quinta-feira, 14 de abril de 2005
Leilão - Biblioteca do Prof. Doutor Artur Moreira de Sá
Nos dias 18 e 19 de Abril, pelas 21 horas (Amazónia Lisboa Hotel, ao Jardim das Amoreiras), será leiloada parte da Biblioteca de Artur Moreira de Sá (640 peças). O catálogo (excelente) e toda a organização do leilão estarão a cargo de Pedro de Azevedo (Rua Custódio Vieira, 2ª, Lisboa).
Trata-se da extraordinária biblioteca de Artur Moreira de Sá (n. no Porto a 23 Abril de 1913), com invulgares e raras obras de arqueologia, bibliografia, história e filosofia, direito, manuscritos, revistas, etc. Artur M. de Sá foi licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas (com o trabalho "Os Precursores de Descartes"). Mais tarde prestou provas de doutoramento com o trabalho "Francisco Sanches, filósofo e matemático" (1947), frequentou Harvard e o "Teachers College" da Columbia University, tendo regressado à Faculdade de Letras em 1949 para exercer funções docentes. Fez parte da União Nacional, tendo sido "membro da Comissão Executiva do Congresso da União Nacional realizado em Coimbra, em 1951? [in Curriculum Vitae de Artur Moreira de Sá, 1954]. Foi membro de várias associações científicas nacionais e estrangeiras, "secretário da revista Rumo", fez parte do Instituto de Alta Cultura e apresenta um rol extenso de obras de referências, entre as quais "Álvaro Gomes, Tratado da Perfeição da Alma" (1946), "O Infante D. Pedro e a Crítica Histórica" (1950), "Diogo Lopes Rebelo - Do Governo da República pelo Rei" (1951), "Pedro Hispano Prior da Igreja de Santa Maria de Guimarães e Arcebispo da Sé de Braga" (1954), "Índices de Livros Proibidos em Portugal no Século XVI?" (1983), entre muitas.
Algumas referências para o leilão do 1º dia: Aegidius Columna Romanus - Theoremata de hóstia cõsecrata Egidij de Roma ordinis heremitam sancti Augustini, 1490 / Tractatus de Officio Fiscalis ..., de Francisco de Alfaro, 1639 / Libros del saber de astronomia del Rey D. Alfonso X de Castilla, por Alfonso X, 1863-67, V vols / O Archeologo Português, red. de Leite de Vasconcelos, III séries, 1895 a 1977 / Compilação de varias obras do insigne portuguez João de Barros ..., sob o cuidado do Visconde de Azevedo, 1869 / Da Ásia de João de Barrros e Diogo Couto, 1778-1788, XIV vols / Nova floresta ou sylva de vários ..., pelo Pe. Manuel Bernardes, 1706-1728, V vols / Na historical view oh the revolutions of Portugal..., pelo Cap. John Murray Browne, 1827 / Description de LÁfrique contenant les Noms, ?, por Olfert Dapper, 1686 / Achillis Statij Lusitani ..., por Aquiles Estaço, 1553 (muito raro) / Expresso, nº1 ao nº52, 1973 (curioso!) / De Ivsto Império Lvsitanorvm Asiatico, por Frei Serafim de Freitas, 1625 / Obras de Don Lvis de Gongora, 1658 / Historia da literatura portuguesa ilustrada, sob dir. de Forjaz de Sampaio, 1929-42, IV vols / Memorias históricas del Rei D. Alonso El Sábio, de Gaspar Ibañez de Segóvia, 1777
[a continuar]
sábado, 9 de abril de 2005
Praia da Vieira de Leiria
"Cachopas-boieiras, de aguilhada erguida, caminham afanosas ao lado dos bois, que, em parelha, puxam as redes; raparigas-casadoiras, de canos-polainudos, sentam-se aqui e além, na areia fofa, tendo à ilharga a canastra do peixe; meninas, que são o sonho e o tormento dos moços pescadores, travam falinhas mansas de amor ou de receio por aqueles que lá andam na penitência do mar (...)
