terça-feira, 25 de maio de 2004

Leilão de Importante Biblioteca - 26 de Maio de 2004

A Leiria & Nascimento organiza no próximo dia 26 de Maio (21, 30 h) no Pavilhão de Exposições (Tapada da Ajuda) um leilão de livros provenientes de uma importante biblioteca, salientando-se um conjunto significativo de obras de literatura portuguesa moderna, que pode ser consultada on line.

Algumas referências: Mar-de-Leva, de Al Berto, 1976 (raro) / Adolescente, por Eugénio de Andrade, 1942 / Poema Primeiro, de António Aragão, 1962 / Memoria sobre a Pesca do Bacalháo Offerecida á Companhia de Pescarias Lisbonenses, por Jacob Frederico Torlade Pereira d'Azambuja, 1935 (raro) / Apontamentos para o Error do Mundo e Os Homens na Sombra, por R. Azancot, II vols, 1910 / Guide du Libraire, por J. de Beauchamps, Paris, 1884 / Memorias e Observações sobre o modo de aperfeiçoar a manufeactura do azeite de oliveira em Portugal, de João António Dalla Bella, 1786 (raro) / O Correio Interceptado, por José Ferreira Borges, Londres, 1825 (publ. anónimo) / Manuel du Libraire et de L'Amateur de Livres, por J.-C. Brunet, VIII vols, 1922 / Oeuvres Complètes de Buffon, XII vols, 1853 / O Cadáver-Esquisito, 1925-1975. Sua exaltação seguida de pinturas colectivas [tir. Especial comemorativa do meio-seculo da Revolução Surrealista, de apenas 20 exempls, com textos de M. Henrique-Leiria, Calvet da Costa, Cesariny, O'Neill, Raul de Carvalho, Ernesto Sampaio, etc. Raro] / Os Lusíadas de Luis de Camões, ed. do III Centenário, de publ. de Emílio Biel, 1880 / Discurso Moral e Politico sobre os Contrabandos, pelo Fr. Ignácio de S. Carlos, 1814 (raro) / Mas, de Ferreira de Castro, 1921 [raro] / Les Principales Avantures d'Admirable Don Quichotte ..., de Cervantes, 1746 / Conjunto valioso de 15 Obras de Ruy Cinatti (Borda d'Alma, 1973; Cravo Singular, 1974; Folhas Volantes, 1974-77; Salém, 1987; etc.) / Contravento, Revista Letras e Artes, IV nums, 1968-71 / Do Do. (D. Sidónio). S. Nacional de Belas Artes, 1982 [Catálogo com apresentação de Eurico Gonçalves e poesia inédita de Luiza Neto Jorge] / Exame e Juízo Critico sobre o papel, intitulado Antisebastianismo, anunciado na Gazeta de Lisboa ..., 1809 (anon.) / Hora di Bai, de Manuel Ferreira, Coimbra, 1962 / Uma Viagem ao Valle das Furnas na Ilha de São Miguel, por Bernardino José de Senna Freitas, 1845 [monografia rara] / Galeria de A Bibliófila. Catálogo da Exposição de 1 de Junho de 1950, da Livraria A Bibliófila [raro catálogo com trabalhos de M. Henrique-Leiria, Cesariny, Cruzeiro Seixas, Risques Pereira, etc.] / Grifo. Antologia de Inéditos, Grafilarte, 1970 [import. antologia com textos de Pedro Oom, António José Forte, Ernesto Sampaio, Manuel de Castro, etc.] / Conjunto valioso e raro do poeta Herberto Helder [O Bebedor Nocturno, 1968; A Colher na Boca, 1961; Electronicolirica, 1964; Fonte, de Herberto Helder, 1998 (ed. fora de mercado); Húmus, 1967; Lugar, 1962; Retrato em Movimento, 1967; etc] / Memoria sobre Lourenço Marques, de Levy Maria Jordão (Visconde de Paiva Manso), 1870

[continua]

segunda-feira, 24 de maio de 2004



Obras de Ferreira de Castro

Ferreira de Castro [1898-1974]

