Melhores Alfarrabistas Portugueses de 2005
"É aos psicanalistas que se deve perguntar por que se colecciona. Só eles sabem descobrir quais os motivos inconfessáveis e escabrosos que levam um burguês pacato e morigerado a praticar actos perfeitamente simples e morais" [Ruben Borba de Moraes]
1. Livraria Artes & Letras - ancorada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, a livraria de Luís Gomes, é um espaço magnífico, um lugar esplêndido para as inúmeras canseiras do amante do livro. Um local de culto. E de conversação.
2. Livraria Histórica e Ultramarina, Lisboa
3. Luís P. Burnay, Lisboa
4. J. A. Telles da Sylva, Lisboa
5. Livraria Olisipo, Lisboa
6. Livraria Académica, Porto
7. Livraria Miguel Carvalho, Coimbra
8. Livraria Manuel Ferreira, Porto
9. Livraria Chaminé da Mota, Porto
10. Livraria Bizantina, Lisboa
[locais: consultar aqui]
Catálogo da Livraria Artes & Letras
Hoje, apresentamos o último Catálogo (excelente) da Livraria Artes & Letras (Largo Trindade Coelho, nº 3 e 4, Lisboa), pertença de Luís Gomes, estimado livreiro antiquário. As peças bibliográficas (302), de alguma raridade e de muita estimação, criteriosamente escolhidas, são espécies valiosas, reunindo-se obras modernistas há muito esgotadas, que como é sabido abrem o apetite do bibliófilo que se preze.
Podem ser consultadas (ou pedidas) on line.
Algumas referências (obras portuguesas, em 1ª ed.): Cartas Físico-Mathematicas de Thedozio a Eugénio, ..., de Dorotheo de Almeida [aliás Pe. Teodoro de Almeida], 1784-1799, III vols / Recreação Filosófica ou Dialogo sobre a Filosofia Natural, ..., ididem, 1786- 1800, X vols / Adolescente. Poemas de Eugénio de Andrade, Ed. Autor, 1942 / History of the Azores ..., por Thomas Ashe, Londres, 1813 / Ortografia da Lingva Portvgvesa per Ioam Franco Barretto, Lisboa, 1671 / O Meu Amor Pequenino, de António Botto, 1934 / Portugal e os Estrangeiros, por Manuel Bernardes Branco, 1879-1895, V vols / Diccionario de geographia universal por uma sociedade de homens de sciencia ..., por Tito Augusto de Carvalho, Ed. David Corazzi, 1878-1887, IV vols / Seroens de S. Miguel de Seide, por Camilo Castelo Branco, 1886, X tomos / Tributo Portuguez à memoria do libertador, por António Feliciano de Castilho, 1836 / A Peregrina do Mundo Novo, de Ferreira de Castro, 1926 / Cuidados Literários do Prelado de Beja, por D. Frei Manuel do Cenáculo, 1791 / Um Auto para Jerusalém, de M. Cesariny Vasconcelos, 1964 / Jornal do Gato, ibidem, 1974 / Milagre: Costumes de agora; Almas do Purgatório; Santidade; Politicas; Fraternidade; Espectáculo; Igualdade (Fola fotocopiada com poemas), por Rui Cinatti, Ed. do autor, 1976 / Poesia de arte e realismo poético, de Natália Correia, 1958 / Antologia da Poesia Erótica e Satírica, dir Natália Correia e il de Cruzeiro Seixas, 1966 / O Vinho e a Lira, ibidem, 1966 / A Madona, ibidem, 1968 / As maçãs de Orestes, ibidem, 1970 / Exílio. Revista Mensal de Arte, lettras e sciências, (nº único) Abril de 1916 / O Mundo dos Outros, Historias e vagabundagens, de José Gomes Ferreira, 1950 / Onde tudo foi morrendo, por Vergílio Ferrreira, 1944 / Aparição, ibidem, 1959 / Cartas espirituais. A mulher e a Igreja, por Tomás da Fonseca, 1922 / Fátima(cartas ao Cardeal Cerejeira), ibidem, 1955 / Na Cova dos leões, ibidem, 1958 / Parnaso lusitano ou poesias selectas ..., por Almeida Garrett, 1826-1834, VI vols / Poemas de Camões, ibidem, Paris, 1825 / Da