quinta-feira, 24 de junho de 2004


Euro 2004: Vamos a Provas

Minhas senhoras meus senhores vamos alaparmos nos sofás e cadeirais vamos a provas não tenham tremuras a noite é nossa venham ver o Figo e seus Figões as mãos na baliza as cabeças na bola vede como a Inglaterra é apenas traje e cerveja venham mirar os nossos que a velha arca lusa ainda tem préstimo cada um em seu posto minhas senhoras e meus senhores no mercy eis o segredo

Terras do Nunca: Um ano e outros mais

Comemora amanhã o seu primeiríssimo aniversário, segundo reza o calendário de parede, o Terras do Nunca. «E as coisas? Como vão as coisas??, dizia no seu primeiro post. Vão bem, asseguramos nós, ainda que "malparadas". É que esta "guerra é muito bera para os dentes", como confirma Boris Vian e nós assinamos por baixo. Com calma, a razão e o resto virão depois. Até lá ... feliz aniversário.


Correios de Portugal: a Vergonha

Não sabemos se teremos de regressar aos cavalos persas, às velhas carroças lusas ou mesmo a pombos, para restituir o bom-nome aos Correios de Portugal. A ideia parece ser atraente e só Carlos Horta e Costa, a debater-se nesta tragédia da inabilidade lusa, não entende.

Expliquemos: hoje uma simples carta ou postal, demora dias a espinotear-se na nossa caixa de correio. Um livro, semanas a fio. A descarada propaganda de Horta e Costa sobre a qualidade do serviço dos CTT é a maior das grosserias. É uma monomania tipicamente portuguesa o alinhavar sugestivos e inspirados atestados de maioridade ao seu desempenho. A imaginação não tem limites.
A desgraça, porém, é nossa. Ontem (dia 23), recebemos o livro-catálogo do Leilão da Livraria do Calhariz que, pelo que sabemos, foi enviado de Lisboa no dia 8 do corrente mês. Apenas demorou 15 dias a chegar-nos às mãos. Só que o leilão tinha-se realizado no dia anterior. Pelo que entendemos depois, parecem ser normais estes atrasos. E a tendência é para aumentarem.

Perceberam? A única Instituição que ao longo de anos a fio tinha um serviço exemplar, acabou. A balbúrdia da incompetência da sua administração, a demanda intransigente da Mercearia Ferreira Leite e a merenda Barrosista, liquidaram de vez os CTT. Que nos resta mais?

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Nós somos ...

"... Nós somos os homens de amanhã
vindos do silêncio
que se refugia atrás do silêncio ...
Nós somos os homens de amanhã ...
E connosco voltam as estrelas!...
" [Tomaz Kim]

Festa do solstício ... muito luxamente

Sob a égide do solstício a equipa do Causa Nossa fez, certamente, festa de arromba que a solenidade anunciava e a liturgia obrigava. O ritual da fertilidade da blogosfera lusa, nesta festa Junina de celebração dos antigos mysterios, prometia proporcionar farta colheita futura.
Ora, é sabido que tais festividades estão associados, por efeitos telúricos, à necessária fogueira, exigindo-se danças de circunstâncias e círculos mágicos para afastar as trevas, bem como o imprescindível banquete ou ágape (Não fazemos referência ao trabalho alquímico de recolha de orvalho, que nesta altura do ano termina, dado que a vida húmida não deve ser exposta aos profanos). Porém, quase a dar as seis badaladas ainda nada se soube das ocorrências festivas, nem quais as fadas e os elfos presentes. O que está mal. Afinal importa cumprir a etiqueta, mesmo que as práticas sejam discretas. Estamos desassossegados, já se vê. Não se faz!

Boletim Bibliográfico 20 de Luís Burnay

Acaba de sair o Boletim Bibliográfico do Livreiro-Antiquário Luís P. Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), com obras importantes, da Monografia aos Descobrimentos, dos Periódicos à Genealogia, História, Literatura.