Nasce em Ossela (Oliveira de Azeméis) a 24 de Maio de 1898

"... Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi minha mãe quem me acompanhou até meio do caminho. Não me recordo bem. As lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola. Lá estava, ao fundo, à secretária, instalada sobre um estrado, o Sr. Professor Portela. Era gordo e de carne muito branca e fofa. No primeiro plano, as carteiras com os alunos chilreantes. Alguns conhecia-os eu cá de fora. Mas tomavam, ali, para minha timidez, o papel de inimigos.
Eu sentia um respeito enorme por tudo aquilo e estava envergonhado. Sentei-me a uma das carteias e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e de deformava constantemente. Nesses primeiros dias, a minha única distracção era seguir as moscas que passeavam no sujo rebordo do tinteiro.
Veio, depois, a inveja, a única que tive na minha vida: a de não ser igual aos outros, a de não possuir o seu à-vontade, a de não ter o sangue-frio de que eles dispunham e graças ao qual brilhavam nas lições mais do que eu, embora soubessem menos. Eu era bom aluno. Tinha, porém, uma existência triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos. (...)

Por esses tempos, passava, todos os dias, no largo para onde dava a escola, uma rapariga de 17 ou 18 anos - linda, linda para mim, como nunca tinha visto outra. Chamava-se Margarida (...) a Margarida continuava a cruzar, indiferente o largo, sem voltar os olhos para a janela da escola, de onde eu a seguia com sofreguidão. E se me fazia encontrado no caminho por onde ela passava, voltava a cara sem dirigir à minha timidez uma só palavra, um olhar sequer. Eu sofria com esse desdém e desesperava-me por ainda não ser homem. (...)" [Ferreira de Castro, Memórias in «Vários Estudos sobre Ferreira de Castro e a sua obra», 1938]

"A obra de Ferreira de Castro é como a de um filósofo pastoral: vive da resistência que faz às desgraças do seu século. Por isso, como a de Rousseau, parece-nos ingénua quando a moda è libertina; e é naturalmente afectiva e cordial quando toda a literatura experimenta a necessidade de incorrer em excessos. Vemos agora que essa obra preparava a clarificação duma nova era. (...) Ferreira de Castro era um desses heróis-meninos, incapazes de corrupção, por muito que sofram e conheçam o mundo. O pudor, quase o que se chamaria a nobreza dum preconceito proletário, nimbava os seus romances e narrativas. Se vivesse mais tempo, acharia os costumes insuportáveis, agora que certa debochada sinceridade, própria duma erudição sentimental e não de uma cultura cerebral, toma o lugar da experiência humana (...) [Agustina Bessa-Luís, in In Memoriam de Ferreira de Castro, 1976]

sexta-feira, 21 de maio de 2004


Infância

Hora em que a erva cresce
na memória do cavalo.
O vento pronuncia discursos ingénuos
em honra dos lilases,
e alguém entra na morte
com os olhos abertos
como Alice no país do já visto.

[Alejandra Pizarnik, trad. de There's Only Alice]

Filhos e 'Encalhados'

"Nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovidio]

Confessamos a maneira branda e suave com que José Manuel Fernandes, o comissário dos bons costumes lusos, nos brindou em artigo nas páginas d'O Público sobre a magna questão da necessidade de aumento da taxa de natalidade. Em perfeito acesso de orgulho sociológico, o pontífice diz-nos que ... não temos cumprido. Mais, que a "atitude cultural dominante em Portugal" é decididamente o tão importuno modo de "viver a vida" e, evidentemente, "desvalorizar aquilo que os filhos trazem". A listagem caprichosa é quase apocalíptica. Tememos pelo nosso aconchego e suspiramos por um bom "boudoir". Para "repor as gerações".
Venha pois a sexualidade, ou a sua descoberta para os 'encalhados' desta vida, mas entendida como expressão elevada de reprodução biológica, para que a dissolução do princípio do hedonismo (t'arrenego Lyotard) se esfrangalhe, a bem da Nação. E deixemos o amor, sempre esse combate, sempre essa angústia (Bataille dixit), sempre essa ilusão, para outros. Toca, pois, a cumprir. E nós, sabendo que Sade morreu e Reich também, não nos encontramos muito bem. Mas iremos cumprir. Não tenham dúvidas.