À beira-mar, moçoilas esbeltas, de lenços vermelhos, e de aventais nevados, enchem cântaros que põem à cabeça, recordando a Samaritana ao voltar da fonte sagrada ..."
[V. G. P., Entre Mar e Terra, 1933]
Vergílio Guerra Pedrosa [n. Vieira Leiria 9 Abril de 1895-1952]
"... As areias finas da praia [Praia da Vieira de Leiria] a sublinhar a eterna verdura dos pinheiros; a esteira luminosa do Liz, no seio dum vale pequenino e fecundo, a fazer o milagre da leiva; a litania do mar, ora manso e fagueiro, ora raivoso e truculento; o fogo do sol poente, raiado de sangue e de oiro, por entre nuvens espessas como ardósias; a orquestração da floresta, no silêncio místico da noite; a aleluia da faina da pesca em todo o movimento da vida são motivos que gritam à alma ..."
[V. G. Pedrosa, in Entre Mar e Terra, Leiria, 1933]
sexta-feira, 8 de abril de 2005
[Francisco de Sá Carneiro - 31 anos atrás]
"... O programa básico do nosso Partido, há dias aprovado no Congresso, confirnou e tornou claro o carácter social democrático da via que preconizamos para a resolução das contradições e desigualdades da sociedade portuguesa (...)
O socialismo democrático que propomos é um desafio constante à participação activa de todo o Povo e apenas à dedicação dos nossos militantes.
É isso a social democracia: realização de socialismo em liberdade segundo a cadência de reformas determinada pelo voto popular, para a construção de uma sociedade liberta da exploração e da lei do lucro (...)
Nem se diga que a social democracia é incompatível com o nosso atraso. Este é real, sem que por isso a nossa situação deixe de ser muito superior à dos povos peruano ou cubano, por exemplo.
Mas a experiência da Europa mostra bem como é falso afirmar que a social democracia só é possível em países desenvolvidos.
Os países que o são hoje graças a regimes sociais democratas não o eram quando tomaram resolutamente a via do socialismo democrático (...)
A Noruega, a Dinamarca, a Finlândia, a Islândia, em parte a Áustria, não eram, nessa altura, países industrialmente desenvolvidos, com indústrias pesadas e ligeiras poderosas. A própria Suécia só o era em medida limitada (...)
Tais países não tinham, obviamente, há 30 ou 40 anos um nível cultural muito superior ao que Portugal tem hoje; nem eram grandemente desenvolvidos e industrializados; passaram a sê-lo com governos sociais democratas ..."
[Excerto do discurso de F. de Sá Carneiro, Porto, 29/11/1974, in Notas Complementares de Introdução à Política, ed. Comissão Concelhia do Porto do PPD, Fev. 1975]
quinta-feira, 7 de abril de 2005
Pastores Lusos
"Do pastor depende a boa administração do rebanho" [in Livraria do Lavrador]
Os avisos & reflexões, queixas & castigos, dos pastores da opinião pública são de um fascínio tremendo. O incauto indígena lê a pragmática desses defensores do povo, aprumados por detrás do varandim dos jornais, e teme pelos seus progenitores. Salpicados em desbragadas retóricas & empolgantes sentenças, o leitor aflito vacila entre o silêncio inclemente e a afeição ardente pelo depravado jornaleiro. Os folhetos dos escribas que pastoreiam a choupana lusa, em alegres rabiscos, retardam "o cio" político ao mesmo tempo que dão "rações suplementares" a outros lacrimantes e suspirosos cavalheiros.
Os opinadores dos jornais têm bom treino, são genuínos "cães de parar". Estão neste mister, entre outros, o alienado João Carlos Espada, o bestial Luís Delgado, o incurável José Manuel Fernandes, o copista Sérgio Figueiredo ou o habilidoso Sarsfield Cabral. As vassouradas distribuídas ao rebanho são quase sempre resplandecentes.
