terça-feira, 28 de setembro de 2004
[O Terreiro do Paço]
"O Livro de Toth, mais conhecido como Tarot é, como se sabe, constituído por 78 lâminas, originalmente de ouro fino, pertencendo 22 lâminas aos Arcanos Maiores, os esótericos, e as restantes 56 aos chamados Arcanos Menores ou exotéricos (...)
Se observarmos, sob o ponto de vista esotérico, o Terreiro do Paço logo verificamos que a expressão preponderante é a sua vasta, a sua profusa arcaria. Existe uma intencionalidade na disposição muito particular desses elementos que ultrapassa, sem dúvida, a simples função estrutural da sua arquitectura. Os edifícios laterais contêm 28 arcos, cada um, cuja soma é de 56, o que corresponde ao número de lâminas dos Arcanos Menores.
Na fachada principal, entre as ruas do Ouro e da Prata, contamos, por outro lado, 22 arcos, 11 em cada direcção, a partir da Rua Augusta. Ora, 22 arcos correspondem exactamente ao número de lâminas dos Arcanos Maiores, os arcanos iniciáticos.
Se aplicarmos a cada arco o arcano que lhe corresponde, possuímos a chave interpretativa de um ciclo completo de manifestação: relativamente aos 56 arcos, a manifestação profana, quanto aos 22 arcos frontais, entre as ruas do Ouro e da Prata, a realização oculta." [O. N. Gonçalves, in Quinto Império nº3, Abril de 1991]
segunda-feira, 27 de setembro de 2004
Heberto Padilla [1932 - m. a 25 Setembro 2000]
"Madre, todo ha cambiado.
Hasta el otoño es un soplo ruinoso
que abate el bosquecillo.
Ya nada nos protege contra el agua
y la noche.
Todo ha cambiado ya.
La quemadura del aire entra
en mis ojos y en los tuyos,
y aquel niño que oías
correr desde la oscura sala,
ya no ríe ..." [H. P., in Exílios]
Alguns Locais: Heberto Padilla / Heberto Padilla (Biografia) / ¿Quién es Heberto Padilla? / Heberto Padilla: delito de poeta / El escritor ante una batalla ideológica / Imágen de Julio Cortázar (por H. Padilla) / Fuera del juego (poesia) / Antologia Poesia
A Posteriori
- é possível que as declarações de David Justino nos jornais e TV's pudessem ser diferentes. Mas a originalidade da cacofonia ministrada, perfeitamente anti-pedagógica diga-se, é que a leveza das acusações do ex-Ministro da Educação Barrosista não tem qualquer sentido técnico, político ou educativo. David Justino é protagonista de si próprio. Transviado do seu métier, com uma total ausência de formação para o cargo, tomba no Mi(ni)stério da Educação sem poder escolher a equipa de trabalho, cerceado que estava numa autonomia por contrato Barrosista-Portista, sem projecto global, sem princípios orientadores, sem estratégia de mudança. O que resta depois das suas esquivas afirmações é a visão de um homem sem aprumo, angustiado e torturado. Pode ter toda a razão do mundo, mas falta-lhe a inspiração para o desvendar.
- a piramidal vitória de José Sócrates na sua eleição para secretário-geral do PS é a sepultura de todos nós. Não porque exista qualquer insensata tramóia conspirativa antidemocrática, mas porque representa, como noutros partidos, a mais perversa vitória do aparelho e dos interesses instalados. Quem, por qualquer motivo, soubesse das peripécias havidas, nas pressões desatinadas feitas, do alarido absolutamente disparatado construído sobre a cabeça dos eleitores socialistas, coraria fascinado. Será assim em todos os partidos, mas podia ser diferente. E não está em causa a figura de Sócrates, agora ocupado a manejar a agulha de candidato a primeiro-ministro com Lopes em fundo, mas sim a ideia que os desmandos e as vaidades de alguns são o ridículo para todos nós, simples mortais indiferentes ao construído democrático.