Tommaso Campanella [1568-1639]

m. em Paris, a 21 de Maio de 1639

"...Todos determinaram, então, começar uma vida filosófica, pondo todas as coisas em comum. E, se bem que em seu país natal não esteja em voga a comunidade das mulheres, eles a adoptaram unicamente pelo princípio estabelecido de que tudo devia ser comum e que só a decisão do magistrado devia regular a igual distribuição. As ciências e, em seguida, as dignidades e os prazeres são comuns, de forma que ninguém pode apropriar-se da parte que cabe aos outros.
Dizem eles que toda espécie de propriedade tem sua origem e força na posse separada e individual das casas, dos filhos, das mulheres. Isso produz o amor-próprio, e cada um trata de enriquecer e aumentar os herdeiros, de maneira que, se é poderoso e temido, defrauda o interesse público, e, se é fraco, se torna avarento, intrigante e hipócrita. Ao contrário, perdido o amor-próprio, fica sempre o amor da comunidade (...)" [T. Campanella, in A Cidade do Sol]

quinta-feira, 20 de maio de 2004

[Sombra]

O mal não é a lama dos vestidos,
nem os limos, os líquenes dos sentidos.
O mal é esta sombra
que se deita connosco em cada cova,
se penteia connosco em cada dia
e, quando amamos, surdamente espia ...

[Orlando de Carvalho, Sobre a Noite e a Vida, 1985]


Ex-Libris

"Ex-Libris é um indicativo de propriedade, uma marca de posse bibliográfica, que vai desde o nome do possuidor, manuscrito na capa, na folha-de-guarda ou primeiras folhas do volume, até folha solta de papel, pano ou pele, de mais ou menos reduzidas dimensões, onde estão manuscritos ou impressos desenhos ou dizeres e que aparecem apostos geralmente no ante rosto do volume encadernado ou brochado (quando não é intercalado na encadernação, antes da primeira folha); abrangendo ainda desenhos e dizeres gravados a oiro ou a seco, nas pastas e lombadas das encadernações, ou pintados em pele ou marfim, ou ainda abertos a buril em chapas de metal, e que são apostos na parte anterior do volume, nos locais indicados." [Armando de Mattos, in Bibliomanias]

O Sindicalista [nº 1, 13 de Novembro de 1910- 1915]

"... os dezasseis anos de República democrática constituem uma fase durante a qual se vai destacar uma imprensa operária de cariz fundamentalmente sindical, claramente inserida nas estruturas sindicais e orientadas para os problemas centrais do movimento sindical(...)
«O Sindicalista» foi um semanário que claramente se inseriu na linha de orientação que se exprimiu, pela primeira vez, no diário «A Greve». Predominantemente sindicalista revolucionário este semanário vai cumprir, com êxito, uma dupla função: acompanhar muito atentamente o poderoso movimento reivindicativo dos trabalhadores portugueses que se desencadeia logo após a implantação da República e servir de suporte ao grande esforço organizativo que se segue a Outubro de 1910 e que se materializa na realização em 1911 do Congresso Sindical e em 1914 no Congresso Operário de Tomar que funda a União Operária Nacional(...)
Neste semanário, habitualmente em quatro páginas, deve assinalar-se a atenção como que são acompanhados os problemas das várias profissões, o cuidado que é posto na divulgação das suas aspirações e das suas lutas, o vigor que caracteriza a denúncia da repressão que a novel república fez abater sobre a actividade sindical e, sobretudo, sobre os trabalhadores em greve" [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: Bernardo de Sá (condutor de obras públicas), Severino de Carvalho (ajudante de notário), Francisco Cristo, João Pedro dos Santos, Alexandre Vieira, Augusto Machado, António Evaristo, Manuel Ribeiro (escritor de A Catedral, O Deserto, a Ressurreição, foi colaborador d'O Sindicalista, A Batalha, membro do Partido Comunista e redactor da Bandeira Vermelha, etc.) [cf, Alexandre Vieira]

quarta-feira, 19 de maio de 2004


Agradecimentos

Agradecemos as amabilidades que nos foram endereçadas. Gratos, por isso.