Esta semana a última página d'O Expresso-Actual ressuscitou o melhor de J. Carlos Espada. Engolfado sobre as dernières nouvelles dos ex-companheiros da UDP, o professor Espada aconselha as direitas portuguesas, avisa-nos dos malefícios da "introspecção acerca das definições" (ultríssimo pecado conceptual), confessa o que soletrou em Karl Popper há meia dúzia de anos e traz o recado do magno problema português - está Espada, por esta altura, em colossal agitação ante o declínio europeu, sumariando sinais para aulas de apoio pedagógico acrescido. Ora o que o professor revela animadamente é a existência de um maravilhoso "paradoxo", dito europeu, que em cordial gratidão quer partilhar. Pois que se trata? Nada menos que a infame estatização e consequente desmoralização "espiritual". Com lágrimas vertidas na face, o professor Espada, bem adestrado em "discutir soluções", atira-nos com um tal George Weigel para lavar as mãos neo-liberais, ou quiçá para nos fazer a biografia espiritual, enquanto exaura um último pensamento: o necessário e proveitoso estudo da realidade americana. Eis, pois, o elixir e novo bálsamo para a alma lusa. O nosso devir. Que cem Espadas floresçam. Temos dito.
Eleições no G.O.L.
"António Reis, Luís Vaz e Carlos Morais Santos são os três nomes até agora perfilados nas eleições para o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga ordenação maçónica portuguesa que vai a votos a 4 de Junho.
As candidaturas serão analisadas pelo Grande Tribunal Maçónico no próximo dia 24 de Abril e, a partir do aval deste órgão, são consideradas oficiais, podendo os candidatos iniciar a campanha eleitoral pelas lojas espalhadas pelo país (...)
Carlos Morais Santos, há muitos anos elemento da maçonaria, é a segunda vez que concorre ao cargo de Grão-mestre, tendo estado na corrida de 2002 que acabou por eleger António Arnaut para o mais alto posto da instituição.
A candidatura deste socialista, que será formalmente apresentada no próximo dia 12, num jantar em Lisboa, diz querer assumir os lemas da «fraternidade, progresso e contemporaneidade» e, segundo o próprio, fazer com que a maçonaria «volte a construir obras sociais e não seja meramente especulativa»" [ler Aqui]
quarta-feira, 6 de abril de 2005
Erich Muhsam [n. 6 Abril de 1878-1934]
"Name? Asked the interrogator.
I told him my name.
Born?
I said: yes.
I mean when!
I gave the date.
Religion?
That's not your concern.
So, a Jew!" [Erich Muhsam]
Locais: Erich Muhsam / Erich Muhsam (1866-1934) / Erich Muhsam; German Jewish anarchist (1878-1934) / Life And Death of Erich Musham
Livros & Arrumações
* Separata do Instituto de Cultura Italiana em Portugal, nº 4 e 5, 1941, intitulada "Dante em Portugal e no Brasil. Ensaio bíblio-iconográfico", pelo Director de Arquivo Histórico Militar de Lisboa, Cor. Henrique de Campos Ferreira Lima. O autor a partir da "interessante e valiosa exposição" (15 de Junho de 1929) realizada na Biblioteca Nacional sobre Dante, sem que houvesse a publicação de qualquer catálogo, empreendeu a tarefa de fornecer material bibliográfico sobre tudo o que se publicou em língua portuguesa "relativamente ao autor da Divina Comédia", dado a sua falta quer em Portugal ou no Brasil. Assim, além de uma introdução necessariamente explicativa - onde é sugerido algumas das "influências dantescas na nossa literatura", como em Garcia de Resende, no poeta D. João Manuel, Anrique da Mota, em Diogo Brandão, Duarte de Brito. Refere, ainda, uma provável intervenção na obra de Bernardim Ribeiro ou Camões) -, Henrique de Campos Ferreira apresenta 214 obras, entre traduções (47), comentários, críticas, biografias, livros com referência, etc., registos iconográficos, uma vária e um suplemento.