Algumas referências: Álbum das Glorias (ed. fac-similada), desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro, 1969 / A linguagem dos pescadores da Ericeira, por Joana Lopes Alves, 1969 / A Maçonaria em Portugal, por Argus (de teor anti-maçonico) / O Bardo. Jornal de poesias inéditas (nº 1 a nº 12), 1852-55, 12 vols, (raro) / O Encoberto, de Sampaio Bruno, 1904 / Imagens e Cristo em Portugal, por Correia de Campos / Os Assassinos da Beira, por Joaquim Martins de Carvalho (2ª ed.), 1922 / Maria! Não me mates, que sou tua mãe! ..., de Camilo Castello Branco (reed. Casa Ventura Abrantes, 1924, tir. 500 expls) / O Bico de Gaz, por C. C. Branco (fac-simile da 1ª ed.), 1931 / O Caleche, por C. C. Branco, Casa Ventura, s.d. (tir. De 150 expls) / A Ribeira de Lisboa. Descrição histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos-o-velho, de Júlio Castilho, 1940-43, V vols / Os Crimes da Formiga Branca ..., edição de J. Rocha Júnior, nº 1 a nº 5, 1914-15, V nums (raro)/ Património artístico do Concelho de Évora, por Túlio Espanca, 1957 / O Mistério dos Painéis, de António Belard da Fonseca, 1957-59, III vols / Inventário Artístico de Portugal (Cidade de Coimbra, Distrito de Coimbra, Distrito de Leiria, Distrito de Santarém, Distrito de Aveiro) (imp. e valioso) / Anais do Município da Horta (Historia da Ilha do Faial), por Marcelino Lima, 1943 (raro) / Manual das Doenças Mentais, de Júlio de Matos, 1884 (raro) / Nós Portugueses Somos Castos, de Pedro Homem de Mello, 1967 / Monumentos e Edifícios do Distrito de Lisboa, 1962-2000, V vols em 9 tomos / As Estradas de Portugal, por Raul Proença, Porto, VIII opusc. / Relatórios e Projectos Maçónicos 1908 apresentados ao GOLU + A Grande Secretaria Geral da Ordem. Relatório apres. Ao Sap. Gram-Mestre pelo Ir., Coimbra, 1906 + Circular nº 84 sobre a Organização dos Serviços Estatísticos enviada a todas as Lojas e Triângulos de Obediência pelo ..., Lisboa, 1908 / Regulamento provisional para o novo estabelecimento do Correio, Lisboa, 1799 (1º reg. de transf. da adm. Priv. Para o Estado) (raro) / Relatório apresentado ao Exmo Snrº Governador Civil do Porto pela ... encarregada das visitas aos estabelecimentos industriais, 1881 (c/ as principais fábricas e industrias da época) / Ritual do Grau de Aprendiz, Ed. do Grémio Luso Escocês, 1915 / Memorias Astrológicas de Camões, por Mário Saa, , 1940 / Tomar e a sua Judiaria, de J.M. dos Santos Simões, 1943 (raro) / Archivo Pitoresco, Ano I a Ano XI (1857-1868), 11 vols


[Via Letteri Café]