sábado, 25 de setembro de 2004
William Faulkner [n. 25 Setembro 1897-1962]
[O Som e a Fúria] - "... O romance faz-nos mergulhar, logo de começo, no inferno interior de Benjy, o idiota, o que justifica a reminiscência shakespeariana, que dá o título ao livro: (a vida) «é uma história contada por um idiota, cheio de som e fúria e sem qualquer sentido»
(...) Publicado pela primeira vez em 1929 [The Sound and The Fury], a sua composição recolhe o fruto de uma larga experiência literária, cujos precedentes são simultâneamente europeus e norte-americanos. Destes retoma a tradição impressionista de Henry James e o tipo de narrativa à Hawthorne, que se concentra na análise do dessoramento de uma antiga família; daqueles assimila em particular o magistério de James Joyce ..." [Luís de Sousa Rebelo, in prefácio a O Som e a Fúria, Portugália, trad. de Mário Henrique Leiria e H. Santos Carvalho]
[Credo]
"Creio na Arte, símbolo de apóstolos e mártires, toda poderosa, criadora de todas as belezas e no Livro, a sua expressão máxima, o qual é concebido pela graça do génio, nasceu do Sonho, padecendo o mortal sob paixão criadora, crucificando-se o artista para erguer o seu monumento, tentando pintar os Infernos e os Céus, e um dia surgiu divino, guardando a chama do Sol, e ficou colocado à mão direita de Deus, cinzelador da Terra, do Infinito e do Mar, de onde iluminará os vivos e os mortos. Creio na natureza, musa inspiradora e reveladora dos génios, na ressurreição da beleza, na Obra Eterna. Amem"
[N. A. Archer de Lima, in Livro de Horas para a Culto do Alfarrábio, Lisboa, Tip. do Comércio, 1928]
Boletim Bibliográfico 21 de Luís P. Burnay
Luís Burnay, Livreiro-antiquário com morada na Calçada do Combro, 43-47, Lisboa, lançou o seu 21 Boletim, com um conjunto de 545 livros esgotados e raros, a preços razoavéis.
Algumas referências: Agostinheida, poema heróico-cómico, [de Nuno Álvares Pereira Pato Moniz], 1817 / Quarenta Anos de Vida Literária e Política, por António José de Almeida, 1933-34, IV vols / A Mornaça: a revolta nos Açores e Madeira em 1931, de Ferro Alves, 1935 / Santos Portugueses, por João Ameal, 1957 / Descripção e Historia do Concelho de Moimenta da Beira, pelo Abade d'Arcozellos, 1926 (raro) / As Sciencias Malditas. Esboço de Filosofia hermética, de João Antunes, 1924 / O Archeologo Português, revista importante e valiosa dirigida por Leite Vasconcelos / D. Maria I, de Caetano Beirão, 1934 / O Antisemitismo, por Adolfo Benarús, 1937 / O Povo Português nos seus costumes, crenças e tradições, de Teófilo Braga, 1995, II vols / O Senhor D. Pedro II Imperador do Brasil: Biographia por Joaquim Pinto de Campos, 1871 (raro) / Amor e Melancolia, ou a Novíssima heloisa, de A. Feliciano de Castilho, Coimbra, 1828 / Lisboa Antiga: O Bairro Alto, 1902-1904, V vols / Guia Histórico do Viajante em Coimbra e Arredores, por Augusto Mendes Simões de Castro, 1897 / O Movimento Monarchico, por Álvaro Pinheiro Chagas, 1913, II vols / O Surrealismo na Poesia Portuguesa, organ. de Natália Correia, 1973 / Da Pulhice do Homo Sapiens (Da Monarquia de vigaristas, pela Republica de Bandidos à Ditadura de papa), de Humberto Delgado, 1933 / Historia da Franco-Maçonaria em Portugal (1733-1912), por Manuel Borges Grainha, 1976 / Guia e Manual do Jardineiro ou Arte de Cultivar os Jardins, com uma estampa explicativa seguido da linguagem das flores ..., [anónimo], 1862 / As Sociedades Secretas, de Serge Hutin, 1959 / A Ilharca Incógnita ou memorias do Cavalheiro de Gastrines ..., 1802, VI vols / Jurisconsultos Portugueses do Século XIX, sob direcção de José Pinto Loureiro, 1947 / Os Cátaros: origens, desenvolvimento, perseguição, extinção, por Jesus Mestre Godés, 2001 / Obras de Francisco Sá de Miranda: ed. fac-similada de 1595, com estudo de Vítor Aguiar e Silva, 1994 / Governantes de Portugal desde 1820 até ao Dr. Salazar, por António Manuel Pereira, 1959 / Amieira do Antigo Priorado do Crato (subsídios para