Ao Analiticamente Incorrecto, A Natureza do Mal, A Tasca, Avatares, Aviz, Blasfémias, Bomba Inteligente, Cabo Raso, Causa Nossa, Contra a Corrente, Eclético, Fórum Comunitário, Mar Salgado, Memória Virtual, Nova Floresta, Placard, Quartzo, Feldspato & Mica, Retórica e Persuasão, Rua da Judiaria, Terras do Nunca, Tugir, Um Blog sobre Kleist, e àqueles outros que em privado nos enviaram carinhosos suplementos de alma, um muito obrigado.

De outro modo, daqui encaminhamos as maiores felicitações ao Critico Musical, Modus Vivendi e Os Tempos que Correm, que comemoraram o seu aniversário de muita e merecida estimação.


Vladimir Mayakovsky

Catálogo XLVI da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) acaba de publicar o seu Boletim bibliográfico de livros seleccionados, Catálogo XLVI, referente ao mês de Maio, de interesse monográfico e etnográfico.

Algumas referências: Alta Cultura Colonial. Discurso inaugural e conferências, 1936 [Discurso inaugural de Vieira Machado e conferências por Agostinho de Campos, Alfredo Pimenta, Manuel Múrias, Quirino da Fonseca, Reinaldo dos Santos ...] / Elucidiario do Viajante no Porto, de Francisco F. Barbosa, Coimbra, 1864 / 100 Annos de Vida . A expansão da imprensa brazileira no primeiro seculo da sua existencia Subsidios para trabalho de maior fôlego por Alberto Bessa, 1929 / Poetas e Prosadores. À margem dos livros, de Júlio Brandão, s/d / Novíssimos ou Últimos fins do Homem, pelo Barão do Castelo de Paiva, Lisboa, Typographia Universal, 1866, II vols / Contemporâneos Illustres. D. Fernando II de Portugal, de F. J. Pinto Coelho, Lisboa, 1878 / Colecção Camoneana de José do Canto, Lisboa, Imprensa Nacional, 1972 / Camões e as Artes Plásticas. Subsídios para a Iconografia Camoneana, de B. Xavier Coutinho, Porto, 1946-1948, II vols / A Ourivesaria em Portugal, por João Couto & António Gonçalves, 1960 / Mouzinho. Acção. Pensamento. A Época, de Amadeu Cunha, 1956 / A Antiga Freguesia dos Olivais, por Ralph Delgado, Lisboa, 1969 / Julgareis qual é mais excelente - No Tricentenário da Restauração de Angola, de Gastão Sousa Dias, 1948 [ref. A figuras dominantes da história de Angola] / Estudo sobre o Absentismo e a Instabilidade da Mão-de-Obra Africana, Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigações do Ultramar, 1959, III vols / Primeira Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934 [XXI opúsculos diversos] / Ronda de Africa. Outras Terras, Outras Gentes, por Henrique Galvão / A Pátria a Luiz de Quillianan, Porto, 1884 [conjunto de reacções e homenagens prestadas ao Major Quillinan, pela reacção deste aos insultos proferidos no Parlamento Inglez, pelo deputado Jacob Bright, contra Portugal] / Exórdio em Prol da Filantropia & da Educação Física, por Fernando Pessoa, Editorial Cultura, Porto / Filosofia Tradicional dos Cabindas, de José Martins Vaz, 1969-70, II vols

terça-feira, 18 de maio de 2004


Feliz Primavera - Director!