"Assim de todo mudado
Ali junto me cheguei;
E neste modo fallei
Assas bem temorisado.
Oh gentes atribuladas,
Porque razão de vós dê
Dizei a causa porque
Sois assim atormentadas!" [Diogo Brandão, in Fingimento de amor]
* Separata do Instituto de Cultura Italiana em Portugal, nº 4 e 5, 1941, intitulada "Dante em Portugal e no Brasil. Ensaio bíblio-iconográfico", pelo Director de Arquivo Histórico Militar de Lisboa, Cor. Henrique de Campos Ferreira Lima. O autor a partir da "interessante e valiosa exposição" (15 de Junho de 1929) realizada na Biblioteca Nacional sobre Dante, sem que houvesse a publicação de qualquer catálogo, empreendeu a tarefa de fornecer material bibliográfico sobre tudo o que se publicou em língua portuguesa "relativamente ao autor da Divina Comédia", dado a sua falta quer em Portugal ou no Brasil. Assim, além de uma introdução necessariamente explicativa - onde é sugerido algumas das "influências dantescas na nossa literatura", como em Garcia de Resende, no poeta D. João Manuel, Anrique da Mota, em Diogo Brandão, Duarte de Brito. Refere, ainda, uma provável intervenção na obra de Bernardim Ribeiro ou Camões) -, Henrique de Campos Ferreira apresenta 214 obras, entre traduções (47), comentários, críticas, biografias, livros com referência, etc., registos iconográficos, uma vária e um suplemento.
"Assim de todo mudado
Ali junto me cheguei;
E neste modo fallei
Assas bem temorisado.
Oh gentes atribuladas,
Porque razão de vós dê
Dizei a causa porque
Sois assim atormentadas!" [Diogo Brandão, in Fingimento de amor]
Isaac Asimov [m. 6 Abril de 1992]
"Num estudo sobre "Social Science Fiction", Isaac Asimov dividiu a história da Ficção Científica em três períodos:
O primeiro estende-se desde os mais remotos e problemáticos percursores até o ano da publicação da revista Amazing Stories em 1926. É uma era amorfa, sem fronteiras precisas, descontínua, iluminada aqui e ali por esforços esporádicos e raramente conscientes.
O segundo, de 1926 a 1938, floresce a era "Gernsback". Proliferam as revistas de aventuras siderais e os "Comic Strips", umas e outras inteiramente dedicadas à manutenção do herói exagerado, viril e americano e à glória de raça humana (branca, como está bem de ver).
O terceiro, de 1938 até os dias actuais, assinala-se a consciencialização do género e o progressivo melhoramento de sua qualidade literária ..."
[in História da Ficção Científica - Uma Antologia da Ficção Científica, desde os primórdios da Literatura Fantástica até os dias actuais]
segunda-feira, 4 de abril de 2005
Aniversário
"hoje rebentou para aí um sol que não devia
deixar ninguém de fora do jubileu
eu, por mim, vos ponho assim o coração
ao léu" [in Novas Cartas Portuguesas]
Passaram 2 (dois) anos sobre esses exercícios, sempre brandos & luxuriantes, que ao longo do tempo acompanhamos na Bomba Inteligente. Lugar de afectos que o tempo sustém, teatro do belo, primorosamente reescrito, a sua presença é a nossa glória. A nossa noute festiva. A paz ao fim do dia. Por tudo isso, daqui destas "lindas águas" do Mondego, enviamos a maior das felicitações e dos abraços.
