Filhos e 'Encalhados'
"Nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovidio]
Confessamos a maneira branda e suave com que José Manuel Fernandes, o comissário dos bons costumes lusos, nos brindou em artigo nas páginas d'O Público sobre a magna questão da necessidade de aumento da taxa de natalidade. Em perfeito acesso de orgulho sociológico, o pontífice diz-nos que ... não temos cumprido. Mais, que a "atitude cultural dominante em Portugal" é decididamente o tão importuno modo de "viver a vida" e, evidentemente, "desvalorizar aquilo que os filhos trazem". A listagem caprichosa é quase apocalíptica. Tememos pelo nosso aconchego e suspiramos por um bom "boudoir". Para "repor as gerações".
Venha pois a sexualidade, ou a sua descoberta para os 'encalhados' desta vida, mas entendida como expressão elevada de reprodução biológica, para que a dissolução do princípio do hedonismo (t'arrenego Lyotard) se esfrangalhe, a bem da Nação. E deixemos o amor, sempre esse combate, sempre essa angústia (Bataille dixit), sempre essa ilusão, para outros. Toca, pois, a cumprir. E nós, sabendo que Sade morreu e Reich também, não nos encontramos muito bem. Mas iremos cumprir. Não tenham dúvidas.