Oferecemos hoje aos leedores caprichosos d'O Almocreve uma entrevista exclusiva com o nosso Director. Assim com D grande, que com devotos amigos e sem administração míope, a linguagem nunca é expiação.
O nosso estimado director recebe-nos no seu castelo altaneiro, nos doces campos do Mondego e, enquanto fala pausadamente em quieto jogo, vai devassando as tropelias d'O Almocreve das Petas ou não fosse um director um "decorador de interiores". A caminho da livraria, nota-se-lhe o sorriso travesso, o respeito ou paixão por coisas simples, o infortúnio da modéstia, o misticismo do olhar, o gosto e a luxúria. Diz-nos: "só é livre quem é digno da liberdade", enquanto vai afogueando o amor cívico no olhar desse vale eternamente sacro do Mondego. O rio já corre ...

[Diz-nos:] - O Almocreve das Petas é um desvelado mineiro das letras. Blog de impressões, escritos do pitoresco, que se pretendem elegantes e cuidados, uma oração ou moral disfarçada da vida para profanos sensatos. Principiou com fadigas literárias mas não pretende estacionar em isolamento suspicaz. Porque o que é assombroso e extraordinário é a tabuada politica lusitana. Assim como, as dulcíssimas palavras proclamadas em abundância pelas sentinelas liberais, o mais boçal dos dogmatismos. O rastro e soberba de alguns "infinitamente pequenos", apregoadores da "seara comum" desenvolvimentista, são meramente um agitprop "ad captandus vulgus". Virgílio Correia tinha razão quando dizia que "é mais difícil ser livre que puxar uma carroça".

[P: consta que não recebem muito bem, causam perplexidade e ...] - Meu caro, a cultura não tem preço. Não faltará n'O Almocreve atropelos à urbanidade, à etiqueta ou ofensas à gramática (Deleuze, é claro). Cada um prevarica conforme o estilo. Mas pensamos que modos finos e adamados são fadigas de desenganos, um padre-nosso liberal para ladrilhar discursos sobre a ordem do mundo. E para nós, que procuramos renascer em cada dia, o objecto da procura é mais o conhecimento do desejo do outro, daí que se deva mudar o jogo e não as peças do jogo. Não seguimos, por isso, a pastosa linguagem da chinfrineira do dia-a-dia da politika. Nessa fatwa dos escribas não desejamos cair. Como alternativa, preferimos ser mais "um cacto no cu da arte". A sugestão evocativa é mais expressiva e o rendez-vous mais malicioso.

segunda-feira, 17 de maio de 2004


[O Mar]

Era a minha vez de falar.
E disse que não somos nada.
Foi tão simples, fiquei mesmo

aliviado. E não custou nada.
Os apupos, esses, amplifiquei-os
no búzio que sempre trago

comigo. É o mar que me chama ...

[Helder Moura Pereira, Puxar ao Sentimento, in Relâmpago, nº 13]

Um Bom Português

José Mourinho é, apenas, o melhor treinador português. É um vencedor nato. Com esforço, talento, auxílio de amigos, sorte e trabalho. Como todos nós. Certamente a mãe pátria tem uma plêiade de indígenas de muita estimação, que olhamos embevecidos e puxando luminosas grandezas, para mais tarde recordar. Tanta gente feliz, por isso.

Ora, Mourinho é essa espécie de visionário à força, estudante sem cábula, valente e arrojado de tanto correr, mas enfastiado deste quintal oceânico tal a náusea que em cada testemunho nos dá conta. A bizarria assim manifestada, comum entre os altíssimos cidadãos lusitanos, dá-lhe sempre para a cantilena anedótica, para o desabafo trapaceiro, para o comentário hilariante, para a acusação gratuita. José Mourinho é o Alberto João do futebol. Uma Helena Matos de saias. Se Mourinho fosse americano estava sentado à direita de Donald Runsfeld. Como não é possível, por sadismo do futebol, passeia-se no expositor das vaidades lusas. Nem procura disfarçar. A arrogância nem bem-humorada é servida. A adoração de si mesmo é uma banalidade que tresanda a caprichos de pouca originalidade. Percebe-se porquê. Por isso, Mourinho é um bom português.