"El cansancio de la vieja Europa" - George Steiner

"... Nuestros estudiantes se van a Estados Unidos a ganarse la vida. Pero no todo es cuestión de dinero. Al otro lado del Atlántico se respira una esperanza, una energía que sólo encontramos ya en dos países europeos: España e Irlanda. En Dublín, donde el 50 por ciento de los habitantes tiene menos de 25 años, hay una auténtica explosión de energía que afecta a la literatura, a la creación teatral. España vive el gran milagro de la lengua española, que vuelve de América Latina como un boomerang. América Latina es hoy tierra de grandes escritores, poetas y novelistas que refuerzan la sensibilidad española con una especie de inyección de vigor y alegría. (...)
El problema es la irremediable decadencia de Europa, decadencia debida a la fatiga, a una fatiga enorme. Acabo de regresar de Alemania, donde me han concedido un premio. En todas las casas hay una placa que recuerda: "Tal día de 1944 o 1945 aquí murió...". Hay una palabra alemana de la época de Kafka, interesante y difícil de traducir, que más o menos significa estar cansado del mundo. Es un absurdo que, sin embargo, puede tener un significado psicológico muy grave, como si hubiese habido un exceso de Historia (...)
He vivido un tiempo en Princeton y luego en Cambridge. He pasado toda mi vida entre los príncipes de la ciencia, así como me hubiese gustado vivir en Florencia entre los pintores del Quattrocento. Desgraciadamente, nos hemos vuelto tan perezosos... Novelistas como Musil, Thomas Mann o Proust todavía trataban de entender, de encontrar la metáfora, esa metáfora que es siempre traducción entre diferentes esferas. Pero hoy, cuando vemos en qué estado se encuentra la novela, esa novela que debería ser nuestro instrumento de debate y de percepción, la metáfora puente entre mundos y saberes, en fin, no necesitarán que les diga dónde nos encontramos... Recuerdo una expresión francesa intraducible al inglés o al alemán: "Señor mío, eso es sólo literatura". Es una expresión que me obsesiona. Hoy, por desgracia, la "literatura" ha ganado terreno. (...)
Cuando su joven amigo Gustav Janouch, casi histérico de angustia, le pregunta: "Pero, Franz , ¿es que no hay esperanza?", Kafka responde: "Sí, y en abundancia, pero no para nosotros". Esto resume la pregunta que ustedes hacen. Yo no soy psicólogo ni historiador, y mucho menos sociólogo. Pero si intentamos entender la fenomenología del sufrimiento en nuestra Historia, tal vez nos preguntemos por qué las ideas más hermosas desembocan en el horror. (...) [La Nation, 20/06/2004]

terça-feira, 22 de junho de 2004

Parabéns

Estão a comemorar o primeiro aniversário o Avatares de Desejo e o Tempo Dual. Daqui, do pinhal do Rei com mar ao fundo, lhes envio um grande abraço e felicitações.

A descoberta de ... José Lamego

A estreia de José Lamego como putativo pretendente à liderança do PS obteve os maiores encómios na blogosfera lusa. Quem acompanhou as olheiras pisadas e o esforço piegas da rapaziada do Acidental ou a bondade da análise de PG sobre o crepitar acarinhado da candidatura de Lamego, decerto confidenciou que os inquietos ensaios à volta do reboliço que antevêem no PS é uma trovoada num copo de água. Mas nunca fiando. Bem entendido, a pretensão exibitiva que se lê não esconde a intencionalidade e o vigor emotivo de quem as profere. A choradeira não é inocente, mesmo que a lebre corra já.

Deixando de lado a erudição milagrosa do prof. Rato, às voltas com o "pesadelo" Lamego, a sempre eterna tese da conquista do eleitorado do centro e os amores acidentais por Guterres (tomados como frutos absolutamente espinhosos), tenha-se em conta a observação de PG, cuja elegância arquitectónica é de destacar. Passe a afirmação forçada de responsabilidade e moderação (?), presente na linha politica supostamente assumida por Lamego e que ninguém entende o que seja, nem que grupo afinal representa, o que resta nesta descoberta do efeito José Lamego é muito pouco deslumbrante. E mesmo que o desfilar da personagem Sócrates (supõe-se que João Soares é pouco sugestivo) tenha uma nota bastante colorida, a trapalhada aparente que esse cenário sugere, mesmo que a "procissão" ainda vá no adro, é evidente.

Assim, nunca nos é mencionado por que motivo se terá de apostar no caminho do centro-direita, a não ser que se encare este governo como de direita/extrema-direita, o que não deixa de ser irónico; não é tido em conta o espírito da última votação eleitoral dos portugueses e a suposta "virada" à esquerda, pelo que se admite que, num cenário de crise económica e social como hoje se vive, esse voto de protesto não têm qualquer consequência e, deste modo o eleitorado mantêm-se inamovível no centro direita (daí um Lamego triunfador); Sócrates é tomado como uma figura que se situa à direita no espaço socialista, o que convenhamos é um enorme absurdo (refira-se que a costela social-democrata de Sócrates existe, de facto, mas o que o separa das águas laranjas é, hoje, quase tudo); não é tido em conta a prestação e o desaire pessoal de José Lamego como candidato à C. de Cascais (salvo erro) nem as ocorrências em torno da sua candidatura; nem sequer é ponderada a desmesurada vitória eleitoral de Ferro Rodrigues, em circunstâncias absolutamente inacreditáveis e o efeito que lhe proporciona. Por último é suposto que a aliança governativa está no melhor dos mundos e que, mesmo que algo mude, não terá qualquer interferência nessa configuração da tomada da liderança do PS. Parece, pois, uma análise pouco consistente e estimulante. Mas compreende-se. Afinal o direito de presumir não é, nunca, inteiramente inocente. Diga-se!