uma monografia), por F. V. Rasquilho e Tude M. Sousa, 1936 / A Barba em Portugal: estudo de etnografia comparativa, de J. Leite de Vasconcelos, 1925 (raro) / Corografia portugueza e descripcam topográfica do famoso Reyno de Portugal, com as noticias das fundações das Cidades, Villas & Lugares ..., de António Carvalho da Costa, 1868, III vols / Definições e Estatutos dos Cavalleiros, e Freires da ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Historia da Origem e Principio della, Of. De Miguel Manescal da Costa, 1746 (raro) / Galeria das ordens Religiosas e Militares, desde a mais remota antiguidade até nossos dias, Porto, 1843, II vols (raro) / Regra da Cavalaria e Ordem Militar se S. Bento d'Aviz, Lisboa, Impressa por Jorge Rodrigues, 1631 / O Vidro em Portugal, de Vasco Valente, Porto, 1950
sexta-feira, 24 de setembro de 2004
Faites à La Main
- os funcionários públicos do M.E. se fossem coloridos pelo mão do inefável dr. Medina Carreira não depenicavam listas de colocação de docentes, muito menos escarafunchavam numa semana o que só se pode fazer em vários meses (salvo milagres autorizados pela tutela e na sua primeira versão por inteligentes sindicalistas). Nem procuravam disfarçar o desconcerto da sra. Ministra de Educação ou as oração do incontinente Santana. Muito menos alinhavam nas divertidas afirmações dos Sindicatos de Professores, sob o aconchego sorrateiro do dr. Paulo Sucena ou do subtil piscar de olhos do dr. João Dias da Silva. Evidentemente que, para o tão habilidoso como ressaibiado dr. Carreira, há muito que uma qualquer bula teria atirado os dissolutos e gastadores funcionários públicos para o seguro redil do desemprego. A bem da Nação, em amparo da absorvente faina de um qualquer conselho de administração da CGD ou em defesa da enérgica administração da EDP. O dr. Carreira jaz posto como um pároco denunciador da plebe, ao mesmo tempo que debaixo da capa lhe caem mapas e mapas de números baptizados, emolumentos depravados, papéis espirituosos. O tabelião dr. Medina Carreira tem um sonho: ver o professor Silva Lopes e a doutora Teodora Cardoso de lápis na mão a fazer listas de colocações de docentes, em vez de se incomodarem a reflectir sobre economia, finanças ou orçamento. Por moralidade e a bem da Nação.
- o furor erudito do vendedor de sistemas Dias da Cunha é arrebatador. O presidente do SCP topa os folguedos do futebol em rápida vistoria, mas quando pretende agarra-los a bicharada desaparece misteriosamente. A-peseiro disso lança raios e coriscos implacáveis, barafusta no oráculo de Alvalade, faz hermenêuticas muito condimentadas nas TV's. O alarido deve frutificar. Até porque, empoleirado nas Torres das Antas, Jorge Nuno Pinto da Costa reflectindo sobre a transcendência do Uno juntamente com o filósofo Víctor Fernández, vai estabelecendo os competentes regulamentos. E Bruno Prata, o cómico de serviço aos jornais, arquitecta prosa suculenta sobre a equipa azul e branca para os cabisbaixos associados. O sistema seguirá dentro de momentos, nem que seja faites à la main. Dias da Cunha antecipadamente agradece.
quarta-feira, 22 de setembro de 2004
Herança Barrosista
A arte de administrar da governação de Durão Barroso é o maior atestado da tragédia que tombou sobre as nossas cabeças. A coreografia política obscena manifestada, a arquitectura reformista afiançada até à exaustão - suprema vaidade revelada em mimosas prédicas à nação -, a laboriosa presunção de brilho, talento, sacrifício e confiança no desempenho e competência governamental resultam num mar imenso de aguçados escolhos, numa grosseira e indecoroso aventura sem glória, num espectáculo espantoso de desencantos e amarguras. Todo esse descomunal e misterioso trabalho governativo não foi mais que um monumento à inépcia e incompetência, um embuste desvendado, uma calúnia à inteligência e ao bom-senso. O rendez-vous com os indígenas não passou de uma rosariada pouco empolgante e de muito artifício.