[Hoje, sem brilhantismo algum, o meu Benfica venceu. Com felicidade, mas sem favores. Lutando como podia, com o tormento de tanto tempo como praga, surpreendeu. E a imprevidente brincadeira de mau gosto e mau perder de Mourinho, documentará a história deste jogo. Para os benfiquistas é o fim do sufoco. Que nunca se duvidou.]

domingo, 16 de maio de 2004


17 de Maio - Aniversário do Almocreve


"Em forma de responso, de absolvição e de legenda"

Faz-se saber ao público, que fará amanhã um ano quando chegou o Almocreve com as petas da sua papeleira, do país e do mundo. Com dissertações úteis para criados de servir desatentos, folhetos para venda a vinagreiros lamentosos, escritos declamatórios contra a indigestão literária ou composições prudentes, já com letras, de método fácil de fazer calar as crianças quando choram, recebe na sua estalagem costumada. A festa será assombrosa. A ladainha também. A lista de mazelas não terá fim. Saúde e fraternidade.

sexta-feira, 14 de maio de 2004

Poema

"... e o sacerdote à esquerda levantou-se
e cantou
a culpa é uma carpa deserdada

e as gentes responderam o mar
apagou das nossas praias os ventos
mais amáveis que tínhamos inventado
..." [Manuel Gusmão]

A Greve [nº 1, 18 de Março de 1908]

A corrente anarquista em volta d'O Pensamento Social estava ligada teoricamente às doutrinas difundidas no "Revolté", de Reclus e Kropotkine [cf. "A Evolução Anarquista em Portugal", J. M. Gonçalves Viana, Seara Nova, 1975]. Supõe-se que a ligação foi estabelecida pela presença de "refugiados espanhóis, membros da «Mano Negra» em Lisboa e no Porto" [ibidem]. Uma polémica em torno de "um manifesto abstencionista dos anarquistas de Barcelona", levado a cabo pelo Protesto Operário (socialista) faz participar no debate Gonçalves Viana e Cardoso [ibidem], contando ainda com a própria participação de Reclus, influenciando decisivamente o desenvolvimento da corrente anarquista portuguesa. Depois do aparecimento da Revolução Social, outros grupos, mais ou menos de características comunistas-anarquistas se formam, como a Centelha, O Primeiro de Maio, Os Agitadores, Sempre Avante, Estudos Sociais, Mundo Novo, A Propaganda, A Revolta, etc, com as suas respectivas publicações.

"...A dois anos da implantação da Republica, pouco tempo depois de ter terminado a ditadura monárquica de João Franco, no ano de regicídio, os sindicalistas revolucionários decidiram concretizar, com o apoio dos anarquistas, um projecto que, tendo por certo germinado na cabeça dos mais antigos promotores do movimento operário, era impensável alguns anos antes: a publicação de um jornal diário operário, essencialmente sindical. Estava criado esse facto notável e surpreendente que foi o diário operário «A Greve» (...)
«A Greve» era propriedade do Grupo de Propaganda Social, tinha como gerente principal Evaristo Vieira e como redactor principal Alexandre Vieira [ver "Para a História do Sindicalismo em Portugal", Alexandre Vieira, Seara Nova, 1974 e Subsidios para a Hitória do movimento sindicalista em Portugal]. O jornal era redigido e composto por um colectivo de redactores e tipógrafos que trabalhavam gratuitamente e em condições praticamente artesanais e distribuído nas ruas de Lisboa, também, por operários e estudantes os quais, entretanto, haviam acabado de participar na primeira greve de estudantes, em 1907. Curiosamente o seu primeiro numero tem a data de 18 de Março (aniversário da Comuna de Paris) ..." [in, César de Oliveira, Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: José Fernandes Alves, Ladislau Batalha, César Nogueira, Césa dos Santos (todos socialistas); António José de Ávila, Pinto Quartim, Hilário Marques, João Pedro dos Santos, Francisco Cristo, José Benedi. E além de Alexandre Vieira, participou ainda, o escritor Luís Calvet de Magalhães, bem como Deolinda Lopes Vieira, Rosalina Ferreira e Lucinda Tavares. [in, Alexandre Vieira, ibidem]