Uma manhã amena a caminho de S. Pedro de Moel

"... Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
que vedes no mar?
" [Afonso Lopes Vieira]

"... O Pinhal de Leiria que nasceu do mar, para o mar nos levaria quebrando a lenda do Mar Tenebroso, fazendo-nos antes acreditar que o mar seria estrada líquida imensa, unindo os povos em interessantes coordenados e lucrativos ..."

[Arala Pinto, "Surpresas e ensinamentos colhidos no Pinhal de Leiria", 1948]



Livros & Arrumações

- Com o título "D. Carlos de Bragança e a Sua Arte" (1964), José Dias Sanches da Real Academia Galega, ensaia uma biografia sobre D. Carlos pintor e aguarelista, estabelecendo um retrato precioso do Rei e dos artistas do seu tempo. Alguns dados curiosos: "No séquito que acompanhara aquele Rei [trata-se de D. Fernando, que casou com D. Maria II] ... viera da Alemanha para Portugal Wenceslau Cifka, com o cargo de caçador da Casa Real, ao serviço do Rei. Cifka era exímio conhecedor de obras de arte, e possuía vasta cultura. Em breve, travou convívio com alguns dos nossos principais artistas ... os gabinetes de trabalho daquele Rei, passaram a ser então, o ponto de reunião das pessoas mais cultas do nosso meio"; é referido o papel crucial do espanhol Henrique Casanova, "exímio desenhador especialista em aguarela", para a aprendizagem e o entusiasmo de D. Carlos pela pintura e arte.

- O anarquista Edo Metzner publica uma sátira a D. Carlos ("No Agonisar da Monarchia", 1906), onde em nota final diz: "... O vexame da chacota é um cautério bastante corrosivo e dissolvente. As chagas putrefactas não resistem à sua acção benéfica e nihilista. Escrevi uma satyra revolucionaria e responsabilizo-me pelo que escrevi. Insultei o Sr. D. Carlos de Bragança; não espero o seu indulto..."

- Rara biografia de Pedro Fernando Tomás (irmão do bibliófilo Aníbal Fernandes Tomás), "professor, escritor e jornalista de raro merecimento", datada de 1927, publicada como separata do "Boletim dos Professores do Ensino Industrial e Comercial" e mandada executar por Eloy do Amaral, antigo professor e secretario da Escola Industrial Bernardino Machado, da Figueira da Foz, "como homenagem de respeito e saudade, prestada ao seu querido Director...". Com uma fotografia de Pedro Fernandes Tomás.

segunda-feira, 21 de junho de 2004


Portugal: Missão Cumprida

De vocação irremediavelmente prendada, a selecção de Portugal deu uma tosquia de primeira aos nossos hermanos. É mister dizer que fomos superiores em tudo. E não vale a pena ruborizarem-se os críticos de sofá com esta vitória. Nem é acertado aduzir que este exercício de futebol pátrio se deveu às substanciosas dissertações, dos ditos comentadores, sobre as escolhas de Scolari. Ao que se sabe, nenhum desses senhores alguma vez jogou futebol ou sabe o que isso representa. Se assim fosse, estariam no lugar de treinador e não de jongleurs de palavras. A não ser que o futebol já esteja no domínio do científico e, assim sendo, qualquer um pode ser um Mourinho, doutamente falando. Mas não e por isso, viva Scolari!