Leilão de uma notável Biblioteca - Dias 4, 5 e 6 de Abril
Realiza-se hoje, pelas 21 horas na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, nº20, Lisboa) a primeira parte do leilão de mais uma biblioteca. A cargo do livreiro-alfarrabista José Manuel Rodrigues (Largo do Calhariz, 14, Lisboa) o leilão, a continuar por mais 2 noites, possui Catálogo competente. Das 1092 peças a leiloar estão incluídas temáticas tão diversas como: "Náutica, Marinharia Portuguesa, Descobrimentos, Viagens e Explorações, Literatura, História, Arte, Ultramar, Alvarás, Mapas e Manuscritos". Uma excelente oportunidade para fazer gastos entusiastas em livros, sendo que alguns são bem difíceis de encontrar, senão já raros.
Algumas referências para a 1ª noite (dia 4): Teatro Popular Português, por Azinhal Abelho, 1968-73, VI vols / Álbum dos Costumes Portuguezes, 1888 / A Engomadeira, de Almada Negreiros, 1917 / A Invenção do Dia Claro, de Almada, 1921 / História da Igreja em Portugal, por Fortunato de Almeida, 1967-71, IV vols / Alvará. Carta de estabelecimento da Academia Geral da Marinha, 1779 / A Barca dos Sete Lemes, por Alves Redol, 1958 (mais, Anúncio, Fanga, etc.) / Tratado de Cozinha e Copa, por Carlos bento da Maia, 1904 / A Paródia, publ. sob direcção de Bordalo Pinheiro, 1903-1904, II vols, 106 nums / Livro do Monte, por Bulhão Pato, 1896 / A Campanha do Bailundo em 1902, de Francisco Cabral Moncada, 1903 / Caminhos de Ferro do Minho (lote de 7 obras), 1875 / De Angola à Contra-Costa, por Capello & Ivens, 1886, II vols / De Benguela às Terras de Iácca, idem, 1881, II vols / A Queda de um Anjo, de Camilo, 1866 / A Senhora Rattazzi, idem, 1880 / Amor de Perdição, idem / Inspirações, idem, 1851 / O Demónio do Ouro, idem, 1873 / A Ribeira de Lisboa, por Júlio de Castilho, 1940-45 (2ª ed.), V vols / Flores de Coral. Últimos Poemas, de Alberto Osório de Castro, Dili, 1908 / Manual de Prestidigitação, mais, Primavera Autónoma das Estradas, por Mário Cesariny Vasconcelos / Quadros da História de Portugal, junto com Folheto explicativo dos Quadros, por Chagas Franco & João Soares, 1932 e 1929 resp. / Os Ciganos de Portugal, por F. Adolpho Coelho, 1892 / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra no tempo da invasão dos denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1772 / O Amor em Portugal no Século XVIII (ilust. de Alberto de Sousa), por Júlio Dantas, 1917 (2ª ed.) / Os Macondes de Moçambique, por Jorge Dias, 1964
A propósito de algum anti-clericalismo
"Bom observador é aquele que guarda com cuidado o que ainda pode servir, exactamente como é bom revolucionário o que poupa o que ainda é útil: quem teima em conservar aquilo que já está bem roído de traça e de desfaz ao menor toque é apenas avarento ou desmazelado; quem deita fora sem escolher desatento ou furioso" [Agostinho da Silva, in Carta Vária]
"A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras" [idem, in Considerações e Outros Textos]
"Bom observador é aquele que guarda com cuidado o que ainda pode servir, exactamente como é bom revolucionário o que poupa o que ainda é útil: quem teima em conservar aquilo que já está bem roído de traça e de desfaz ao menor toque é apenas avarento ou desmazelado; quem deita fora sem escolher desatento ou furioso" [Agostinho da Silva, in Carta Vária]
"A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras" [idem, in Considerações e Outros Textos]
Karol Józef Wojtyla (1920-2005)
"A guerra nunca é uma fatalidade. Ela é sempre uma derrota da humanidade. O direito internacional, o diálogo franco, a solidariedade entre os Estados, o exercício tão nobre da diplomacia, são os meios dignos do homem e das nações para resolver as suas contendas (...)