O que se sabe, hoje, por desgraça nossa, está à vista de todos. A chinfrineira do governo do presidente-preocupado-Sampaio diz-nos isso mesmo. Senão, como interpretar a inquietação pelo estado das finanças, do deficit e pelo novíssimo orçamento, do inefável Bagão Félix, aquele a quem não deixaram vestir opa para mal dos nossos pecados? Como varrer a ideia, nas nossas malabrutas cabeças, da negociata dos Hospitais-Empresas, oferecida com emoção reformadora pelo boticário ministro da Saúde? Como entender os mystérios da educação desse impagável duo David Justino & Abílio Morgado? E as pieguices dos chief executive officer estaduais? Ou o desempenho dos figurantes chairman's para todo o serviço da governação empresarial? Que dizer da extenuante lide da gestão da coisa pública, dos vários boys que as sinecuras amamentam? E dos conselhos foliões desse cabriolet Luís Delgado? E a estridente gritaria à plebe do arq. Saraiva, entretido que está no tiroteio da contra-informação? Estaremos todos nós a malucar? Poderá ser?
[A leviandade política, com que a Sra Ministra da Educação alimentou o processo de colocação de professores, mesmo que a boa fé exista, é inaceitável. Não querendo enxergar, desde o início, as desmandas informáticas (porque as outras só terá consciência daqui a uns tempos) herdadas anteriormente, aferrolhando-se ao compadrio e à balbúrdia laranja, não fez mais que dar uma triste imagem de perdedora. Desde a primeira hora que a Ministra devia ter suspendido o concurso de docentes, tendo mesmo sido avisada para tal facto, e só mordeu o freio da derrota política por sua inteira vontade. À banalidade do seu desempenho televisivo acresce a impotência de se sujeitar à gritaria dos sindicatos e a ouvir o ar grave de catedrática educativa Fátima Bonifácio (para quando uma avaliação pedagógica a estes senhores?). Pior descrédito é impossível.]
Leilão de Livros no Palácio do Correio Velho
[Dias 28, 29 e 30 Setembro]
Arte e Arquitectura / Biografias / Botânica / Brasiliana / Camoniana / Coleccionismo / Direito / Equitação / Gastronomia e Enologia / Heráldica e Geneologia / Literatura / Manuscritos / Numismática / Queirosiana / Revistas / Arquivo de Alfred Tait (Barão de Soutelinho)
Livros & Arrumações
- Da Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, Ano 76, vol. LXXII, nº 443, de Jul/Set. 1977 um curioso trabalho denominado, "A Criação Nacional de Cavalos Árabes e a Homologação do seu «Stud Book»", pelo médico-veterinário José Monteiro. Refere "os seis ramos originais em que é clássico dividir a raça árabe", parte para o estudo da "genealogia do garanhão Aksoum que figura na maioria dos pedigrees dos árabes nacionais da actualidade", citando as fontes. Aponta o facto que a "óptima qualidade dos árabes nacionais resultaria da junção das boas fontes originais que foi possível reunir na Coudelaria Nacional Portuguesa, de um meio próprio para a raça e de uma apertada selecção morfofuncional feita através de severas provas". Por último refere, ainda, que o cavalo árabe "tem sido prejudicado na sua evolução e melhoramento por estar rodeado de lendas mais ou menos fundamentadas, de ideias preconcebidas e de concepções ultrapassadas".