O que se assistiu nestes dias, e mesmo depois do resultado feito, foi um fartar vilanagem. As questiúnculas em torno do apuro da escolha dos nossos atletas, a investida fundamentalista com lunetas made in Antas contra o seleccionador (campeão do mundo ... ainda se lembram?), o desplante de alguns fanáticos jornaleiros em torno de alguns jogadores (Figo, Rui Costa, Fernando Couto, ...), a insânia bradada do púlpito dos jornais (e blogs, curiosamente) sobre tácticas e estratégias, divulgam a lista de mazelas com que é pródigo o autêntico portuga. E o original e comovente disto tudo, é que agora, com a vitória feita (que não esperavam, nem queriam) se atrelam à famosa "teimosia" Scolariana, e vai de desovar o fel tão extenuadamente guardado. Estão neste descarado cenário, onde não faltam os remoques ao seleccionador e a jogadores, o mulá António Tavares Teles e o profeta do futebol d'O Público Bruno Prata. Pode-se dizer que o futebol foi e será sempre assim. Seguramente que é verdade. Mas é tempo de acabar com essa soberba. E com o palavreado do desgraçadinho, e já agora com essa ideia do futebol objectivamente e cientificamente analisável. Era o que nos faltava!

Anotações: Ricardo Carvalho foi um bravo, inteligente e selecto jogador. Irrepreensível. E só uma UEFA (ou o Teles & Pratas juntos) não consegue ver isso mesmo. Nuno Valente um guerreiro. Miguel não comprometeu. Deco um mágico. Figo o boss elegante. Maniche um "mouro" de trabalho. Nuno Gomes ... apenas Nuno Gomes. Por tudo isso, obrigado a todos.

domingo, 20 de junho de 2004


Espanha, já cá cantas!

Hoje, estamos decididamente portugueses. Com os costados da família maquinando vigança, faremos vénias em demanda da vitória. Não abdicaremos, mesmo que nos estorvem o caminho. O nosso desplante é infinito. Seremos insensatos, distribuindo a magia e o ritmo do futebol. Com prudência respeitaremos a ambição de ganhar. Apenas isso. E está provado que sem "esperança não encontraremos o inesperado". Não resta dúvidas.


Nelson de Matos - "Experiência de Liberdade"

"... Nunca mais haverá histórias para contar. Palavras - apenas. Um vazio sonoro - o espaço brusco desta escrita. A letra fina sobre o papel amarelecido. Os traços. O ruído surdo das palavras movendo-se sobre a página. Pequeninos insectos. Larvas desapontando. Nunca mais haverá nada para contar. Apenas esta arquitectura delicada, o trabalho difícil destas mãos - o som. Aos poucos, tudo vai deixando de ser legível com o mesmo sentido com que hoje o lemos. Como até aqui o temos lido. Os laços, as relações, as interferências. Tudo se quebra. A escrita. O mundo. Um pouco mais e um esforço enorme será necessário para que entendamos tudo. Apenas o movimento destes dedos. A fria pedra desta casa. Lugar onde o lodo cresce e cresce o sono. Esta terra vergada sobre a seca. A raiz. A letra tremendo no papel. Tremendo sempre nesta sua impotência surda. Apagada ..." [Nelson de Matos, Tês Tristes Textos, in Experiência de Liberdade, Diabril, 1976]

Mais um dia de José Manuel Fernandes ...

A vaga José Manuel Fernandes nos editoriais d'O Público é uma dedicatória envergonhada a si mesmo, fazendo acudir um caprichoso e incansável pensador. E ninguém lhe leva a palma nessas movimentações espirituosas. A sua prosa, quase sempre sensaborona, monótona e petulante, oculta um alvoroço febril, delirante, que espanta. Nesta sexta-feira o seu depoimento acaba com uma singularíssima lamentação sobre "a falta de homens determinados até à teimosia e optimistas até à irracionalidade", homens "capazes de enfrentarem o nosso comodismo ensimesmado" (sic). Ninguém duvida que na sua falta, como sugere o charivari de JMF, alguém deve chegar-se "à frente". Ora, por desgraça nossa, não descobrimos tal graciosa figura senão na pessoa do próprio José Manuel Fernandes, que num momento de cintilante franqueza se declara. Eis, pois, JMF, putativo aspirante a lutar "contra o imobilismo" da velha Europa, empoleirado no labirinto da vergonha que a Europa da contra-reforma suspira. A fama do génio está a chegar. JMF, para todo o serviço. Dúvidas?
Livros & Papéis (Arrumações)