quarta-feira, 12 de maio de 2004

Hoje há Expresso

Na sequência de uma noticia, amplamente citada pela blogosfera lusitana, publicada no Expresso on line de uma pretensa intenção, por parte da ANACOM, em "acabar com os blogs", parece haver vários equívocos.
Em primeiro lugar, não se vê como tal poderia ser feito tecnicamente, mesmo havendo disposições regulamentares para o efeito. É verdade que a tentação de controlar a Internet tem o seu terreno aberto há já algum tempo e várias tentativas são ou estão a ser feitas para legislar sobre essa matéria. Mas a peregrina ideia de começar pelos blogs parece ser um devaneio gratuito e grosseiro. Depois existe alguma contradição entre o que é registado n'O Expresso e o que é adiantado pelo suposto "ciberpolícia" Pedro Amorim em sua defesa, conforme se pode ler num post de Vital Moreira e noutro de José Magalhães. Não sendo totalmente credível que o "institucional" Expresso ceda ao fascínio da invocação da notícia sem fundamentação alguma, e como a própria ANACOM nada nos diz no seu site sobre o assunto, conforme seria de esperar (o que desvela o tipo de sociedade de informação que pretende difundir), ficamos sem saber o que pensar.

Dito isto, reconheça-se que o que verdadeiramente está em causa, mesmo nestas condições, é esse manifesto intento de regulamentar um território, ainda não contaminada pelo(s) poder(es). O que nos faz ficar bem vigilantes. E desconfiados.

Leilão de Importante Biblioteca Particular

Algumas referências [conclusão]: A Ordem de Cristo, por Vieira Guimarães, 1936 / História da Cidade do Porto (dir. Damião Peres), 1962-65, III vols / História da Tauromaquia (coord. Jaime Duarte de Almeida), 1951, II vols / História da Arte em Portugal, por Aarão de Lacerda, 1942-53, III vols / Historia Geral de España, de Modesto Lafuente, 1877-82, VI vols / Istoria do cativeiro dos prezos d?estado na Torre de S. Julão da Barra de Lisboa ..., de João Baptista Lopes, 1833-34, IV vols / Lusitânia: revista estudos portugueses (dir. de Carolina Michaelis de Vasconcellos, 1924-27, X nums / A Idade Maçonica, por Lusol, 1943 / Cartas de José Agostinho de Macedo a seu amigo J.J.P.L., 1827, 32 cartas / Refutação dos Princípios methafysicos, e moraes dos Pedreiros Livres Illuminados, por José Agostinho de Macedo, 1816 / Obras de Rocha Martins (entre elas: D. Carlos; Episódios da Guerra Peninsular e Europa em Guerra) / Memorias em defesa da maçonaria por hum maçon portuguez, fiel ao Rei e à Pátria, por António Gregório de Freitas [s/ Inocêncio], 1861-62, 12 vols / Historia do Regime Republicano em Portugal, de Luís de Montalvor, 1930-35, II vols / Guerra da Sucessão em Portugal pelo Almirante Carlos Napier, 1836 / O Barreiro Contemporâneo, de Armando da Silva Pais, 1965-71, III vols / Bureau de Tabac, por Fernando Pessoa, Editorial Inquérito, 1952 (raro) / A Extremadura portugueza, por Alberto Pimentel, 1908 / Revista de Portugal, direc. de Eça de Queiroz, 1889-92, IV vol. (compl) / O Paço de Sintra, pelo Conde de Sabugosa, 1903 / Discursos de Salazar, 1946-67, VI vols / O Móvel Pintado em Portugal, por Artur de Sandão, 1973 / Depois do Terramoto: subsídios para a historia dos Bairros Occidentais de Lisboa, de Gustavo de Matos Sequeira, 1967, IV vols / Dicionário Bibliográfico Portuguez, de Inocêncio Francisco da Silva, 1858-1923, 22 vols / A Talha em Portugal, de Robert Smith, 1962 / Historia Genealógica da Casa Real Portuguesa, de D. António Caetano de Sousa (nova ed. revista.), 1946-55, 13 vols / Os Judeus em Portugal no século XV, por Maria José Pimenta Farro Tavares, 1982-84 / A Sé Velha de Coimbra, de António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, 1930-35, II vols