- No II Centenário da Imprensa Nacional [1768-1968], com notas coligidas por Ramiro Farinha, um opúsculo, "Imprensa Nacional de Lisboa. Sinopses da sua História", 1969. Algumas anotações: data de 24 de Dezembro de 1768 o alvará que criou a Impressa Régia, "que ficou subordinada à Junta do Comércio". Como director ficou Nicolau Pagliarini, sendo o mestre-escola e abridor de estampas o célebre Joaquim Carneiro da Silva (aprendeu desenho no Rio de Janeiro com João Gomes, frequentou a escola de Louis Sterni em Roma, seguiu para Florença e a convite do Marquês de Pombal veio para Lisboa) e o mestre-livreiro da Real Biblioteca era António José. A partir das Cortes Constituintes de 1820, passa a denominar-se por Imprensa Nacional. Em 1878 o administrador foi Venâncio Augusto Deslandes (que publica a importante obra, Documentos para a História da Tipografia Portuguesa do Século XVI e XVII, em 1822) e com a sua morte sucede Luís Derouet, sendo substituído em 1915 por Augusto Machado Santos e em 1917 por Almeida Garrett. Da bibliografia consultada registe-se: A Imprensa Nacional e as Humanidades Clássicas", por Rebelo Gonçalves; "A Imprensa Nacional - Subsídios para a Sua História", de José Vitorino Ribeiro; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Memória Histórica", por Norberto de Araújo e Artur Pereira Mendes; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Breve Notícia Histórica", por Henrique Ferreira da Costa.
- Da Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, Ano 76, vol. LXXII, nº 443, de Jul/Set. 1977 um curioso trabalho denominado, "A Criação Nacional de Cavalos Árabes e a Homologação do seu «Stud Book»", pelo médico-veterinário José Monteiro. Refere "os seis ramos originais em que é clássico dividir a raça árabe", parte para o estudo da "genealogia do garanhão Aksoum que figura na maioria dos pedigrees dos árabes nacionais da actualidade", citando as fontes. Aponta o facto que a "óptima qualidade dos árabes nacionais resultaria da junção das boas fontes originais que foi possível reunir na Coudelaria Nacional Portuguesa, de um meio próprio para a raça e de uma apertada selecção morfofuncional feita através de severas provas". Por último refere, ainda, que o cavalo árabe "tem sido prejudicado na sua evolução e melhoramento por estar rodeado de lendas mais ou menos fundamentadas, de ideias preconcebidas e de concepções ultrapassadas".
- No II Centenário da Imprensa Nacional [1768-1968], com notas coligidas por Ramiro Farinha, um opúsculo, "Imprensa Nacional de Lisboa. Sinopses da sua História", 1969. Algumas anotações: data de 24 de Dezembro de 1768 o alvará que criou a Impressa Régia, "que ficou subordinada à Junta do Comércio". Como director ficou Nicolau Pagliarini, sendo o mestre-escola e abridor de estampas o célebre Joaquim Carneiro da Silva (aprendeu desenho no Rio de Janeiro com João Gomes, frequentou a escola de Louis Sterni em Roma, seguiu para Florença e a convite do Marquês de Pombal veio para Lisboa) e o mestre-livreiro da Real Biblioteca era António José. A partir das Cortes Constituintes de 1820, passa a denominar-se por Imprensa Nacional. Em 1878 o administrador foi Venâncio Augusto Deslandes (que publica a importante obra, Documentos para a História da Tipografia Portuguesa do Século XVI e XVII, em 1822) e com a sua morte sucede Luís Derouet, sendo substituído em 1915 por Augusto Machado Santos e em 1917 por Almeida Garrett. Da bibliografia consultada registe-se: A Imprensa Nacional e as Humanidades Clássicas", por Rebelo Gonçalves; "A Imprensa Nacional - Subsídios para a Sua História", de José Vitorino Ribeiro; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Memória Histórica", por Norberto de Araújo e Artur Pereira Mendes; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Breve Notícia Histórica", por Henrique Ferreira da Costa.
segunda-feira, 20 de setembro de 2004
Sérgio Milliet [n. 20 Setembro 1898-1966]
"Vícios de estufa
revanches de sonho
e um dia o milagre do mar."
[in Autobiografia inacabada]
Locais: Sérgio Milliet (1898 - 1966) / Poesia / As várias faces de Sérgio Milliet / O Movimento Modernista / Semana de Arte Moderna
Catálogo da Livraria Moreira da Costa
Acaba de sair o Catálogo nº 46 da Livraria Moreira da Costa, Rua de Avis, 30, Porto, com um conjunto interessante de livros sobre as antigas colónias e literatura em geral. Pode ser consultado on line.