- Separata do artigo "Oiça, António Ferro", de Artur Inez, publicado no jornal República de 13 de Abril de 1933: «Oiça, António Ferro! É sempre cómodo, fácil e lucrativo bajular quem manda e pode estender a mão amiga (...) Nunca o vimos a atacar esses sebastianistas no tempo em que eles mandavam. Nesse tempo fazia o senhor a Leviana e outras histórias literárias. Na politica não bulia, embora os perigos fossem menores que os de hoje. Nos primeiros anos da ditadura também ninguém ouviu falar de si porque, enfim, não se sabia onde iriam parar as modas ..." / Curioso livro que reúne as intervenções do deputado republicano Fernão Boto Machado ("No Parlamento", 1929), com prefácio de S. Magalhães Lima. De referir: o projecto por ele apresentado das "Oito horas de trabalho"; uma intervenção sobre as "Touradas" ["... Em toda a corrida de touros aparecem três feras, que são estas: - o touro, o toureiro e o público. Os graus de barbaridade de cada um destes brutos, podem calcular-se pelos seguintes dados: o touro é obrigado; o toureiro vai por interesse; o público vai por um acto espontâneo da sua soberana vontade e ainda dá dinheiro ..."; uma outra intervenção intitulada "Os Escravos Modernos" a propósito do projecto-lei sobre acidentes de trabalho / "O Centenário de um Grande Chefe", por Francisco Manso Preto Cruz, 1960 ("... A base politica da «União Nacional» é constituída pelos foragidos da Causa Monárquica, dos diversos partidos republicanos e pelos sócios do Centro da Democracia Cristã de Coimbra. É bem híbrida esta Torre de Babel, porque não tem alma. Quer empregos! Se na República houvesse uma Lei de Responsabilidade Ministerial suficientemente séria nenhum Português quereria ser Ministro ...")

quinta-feira, 17 de junho de 2004

Aviz(ações)

O Aviz é o espaço conversável que todos gostaríamos de ter. Estabelece a diferença. Não nos cansamos de o frequentar. Hoje, perante a perversidade de blogs assustadoramente "normais", alguns outros de uma seriedade ao poder enternecedora, o blog sustentado por Francisco José Viegas, de nome Aviz, vive nos nossos corações. Está a comemorar o seu primeiro aniversário. Muitos parabéns.

Euro 2004: a pedido de várias famílias

Portugal ganhou à mãe Rússia. Todos estamos satisfeitos. Mas, de bom grado, fica-se com a ideia que a equipa de todos nós foi feita a pedido de várias famílias. Assistiu-se a uma arquitectura para todos os gostos, tal a as escolhas idealizadas. A amabilidade de Scolari, qual mercador em dia de feira, fez as delicias do velho e sábio jornalista desportivo, diluiu a lamúria do crítico de bancada, acabou com a choramingada laboriosa de Portugal profundo. Vencido pela fadiga da crítica, numa penada só, pôs a jogar Figo, Deco & Rui Costa, modificou a retaguarda lusa, colocou a jogar o menino Ronaldo, tirou Figo, tudo numa cambalhota notável. A ideia, já se vê, não resultou plenamente. Contra uma equipa sem chama, sem pressão e já sem alma, a equipa das quinas revelou graves problemas e uma trivialidade assustadora. Evidentemente, os críticos jornaleiros já falam em revolução. Eles lá sabem. Mas a confusão é evidente, mesmo que a defesa esteja mais sólida (Ricardo Carvalho é um must) ou o Deco mais criativo e impulsionador de jogo que Rui Costa. Mas é bom não esquecer, que quando se faz equipas a pedido, recebe-se sempre, mais tarde ou mais cedo, a respectiva factura.


Ex- Libris