E que dizer das ameaças de uma guerra que se poderia abater sobre as populações do Iraque, terra dos profetas, populações já extenuadas por mais de doze anos de embargo? A guerra nunca pode ser considerada um meio como outro qualquer, que se pode usar para regular os diferendos entre as Nações. Como recordava a Carta da Organização das Nações Unidas e o Direito Internacional, não podemos recorrer a ela, mesmo quando se trata de garantir o bem comum, a não ser como última possibilidade segundo condições muito rigorosas, sem negligenciar as consequências para as populações civis durante e depois das operações militares"
[Discurso de João Paulo II, proferido ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé na audiência de 13 de Janeiro de 2003]
quarta-feira, 30 de março de 2005
4 - Aniversários - 4
Ah! Aniversariantes magníficos. As cerimónias resplandecentes que pressentimos nestes dias, têm dobrado merecimento. Vós sois o nosso amparo. A nossa salvação. E a nossa ruína, também. Neste remanso de solidão em terras do Mondego, lançamos à Montanha Mágica, ao Fumaças, ao Paulo Querido e às Musas do nosso coração, a maior das felicidades. Já estamos a comemorar.
Memória: It's the Economy, Stupid!
Enquanto Abril tarda, algo saudosos devemos confessar, lá regressámos a Adam Smith e a Ricardo, à economia política e ao seu discurso. Sempre esse princípio deslumbrado. No apuro da escolha não encontrámos qualquer fenómeno natural, auto-regulado, estático, despojado de poder, mas sim um lugar de jogo de poderes. O "teste de mercado", que sempre se deu bem com a regulamentação nos tempos de Reagan e Thacher, foi o que vimos: crise e recessão mundial, aumento das desigualdades sociais e inter-regionais, guerras sem fim à vista.
O novo modismo neo-liberal do supply-side, a curva de Laffer, o velho pronunciamento de equilíbrio geral, não nos excitou. Há muito se sabe a confusão ideológica entre crescimento, desenvolvimento económico e distribuição de rendimento. Lembrámo-nos, tout court, do lento desnudar de Kaldor e Pasinetti, da Escola de Cambridge, a partir da análise de Harrod-Domar. Relemos a crítica feita de Samuelson e Modigliani, que ao contestarem a validade do caso Pasinetti, acentuam a propensão a poupar dos trabalhadores como motor do processo de crescimento. Sorrimos. Deixámos de lado Von Neuman e Leontief, os modelos de reprodução simples e alargada de Marx. Coisas de culto divino, que o tempo lembra.
Mas a transformação de valor em preços era bem mais curioso. Lá andámos com Piero Sraffa, acompanhando o renascimento da economia ricardiana (afinal era possível falar de conflito de classes em função da repartição do rendimento, sem o recurso ao conceito marxiano de exploração, pasme-se), Bortkiewcz, Winternitz, Morishima, Meek, Seton, Abraham Frois. Pairámos em Steedman, com algum azedume, mas nunca deixámos a teoria do valor. E ela, ao que parece, está de novo aí, finda que está a dormência a que se sujeitou. Porque a economia política sempre foi uma admirável metanarrativa, com algumas flores de génio.
A "oferta" e a "procura" explicada ao Povo
A Páscoa, por vezes, tem destas coisas: lança remédios celestiais & penitências ponderadas aos prevaricadores da relaxação social. A epístola aos "esquerdistas" & ao povo teve, neste pascoar, a aventurança do sublime João Miranda num letreiro intitulado: Um esquerdista é um fulano que não entende muito bem o que é isso da «Lei da Oferta e da Procura». Esse bloguista instruído do mundo e da tortura económica invectivou um "operário" da blogosfera lusitana e pronunciou, urbi et orbi, uma profissão de fé sobre o "funcionamento" da sociedade e da "economia", absolutamente admirável. Palmas e martírios.