Algumas referências: Solares Portugueses, por Carlos de Azevedo, 1971 / Com Vista às Eleições. Análise e comentário de alguns problemas de interesse nacional. 1965. Diário de Lisboa / Raças do Império, por A. A. Mendes Corrêa, 1943 / O Esoterismo de Fernando Pessoa, por Dalila Pereira da Costa, 1978 / Figuras e Factos Alto-Durienses. Frei João de Mansilha o a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de Sousa e Costa, Porto, 1953 / Estudos Coloniais, de Teófilo Duarte, Lisboa, 1942 / Fel (poesia), por José Duro, 1916 (2ª ed.) / Estatutos da Universidade de Coimbra. Confirmados poe el Rey nosso Snor Dom Ioão o 4º em o anno de 1653. Impressos por mandado e orde de Manoel de Saldanha... Em Coimbra. Officina de Thome Carvalho Impressor da Universidade. Anno 1654 (raro) / As Dez Freguesias do Concelho de Tarouca (História e Toponímia), Braga, 1995 / Livro de Bom Humor para Alívio de Tristes, de Tomás da Fonseca, 1961 / Perfil de Camillo Castello Branco, pelo P.e Senna Freitas, 1888 / A Real Abadia de Alcobaça. Estudo Histórico-Arqueológico, de Artur Gusmão, 1948 / Elementos para o Estudo de Alguns Problemas de Vila Nova de Famalicão, de A. Pavão da Silva Leal, 1935 / O Livro Azul. Ou Correspondencia Relativa Aos Negocios De Portugal. Traduzido do Inglez. Lisboa. Typographia de Borges, 1847 (Segue-se: Debates no Parlamento Britannico Sobre os Negócios de Portugal. Lisboa. Typographia de Pedro Antonio Borges, 1847) (raro) / África Nossa. O que queremos e o que não queremos nas nossas terras de África, por Norton de Matos, 1953 / Monografia do Concelho de Olhão, de Athaide de Oliveira, 1986 (2ª ed.) / São Jerónimo e a Trovoada, de Teixeira de Pascoaes, Porto, 1936 / Catálogo dos documentos manuscriptos que pertenceram a José da Silva Passos e que foram offerecidos à Real Bibliotheca Publica Municipal do Porto por D. Anna Luiza Rodrigues de Freitas. Porto, 1909. (imp. fonte para o estudo da Patuleia) / Da Famosa Arte da Imprimissão. Da Imprensa em Portugal às Cruzadas D'Além Mar, por Américo Cortez Pinto, Lisboa, 1958 / Maíssa (Mãe Negra, poesia), de Anunciação Prudente, Lourenço Marques, 1965 / Faiança Portuguesa, Sec. XVIII-XIX, por Artur de Sandão, Porto, 1976-1985, II vols / O Móvel Pintado em Portugal, de Artur de Sandão, 1979 / Ensaio de Análise Económica do Café, de Alfredo de Sousa, Lisboa, 1963 / Religiões da Lusitânia, de J. Leite de Vasconcelos, 1981, III vols / A Diana de Jorge de Montemor, em português de Afonso Lopes Vieira, 1924
sábado, 18 de setembro de 2004
[Todo Este Mundo]
"Todo este mundo quotidiano e visível, toda esta gente que bóia à superfície da vida, todas estas coisas que constituem os nomes e os feitos da história não são mais que erro e ilusão. Somos todos, não agentes, senão agidos-titeres de maiores que nós. Todo o nosso orgulho de conscientes e a nossa soberba de racionais são o títere que se orgulha de seus gestos. Na verdade o combate é aqui, mas não é nosso; não é connosco, somos nós. Não somos actores de um drama: somos o próprio drama - a antestreia, os gestos, os cenários. Nada se passa connosco: nós é que somos o que se passa"
[Fernando Pessoa, 53B-92 verso, in "Os Trezentos e Outros Ensaios"]
"Todo este mundo quotidiano e visível, toda esta gente que bóia à superfície da vida, todas estas coisas que constituem os nomes e os feitos da história não são mais que erro e ilusão. Somos todos, não agentes, senão agidos-titeres de maiores que nós. Todo o nosso orgulho de conscientes e a nossa soberba de racionais são o títere que se orgulha de seus gestos. Na verdade o combate é aqui, mas não é nosso; não é connosco, somos nós. Não somos actores de um drama: somos o próprio drama - a antestreia, os gestos, os cenários. Nada se passa connosco: nós é que somos o que se passa"
