quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
A "Cavalaria" das Presidenciais
"Declaro que, no título meio quadrúpede, meio literário d'este folheto, não disfarço alguma subtil malícia zoologicamente hostil a alguém. O meu naturalismo não vai tão longe ..." [Camilo Castelo Branco, in a Cavallaria da Sebenta, 1883]
"... A crer nos reaccionários, o interesse dos governados seria, por assim dizer, o de serem governados o mais possível. O Rei hereditário possuiria, por uma espécie de virtude de posição (e porque não por um estado de graça?), não só o privilegio de conhecer as necessidades do país a que preside como o de não poder deixar de servir os interesses nacionais. O Rei seria, numa palavra, o indivíduo, o único indivíduo da Nação, em que o interesse geral e o interesse individual coincidem (...). Ora se existe um ser tão singular que goza da propriedade de servir o bem comum quando mais não faz que procurar o seu próprio bem, nada parece mais razoável do que confiar-lhe cegamente os nossos interesses, sem limitação e sem controle. Dando-lhe carta branca, teremos feito um bom negócio.
A tese é admiravelmente simples. Quem pensa, porém, iludir com ela? ..." [Raul Proença, Seara Nova, 1930]
"Hoje as histórias fazem-se aos pulinhos,
Sobre o joelho, ou mesmo sobre o vento ..." [Pedro Dinis?]
"Antigamente como vegetação constitucional tínhamos apenas uma árvore - a bem conhecida árvore da liberdade regada com o sangue de tantos mártires. Presentemente o constitucionalismo botou horta.
Foi depois de se ver como a árvore medrava neste abençoado torrão, que a pouco e pouco se foi plantando o resto.
Vieram os folhudos repolhos, as saborosas couves penca e lombarda, a bela abóbora, os frescos espinafres, as diferentes alfaces, e os variados cheiros, a pimpinela, a salsa, o coentro - tudo da liberdade.
Pôs-se a mesa rústica debaixo do parreiral, e fundou-se a reinação moderna ..." [Ramalho Ortigão, As Farpas, IV)
"...E um poeta cantava uma ária"
"Basta
O público está fatigado
Mas não serei eu quem favorecerá esse desejo
Porque se o público adormece
Não há feijão verde este ano
Nem tartarugas a vaguear sobre secretárias ministro
Nem poeira nas engrenagens dos relógios
Nem sequer jactos de saliva na cara dos padres" [Péret, trad. Ernesto Sampaio]