Tinha-se ideia que um inocente "esquerdista", numa egolatria pecaminosa, desconhecia que a Terra girava e que havia coices e quedas espirituais, não era atreito às malas-artes, inchava de vinhos & petiscos & propaganda, declarava estranheza pela filosofia e a poesis, privava de cinemanias & outros atoalhados que fazem curvar a fronte cismadora, era indiferente aos esforços do pulsar erótico da libido porque pecador com cio se confessava, venerava a propriedade do ócio, ia em manada para a Zambujeira & afins, dormia como um cevado, pensava na revolução, era feliz. Desafortunadamente, nunca se pensou que o nosso protagonista "esquerdista" gaguejava na "Lei da Oferta e da Procura". O que espanta é que, desaustinado da modernidade, o nosso "esquerdista" tenha estagnado na redacção da dita "Lei". E que não tenha, o nosso infeliz recluso oeconomicus, qualquer opinião sobre o assunto. Mas, hélas!, eis que João Miranda vem amassar o nosso sombrio conhecimento. Nós, quebrantados de nervos, já nos decidimos: depois de Marx Abril.
Catálogo 9 da Livraria D. Pedro V
A Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) publicou mais um catálogo, o nono, elaborado por Carla Teixeira.
Algumas referências: O Inferno de Dante Alighieri, 1887 / Memórias do Sexto Marquês do Lavradio, de D. José Luiz de Almeida (Lavradio), 1947 / Descrição Geral e Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, por A.C. Teixira de Aragão, III vols / Tratado de Óleos e Enxofres, Vitríolo, Philosophorum, Alecrim, Salva e da Água Ardente, de Duarte Madeira Arraes (apres. de Yvette Centeno), 1993 / Aos Pés do Mestre, de Muhammad Rashid (aliás António Barahona), 1974 (raro) / A legitimidade dos governantes à luz da doutrina cristã, de Marcello Caetano, 1952 / De Angola à Contra-Costa, por Ivens Capello, 1886, II vols / Seroens em S. Miguel de Seide, de Camilo Castelo Branco, 1885, 6 tomos em 2 vols / Camillo Castello Branco. Typos e Episódios da sua galeria, de Sérgio de Castro, 1914, III vols / Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (org. Natália Correia), 1966 / Os Telles de Albergaria, por Carlos Malheiro Dias, s.d. / Ossadas, de Afonso Duarte, 1947 / Os Passos em Volta, de Herberto Hélder, 1963 / O Bebedor Nocturno, de Herberto Hélder, 1968 / A Ilha de Próspero. Texto & Fotos ..., por Rui Knopfli, 1972 / Danças Portuguesas, de Pedro Homem de Mello, 1962 / Cartas de Inglaterra, de Pedro Homem de Mello, 1973 / Peças em um Auto, por Luís de Sttau Monteiro, 1966 / Obras de Eça de Queirós. Edição do Centenário, 1946, XVI vols / Guia de Portugal Artístico, por M. Costa Ramalho (direc.), 1933, XI tomos em VI vols / O Espectro (jornal clandestino escrito por António Rodrigues Sampaio, durante as lutas liberais, nº1 16 Dez. 1846 a nº63, 3 Julho 1847), 1880 (2ª ed.) / Em Demanda do Graal, por Afonso Lopes Vieira, s.d
domingo, 27 de março de 2005
[Iconografia de Jesus]
"Quem te pintou triste e secreto,
Ó Cristo de olhar vendado,
Ó Cristo misterioso,
Abandonado
No Museu das Janelas Verdes,
Quem te pintou saudoso,
Talvez do Céu, talvez do Homem,
Talvez da criação antes da prova,
Quem te pintou assim, sereno e encoberto,
Imagem nova
Que um povo a ti votado
Um dia descobriu? ..."
[António Quadros, in Ode ao Cristo das Janelas Verdes]
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