[Fernando Pessoa, 53B-92 verso, in "Os Trezentos e Outros Ensaios"]
Código Da Vinci, em pé-de-página
Era de "estórias". Sempre assim foi e será. Tradição, simbologia, verdade, ocultação, revelação, hermetismo, essência divina, unidade e descontinuidade, alma colectiva, espiritualidade, verdadeiro e falso, numerologia e cabala, escrita, escrita sagrada, luz, Templo, Graal, Santo Graal, consciente e inconsciente, Rei do Mundo, Grande Arquitecto, mitos e deuses, divino, teúrgico, Deus, Espírito Santo, Quinto Império, sagrado e profano, adepto, neófito, Adepto, Lux-Citânia ou Lusitânia, Oriente e Ocidente, Adão Kadmon, iniciação, Anunciação, saudade, universalismo, mistérios, o Encoberto, Via Sacra ou Caminho do Fogo, Teosofia, dogma e ritual. Era de histórias, era de patamar. Um desejo de contar, por vezes de tentar provar. Que maravilhoso trabalho humano é uma história, é um livro. A palavra sempre repetida, sempre em decomposição, abandono ou trânsito. Um olhar, uma visão sempre redobrada e ao mesmo tempo sempre única. "A vida que em mim flui, em quem flui?" [F.P.].
As opiniões inquietas de alguns em torno do livro de Dan Brown, "O Código da Vinci", exposto profusamente por todo o lado e vendido como pãezinhos quentes, são desabafos capciosos de quem cuida o arquejo d'outras sonoridades de desmedida literatice. A erudição lamurienta de tais soldados da boa literatura é quase sempre bem postiça. A grandeza do génio em cada um não passa do five o'clock tea sem qualquer originalidade. Tais singularíssimos críticos, recortando acusações dos erros crassos e factos absurdos, em boa hora descobertos, condenam o livro por ser enganador, fantasioso, repleto de perfídia, fraudulento, pouco habilidoso, banal, de uma falsidade monstruosa, um "grau zero da escrita". É, ainda segundo alguns castos leitores, "imbecil, inexacto, mal informado, estereotipado, enlatado exemplo de pulp fiction" e, pasme-se, "deriva de teorias feministas extremistas". O entretimento deixa, por magia, de existir. E as mil histórias dentro da história ficcionada por Dan Brown, também. A teoria conspiratória dos críticos do livro é de sinal igual ao do próprio Brown, mesmo que o recurso crítico à análise da estrutura do romance, da técnica narrativa ou do convencimento histórico, insuportável do autor, tenha fundamentação. Sabendo-se que, muito antes, o "The Holy Blood And The Holy Grail", onde Brown sustentou toda a sua ficção, tinha passado pelo mesmo crivo, suspeitando-se do matraquear publicitário das editoras, não se compreende a polémica e o alarido.
Se por mero acaso, alguém em Portugal resolvesse seguir o exemplo de Umberto Eco, Ursula Le Guin, Tolkien, Burroughs, Terry Broks, Dan Brown, Paolini, e muitos outros, teria material luso para vários calhamaços. Não haja dúvidas. E não se fala, apenas, da presumida guarda do Graal pelos monges de S. Jerónimo em terras portuguesas, do desaparecimento do Tesouro Real de Portugal, algures oculto numa Igreja ou de estranhas reuniões na imaginada cripta da Sé do Porto in illo tempore. Haveria ainda mais, até porque, se "o símbolo é naturalmente a linguagem das verdades superiores à nossa inteligência", citando F. Pessoa, o filão seria perfeitamente inesgotável.
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