Educação, ibidem, Londres, 1829 / Viagens da Minha Terra, ibidem, 1846, II vols / Movimento Perpetuo, por António Gedeão, 1956 / Refúgio Perdido, de Soeiro Pereira Gomes, 1950 / Engrenagem, ibidem, 1951 / Xente d'a aldeã, por Alfredo Guisado, 1921 / Nova. Magazine de poesia e desenho, Ed. Herberto Hélder, 1975-76, II vols / Mangas verdes com sal, por Rui Knopfli, 1069 / A Ilha de Próspero, ibidem, 1972 / O Mnedigo e as sua História, por Albino Lapa, 1953 / O Espectro de Juvenal, de Gomes Leal, nº1 a nº5, 1872-73, V nums / A Canalha, ibidem (+ 4 opúsculos), ibidem / Fim do Mundo, ibidem, 1900 / O Anti-Cristo, ibidem, 1907 / Um Homem de Barbas, de Manuel de Lima, 1944 / Malaquias ou a História ..., ibidem, 1953 / A Pata do Pássaro ..., ibidem, 1972 / A Verticalidade e a Chave, de António Maria Lisboa, 1956 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry; seguido de senhor cágado e o menino, ibidem, 1958 / Apontamentos, de Irene Lisboa, 1943 / O Oriente, de José Agostinho de Macedo, 1814, II vols / Biblioteca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, 1965, IV vols / Poemas do tempo Incerto, por Adolfo Casais Monteiro, 1934 / Litoral, de João Cabral do Nascimento, 1934 / Cancioneiro, ibidem, 1943 / Confidências, ibidem, 1945 / Mito alegoria-símbolo. Monólogo autodidacta na oficina de pintura, por José de Almada Negreiros, 1948 / A Chave diz. Faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ..., ibidem, 1950 / O Paço de Milhafre, de Vitorino Nemésio, 1924 / La Voyelle Promise, ibidem, 1935 / A Casa fechada. Novelas, ibidem, 1936 / O Bicho Harmonioso, ibidem, 1938 / Nem toda a noite a vida, ibidem, 1952 / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, ibidem, 1954 / Corsário das Ilhas. Jornal de Vitorino Nemésio, ibidem, 1956 / O retrato do semeador, ibidem, 1958 / Limite de Idade, ibidem, 1971 / Jornal do Observador ibidem, 1974 / Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, 1953 / Textos Locais, por Luiz Pacheco, 1967 / Diário, por António Pedro, Cabo Verde, 1929 / Canções e outros poemas, ibidem, 1936 / Clepsydra, de Camilo Pessanha, 1920 / O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires, 1958 / Jogos de Azar, ibidem, 1963 / Dinossauro excelentíssimo, ibidem, 1972 / Pomar XVI Desenhos, 1948 / Os Maias, de Eça de Queiroz, 1888, II vols / Diccionario de milagres, ibidem, 1900 / Contos, ibidem, 1902 / Prosas Barbaras, ibidem, 1904 / A dignidade das letras e as literaturas officiaes, de Anthero de Quental, 1865 / Constantino guardador de vacas e de sonhos, por Alves Redol, 1962 / Literatura livresca e literatura viva. Manifesto literário, de José Régio, 1940 (?) / Cadernos do meio-dia, dir António Ramos Rosa, Faro, 1958-1960, V fasc / Luz central, de Ernesto Sampaio, 1958 / Para uma Cultura Fascinante, ibidem, 1959 / Asas (Poesia), de José Carlos Ary dos Santos, 1952 / Tempo da lenda das amendoeiras, ibidem, 1964 / Insofrimento in sofrimento, ibidem, 1969 / Andanças do demónio, por Jorge de Sena, 1960 / A Justificação jurídica da restauração e a teoria da origem popular do poder politico, de Mário Soares, 1954 / Mornas cantigas crioulas, por Eugénio Tavares, 1932
Catálogos
"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]
O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.
"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]
O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
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